Projeto Cyclone de união entre as marcas na América do Sul se materializa, apesar de informações discrepantes
Aos 19 de junho, em nota conjunta e cronometrada para ajustar diferentes fusos horários, Ford, em Dearborn, nos Estados Unidos, e Volkswagen, em Wolfsburg, na Alemanha, diziam da disposição das companhias em “explorar uma aliança estratégica desenhada para fortalecer a competitividade”. Explicitava não se tratar de fusão, aquisição, troca de ações, para tranquilizar o mercado, abortar especulações sobre junção das empresas.
No Brasil e na Argentina a ênfase foi mostrar que não seria reedição da Autolatina, união das duas marcas nos anos 80 para tentar sobreviver na Década Perdida. No Brasil e na Argentina trouxe confusões internas, perda de mercado para a Ford, miscela de produtos, funcionários desorientados. Na Argentina gerou uma fábrica para a Volkswagen, seccionando a da Ford, dividindo-a com simplória cerca.
Negócio anda e tem nome: Projeto Cyclone. Na América do Sul se materializa, apesar de informações discrepantes. Pablo Di Si, CEO da VW, disse à Coluna de reuniões sucessivas entre as marcas para identificar produtos de ambas as partes para provocar sinergia. Na prática, duas marcas, mesmo produto com sutis diferenças estéticas e identificativas, resultado fácil de ser obtido com a mudanças de peças plásticas, como para-choques, grades, faróis. Consultada, área de comunicação corporativa da Ford disse desconhecer qualquer desdobramento desde o comunicado anterior, de junho.
Nesta conversa de solitário interlocutor, ele é Heiner Lanze, alemão, transferido da matriz alemã, para conduzir a parte VW nas tratativas. Herr Lanze deve estar sendo visto pela Ford na Argentina como um pândego, ao tentar cumprir sua missão, percorrendo a cerca separando as duas marcas em Pacheco, à procura de com quem dialogar…
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Negócio de amplo espectro, motivado pela Ford e seus receios presentes e futuros quanto às operações com veículos na América Latina. Em processo mundial de enxugamento, materializado por cortes de pessoal, investimentos, suprimirá todos os automóveis da produção norte-americana, substituindo-os por picapes ou utilitários esportivos. Na AL, onde escritura valente prejuízo – circa US$ 1 milhão por dia -, decisão na matriz, contada aos leitores da Coluna, será substanciada na Argentina, pela não atualização da picape Ranger e do automóvel Focus. Manterão linhas defasadas até serem repelidos pelo mercado. No Brasil os automóveis serão substituídos por único modelo, pequeno SUV.
Caminhões não terão longa vida e, ao final, a grande área fabril em São Bernardo do Campo, SP, será vendida. Toda a produção do mono-Ford ocorrerá em Camaçari, BA. Na prática, a continuidade da Ford, sem investimentos para novos produtos, instiga-a no sentido de tê-los sem aplicar para fazer, e a saída é comprar de terceiros.
Pablo Di Si disse à agência Reuters que negócios concretos apenas em 2019. Será o primeiro passo, e há quem aposte na produção da picape Amarok das duas caras e duas marcas – como ocorrerá no mesmo país com picapes Nissan, Renault e Mercedes. Início com produtos existentes, e futuramente desenvolvimento conjunto Ford+VW. A iniciativa da Ford visa âmbito mundial. Empresa iniciou tratativas com o grande grupo indiano Mahindra, no mesmo sentido – e para aprender a fazer veículos com custos reduzidos.
Kia retoma mercado com Stinger e Stonic
Kia iniciou a operação resgate – de vendas e participação no mercado nacional. No rescaldo dos prejuízos causados pelo nunca explicado programa Inovar Auto, suas vendas desabaram de quase 100 mil unidades para aproximados 5.000/ano. Neste pretende venda de 8.000 veículos, mantendo o crescimento nos próximos.
Forma de bem assinalar a marca será com o sedã Stinger, de dinâmica esportiva: grande, 4,83 m, 2,91 m de entre eixos, bom espaço aos usuários. Motor V6 3,3 litros, biturbo, 370 cv, acelera de 0 a 100 km em 5,8 s. Um exemplo. Há 25 anos a Hyundai copiava carros japoneses fora de produção. Com um projeto de aposta no futuro de uma geração bem formada, colhe os resultados. Nós, com a cabeça de colônia, continuamos replicando produtos exógenos – do exterior -, e com projetos de baixa nacionalização.
Trará ao Brasil contidas 20 unidades, promocional, a preço de R$ 350 mil – a Kia deu um tempo nas importações até arrefecer o corcoveio do valor do dólar. Será a série Launch Edition by Emerson Fittipaldi. O campeão estará na festa.
É um flagship, bandeira da marca, para mostrar tecnologia, um de seus pontos fortes. Entretanto o modelo no qual deposita suas fichas para crescer é o Stonic – nome deve ser mudado para outro com melhor latinidade. Nos mercados com preponderância do idioma inglês, Stonic tangencia dicionários como aglutinação de Speedy, veloz, e Tonic, tônico.
É feito no México, importado sem as inexplicáveis cotas – na verdade, explicáveis vistos agentes e interesses envolvidos – e sem pagar imposto alfandegário dentro do acordo comercial entre os dois países. Lá é produzido sobre a plataforma do pequeno sedã Rio e tratado como hatch. No Brasil, mercado de pouco esclarecimento, será mais um utilitário esportivo, não apenas por tal morfologia ser de agrado e preferência do mercado, mas facilitado pela classificação permitida pelo Inmetro. A entidade os define por ângulos de entrada e saída de obstáculos, dados físicos alcançáveis com a simplória elevação da carroceria, conferindo-lhe ar de valentia, tão a gosto do mercado.
Tem 4,14 m de comprimento – concorrentes frontais, Chevrolet Tracker, 4,16 m; Citroën Cactus, 4,17 m; e medida do futuro VW T-Cross. Hyundai Creta, 4,25 m, é maior. Motorização 1,0 turbo e 1,6 aspirado. Estará no Salão do Automóvel, boa ocasião para escolha popular do nome, e vendas em 2019.
Roda a Roda
Antecipação – T-Cross, próximo SUV da Volkswagen, motor 1,4 TSI, câmbio automático de 6 velocidades, programado para apresentação no Salão do Automóvel, com vendas em janeiro, terá mostra anterior. Carros com disfarces. Apresentação conjunta para Brasil, Alemanha e China, onde será produzido.
De novo – Depois de perder seu negócio no original Uruguai para a chinesa Lifan, empresário Eduardo Effa resolveu aviar a fórmula em Manaus, AM, para aproveitar as vantagens incentivadas e regra de produção local. Quer, próximo ano, incluir dois monovolumes na linha das picapes lá montadas: van para passageiros e, sem vidros laterais, para cargas. Negócio simples: peças compradas na China e agregadas na Zona Franca de Manaus.
Vem aí – HPE, fabricante dos Mitsubishis no Brasil, apresenta o Eclipse Cross. Nada a ver com o esportivo na década de 90 preferido por intelectuais futebolistas, mas um SUV construído sobre o ASX. Medidas assemelhadas ao ASX, motor turbo e injeção direta 1,5 litro, tração em 4 rodas. Preço de R$ 150 mil.
Mãos dadas – Concorrentes em automóveis, BMW Group e Daimler AG – dona da Mercedes -, fizeram joint venture em mobilidade global. Longe da base das companhias, escolheram Berlim por simpatia ao governo alemão, incentivando o renascimento da cidade. Querem desenvolver e vender soluções ao mundo.
Negócio – A mudança de óptica negocial, fazendo a Toyota do Brasil líder continental, e da unidade argentina base para produzir picapes Hilux e SUV SW4, ambas com a missão de abastecer o Continente, ampliou-se. Toyota argentina iniciará exportar partes para linha de montagem na África do Sul, e por seu intermédio vender as picapes argentinas à Europa. Hoje tal fornecimento é feito pelo país africano, com capacidade industrial saturada. Os Toyotas argentinos farão triangulação.
Antigos – Autoclásica, maior evento de antigomobilismo do Continente, junta atrações. Nesta edição, outubro, Citroën festeja os 50 anos do Mehari, e levará raridades à mostra. Uma delas, uma picape feita sobre o 2CV em 1964 e 1965. Iniciativa mundial, o mercado não se mostrou sensível e produção cerrou após 300 unidades. Restou uma – a ser exposta.
Correção – Ford Ka aplicou reforços estruturais para a Coluna B e obteve três das cinco estrelas possíveis para proteção de passageiros adultos em teste do Latin NCap. Na avaliação anterior havia recebido 0 ponto. Nota é verdadeira enzima de segurança, e fabricantes como a Ford e a GM, expostos à insegurança dos produtos, tratam de repará-los por questões institucionais e de responsabilidade civil – o medo das sentenças condenatórias em ações de indenização.
Gente – Robson Cotta, engenheiro, 36 anos de Fiat. Gerente de Desenvolvimento, criou escola e método para acerto de direção, suspensão e freios. Os da FCA são primorosos e ampliam mercado. Trabalho realizado no Fiat Freemont foi adotado nos EUA pelo Dodge Journey. / Rogério Franco, porta voz da Citroën, deixá-la-á a partir de novembro. Excelente nome, correto, experiente. Mercado é carente destas qualidades.
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