Storm traz visual diferente e evoluções a Ecosport 4WD

Versão 4×4 retorna com adereços de estilo, mais potência e caixa automática: saiba como ela se comporta

Texto: Fabrício Samahá e José Geraldo Fonseca – Fotos: divulgação

 

O Ford Ecosport volta a oferecer opção de tração integral no Brasil, mas não em uma versão regular como antes — até a linha 2017 o chamado 4WD seguia o acabamento Freestyle. No modelo 2018 a tração suplementar aparece na inédita versão Storm (tempestade em inglês), que usa o nome de um Ecosport conceitual do Salão de São Paulo de 2014, e adota transmissão automática de seis marchas em lugar da manual de mesmo número.

Ao preço sugerido de R$ 100 mil, o Storm torna-se o mais caro Ecosport no Brasil, acima até mesmo do Titanium (R$ 96.850). Por enquanto essa será a única opção 4WD no mercado local, embora a Argentina tenha recebido o Freestyle. Como no Titanium, o motor é de 2,0 litros com injeção direta, mais potente e com maior torque que o de injeção multiponto usado até então (confira os equipamentos de série no quadro abaixo).

A proposta da Ford é inseri-lo entre duas opções de utilitários esporte compactos com tração 4×4: o Renault Duster Dakar 4WD (R$ 89.290), de projeto antigo e caixa apenas manual, e o Jeep Renegade Custom 4×4 (R$ 110.290; há também as versões Longitude, Night Eagle, Limited e Trailhawk), que tem caixa automática e motor a diesel, mas vem muito menos equipado que o Ecosport. Por aqui o Storm será o único modelo do segmento a associar tração 4×4, caixa automática e motor flexível.

 

O Storm chega por R$ 100 mil como único Ecosport 4WD; faixas pretas, grade inspirada na da F-150 Raptor e capa de estepe são parte da caracterização visual

 

Para destacar seu apelo, a fábrica escolheu um visual diferenciado. De frente chama atenção a grade com o nome da versão em letras largas, seguindo a picape F-150 Raptor norte-americana. Os arcos dos para-lamas ganham molduras em preto fosco, mesmo tom das faixas nas laterais e no capô, dos retrovisores e da máscara dos faróis. Os para-choques trazem apliques em tom prata, há barras de teto transversais e o estepe recebe cobertura plástica com a inscrição Storm. A versão oferece as cores branco Ártico, prata Dublin, preto Bristol e a exclusiva marrom Troncoso. Grade, molduras e capa de estepe haviam sido previstas pelo conceito de 2014, mas com pneus todo-terreno e adesivos mais chamativos.

 

Na terra, a eficiência do controle de estabilidade pôde ser sentida; o bom trabalho de acerto da suspensão aparece também no asfalto e em pisos com imperfeições

 

As rodas em tom grafite, com desenho próprio, recebem pneus 205/50 R 17 para asfalto (Michelin Primacy 3) como no Titanium. Aqui discordamos da escolha da Ford: pneus de uso misto com perfil mais alto seriam mais coerentes à proposta e menos vulneráveis a danos no uso fora de estrada. O curioso é que nem mesmo do ponto de vista técnico, que recomenda manter o diâmetro total dos pneus do projeto original, os 205/50 são ideais: eles reduzem esse diâmetro em 2,4%, enquanto a medida 205/55 o aumentaria em menos de 1% em relação aos 205/60 R 16 do Freestyle.

No interior, a Ford elegeu uma cor de cobre — que combina com o marrom da carroceria — para diferenciar o Storm: ela aparece em molduras do painel, do console e das portas, assim como na costura dos bancos e do volante, revestidos em couro preto (o Titanium vem em bege claro). No quadro de instrumentos, o mostrador digital apresenta em gráfico a divisão momentânea de torque entre os eixos.

Em termos de equipamentos o Storm fica acima do Freestyle e abaixo do Titanium. Entre os itens adicionais ao Freestyle estão chave presencial para acesso e partida, faróis de xenônio com leds para luz diurna, rodas de 17 pol e teto solar com controle elétrico. Por outro lado, vem sem o alerta para veículo em ponto cego e tráfego cruzado do Titanium.

 

Tom de cobre aparece em molduras e na costura do couro preto; mostrador digital do painel indica repartição de torque entre os eixos

 

Mais potência e suspensão revista

O sistema de tração segue o princípio do Ecosport anterior: com uma embreagem multidisco junto ao eixo traseiro, a maior parcela do torque é enviada às dianteiras até que as condições demandem uma repartição diferente. Dotado de controle inteligente de torque (ITCC na sigla em inglês), o sistema reage em apenas 0,1 segundo e pode chegar a enviar 50% do torque às rodas traseiras. Não existe caixa de transferência (reduzida). Na antiga caixa manual a primeira era bem curta (17% mais que no 4×2 de mesmo motor), para maior capacidade de saída em rampa e de superar obstáculos. Essa vantagem perdeu-se: a caixa automática mantém as relações do Titanium, assim como a de diferencial.

A suspensão traseira, como antes, usa sistema independente multibraço no lugar do eixo de torção do Ecosport 4×2. As molas passam a ser progressivas, que reagem de modo diferente a pequenos e amplos movimentos, e a dianteira ganhou 17 mm em curso. Ela foi recalibrada para melhorar o conforto e filtrar mais os impactos e asperezas do piso. A Ford anuncia redução de 37% em vibrações de baixa frequência ao volante, 19% nas de alta frequência e 18% em vibração no assento (grandes amplitudes) em relação ao 4WD anterior. O vão livre do solo (200 mm) é quase o mesmo do Titanium (191 mm).

 

 

Com o motor de injeção direta, o Storm ficou 28 cv mais potente que o antigo 4WD e ganhou 15% em torque: passou de 141/147 cv e 19/19,7 m.kgf para 170/176 cv e 20,6/22,5 m.kgf, sempre na ordem gasolina/álcool. A transmissão automática 6F35, mais robusta que a das versões de 1,5 litro, permite mudanças de marcha via comandos no volante. Com a perda energética da caixa em comparação à manual de antes e o aumento de peso em 65 kg, o carro ficou só um pouco mais rápido: acelera de 0 a 100 km/h em 10,7 segundos contra 10,9 s do antigo, ambos com álcool.

A avaliação do Storm foi feita em percurso de 38 quilômetros por estradas de terra, rodovia (entre Itatiba e Bragança Paulista, no interior de São Paulo) e trecho urbano. O uso de pneus de asfalto ajudou bastante na redução dos ruídos de rolagem e na melhora da aderência em curvas. Na rodovia constatou-se bom desempenho, embora o carro não pareça fornecer os 176 cv informados — a futura avaliação completa com medições permitirá esclarecer melhor tal sensação.

 

Motor de 176 cv e recalibração da suspensão melhoraram comportamento do 4WD, mas pneus 205/50 R 17 de asfalto não parecem melhor escolha

 

A caixa automática mostrou bom acerto, com trocas rápidas, e o auxílio do conversor de torque nas saídas é bem-vindo em um 4×4. Na estrada de terra a tração cumpriu seu papel, ajudando o carro a escorregar menos e compensando de certa maneira a falta dos pneus de uso misto. Boa estabilidade em curvas para um utilitário esporte e potencial de frenagem compatível com o desempenho são atributos do Ecosport. Forçando um pouco mais na terra, em curvas mais fechadas e poças de lama, a eficiência do controle de estabilidade pôde ser sentida.

As modificações na suspensão ajudam na absorção de impactos. O bom trabalho de acerto ficou à mostra tanto na terra quanto no asfalto, em pisos com imperfeições e lombadas. Quase não se sentia vibração no volante, algo que incomoda em alguns veículos do gênero. O que faltou no percurso foram obstáculos que pudessem à prova a capacidade da tração e a saída em rampas acentuadas — talvez não seja mesmo esse o objetivo, mas apenas acrescentar alguma aptidão fora de estrada ao modelo conhecido.

O Storm parece apto a conquistar seu lugar nas vendas do Ecosport. A estratégia de diferenciá-lo dos demais em visual parece acertada, enquanto a caixa automática e o pacote de equipamentos bem superior ao do antigo 4WD indicam sua adequação ao perfil atual de compradores. Para quem não quer pagar bem mais pelo Renegade a diesel de conteúdo semelhante, nem se contenta com o defasado Duster, ele se torna a única — mas uma boa — opção.

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Equipamentos e preço

• Ecosport Storm (R$ 100 mil) – Alarme volumétrico, ar-condicionado automático, assistente de partida em rampa, bancos revestidos em couro, bolsas infláveis frontais, laterais dianteiras, de cortina e de joelhos do motorista; câmera traseira de manobras, chave presencial para acesso e partida, cintos de três pontos para cinco ocupantes, computador de bordo,  controlador  e  limitador de velocidade, controle elétrico de vidros com função um-toque e abertura/fechamento a distância, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis de neblina, faróis de xenônio com leds para luz diurna, faróis e limpador de para-brisa automáticos, fixação Isofix para cadeira infantil, monitoramento de pressão dos pneus, navegador, porta-luvas refrigerado, retrovisor interno fotocrômico, rodas de alumínio de 17 pol, sensor de estacionamento traseiro, sistema de áudio Sync 3 com integração a telefone e tela de 8 pol, teto solar com controle elétrico, volante com ajuste de altura e distância.

Cores: branco Ártico, prata Dublin, preto Bristol e marrom Troncoso.

Garantia: três anos sem limite de quilometragem.

 

Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo
Diâmetro e curso 87,5 x 83,1 mm
Cilindrada 1.999 cm³
Taxa de compressão 12:1
Alimentação injeção direta
Potência máxima (gas./álc.) 170/176 cv a 6.500 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 20,6/22,5 m.kgf a 4.500 rpm
Transmissão
Tipo de caixa e marchas automática, 6
Tração integral sob demanda
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira independente, multibraço, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 7 x 17 pol
Pneus 205/50 R 17
Dimensões
Comprimento 4,269 m
Largura 1,765 m
Altura 1,693 m
Entre-eixos 2,521 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 52 l
Compartimento de bagagem 356 l
Peso em ordem de marcha 1.469 kg
Desempenho e consumo (gas./álc.)
Velocidade máxima 180 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h ND/10,7 s
Consumo em cidade 8,5/6,0 km/l
Consumo em rodovia 11,4/8,0 km/l
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível

 

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