Novo Toyota Corolla XEI é mais Corolla e… menos Corolla

Versão intermediária de 2,0 litros mantém a fórmula que fez seu sucesso, com evoluções em aparência e comportamento

Texto e fotos: Fabrício Samahá

 

Em time que está ganhando não se mexe? A máxima do futebol não se aplica aos automóveis: em um mercado dinâmico, a acomodação pode fazer a liderança mudar de mãos, como vários fabricantes já constataram. Assim, a linha 2020 marca uma nova fase para o Toyota Corolla, dono de 43% das vendas de sedãs médios no Brasil até novembro. Essa é a décima segunda geração na história do modelo, iniciada em 1966.

O Best Cars almejava um comparativo da versão de topo Altis com o Civic Touring, mas ficou para outra vez: hoje a Toyota só tem em frota o Altis Hybrid, com motores elétricos associados ao de 1,8 litro — conjunto bem menos potente que o da versão de 2,0 litros, que compete diretamente com o Honda. Assim, submetemos o Corolla XEI à avaliação 10 Chances.

 

O desenho foi atualizado sem perder a identidade do Corolla; faróis do XEI são elipsoidais, mas não usam leds; essa versão custa R$ 111 mil em pacote fechado

 

Estilo
Foi bom o trabalho de desenho no novo Corolla: conseguiu atualizar suas linhas sem perder a identidade do modelo, nem apostar em soluções tão ousadas que pudessem desagradar a seu público. 1 ponto

 

 

Acabamento e conveniência
O interior mostra um grande avanço em aparência: sai o painel retilíneo de aspecto ultrapassado, entra um mais arredondado e agradável. Os plásticos têm boa aparência e alguns são macios ao toque, como no painel. Os bancos de couro têm bom aspecto, mas temos dúvida se o tom preto foi bem escolhido: o cinza usado antes no XEI dava ar mais arejado e tendia a esquentar menos sob incidência solar.

Há muitos bons detalhes, como alerta para uso dos cinco cintos (informa até mesmo se um passageiro de trás soltar seu cinto antes da parada do carro), câmera traseira de manobras com guias dinâmicas (seguem o movimento do volante), chave presencial para acesso e partida, duas tomadas USB (uma de alta corrente), faixa degradê no para-brisa, faróis automáticos, para-sóis com espelhos iluminados, rebatimento elétrico dos retrovisores e retrovisor interno fotocrômico. Faltam abertura e fechamento de vidros com comando a distância, ar-condicionado com duas zonas e saídas para o banco traseiro e sensores de estacionamento.

 

Aspecto renovado no interior, que traz tela de 8 pol na central de áudio; ela tem integração a celular e histórico de consumo; câmera traseira usa guias dinâmicas

 

A central de áudio tem tela de toque de 8 polegadas e integração a celular por Android Auto e Apple Car Play. Apesar da boa qualidade de áudio e da prática operação com vários botões físicos, seu volume é bem maior que o da parte digital e a carenagem posterior lembra um televisor de tubo (a Toyota justifica seu uso por versões exportadas sem aparelho de áudio). Melhorou o aspecto de itens como os comandos no assoalho, para tampas do tanque e do porta-malas, e os do controlador de velocidade. Também se foi o antiquado relógio digital do painel. 1 ponto

 

Bons detalhes incluem alerta para uso dos cinco cintos e central de áudio com integração a celular e tela de 8 polegadas, que mantém vários botões físicos

 

Posto do motorista
O Corolla tem bancos dianteiros muito bons, com apoios corretos para coxas, lombar e laterais (não há ajuste elétrico ou regulagem lombar no XEI), e volante bem desenhado com ajustes em altura e distância, que deixa o braço esquerdo mais esticado que o direito, sem incomodar. De aparência simples, o quadro de instrumentos traz o essencial e inclui repetidor digital de velocidade. Não tem o segundo trajeto do computador de bordo, mas sim um histórico de consumo.

O XEI ainda não usa leds nos faróis, mas ganhou bons refletores elipsoidais que atendem aos dois fachos, mantendo os baixos ao acender os altos. Há ainda luzes diurnas de leds, faróis de neblina e — novidade no modelo — luz traseira para o mesmo fim, assim como repetidores laterais das luzes de direção. A visibilidade conta com amplos retrovisores e colunas dianteiras que não prejudicam muito o campo visual. 0,5 ponto

 

Espaço dos passageiros é muito bom, mas não o de bagagem; instrumentos simples, ar automático de uma só zona, chave presencial, espelhos iluminados e ajuste elétrico dos faróis; carenagem atrás da tela central soa ultrapassada

 

Espaço interno
As acomodações internas do Corolla pouco mudaram na nova geração. Ele continua muito amplo para as pernas no banco traseiro, com espaço vertical razoável. Apesar da boa largura para o segmento, falta conforto para três adultos pelo formato do banco e o encosto incômodo para o ocupante central. 1 ponto

 

 

Porta-malas
A capacidade de bagagem de 470 litros, a mesma da geração anterior, é algo modesta na categoria em que vários modelos superam 500 litros. O banco traseiro tem encosto bipartido 60:40. Pela medida diferente dos demais pneus, o estepe serve apenas ao uso temporário. 0,5 ponto

Próxima parte

 

Equipamentos e preços

• Corolla XEI – Ar-condicionado automático, banco do motorista com regulagem de altura, bancos revestidos em couro, bolsas infláveis laterais dianteiras, de joelhos do motorista e de cortina; câmera traseira de manobras, central de áudio com tela de 8 polegadas e integração a celular por Android Auto e Apple Car Play, chave presencial para acesso e partida, computador de bordo, controlador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis automáticos com regulagem da altura, faróis e luz traseira de neblina, rodas de alumínio de 17 pol, retrovisor interno fotocrômico, volante ajustável em altura e distância.

• Preço sem opcionais: R$ 110.990

• Preço como avaliado: R$ 110.990

• Preço completo: R$ 113.240

• Garantia – Cinco anos sem limite de quilometragem.

Preços sugeridos em 19/12/19

Próxima parte

 

Motor revitalizado atende bem à proposta e teve o consumo reduzido, mas não traz aceleração melhor que a do anterior: de 0 a 100 km/h em 9,5 segundos

 

Motor e desempenho
Derivado do anterior, o motor de 2,0 litros do novo Corolla recebe injeção direta (que opera em certas condições, enquanto a multiponto sequencial assume em outras) e obtém potência e torque expressivos sem uso de turbo. Fornece respostas consistentes desde baixas rotações com uma operação silenciosa, embora um pouco áspera em altos regimes.

 

 

Apesar dos 34 cv adicionais, o novo modelo com álcool teve aceleração similar à do antigo com gasolina (de 0 a 100 km/h em 9,5 segundos contra 9,6 s), o que o aumento de peso em 115 kg explica apenas em parte. Em sua categoria ele vence o Honda Civic de 2,0 litros (10,9 s com álcool), mas perde para o Civic Touring 1,5 turbo (7,6 s) e o VW Jetta R-Line 1,4 turbo (9,1 s) e quase empata com o Chevrolet Cruze 1,4 turbo (9,4 s com gasolina). Esperávamos que fosse mais rápido.

A nova transmissão de variação contínua (CVT) simula 10 marchas, mesmo quando usada em modo automático, e tem primeira marcha “de verdade” (com engrenagens) para uma resposta mais decidida nas saídas, o que mostrou bom resultado. Mudanças manuais são feitas pela alavanca ou nos comandos junto ao volante. Em modo manual ele sobe marchas no limite de giros, mas não reduz mesmo usando todo o curso do acelerador. O programa Sport, com o efeito habitual de manter rotações mais altas e ampliar o freio-motor, não promove mais um “tranquinho” nas mudanças, efeito que era discutível. 1 ponto

 

Injeções direta e multiponto operam cada uma na condição mais adequada; à direita, transmissão CVT com engrenagens de primeira marcha e mais nove simuladas

 

Consumo
Injeção direta e CVT com tantas relações faziam esperar eficiência, o que o Corolla confirmou em nossos testes, embora menos que o previsto. Com marcas acima de 10 km/l de álcool nos trajetos urbano leve e rodoviário, ele consumiu mais que o Civic 2,0, mas por estimativa (já que os combustíveis são diferentes) foi melhor que o Corolla 2,0 anterior. 1 ponto

 

Apesar dos 34 cv adicionais, o novo Corolla com álcool teve aceleração similar à do antigo com gasolina, o que o aumento de peso explica apenas em parte

 

Comportamento dinâmico
A Toyota partiu para uma nova plataforma (chamada de TNGA, Toyota New Global Architecture) e adotou, pela primeira vez na história do modelo, suspensão traseira independente multibraço. O resultado agrada bastante, com muito bom conforto de rodagem, absorção eficaz de irregularidades (sobretudo as pequenas, que antes faziam o carro vibrar) e melhor passagem por lombadas — não há mais ruído na distensão da dianteira, embora a traseira possa melhorar. Os pneus é que pareceram ásperos em asfalto de menor qualidade. Muito bons os freios e a direção, em relação e assistência.

Surpresa mesmo foi ao levarmos o Corolla a nosso trajeto sinuoso: ficou um sedã divertido, no qual a traseira pode ser facilmente “provocada” para fechar a curva, e o controle eletrônico de estabilidade e tração intervém apenas quando o motorista está prestes a se perder. Para esse acerto servir a um esportivo, só precisaria de pneus mais aderentes: embora largos (225/45 R 17), eles cedem rápido quando mais solicitados. 1 ponto

 

Comportamento esportivo em curvas é surpresa nesse sedã; CVT permite mudanças com comandos no volante; bolsa de joelhos e cortinas infláveis são de série

 

Segurança passiva
Não falta nada na proteção dos ocupantes: bolsas infláveis laterais dianteiras, de cortina e de joelhos do motorista, encostos de cabeça e cintos de três pontos para todos, fixação Isofix para cadeira infantil. Além disso, o teste de colisão do Latin NCap (não considerado na nota) deu-lhe cinco estrelas na segurança de adultos e crianças. 1 ponto

 

 

Custo-benefício
O Corolla XEI vem com pacote fechado de equipamentos (veja a lista na página anterior) pelo preço sugerido de R$ 111 mil. Não só parece justo pelo que ele oferece, como se confirma na comparação aos adversários. O Civic EXL de R$ 112.600 tem conteúdo semelhante e menos potência (150/155 cv). O Jetta Comfortline (R$ 110 mil) também é menos potente, com 150 cv no motor turbo, embora tenha a vantagem dos faróis de leds. Atraente é o Cruze LT de R$ 101.190, que oferece 150/153 cv e inclui roteador de internet. Os dois últimos, porém, usam revestimento sintético nos bancos em vez de couro.

O veredito final é positivo: o novo Corolla manteve os atributos que fizeram o sucesso do anterior, mas se afastou dele em aspectos que precisavam evoluir, como aparência interna e alguns quesitos de suspensão — uma pena não cumprir o desempenho esperado do motor mais potente. Com preço competitivo nessa versão de grande aceitação, a continuidade de seu êxito é garantida. 1 ponto

 

 

Mais Avaliações

 

Desempenho e consumo

Aceleração
0 a 100 km/h 9,5 s
0 a 120 km/h 12,9 s
0 a 400 m 16,8 s
Retomada
60 a 100 km/h* 5,3 s
60 a 120 km/h* 8,9 s
80 a 120 km/h* 6,5 s
Consumo
Trajeto leve em cidade 10,1 km/l
Trajeto exigente em cidade 5,2 km/l
Trajeto em rodovia 10,2 km/l
Testes com álcool; *com reduções automáticas; conheça nossos métodos de medição

 

Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo
Diâmetro e curso 80,5 x 97,6 mm
Cilindrada 1.985 cm³
Taxa de compressão 13:1
Alimentação injeções direta e multiponto sequencial
Potência máxima (gas./álc.) 169/177 a 6.600 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 21,4 m.kgf a 4.400 rpm
Transmissão
Tipo de caixa e marchas automática de variação contínua, simulação de 10 marchas
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a disco
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira independente, multibraço, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 17 pol
Pneus 225/45 R 17
Dimensões
Comprimento 4,63 m
Largura 1,78 m
Altura 1,455 m
Entre-eixos 2,70 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 50 l
Compartimento de bagagem 470 l
Peso em ordem de marcha 1.405 kg
Desempenho e consumo (gas./álc.)
Velocidade máxima ND
Aceleração de 0 a 100 km/h ND
Consumo em cidade 11,6/8,0 km/l
Consumo em rodovia 13,9/9,7 km/l
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível

 

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