A tradição dos eixos rígidos na suspensão deixa o T4 ao gosto dos jipeiros,
mas prejudica o conforto de marcha no uso urbano e a estabilidade em rodovia
A carroceria é bem montada, mas a porta exige força (mesmo com os vidros um pouco abertos) para o fechamento. No interior o acabamento é simples, com amplo uso de plásticos rígidos e aspecto bem mais elaborado que o do espartano antecessor. Os bancos possuem espuma agradável, mas a regulagem do encosto por sistema de alavanca, sem ajuste milimétrico, não é ideal. Pior é o pesado comando para erguer os bancos dianteiros e dar acesso ao de trás, que exige força para acioná-lo e empurrar o banco ao mesmo tempo. A posição de dirigir elevada deve agradar aos que gostam da sensação de domínio do trânsito, ainda que a visibilidade para trás seja abaixo da média. No teto, os vidros fixos e escuros filtram bem a luz do sol, mas acabam por perder parte de sua função. Seria melhor ter vidros mais claros e com forro móvel.
Com bom desempenho garantido pelo torque de 47,9 m.kgf a parcas 1.750 rpm — apesar do peso expressivo de 2.140 kg, maior que o de picapes médias de cabine dupla —, não é preciso muito tempo ao volante do jipe para notar que sua condução exige um pouco de experiência. Por usar suspensões por eixos rígidos e uma antiga caixa de direção de esferas recirculantes, o jipe não transmite confiança acima de 100 km/h, em especial quando exposto a ventos laterais — mesmo equipado com pneus 255/65 R 17 Pirelli Scorpion ATR, voltados 80% a asfalto e 20% a terra, mais urbanos que os 70/30 usados na versão anterior.
Bem preparado para a lama, com tração nas quatro rodas com redução e diferencial
traseiro autobloqueante; os novos pneus, porém, são 80% voltados ao asfalto
Repetindo seu desempenho na Ranger, o câmbio não ajuda: com alavanca de engates duros e imprecisos (sobretudo os de segunda e sexta marchas), exige perícia extra e certa força do motorista, que também convive com uma embreagem mais pesada do que as de picapes a diesel da mesma faixa de preço.
O T4 se aproveita das medidas fora de estrada:
51 graus de ângulo de entrada e saída,
capacidade de atravessar alagamentos de 80 cm
A contrapartida se dá na terra e na areia. Avaliado em uma trilha de terreno fofo e em grandes dunas na região de Horizonte, o T4 mostrou que vai além do que o senso civilizado espera, com força de sobra mesmo abaixo de 2.000 rpm. Dura, a suspensão compensa o desconforto do asfalto com desempenho surpreendente em buracos e valetas, transpostos sem batidas secas. Até o chassi foi projetado para o uso fora de estrada: indo contra a tendência dos carros de passeio, segundo a fábrica ele ficou menos rígido, facilitando o trabalho da suspensão de sobrepor grandes obstáculos a baixas velocidades.
Tanto destaque para o desempenho longe do asfalto não é à toa. Por mais que a Ford tenha tentado melhorar o modelo e torná-lo mais atraente a consumidores cuja maior aventura é procurar uma vaga no shopping de fim de semana, o jipe cearense continua alheio à selva de pedra. Feita de plástico reforçado com fibra de vidro e montada sobre uma estrutura tubular (similar a uma gaiola de competição), a carroceria ganhou um desenho atraente e itens ainda raros em carros nacionais, como as lanternas por leds, mas as ausências de sensores de estacionamento e câmera de manobras dão pistas do foco principal do modelo.
O público fiel ao Troller vai aprovar os ganhos em conforto e notar que sua
valentia foi preservada, mas a ausência de bolsas infláveis não tem justificativa
No lugar de mimos para facilitar balizas, o T4 abre espaço para equipamentos de competição: os para-choques podem ser removidos, há local para colocar guincho elétrico e equipamentos de navegação no painel e estão disponíveis nada menos que nove placas protetoras sob o assoalho. Disposto a gastar em média R$ 10 mil em acessórios (contra R$ 300 de um carro pequeno e R$ 3 mil de uma Ranger), o consumidor do T4 pouco se importa com consumo de combustível e tamanho de porta-malas, mas sim com capacidade de imersão e ângulos de entrada e saída.
Em tempo: segundo a Ford, o T4 faz 9,8 km/l de diesel no ciclo urbano e 12,3 km/l no rodoviário, com volume no compartimento de carga de 134 litros. Feito para levar duas pessoas (com os bancos traseiros rebatidos) para a lama, o T4 se aproveita mesmo de suas medidas fora de estrada: são 51 graus de ângulo de entrada e saída, 30 graus de transposição de rampa e capacidade de atravessar alagamentos de até 80 cm de profundidade. O vão livre do solo é de 208 mm no ponto mais baixo, o diferencial traseiro, e chega a 316 mm na região entre eixos.
Com tantos prós para agradar a seu público fiel (48% dos compradores do antigo jipe já tiveram outro T4), o Troller pode se dar ao luxo dos mecanismos de rebatimento de banco duros e do acabamento simples demais para um carro dessa faixa de preço. Só não dá para explicar a ausência de itens de segurança, em especial em um segmento cujos motoristas buscam aventuras mais perigosas do que passar por lombadas em alta velocidade.
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Ficha técnica
Motor | |
Posição | longitudinal |
Cilindros | 5 em linha |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4 |
Diâmetro e curso | 89,9 x 100,8 mm |
Cilindrada | 3.198 cm³ |
Taxa de compressão | 15,5:1 |
Alimentação | injeção de duto único, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima | 200 cv a 3.000 rpm |
Torque máximo | 47,9 m.kgf de 1.750 a 2.500 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual, 6 |
Tração | integral temporária |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | esferas recirculantes |
Assistência | hidráulica |
Suspensão | |
Dianteira | eixo rígido, mola helicoidal |
Traseira | eixo rígido, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 8 x 17 pol |
Pneus | 255/65 R 17 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,095 m |
Largura | ND |
Altura | 1,966 m (com bagageiro) |
Entre-eixos | 2,585 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 62 l |
Compartimento de bagagem | 134 l |
Peso em ordem de marcha | 2.140 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 180 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,3 s |
Consumo em cidade | 8,8 km/l |
Consumo em rodovia | 11,9 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões NBR; ND = não disponível |