Citroën C4 Picasso volta modernizada e em dose dupla

Citroen C4 Picasso

 

Desenho ousado, motor turbo e conforto de sobra em duas boas alternativas aos utilitários esporte para a família

Texto: Geraldo Tite Simões – Fotos: divulgação

 

Depois de muito ensaio e até uma pesquisa de mercado no Salão de São Paulo do ano passado, a Citroën começa a vender no Brasil as minivans C4 Picasso e Grand C4 Picasso de segunda geração, lançadas em 2013 na Europa. Os dois modelos são os únicos de seu segmento e porte no mercado nacional, que anos últimos anos viu opções como Chevrolet Zafira, Kia Carens e Renault Grand Scénic desaparecerem sem deixar sucessoras.

A C4 Picasso de cinco lugares tem preço sugerido a partir de R$ 110.900; a Grand C4 Picasso para sete pessoas começa em R$ 120.900, ambas no acabamento Seduction. As versões Intensive têm valores de R$ 117.900 e R$ 127.900, na ordem. Em todas elas a mecânica é a mesma, com motor turbo a gasolina de 1,6 litro com injeção direta, potência de 165 cv e torque de 24,5 m.kgf combinado ao câmbio automático de seis marchas (veja no quadro abaixo os equipamentos de cada versão).

 

 

 
Leds em cima e faróis embaixo, em um arranjo peculiar, dão ar atual e diferenciado à nova C4 Picasso

 

As novas minivans apostam em um desenho ousado na parte dianteira, onde a grade superior vem ladeada apenas pelos leds de luzes diurnas: os verdadeiros faróis, com refletor elipsoidal, ficam abaixo deles. O para-brisa avança sobre o teto, como no C3, e janelas com base desnivelada entre uma peça e outra na C4 Picasso quebram a monotonia frequente nas laterais desse tipo de carro (a Grand não repete o recurso). A traseira segue uma solução dos utilitários esporte da Audi: as lanternas horizontais sobem junto da tampa, ocasião em que a sinalização fica a cargo das luzes no para-choque.

 

A Citroën manteve a posição central do quadro de instrumentos, que usa tela monocromática na versão Seduction e colorida e configurável na Intensive

 

Os dois modelos diferenciam-se tanto em comprimento quanto em distância entre eixos: são 4,29 e 2,79 metros na C4 Picasso e 4,60 e 2,84 m na Grand, embora a largura seja a mesma, 1,83 m. No interior a Citroën manteve a posição central do quadro de instrumentos, que usa uma tela monocromática de sete polegadas na versão Seduction e uma colorida e configurável de 12 pol na Intensive. Apesar das telas digitais, o arranjo de velocímetro e conta-giros simula mostradores analógicos. A tela inferior, sempre de 7 pol, serve aos sistemas de áudio e navegação.

O volante de cubo central fixo usado na linha anterior, assim como nos C4 hatch e Pallas da época, ficou no passado mas permanece a profusão de comandos: 16, além da almofada da buzina, nas versões Intensive. Atrás dele fica a pequena alavanca do câmbio automático, que comprova ser desnecessário ocupar grande espaço no console central para esse fim nos carros atuais. Mudanças manuais podem ser feitas pelos comandos “borboleta”.

 

 

 
Com sete lugares, a Grand tem mais 31 cm em comprimento; as lanternas sobem junto da tampa traseira

 

Do posto do motorista, percebe-se que tudo foi feito para ser aproveitado de dentro para fora. Começa pela enorme área envidraçada, surpreendente em uma época de carros com linha de cintura cada vez mais alta. Embora o para-brisa prolongado pelo teto pareça inconveniente em nosso clima, para conter o sol tropical pode-se puxar um para-sol que se estende a ponto de proteger parte das pernas. O preço a pagar é que ele impede que os espelhos de cortesia tenham iluminação — item de que as mulheres sentem falta na hora de retocar a maquiagem.

 

 

Segundo a Citroën, 47% dos compradores da C4 Picasso são casais sem filho. Pode ser, mas devem ter muitos sobrinhos, porque os destaques desse modelo — e ainda mais da Grand — são o amplo espaço interno e os atrativos para os passageiros. Os bancos dianteiros contam com várias regulagens e o da direita tem um prolongador para as pernas, como na primeira classe de um avião. O encosto de cabeça também lembra os das poltronas de aeronaves, com abas laterais para melhor apoio enquanto se descansa.

O espaço e o conforto não terminam aí. Os três bancos da segunda fila têm ajustes longitudinal e de reclinação do encosto e podem ser dobrados; os dois da terceira fila da Grand são escamoteáveis. O espaço para os passageiros da segunda fila do modelo mais curto é suficiente para três adultos, com cintos de três pontos para todos. Na versão de sete lugares o acesso à terceira fila é mais difícil. Como a alavanca do câmbio fica junto ao volante, o console central pode ser retirado e abre ainda mais espaço para as pernas de motorista e passageiro.

Próxima parte

 

Versões, preços e equipamentos

C4 Picasso Seduction (R$ 110.900) e Grand C4 Picasso Seduction (R$ 120.900): vêm de série com ar-condicionado automático de duas zonas de ajuste, banco da segunda fila com regulagem longitudinal, bancos revestidos em tecido, cintos de três pontos em todos os bancos, controlador e limitador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis e limpador de para-brisa automáticos, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeiras infantis, freio de estacionamento com controle elétrico e assistência em rampas, freios antitravamento (ABS) com distribuição eletrônica da força de frenagem (EBD) e assistência adicional em emergência, rodas de alumínio de 17 polegadas, seis bolsas infláveis (frontais, laterais dianteiras e cortinas), sensores de estacionamento traseiros, sistema de áudio com tela tátil de sete polegadas e disco interno, painel com tela de 7 pol e computador de bordo. A Grand C4 tem ainda lanterna removível no porta-malas.

• Opcionais: bancos revestidos em couro com massagem nos dianteiros e apoio de perna para o passageiro direito da segunda fila, navegador.

C4 Picasso Intensive (R$ 117.900) e Grand C4 Picasso Intensive (R$ 127.900): acrescentam às anteriores acesso à cabine e partida do motor com chave presencial, alarme volumétrico, câmera traseira para manobras, lanterna removível no porta-malas, lanternas traseiras com leds, navegador, quadro de instrumentos com tela de 12 pol colorida e volante com quatro grupos de comandos (em vez de dois).

• Opcionais: banco do motorista com ajustes elétricos e memória, bancos dianteiros com aquecimento e massagem, bancos revestidos em couro com apoio de perna para o passageiro dianteiro, faróis de xenônio (ambos os fachos) autodirecionais, pacote Park Assist 360° (alerta para veículo em ponto cego nas faixas laterais, assistente de estacionamento, câmeras ao redor com visão de 360 graus e sensores de estacionamento também na frente), tampa do porta-malas com abertura e fechamento motorizados, teto envidraçado com controle elétrico do forro. Apenas para a Grand C4 Picasso, pacote Multimídia com central de entretenimento para passageiros da segunda fila, duas telas nos encostos de cabeça e dois fones estéreo sem fio.

Próxima parte

 

 
Instrumentos centrais, câmbio junto ao volante, muitas soluções de conforto nos bancos

 

O revestimento dos bancos mescla tecido e couro. Os apoios de braço e parte das portas são revestidos com um tecido um pouco áspero, mas para compensar o painel e partes das portas são recobertos com plástico emborrachado e suave ao toque. O motorista dispõe de muita visibilidade para todos os lados e ainda conta com dois auxílios importantes: as câmeras traseira (apenas Intensive) e de 360 graus (opcional na mesma versão). Até um assistente de estacionamento foi previsto entre as opções da versão superior, assim como retrovisores com sensor de veículo em ponto cego. Para a frente, a divisão das colunas dianteiras em duas pequenas por lado consegue reduzir sua obstrução, aspecto sempre crítico em minivans.

Detalhes interessantes estão por toda parte das novas C4 Picassos, como controle elétrico do freio de estacionamento, difusores de ar nas colunas centrais para os passageiros, controles elétricos de vidros com função um-toque para todos e monitor do uso do cinto pelos passageiros. A Citroën informa capacidade de bagagem de até 630 litros para o modelo curto e 704 litros para o longo, na condição de cinco lugares com bancos mais avançados (com sete a Grand leva apenas 130 litros). O estepe é sempre temporário e armazenado sob o assoalho.

 

 
A tela de 12 pol da versão Intensive pode ser configurada; revestimento combina couro e tecido

 

Alguns recursos de segurança, é verdade, ficaram lá mesmo na Europa, como controlador da distância ao tráfego à frente com frenagem automática, alerta para saída da faixa de rolamento e faróis com comutação automática entre fachos baixo e alto conforme o tráfego adiante. Lá existem também versões turbodiesel de 90 e 115 cv. No caso da Grand, o novo modelo deixa de oferecer quatro zonas de ajuste para o ar-condicionado.

 

A C4 Picasso tem baixo nível de vibração e ruídos e, para um veículo de quase uma tonelada e meia, o motor desenvolve bem com torque máximo desde 1.400 rpm

 

Motor turbo e peso reduzido

As novas C4 Picassos são os primeiros automóveis do grupo no Brasil com a plataforma EMP2 (Efficient Modular Platform 2), que permitiu reduzir o peso em cerca de 100 kg. Em termos mecânicos elas usam componentes conhecidos, como o motor THP e o câmbio automático, e suas suspensões seguem esquemas tradicionais — dianteira McPherson e traseira com eixo de torção. A direção com assistência elétrica, porém, é novidade em um modelo da linha C4 por aqui (no C4 Lounge ainda é eletro-hidráulica).

Mais que os 165 cv em relação aos antigos 143 cv, é o ganho de torque em baixa rotação (24,5 m.kgf entre 1.400 e 4.000 rpm ante 20,4 m.kgf a 4.000 rpm) que representa o maior avanço em desempenho da nova geração de minivans em relação às antecessoras. Além disso, elas estão mais leves — a C4 Picasso caiu de 1.511 para 1.405 kg, e a Grand, de 1.560 para 1.430 kg — e o câmbio tem duas marchas a mais que antes. O resultado é bastante superior, com velocidade máxima informada de 210 km/h (ambas) e aceleração de 0 a 100 km/h em 8,4 segundos no modelo curto e 8,7 s no mais longo.

 

 
Motor THP com alto torque em baixa e 100 kg a menos deixaram a C4 Picasso mais agradável

 

No lançamento à imprensa, na região de Cotia (Grande São Paulo), rodamos apenas na versão Intensive para cinco pessoas. A alavanca de câmbio na coluna de direção pode lembrar antigos carros norte-americanos, mas elimina o inconveniente da alavanca no console. Por outro lado, nas primeiras manobras acionamos o limpador de para-brisa por engano. A C4 Picasso tem baixo nível de vibração e ruídos, com agradável silêncio mesmo a 120 km/h, sem assobios causados pela passagem do vento pela carroceria. As linhas suaves e sem cantos revelam mais atributos do que apenas estilo.

Usamos o câmbio tanto na posição D (automática) quanto na M (manual), com acionamento pelas borboletas, que permitem um pouco de esportividade. Elas ficam fixas, sem girar com o volante, arranjo comum nos modelos mais recentes do grupo como o Peugeot 208. Para um veículo de quase uma tonelada e meia o motor desenvolve bem, graças ao torque máximo constante entre 1.400 e 4.000 rpm, mas não consegue ser brilhante como em carros mais leves da marca. Nas poucas curvas mais ousadas do trajeto percebemos que a C4 fica firme, apesar da altura quase de utilitário. A maior estranheza ao dirigir é a posição central do quadro de instrumentos, que força o motorista a desviar a atenção: parece que ainda não há lugar melhor para ele que diante do condutor. Ainda, dependendo da estatura do motorista, informações como o hodômetro parcial ficam escondidas.

 

 

A Citroën merece elogios por voltar a oferecer uma alternativa interessante — ou melhor, duas — de carro familiar aos utilitários esporte compactos. Claro que elas não têm a menor vocação fora de estrada, mas isso não costuma fazer diferença aos compradores desses carros. A nova C4 Picasso e sua versão Grand são atraentes, muito bem equipadas e, ao contrário das antecessoras, fornecem desempenho amplamente suficiente. Por tudo isso soa estranho a pesquisa que aponta para um carro destinado a casais sem filhos. Pode ser que eles não tenham filhos no ato da compra do carro, mas depois…

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Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo
Diâmetro e curso 77 x 85,8 mm
Cilindrada 1.598 cm³
Taxa de compressão 10,5:1
Alimentação injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar
Potência máxima 165 cv a 6.000 rpm
Torque máximo 24,5 m.kgf de 1.400 a 4.000 rpm
Transmissão
Tipo de câmbio e marchas automático, 6
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a disco
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 17 pol
Pneus 205/55 R 17
Dimensões
Comprimento 4,428 / 4,597 m*
Largura 1,826 m
Altura 1,625 / 1,644 m*
Entre-eixos 2,785 / 2,84 m*
Capacidades e peso
Tanque de combustível 57 l
Compartimento de bagagem 537 / 575 l (com 5 lugares), 130 l (Grand com 7 lugares)*
Peso em ordem de marcha 1.405 / 1.430 kg*
Desempenho
Velocidade máxima 210 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 8,4 / 8,7 s
Dados do fabricante; consumo não disponível; *C4 Picasso / Grand C4 Picasso

 

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