Japoneses acertaram no foco ao definir o produto; Fiat prepara lançamento de sucessor de Palio e Punto
Após 1.200 km de condução ao devolver o Nissan Versa, padrão Unique, o mais elevado da linha, tive uma certeza: reverenciar o responsável pela composição do produto.
Explico: carros não saem contendo todo o potencial técnico dos fabricantes, mas são compostos em função do público de destino, características do mercado, faixa de preço e de concorrência onde deve atuar. Isto permite acertos e muitos erros – nestes, clamoroso, o Alfa Romeo 155 sem ar-condicionado… Acredita? Carro importado sem o inafastável conforto nos trópicos? Pois houve. Era para reduzir preço final, e tal versão foi ironicamente chamada por executivos da Fiat Brasil de CS, iniciais do autor da proposta.
Pois o/a camarada nissaniano acertou no foco ao definir o produto. O Versa, feito no Brasil sobre a plataforma do March, motor importado do México e transmissão japonesa, é produto aspiracional, ou seja, de desejo por usuários de veículos menores, mais baratos ou desequipados. Por isto, deve ser atrativo e alcançável no oferecer características construtivas e noção de status. Considerou outra verdade: poucos compradores o fazem por conhecer o conteúdo da ficha técnica ou habilidades. Maioria compra para impressionar os vizinhos, provocar o cunhado, o colega do escritório.
Com tal objetivo, fórmula é bem adequada ante características de automóvel para tal cliente: dimensões, bom espaço no banco posterior, porta-malas generoso, linhas recentes, a aura nipônica à qual o lumpenzinato automobilístico atribui qualidades supremas, e o compôs como se fora um kit impressiona-vizinho. Motor 1,6 e transmissão CVT, revestimento com partes em couro; tela de comando e som; trio mais ou menos elétrico. Os levantadores dos vidros cumprem apenas 1/8 de sua missão: são automáticos apenas para levantar o vidro do motorista… Em segurança, o mínimo legal de freios com ABS e duas bolsas de ar. Tem painel de material áspero, mas de boa aparência, enfeitado, ar-condicionado digital, comandos de som no volante.
Andando
No operacional é honesto nas propostas. Hígido, diriam os médicos. Motor Nissan 1,6 gera 111 cv e 15,1 m.kgf de torque – foi revista e melhorada pela Renault e deverá exibir tal reacerto, produzido no Brasil, com 118 cv e 16 m.kgf. Transmissão de polias variáveis CVT com monitoramento eletrônico. Quando você aperta um botãozinho na alavanca de marchas, Overdrive Off, reduz. Não oferece as pequenas alavancas de avanço e retardo nas marchas, exceto em baixa velocidade, quando pode-se puxar a alavanca para a marcha reduzida.
Falha? Vejo como ponto de coerência. Seu comprador quererá espaço, um mínimo de segurança, baixo consumo, bons freios, boa aparência. Não será um cultor das artes da condução e por isto o carro faz tudo, escolhendo relações à sua vontade. Se insistir em demandar redução, dependendo da pressão do acelerador reduzirá as marchas virtuais e o motor urrará sob o capô.
Se você tem orçamento contido, precisa de automóvel com cara nova, bom espaço, itens de conforto, econômico, e dispensa prazer ao dirigir, é este. Seria um ótimo veículo para o serviço de táxis. Em resumo é ágil – de 0 a 100 km/h em quase 11 segundos —, boas retomadas, consumo reduzido. Dirijo em cidade de trânsito ainda civilizado e obtive mais de 13 km/litro na cidade com gasolina; álcool, em torno de 10 km. Em Brasília a quase igualdade de preços não justifica o uso do álcool. Preço? Vais ouvir R$ 70 mil, mas pondere condições. O mercado está para o comprador.
Março, abril, o substituto do Punto e Palio
Fiat começou o ano nas tratativas e providências para produzir o Projeto 326. No caso versão X6H, de hatch, para substituir o Punto e versões mais caras do Palio no mercado latino-americano. Plataforma de desenvolvimento doméstico tendo como base a empregada na última geração do Palio, e a dois outros desdobramentos: sedã, versão X6S, a ser produzido na Argentina, e picape, nominada internamente X6P, no Brasil. Com quatro portas buscará clientes do Grand Siena e Linea com apresentação no Salão de Buenos Aires, junho. Picape substituirá a Strada ao final do ano.
Fiat manterá política de sua criação, produção paralela do original e do substituto. No caso, o 326H ocupará espaço das versões mais caras do Palio. As de menor preço serão mantidas. Idem para a picape atual.
Serão produtos exclusivos para o Continente, com desenvolvimento local, e motorização conhecida em outros produtos: três-cilindros 1,0-litro; 1,8-litro 16-válvulas e em alguma versão esportivada o 1,4 turbo dito TJet. No geral, itens hoje adotados nos Fiat em seu recente processo de incremento de conteúdo, como conectividade e parada/partida automática.
Jipinho
Desdobramento da família, a Fiat iniciou a desenvolver pequeno utilitário esporte com jeito, cara e propostas de valentia de Jeep. Não seria Fiat, mas o primeiro degrau da marca norte-americana. Coluna noticiou. Planos foram congelados por conta da plataforma. A empregada para o Projeto 326 exigiria muitos investimentos industriais para encaixá-la na linha de produção comum a Renegade, Compass e Toro, todos com plataforma própria e diferente. E reduzi-la para o pequeno produto é tecnicamente factível, mas tornaria preço final fora de competição. Como disse fonte da Fiat, se não for ao mercado mais barato que o Suzuki Jimny, não serve.
Roda a Roda
Eco, IV – O Ecosport em geração revista, esperada e não aparecida no Salão de São Paulo, atração em Detroit. Carlos Galmarini, da Ford Argentina, disse será lançado no Brasil em maio e apresentado no Salão de Buenos Aires, em junho. Recebeu atualizações, como nova frente, painel e conectividade. Mecânica terá motor importado de 2,0 litros ou nacional 1,5. Será vendido nos EUA como SUV de entrada da marca. Mudança local, estepe interno. No Brasil deve tê-lo pendurado externamente. Aqui, ao contrário dos EUA, há demanda por espaço para levar malas.
Salão – NAIAS em Detroit, abrindo ciclo de salões mundiais, expõe tensão sobre a gestão Trump e sua ameaça de mudar acordos econômicos, taxando os carros mexicanos, aumentando impostos de importação. Muito modificará mercado. Com bandeira do americanismo, crítica de investimentos produtivos em outros países, e a ameaça de taxar em 35% veículos fabricados pelas marcas dos EUA no México, Donald Trump sacudiu a indústria.
Amostra – Ford e FCA cancelaram aplicação de capital no país vizinho centrando a grana nos EUA. Ford desviou US$ 1,6 bilhão do México e aplicará US$ 700 milhões em casa para lançar 13 carros elétricos, incluindo Mustang. FCA, US$ 1 bilhão para modernizar a fábrica de Warren, nas beiradas de Detroit, e para ela transferirá do México a produção das picapes Ram de maior capacidade. Informa nada estar relacionado ao novo governo. Mesmo contam Mercedes e Volkswagen, com sólidos investimentos. Ciclos das grandes empresas são muito superiores aos dos governos.
E? – Andamento do governo Trump, além de escapar de sua inacreditável capacidade de criar confusões, pode ser imaginado como ponto de equilíbrio entre o bom senso e o marketing. Já há consequências: subiram os preços dos imóveis da abandonada Detroit, ante a projeção do aumento de produção e atividade econômica. Dúvida em Detroit: a família do futuro presidente ali aplica sua expertise em imóveis?
Mais – Há um Salão do B em Detroit. Paralelo ao NAIAS, menor, extensamente mais rico, com marcas de preço elevado, ausentes da festa do público. Chama-se The Gallery e recebe Bugatti, Lamborghini, Ferrari, Aston Martin, versões de topo de Cadillac, e elétricos Tesla e Faraday. Convites a VIPS, entradas a US$ 500, trato de primeira qualidade, bufê autoral, chefe premiado. A quem vai e compra.
Nova Kombi – Depois do Dieselgate – problema de motores diesel emitindo poluentes acima da norma legal -, Volkswagen toma caminho ecológico: em Detroit mostrou o elétrico ID Buzz, releitura da Kombi. Proposta é multiforma, aumentando espaços e se tornando conversível, e condução autônoma.
Razão e emoção – Na mostra, síntese do Audi Q8, mistura da lógica de SUV com a emoção de cupê, deverá vir à vida nos próximos meses como caminho de estilo a seus utilitários esporte – cada vez mais esportivos e menos utilitários.
Foco – Em casa Ford exibiu a face do receio. Líder de mercado com picape F-150, vendo concorrentes crescer, apresentou a F-150 2018, apenas 3 anos após atual versão. Incremento no uso de alumínio militar na caçamba, chassis em aço para reduzir peso, ênfase na cara de mau, e eletrônica de automóvel. Setembro. Novidade, opção V6 a diesel. Voltou a ter a Ranger no mercado doméstico, e relançará o Bronco, um 4×4, utilitário esporte com estamina, mercado deixado pela empresa.
Rigor – Em ano de retração, poucas marcas cresceram: Porsche, Lexus e Jaguar. Esta, 53% em vendas, turbinadas pelo novo XE, de menor preço. No total Jaguar e Land Rover venderam 7.434 unidades em 2016, menos 18,5% ante 2016. Outros Premium também caíram em relação a 2015. Mercedes liderou nos segmentos onde participa, BMW e Audi quase empatadas, mas BMW fechou o ano liderando com 11.860 unidades licenciadas.
Reação – Notícia no jornal Folha de S. Paulo sobre cortes de incentivos até 2018 gerou protesto da Abeifa, associação dos importadores. Tais vantagens estão no programa Inovar-Auto, aplicado para aumentar nacionalização e reduzir consumo.
Razão – Programa se encerra neste exercício, sem atingir resultados – hoje a montagem das marcas aderentes tem nacionalização inferior à do início da indústria automobilística, há 60 anos. Freou importações, recolhimento de impostos, empregos. Em números, à implantação país importava 199 mil unidades, 5,82% do mercado doméstico; recolheu R$ 6,5 bilhões em impostos; dava 35 mil empregos. Após cinco anos importações caíram a 35.800, 1,8% no decrescente mercado interno; impostos a R$ 1,2 bilhão; sumiram 21.500 empregos.
Caminho – Para fomentar negócios com caminhões 0-Km, MAN Latin America aderiu à compra e venda de caminhões usados. Cresceu 80% ano passado. Mercado dos usados tem 6,8 x 1 de 0-Km e destes fomenta venda.
Novela – TV Globo corrigiu erro no livro de origem à atual série televisiva Dois Irmãos. Autor Milton Hatoun citou jipe Land Rover em cenário de 1945. Substituiu por Ford station woodie, belíssimo, 1942. Land Rover surgiu em 1948.
Valor – Quanto vale um dos 25 Mercedes-Benz 540K Special Roadster? Considerado o mais belo automóvel já produzido, performance assustadora para o fim da década de ’30. Motor oito-cilindros, 5,0 litros, 110 cv logo expandidos a 180 com uso do compressor volumétrico: atingia quase 180 km/h.
Leilão – Resposta no primeiro grande leilão de antigos na temporada norte-americana, o RM-Sothelby’s em Scotsdale, Arizona. Projeta-se valor em torno de US$ 8.500.000. Mesma unidade foi vendida em 2011 por US$ 4.620.000. Voltou ao martelo em 2013 e cravou US$ 7.480.000, valorização de 62% em dois anos.
Gente – Oliver Schmidt, da VW of America, comandando o departamento de compliance, a ética empresarial, preso pelo FBI. No Dieselgate, escândalo de motores diesel emitindo poluentes acima da norma legal, sempre contestou as acusações do governo americano. Subalterno fez delação reconhecendo a fraude. Eventos aceleraram acordos com os EUA para fim dos processos.
Espaço patrocinado
Os recordes da Toyota em 2016
Ano ruim para o segmento da mobilidade não atingiu a Toyota do Brasil. Empresa fechou exercício crescendo 2,6% nas vendas relativamente ao exercício passado e, pela primeira vez, atingiu 8,8% de participação no mercado, encerrando o ano como a 5a marca mais vendida, à frente da Ford. É o melhor resultado numérico e institucional da marca desde sua chegada ao Brasil há 59 anos.
Dentre produtos o SW4 consolidou liderança no segmento, ampliando vendas em 40%, atingindo 12.175 unidades vendidas, 53% do segmento SUV. Hilux assumiu a liderança nas picapes médias. Pontualmente o Etios, com correções a partir de sugestões, evoluiu como produto, vendendo 67.768 unidades no mercado interno e iniciando carreira de exportações para Argentina, Paraguai, Peru e Uruguai, com 26.424 unidades. Toyota do Brasil enviou 43.561 de seus produtos para a América Latina.
Todas as versões do Etios tiveram crescimento de vendas e participação no exercício. Surpreendendo, o sedã Corolla conservou a liderança entre os sedãs médios, vendendo 48%, quase metade, no segmento. Outro segmento implementado pela Toyota é o de carros híbridos. O Prius em 4a geração, lançado em junho, com preço incentivado, teve seu melhor ano de vendas, liderando o setor ao comercializar 486 unidades, 128% sobre 2015.
As conquistas da Toyota são consequentes às mudanças de parâmetros e processos internos em qualidade, produtividade, gerenciamento de custos e cadeia de valor, resultantes da vinda de Steve St Angelo como CEO da Toyota para América Latina e Caribe, e Chairman da Toyota do Brasil. St Angelo é indicação pessoal de Mark Hogan, norte-americano integrando o Board da matriz no Japão. Ex-vice-presidente mundial da GM e presidente na filial Brasil, Mark designou St Angelo para redesenhar a Toyota na América Latina. Um dos passos importantes foi a decisão de investir na fábrica de Porto Feliz para construir motores destinados ao Corolla e a próxima geração equipada com turboalimentador.
A coluna expressa as opiniões do colunista e não as do Best Cars