Stepway, opção do Renault Sandero a ser bem pensada

Renault Sandero Stepway

 

Apesar do atraente visual, a versão “aventureira” encarece um
carro espartano e perde em conforto de rodagem para a original

Texto e fotos: Fabrício Samahá

 

Desde que a Fiat lançou no Brasil o conceito da versão “aventureira”, com a Palio Weekend Adventure de 1999, muitos motoristas colocaram na mente que essas derivações seriam a solução ideal para a qualidade das vias urbanas do País, com buracos, lombadas, valetas e ondulações que desafiam pneus e suspensões dos carros comuns — e, claro, os rins e o bolso de seus motoristas.

Da fábrica de Betim, MG, a ideia expandiu-se para marcas como Chevrolet, Citroën, Hyundai, Peugeot, Renault e Volkswagen, que a aplicaram a modelos tão variados quanto hatches, peruas e minivans — não cabe aqui relacionar utilitários esporte, que já nascem assim e não precisam ser convertidos após o projeto original. Hoje os “aventureiros” estão consagrados até mesmo entre os taxistas, por menos sentido que faça colocar um estepe no caminho entre a mala do passageiro e o acesso ao porta-malas.

 

 

 
Como os demais Sanderos, o Stepway ficou bem mais agradável de ver
nesta nova geração; rodas de alumínio de 16 pol são opcionais

 

Na Renault, o Sandero foi o escolhido para estrear a primeira versão do gênero, a Stepway, lançada em 2008 com adereços de estilo, suspensão elevada e rodas de 16 polegadas em vez de 14 ou 15. Com a apresentação da segunda geração do hatch, em julho passado, a versão de aventuras ficou em espera até ser apresentada no Salão de São Paulo, em outubro. Dessa vez, ao contrário da anterior, o mercado europeu teve acesso ao Stepway antes de nós, ainda em 2013.

 

O Stepway abre mão de parte do conforto
de rodagem do Sandero: a suspensão,
firme, transmite mais os impactos do piso

 

O Best Cars avaliou o modelo 2015 com os opcionais rodas de alumínio (R$ 690) e revestimento dos bancos em couro (R$ 1.160) — com o novo câmbio automatizado Easy’R ainda não estava disponível para empréstimo. Ao preço de R$ 51.350, esse Sandero vem de série com ar-condicionado com controle automático, direção assistida, limitador e controlador de velocidade, computador de bordo, rádio/MP3 com navegador integrado e interface Bluetooth para celular, faróis com refletor duplo, faróis de neblina, alarme perimétrico, banco traseiro bipartido, sensores de estacionamento traseiros e controle elétrico de vidros (todos), travas e retrovisores. Como avaliado, custava R$ 53.200.

Como antes, os adereços visuais do Sandero incluem molduras foscas nos para-choques e arcos de para-lamas, simulação de protetores de alumínio na frente e na traseira e barras de teto. As rodas de aço ou de alumínio são de 16 pol com pneus 205/55, ante 15 pol com 185/65 da versão Dynamique, e a suspensão elevada concorre para aumentar o vão livre do solo em 40 mm (para 190 mm) em relação aos demais Sanderos. O interior muda pouco: apenas sutis detalhes em laranja nos bancos, instrumentos e difusores de ar.

 

 

 
Detalhes em prata nos para-choques, molduras laterais e barras de teto
compõem o visual da versão, que oferece bom espaço para bagagem

 

Em termos de dados técnicos, além das medidas diferentes de rodas e pneus, o Stepway ganha estabilizador na suspensão traseira e mais 62 kg de peso, para 1.117 kg. Embora a Renault não quantifique, ele certamente tem coeficiente aerodinâmico (Cx) menos favorável por causa do maior vão livre (mais ar sob a carroceria é sempre prejudicial) e dos pneus mais largos — o valor do modelo básico, 0,34, já não é expressivo.

 

 

Como anda

Tendo o Sandero Dynamique sido analisado em detalhes no comparativo com o Nissan March, concentramos nossa avaliação do Stepway nas diferenças entre eles. O “aventureiro” recebe calibração própria na suspensão, pois sua estabilidade seria prejudicada com a altura adicional. Além disso, quando se aplicam pneus mais largos a qualquer carro, a aderência aumenta e a inclinação da carroceria em curvas precisa ser controlada. Como todo esse compromisso foi resolvido?

Bem, mas não com perfeição. A boa notícia é que o Stepway permanece um carro estável, apto a fazer curvas sem maior preocupação, com os movimentos de carroceria bem “amarrados” pelos amortecedores. Os pneus próprios para asfalto (Bridgestone Turanza ER 300 no avaliado, mesmo tipo do último Logan que testamos) mostram boa aderência no seco e no molhado e não trazem ruídos inconvenientes, em geral associados ao tipo de uso misto.

 

 


Espaçoso, mas simples no acabamento, o interior do Stepway
distingue-se pela opção de bancos de couro e detalhes em laranja

 

A má notícia é que o Stepway abre mão de parte de uma qualidade do Sandero: o conforto de rodagem. Firmes, suspensão e pneus transmitem mais as irregularidades e impactos do piso aos ocupantes, o que vai contra um dos objetivos da proposta “aventureira” adaptada ao uso urbano. Além disso, o peso adicional, mais 20 mm de seção em cada pneu e pior aerodinâmica só podem trazer perdas ao desempenho e à economia — e o estepe, antes integral, tornou-se temporário ao manter a medida de 15 pol em um carro que passou a 16 nos pneus de serviço.

Em desempenho, aliás, a Renault teria feito bem em manter o motor de 1,6 litro e quatro válvulas por cilindro que equipava de série essa versão até 2012 e, de lá para cá, vinha sendo usado apenas com câmbio automático (agora não mais: o motor é o mesmo para versões manual e automatizada). Embora a unidade de duas válvulas tenha passado por evoluções em 2013 e ofereça o mesmo torque máximo da outra com álcool (15,5 m.kgf), houve perda com gasolina (de 15,1 para 14,5 m.kgf) e em potência com ambos os combustíveis (de 107 para 98 cv com gasolina e de 112 para 106 cv com álcool).

Próxima parte

 

 

 

 
Conteúdo de série inclui ar-condicionado automático, limitador e
controlador de velocidade e o sistema Media Nav com áudio,
navegador e monitor de economia; estepe não segue os outros pneus

 

O motor atual responde bem em baixas rotações, mas se mostra “sem fôlego” em regimes mais altos. O quatro-válvulas era também mais suave e silencioso, com técnicas mais atuais no trem de válvulas. Embora o injustificável preconceito de muitos brasileiros possa ter tido tanta influência na decisão da Renault quanto a redução de custos, o fato é que os franceses foram na contramão de concorrentes como Volkswagen (com Gol e Fox) e Ford (Ka e Fiesta), que têm adotado motores multiválvula de concepção moderna.

 

O motor responde bem em baixas rotações,
mas se mostra “sem fôlego” em altas;
o 16V era também mais suave e silencioso

 

Diferenças à parte, é o mesmo Sandero — um carro prático e com espaço dos maiores na classe, mas um tanto simples em projeto e execução. Aspecto interno, acabamento e painel melhoraram na nova geração, embora haja deficiências como a tela central dos sistemas de áudio, telefonia e navegação (também câmera traseira de manobras no carro avaliado, um acessório aplicado em concessionária), muito sujeita a reflexos pela claridade que vem dos vidros laterais, e os bancos dianteiros algo curtos para apoiar as coxas.

 

 

 
Maior vão livre habilita o Stepway a terrenos mais irregulares, mas com
suspensão menos confortável; motor é bom só em baixas rotações

 

Também não é o melhor da classe em direção (poderia ser mais leve em manobras, carência comum às demais versões), câmbio (que tal uma aula com a VW sobre maciez e precisão?) ou nível de ruído (mecânica, pneus e aerodinâmica são bem lembrados em velocidades de viagem). E deixa de lado comodidades que fazem falta no dia a dia, como função um-toque e temporizador para o controle elétrico de vidros, iluminação na parte traseira da cabine e faixa degradê no para-brisa.

 

 

Comparado ao que existe de hatch “aventureiro” no mercado, o Stepway é atraente. O Gol Rallye tem mais potência (110/120 cv) em um moderno motor 1,6 de 16 válvulas, mas começa em R$ 55.650, ainda com bancos de tecido. O Crossfox de mesmo motor é ainda mais caro (R$ 61 mil) e passa de R$ 63 mil com couro sintético e rodas de alumínio, embora tenha recursos adicionais de série como controle eletrônico de tração e câmbio de seis marchas.

O maior adversário desse Renault é mesmo o Sandero comum, aquele carro despretensioso e competente, que anda mais, gasta menos, usa pneus mais baratos na reposição, vence muito bem a buraqueira e o sobe-desce do dia a dia urbano e ainda custa R$ 4.600 a menos na versão de topo, a Dynamique, com conteúdo equivalente. Para quem coloca a razão na frente da vontade de ostentar uma “atitude de aventuras”, não resta a menor dúvida.

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Ficha técnica

Motor

Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas no cabeçote
Válvulas por cilindro 2
Diâmetro e curso 79,5 x 80,5 mm
Cilindrada 1.598 cm³
Taxa de compressão 12:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima (gas./álc.) 98/106 cv a 5.250 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 14,5/15,5 m.kgf a 2.850 rpm

Transmissão

Tipo de câmbio e marchas manual, 5
Tração dianteira

Freios

Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) sim

Direção

Sistema pinhão e cremalheira
Assistência hidráulica

Suspensão

Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal

Rodas

Dimensões 16 pol
Pneus 205/55 R 16

Dimensões

Comprimento 4,091 m
Largura 1,751 m
Altura 1,64 m
Entre-eixos 2,588 m

Capacidades e peso

Tanque de combustível 50 l
Compartimento de bagagem 320 l
Peso em ordem de marcha 1.120 kg

Desempenho e consumo (gas./álc.)

Velocidade máxima 177/179 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 11,5/11,1 s
Consumo em cidade 10,5/7,4 km/l
Consumo em rodovia 11,6/8,1 km/l
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro

 

 

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