Conforto ao rodar, desempenho e itens de conforto são destaques;
câmbio automático e sua falta no THP, os pontos críticos
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Começou com o Honda HR-V, prosseguiu com o Jeep Renegade e completa-se agora com o Peugeot 2008 a ofensiva nacional no segmento de utilitários esporte compactos, que promete tirar a tranquilidade do Ford Ecosport — líder de vendas da categoria — e do Renault Duster. Em questão de poucas semanas, o interessado em um modelo do segmento terá 150% mais opções de produção local que antes, com diferentes alternativas de motor, tração, câmbio e estilo para atender a qualquer tipo de demanda.
O 2008, assim como o HR-V, não se interessa pelo nicho de mercado que exige tração integral — ou mesmo motor a diesel, por enquanto exclusivo do Renegade. Tem uma proposta mais urbana e usa como grande diferencial o motor mais potente da classe, o THP Flex de 1,6 litro com turbocompressor e injeção direta, que obtém potência de 165 cv com gasolina e 173 com álcool e será oferecido apenas com câmbio manual de seis marchas. A outra opção é o 1,6 aspirado, também flexível, com 115/122 cv, associado a câmbio manual de cinco marchas ou automático de apenas quatro.
O estilo é certamente um dos atributos do 2008; rodas de
alumínio de 16 pol e faróis elipsoidais equipam toda a iinha
A resposta à pergunta que não quer calar — por que não o THP automático? — envolve limitações da plataforma de carros compactos, a mesma do 208, da qual o 2008 foi derivado: de acordo com a Peugeot, falta espaço físico para o motor turbo e uma caixa automática de seis marchas, conjunto que também não existe na Europa. A fábrica diz que pode estudar tal implantação se houver demanda. Nosso palpite é de que já esteja em preparo: seria um erro primário demais não perceber a demanda do mercado por esse tipo de câmbio na faixa de preço da versão.
O interior segue o do 208, com quadro
de instrumentos elevado, mas
tem freio de mão em forma de manche
Por ora, haverá cinco opções de 2008: Allure manual e automática, Griffe manual e automática (todas com o motor aspirado) e Griffe THP manual (confira os preços e equipamentos de cada uma no quadro abaixo). A garantia é de três anos sem limite de quilometragem. A fábrica espera alcançar a venda mensal de 1.000 unidades quando atingir produção normal, com 70% de versões automáticas. Embora já esteja nas concessionárias para teste dia 11 de abril, o carro começa a ser entregue em meados de maio.
Apresentado no Salão de Pequim de 2012 como conceito (chamado de Urban Crossover) e meses depois no de Paris já com a denominação oficial, o 2008 está à venda na Europa desde meados de 2013. Assim como o Ecosport deriva do Fiesta, a Peugeot partiu da plataforma do 208 para desenhar o utilitário. Seu estilo é atraente, com detalhes originais como os recortes dos faróis (que usam refletor elipsoidal no facho baixo) e das lanternas traseiras e um aplique sobre as janelas das portas de trás que simula um vidro mais alto, embora só eleve o teto nas laterais. As rodas são de alumínio de 16 polegadas em todas as versões.
Recortes nos faróis e lanternas compõem o desenho do novo
Peugeot; versões Griffe trazem teto com área envidraçada
Comprimento de 4,16 metros, largura de 1,73 m e distância entre eixos de 2,54 m deixam o 2008 entre os menores da classe nas diversas dimensões. O Renegade mede 4,23/1,80/2,57 m; o Ecosport, 4,24/1,76/2,52 m (estepe considerado); o Chevrolet Tracker, 4,25/1,77/2,55 m; o HR-V, 4,29/1,77/2,61 m; e o Duster, 4,31/1,82/2,67 m. O compartimento de bagagem para 355 litros supera os de Renegade (260) e Tracker (306), equivale-se ao do Ecosport (362) e perde para os de HR-V (431) e Duster (475 litros).
O interior segue o padrão do 208, com o peculiar quadro de instrumentos elevado, visualizado por cima do volante pequeno e ligeiramente ovalado, e a tela sensível ao toque de 7 pol em posição alta na parte central com funções de sistemas de áudio, navegação, telefonia por interface Bluetooth, computador de bordo e configurações. Mas o 2008 tem também recursos próprios como a alavanca do freio de estacionamento em forma de manche, que está longe de ser prática: requer esforço acima do normal para acionar e liberar o freio.
Inédito é o aplicativo My Peugeot, para IOS e Android, que permite receber via Bluetooth informações da central no telefone celular, como autonomia, consumo, distância e tempo dos trajetos realizados, o itinerário indicado no navegador e quanto falta para a próxima revisão do carro. O teto envidraçado (fixo) tem forro interno com controle elétrico que veda boa parte do sol, mas não todo. No painel, modelos com câmbio manual trazem ícone de sugestão para trocas de marcha, tanto para cima quanto para baixo, que pode até mesmo recomendar um pulo — de terceira para quinta, por exemplo.
Interior segue o do 208, com instrumentos lidos sobre o volante de
pequeno diâmetro; bancos do Griffe têm amplo apoio lateral
O acabamento da versão Griffe — não havia a Allure na apresentação à imprensa — agrada aos olhos, apesar dos plásticos rígidos, com bom aspecto de materiais e um discreto tom marrom no painel e na seção central de tecido do revestimento dos bancos. O motorista encontra facilmente uma boa posição e os bancos oferecem amplos apoios laterais. O espaço traseiro não é dos maiores: bom para pernas, razoável para cabeças, muito limitado em largura para três pessoas. O estepe fica sob o assoalho do porta-malas e usa pneu de 15 pol, diferente dos outros. Incomoda no Allure a falta de banco bipartido.
Motores conhecidos, câmbio superado
Os motores do 2008 são conhecidos de outros modelos do grupo PSA Peugeot Citroën. Ambos são de 1,6 litro com quatro válvulas por cilindro e variação de tempo de abertura das válvulas, mas pertencem a famílias distintas. O EC5 de aspiração natural é o mesmo de 208 e 308, além de modelos Citroën, enquanto a versão flexível do THP estava, até agora, restrita ao C4 Lounge. Os índices de potência e torque variam muito pouco em relação aos carros que já o usavam (veja na ficha técnica) e criam grande intervalo entre as versões, bem maior que o existente no Ecosport e no Duster entre os motores de 1,6 e 2,0 litros.
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Versões, equipamentos e opcionais
• Griffe (à direita): os mesmos itens da Allure, mais bolsas infláveis do tipo cortina, terceiro encosto de cabeça traseiro, teto envidraçado, bancos esportivos revestidos em couro e tecido, acionamento automático de faróis e limpador de para-brisa, sensores de estacionamento dianteiros, banco traseiro
• Griffe THP: além do motor diferenciado, acrescenta ao conteúdo da Griffe controle eletrônico de estabilidade e tração com sistema de ajuste Grip Control, auxílio para saída em rampa, acendimento de um dos faróis de neblina para iluminar curvas e pedais esportivos. Preço: R$ 79.590, apenas com câmbio manual.
• Acessórios: serão oferecidos em concessionárias itens separados e pacotes, que abrangem pedais e soleiras de porta em alumínio, adesivos, módulo isotérmico com capacidade de 16 litros, central multimídia com TV digital e espelhamento de celular, câmera traseira para manobras, suporte de bicicletas no teto, engate de reboque com ponteira removível, levantamento de vidros e fechamento da cortina do teto com função um-toque e seu fechamento automático total quando o veículo é trancado.
Estão disponíveis as cores vermelha (sólida), branca, cinza, marrom e preto (metálicas) e branca perolizada.
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Mostradores incluem repetidor digital do velocímetro; na tela de
7 pol comandam-se áudio, telefone, navegador e computador
O câmbio automático é o mesmo usado pelo 208, apenas recalibrado e com mais um recurso para o motorista: o programa de condução Eco, que faz trocas em regimes mais baixos para reduzir o consumo em relação ao programa normal (há ainda o esportivo, que atua no sentido oposto para maior agilidade). No restante a mecânica do 2008 segue o habitual, caso da suspensão traseira por eixo de torção; vale destacar os freios a disco nas quatro rodas. A altura de rodagem foi ampliada em 1 cm para o Brasil, chegando a 20 cm, e os pneus ganharam perfil mais alto.
Peculiar na classe é o sistema Grip Control da versão Griffe THP, que ajusta o controle de tração em cinco modos, conforme a seleção no console central: Normal, Neve (desativa-se ao atingir 50 km/h), Lama (também adequado a grama molhada e ativo até 80 km/h), Areia (até 120 km/h) e ESP Off (que desliga o controle de estabilidade, só até 50 km/h).
Desempenho entusiasma com o motor THP, mas é bom também no
aspirado; câmbio, direção e conforto da suspensão agradam
Por que um carro com controle de tração precisaria desse sistema? Ocorre que tal sistema eletrônico, em geral, busca evitar a patinação das rodas motrizes por meio de frenagem (para perda de tração individual) e redução de potência (quando ambas patinam). Essa atuação pode criar dificuldade ao motorista em pisos menos aderentes: na lama, alguma patinação ajuda a “cavar” o terreno e encontrar terreno firme; na areia, certa patinação se torna necessária para não atolar. O Grip Control então ajusta o sistema para cada condição de uso.
Em obstáculo fora de estrada, o
Grip Control trouxe uma desenvoltura
inesperada para um tração-dianteira
Na apresentação do 2008 à imprensa, entre Porto Seguro e Santo André, na Bahia, o Best Cars dirigiu por cerca de 80 quilômetros as versões Griffe aspirada e turbo, ambas de câmbio manual (não havia carros com caixa automática suficientes), em trajeto variado que incluiu cidade, rodovia e trechos de terra, além de uma demonstração do Grip Control.
Começamos pelo aspirado, que deixou boas impressões. O peso moderado do carro (1.205 kg) deixa o 1,6-litro ágil, com respostas satisfatórias mesmo em rotações moderadas e com ar-condicionado a pleno. Suave e silencioso, o motor pode ser bem explorado sem causar desconforto. O comando de câmbio e a direção em manobras são levíssimos, muito agradáveis, e o volante ganha peso adequado em velocidades de rodovia. A suspensão mostra calibração mais voltada ao conforto, mas com estabilidade que inspira confiança nas curvas. Em pisos irregulares e lombadas é macia, mas em estrada de terra notamos transmissão de impactos maior que a ideal — seria o caso de redimensionar as buchas.
Prova na lama comprovou a eficácia do sistema Grip Control;
em rodovia, os amortecedores do THP podem melhorar
Ao passar ao THP, a potência e o torque adicionais só poderiam mesmo agradar. A resposta ao acelerador vem sempre intensa, catapultando o 2008 para onde se aponta de uma forma ainda desconhecida entre os modelos flexíveis da categoria. O câmbio mantém os engates leves e precisos, embora a marcha à ré seja menos prática (requer uso de anel-trava e colocação à esquerda, por haver a sexta marcha no lugar que ela ocupa na versão aspirada). No entanto, talvez por alguma variação de produção entre os carros avaliados, seu comportamento decepcionou.
O chassi dessa versão não parece apto a lidar com tudo o que o motor lhe fornece. Com amortecedores macios demais, a frente levanta-se ao acelerar — percebido mesmo a 120 km/h! — e a sensação é de que o carro não terá a estabilidade necessária para o desempenho que possui. É apenas impressão, pois ao tomar uma curva de alta seu comportamento foi estável, mas uma recalibração faria bem para deixar seus motoristas mais confiantes e para manter a fama da Peugeot de carros que sobressaem em comportamento.
Analisamos o THP também em um obstáculo fora de estrada que colocava à prova o Grip Control: uma valeta com lama, que recebia mais água de tempos em tempos. Passamos duas vezes ao volante e, com piso mais molhado, foi possível notar a atuação eficiente do sistema (indicada por luz piscando no painel) enquanto o carro vencia a subida enlameada com desenvoltura inesperada para um modelo de tração dianteira. Mais tarde, andando junto a um colega, vimos o 2008 sair de uma situação bastante agravada por algum tempo de chuva intensa. Longe de substituir uma tração integral, o sistema é realmente útil para se ir um pouco mais longe — ou voltar de lá — que em carros similares sem o dispositivo.
As versões Allure (à esquerda) e Griffe aspiradas oferecem câmbio
automático, mas de apenas quatro marchas: ponto a aprimorar
Neste primeiro contato o 2008 agradou bastante, tanto pelo ambiente interno quanto pelo desempenho e o conforto para motorista e passageiros — guardadas as limitações de espaço no banco traseiro. Ficam por ser avaliados o câmbio automático e um segundo THP, para confirmar ou afastar a má impressão acerca do comportamento dinâmico, mas no conjunto o novo Peugeot se mostra uma interessante opção.
Os preços estão bem situados na categoria em vista dos equipamentos de série de cada versão — como exemplo, o Griffe aspirado e automático sai na mesma faixa do espartano Honda HR-V LX, versão de entrada com câmbio CVT. Contudo, a Peugeot poderia ter aplicado como padrão o controle eletrônico de estabilidade, uma tendência no segmento, assim como não deveria abrir mão de fixações Isofix para cadeiras infantis. Ainda, a insistência em uma caixa automática de apenas quatro marchas em pleno 2015, assim como a oferta do THP só com câmbio manual, pode representar obstáculo ao êxito de um carro tão importante para a marca.
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Ficha técnica
Griffe |
Griffe THP |
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Motor |
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Posição | transversal | |
Cilindros | 4 em linha | |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote | |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo | 4 |
Diâmetro e curso | 78,5 x 82 mm | 77 x 85,8 mm |
Cilindrada | 1.587 cm³ | 1.598 cm³ |
Taxa de compressão | 12,5:1 | 10,2:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial | injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima (gas./álc.) | 115 cv a 6.000 rpm/ 122 cv a 5.800 rpm | 165/173 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 15,5/16,4 m.kgf a 4.000 rpm | 24,5 m.kgf a 1.750 rpm |
Transmissão |
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Tipo de câmbio e marchas | manual, 5, ou automático, 4 | manual, 6 |
Tração | dianteira | |
Freios |
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Dianteiros | a disco ventilado | |
Traseiros | a disco | |
Antitravamento (ABS) | sim | |
Direção |
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Sistema | pinhão e cremalheira | |
Assistência | elétrica | |
Suspensão |
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Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal | |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal | |
Rodas |
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Dimensões | 16 pol | |
Pneus | 205/60 R 16 | |
Dimensões |
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Comprimento | 4,159 m | |
Largura | 1,739 m | |
Altura | 1,583 m | |
Entre-eixos | 2,542 m | |
Capacidades e peso |
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Tanque de combustível | 55 l | |
Compartimento de bagagem | 355 l | |
Peso em ordem de marcha | 1.205 kg (manual), 1.236 kg (aut.) | 1.231 kg |
Desempenho |
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Velocidade máxima (gas./álc.) | 183/190 km/h (man.), 171/177 km/h (aut.) | 206/209 km/h |
Acel. de 0 a 100 km/h (gas./álc.) | 11,4/10,2 s (man.), 13,2/11,9 s (aut.) | 8,3/8,1 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |