No cinquentenário do saudoso modelo, uma avaliação de seu desenho alemão com influência norte-americana
Texto: Danillo Almeida – Fotos: divulgação
O Opala nasceu representando uma mudança drástica na imagem da Chevrolet brasileira, já que foi o primeiro automóvel que ela produziu aqui. Isso não significa que ele tenha dispensado as virtudes dos carros oferecidos lá fora: foi uma adaptação do Opel Rekord de terceira geração com trem de força vindo dos Chevrolets norte-americanos. Uma miscigenação brasileira com qualidades que fizeram sucesso, a ponto de serem relembradas 50 anos mais tarde (completados no último dia 23) com um entusiasmo que não esmorece.
Produzido entre 1968 e 1992, o Opala teve carrocerias sedã quatro-portas, cupê hardtop (sem colunas centrais) e perua três-portas, a Caravan. A família passou por atualizações importantes nas linhas 1975, 1980 e 1988 e, por estar em um mercado pequeno e cheio de limitações, ofereceu versões desde a “esportiva econômica” SS-4 até a luxuosa Diplomata, várias delas tidas como referências por muitos fãs até hoje. O Opala despediu-se antiquado, mas nem por isso saiu de fininho: teve direito à série limitada Collectors com acessórios exclusivos.
O Best Cars comemora o cinquentenário desse ícone do mercado brasileiro com uma matéria especial sobre sua história e com a presente Análise de Estilo. Ela começa agrupando as fases do modelo entre 1968 e 1979, porque a evolução visual nesse período foi pequena. As fases de 1980 e de 1988, por sua vez, recebem menções individuais e separadas.
A primeira grande atualização do Opala, para 1980, trouxe mudanças visuais para disfarçar a idade do modelo. A maior está na parte dianteira, que recebeu grade e faróis retangulares e com desenho bem mais limpo. Atrás, a Chevrolet seguiu as novas tendências e adotou lanternas de perfil baixo e largura completa no sedã e no cupê; as da perua ganharam formato de trapézio, interrompido pelo recorte da tampa. Assim como a dianteira original, esse recurso sugeria uma traseira mais larga, além de dar um charme a mais. Para 1985 o Diplomata ganhava faróis de neblina junto aos principais e molduras laterais bem largas.
É mais fácil considerar que o carro ficou diferente do que bonito. O retoque deixou a aparência mais limpa, de modo que passou a chamar atenção mais pelas formas gerais do que por detalhes como as peças cromadas. Entretanto, criou um problema: as peças retocadas eram uma década mais novas que o restante. A dissonância ficou ainda mais clara após a chegada do irmão Monza, em 1982, muito mais moderno.
Enquanto o retoque aos 11 anos poderia ser visto como uma “segunda fase”, o de 19 não conseguiu rejuvenescer o Opala nem mesmo nos padrões do mercado brasileiro daquela época. Talvez por isso, a Chevrolet preferiu concentrar seus esforços em torná-lo mais elegante. Os faróis para 1988 incorporaram as unidades de neblina (embora sem lâmpadas nas versões mais simples) e, para isso, adquiriram formato trapezoidal; entrada de ar e capô passaram a dar formato de “V” à seção central; e os frisos ficaram mais espessos e ganharam perfil mais alto.
Esse visual ganhava mais um retoque em 1991 (à direita), com luzes de direção mais discretas e grade com formato mais limpo. Ainda vieram retrovisores de formato mais aerodinâmico e para-choques envolventes e feitos de plástico. Embora fosse a fase mais charmosa do Opala, pode-se pensar que a Chevrolet esqueceu de vez qualquer preocupação com a harmonia visual. O resultado associa dianteira com traços arredondados, típicos dos anos 90, e traseira com lanternas de largura completa à moda dos 80 a um projeto de 20 anos antes. Os redesenhos só foram bem-aceitos porque se tratava de um carro com reputação mais do que estabelecida no mercado brasileiro.
Hoje, é fácil listar os defeitos do Opala e afirmar que ele se manteve em produção por muito mais tempo do que deveria. No entanto, é preciso notar que sua trajetória foi um reflexo do contexto em que o País se encontrava: mercado consumidor pequeno, atividade econômica devastada pela inflação e competitividade da indústria corroída pelas políticas da época. Manter-se soberano em meio a uma situação tão desfavorável explica por que esse Chevrolet continua provocando suspiros até hoje.
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