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Avaliação
Na marcha da flexibilização
Em fase de desinteresse pelo álcool, o Kia Sportage ganha um eficiente motor flexível de 178 cv e câmbio manual de seis marchas
Na atual conjuntura, só no estado de Goiás o uso do álcool é vantajoso em relação ao da gasolina. Mesmo assim o mercado continua a pedir veículos flexíveis, o que leva fabricantes e importadores a investir na oferta de produtos que usem os dois combustíveis, mesmo que o usuário acabe por abastecer apenas com gasolina. Coisas de Brasil…
Como a isca deve agradar ao peixe e não ao pescador, a Kia já vinha oferecendo o Soul e o Picanto com motor flexível e agora lança o mesmo recurso para o Sportage 2012, que traz ainda novo câmbio manual de seis marchas. Os preços variam de R$ 90,9 mil a R$ 114,6 mil conforme a extensa lista de opcionais. A versão de entrada, P.525, vem com câmbio manual, bolsas infláveis frontais, encostos de cabeça ativos na frente, freios com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica entre os eixos, ar-condicionado manual, rádio/CD/MP3 com controles no volante e rodas de 18 pol por R$ 90,9 mil. O mesmo pacote, acrescido de caixa automática de seis marchas com opção de trocas sequenciais (P.575), sai por R$ 95,4 mil.
O P.586 adiciona controle eletrônico de estabilidade, ar-condicionado automático de duas zonas, banco do motorista com ajuste elétrico, botão de partida do motor com reconhecimento da chave, computador de bordo, controlador de velocidade, câmera de ré retrovisor interno fotocrômico, revestimento de couro nos bancos e luz diurna por leds a R$ 109,3 mil. O P.587 vem ainda com teto solar panorâmico de controle elétrico, bolsas infláveis laterais e cortinas infláveis ao preço de R$ 114,6 mil. Existe ainda o P.685, dotado de tração integral e os mesmos conteúdos do P.586, por R$ 113,4 mil.
A conversão do motor, desenvolvida na Coreia do Sul sob orientação dos engenheiros do Brasil, incluiu aumento da taxa de compressão de 10,5:1 para 12,5:1 — os sul-coreanos vêm dando aula a alguns colegas de fábricas locais, que insistem em ineficientes motores com taxa baixa demais para o álcool. Com isso, a potência subiu de 166 cv para 169 cv com gasolina e 178 cv com álcool. São nada menos que 89 cv/litro, potência específica das mais altas já vistas em motores de aspiração natural de carros não esportivos. O torque máximo, que se apresenta a altas 4.700 rpm, variou de 20,1 m.kgf (motor antigo) para 20 m.kgf (gasolina) e 21,4 m.kgf (álcool).
Um breve percurso em São Paulo, SP, foi onde a imprensa pôde avaliar o Sportage Flex. O que se destaca no propulsor não é só a elevada potência, mas também o funcionamento suave e silencioso. Na estrada essa característica se traduz em baixo nível de ruído — a 120 km/h o conta-giros registra meras 2.600 rpm —, mas o motor é pouco elástico nas retomadas, sempre requerendo uma redução de marcha da caixa automática para entregar potência em uma subida ou ultrapassagem. Aceitável para um motor de 2,0 litros que precisa empurrar um carro de mais de 1.400 kg.
O desenho não mudou muito, mas ganhou alguns itens típicos do projetista alemão Peter Schreyer (ex-Audi), como as faixas de leds nos faróis que atuam como luzes diurnas. Na tendência atual, o Sportage tem a linha de cintura bem alta, sobrando uma área envidraçada até pequena para um carro de seu porte. O conforto é garantido por bons bancos de couro com múltiplas regulagens, mas o volante só tem ajuste de altura, o que merece revisão. Outra falha: o ar-condicionado de duas zonas não inclui saídas para os passageiros do banco traseiro, que desfrutam bom espaço para as pernas e a cabeça.
Claro que não se pode esperar um desempenho brilhante nas estradas sinuosas, em função do grande vão livre do solo (172 mm) e da altura total (1,645 m), mas o Sportage mostra bom acerto de suspensão e um rodar confortável. Poderia ser revista a medida de pneus: o perfil 55 é muito baixo para um veículo que se propõe a rodar em qualquer terreno. De resto, valem as observações feitas na avaliação inicial do utilitário, em abril passado.
A Kia, enquanto comemora um grande crescimento nos dois últimos anos no mercado nacional, enfrenta o obstáculo do aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que não afeta alguns concorrentes locais e (ainda) mexicanos. Por enquanto o Sportage sofreu pequena elevação de preços — a empresa vai analisar o mercado antes de fazer novos repasses — e chega com a vantagem do motor flexível, ainda que ela pouco represente em termos de custo de rodagem. Com isso, a projeção de vendas para 2012 é de 14.200 unidades, 15% a mais do que a registrada em 2011.