Se presenças foram menores, houve adensamento de qualidade dentre os veículos mais expressivos do encontro mineiro
País forma tradição com o Encontro Nacional de Veículos Antigos, sempre identificado com a cidade de Araxá, MG. A 22ª edição mostrou-o no caminho certo, apesar da economia em descenso e suas más consequências. Se presenças foram menores, houve adensamento de qualidade dentre os veículos mais expressivos. Na prática gerou esforço para depurar, filtrar os eleitos aos prêmios principais.
No topo da pirâmide da importância ficou o Lincoln V12 Conversível de 1936. Pertencente ao colecionador mineiro Rúbio Fernal, é única unidade no Brasil e rara no mundo, como motor grande, egresso da Recessão do fim da década de 1920. Levou o prêmio Roberto Lee, para o melhor automóvel no evento. Outra característica foi a distribuição de mais de um prêmio a alguns participantes.
Caso de Ailton Gracia, engenheiro com oficina por hobby para recuperar antigos de sua propriedade e de amigos. No caso levou um par de Pumas GT 1967 – 125 construídos – com motor Vemag, idênticos em todos os detalhes. Idem, dupla de Jaguar 130 de 1952 e 1953; da coleção de Mercedes liderada por Nelson R. Gouvea; de proprietários de Romi Isettas. A Coleção JORM, o colecionador José Luiz Gandini, o mesmo Rúbio Fernal foram outros pluripremiados.
Das curiosidades, Nash 1951 com carroceria Statesman não montada no Brasil e chamando atenção por artefato externo, como uma turbina, tocada com a passagem de ar, refrigerando o interior do automóvel. Alentada coleção de Porsches, de 356 aos últimos modelos, pelo colecionador Sérgio Magalhães, e raridades como Cord e Graham-Paige, marcas há algum tempo não vistas. E ativo grupo com Alfa Romeo. De JK a Alfa 2300, incluindo bateria de GTVs, Sprint Veloce, Spyder, e únicas Alfetta e 33.
Organizadores insistem em realizar leilão. Fazem bem, apesar da baixa liquidez — pouco mais de 20% dos veículos foram vendidos, compreensível pela falta de tradição dos participantes, tanto para pedir quanto em lances titubeantes.
Neste ano a Mercedes-Benz assumiu a cota de patrocínio anteriormente detida por mais de década pela Fiat. Induziu presença da marca, incluindo exemplar de seu Patent Wagen da série iniciada em 1886 — não é réplica, mas continuidade de produção —, fez testes, expôs veículos novos, e analisa a continuidade do apoio ao encontro de Araxá. Marca é dos principais patrocinadores do mais refinado evento do ramo nos EUA, o Pebble Beach Concours d’Élegance, abrindo a programação em famoso e disputado jantar.
Tem base e experiência para assumir a identificação com o movimento antigomobilista. E praticantes em casa: o CEO mundial da área de automóveis Mercedes, Dieter Zetsche, e o da América Latina, Philipp Schiemer, são possuidores de MB 280 SL, os pequenos conversíveis da década de 1960, com teto elevado, apelidados mundialmente Pagoda.
Curiosidade, o prêmio extra denominado Pressão: grupamento feminino da família Gouvêa levou Ford Thunderbird 1956 e Lambretta pintados em rosa – cores de época. Pressão feminina criou o prêmio. Outra, um barn find, verbete especializado para designar achados de galpão. No caso, os irmãos Marx levaram raro sobrevivente Lancia Astura 1938, carroceria especial por Batista Farina, há décadas localizado e guardado no galpão do pioneiro antigomobilista Angelo Bonomi, passado há alguns anos. Tão impactante, foi dispensado de passar rodando para receber o prêmio, mudando a regra do evento. Quando pronto, rotula o especialista Rex Parker, será dos cinco mais importantes antigos no Brasil.
Grupamento de esportivos italianos — De Tomaso, Ferrari, Lamborghini — e insólitos, como um De Lorean. Especialmente bem-vindos, Og Pozolli e Pacifico Mascarenhas, pioneiros no criar e sedimentar o antigomobilismo. Composição do Pacifico tornou-se o hino oficial do VCC MG. Igualmente festejado Leo Steinbruch, que com seu irmão Fabio reuniram sólida coleção de antigos. Leo andava recluso desde o súbito passamento de Fábio.
Nacionais, poucos, incluindo a bateria de Romis, e premiados Alfa B (indicada pelo Alfa Romeo Club), Puma Vemag do brasiliense Renato Malcotti, Puma GTB 1977 com Flávio Cardoso, Ford Landau 1969 de Ricardo Kamil, e tão primorosa quanto rara Simca Jangada 1965 do paulistano Antônio Guedes, solitária representante da marca. Grande ausente, apesar de ter sido a mais vendida ao início dos anos 1960, e com grande leque de produtos, não havia um só Aero-Willys para relembrar a história. Apenas duas Rurais.
Em resumo, valeu a pena e deu mais um passo evolutivo. Mesmo não se pode dizer do item referente à reeleição para a presidência da Federação Brasileira de Veículos Antigos. Sem cumprir o prometido programa de gestão, marcada por viagens e alegorias festivas inadequadas, contatos oficiais ociosos e sem resultados práticos. A omissão executiva na FBVA está minando a credibilidade do movimento antigomobilista nacional. Na prática, custa muito e nada entrega. Mas talvez seja isto que o movimento dos automóveis antigos deseje.
Motores: prêmio aos melhores
Iniciativa inglesa, o International Engine of The Year, é júri mundial de jornalistas especializados — no Brasil inclui o editor da Coluna. Lista os motores recém-lançados ou os de desempenho, os promotores de vendas, os abridores de novos caminhos. Em suma, detentores de qualidades para alcançar o precioso carimbo promocional de melhor do ano. Votos são depurados em etapas, nas diversas categorias, tanto por cilindrada quanto por qualidade ecológica, e ainda o Motor Internacional do Ano. Resultado foi apresentado dia 1º.
Ferrari passou o rodo com seu novo motor V8 biturbo de 3,9 litros e 670 cv aplicado ao 488. Um desafio com foco ecológico para substituir o 4,5 aspirado. Ganhou como New Engine; Performance Engine; Motor entre 3 e 4 Litros e o prêmio máximo, o International Engine of The Year 2016. Melhor sob aspecto ecológico, premiou a plataforma da Tesla, marca independente dos EUA. Grande argumento de sua ida ao mercado para vender ações e viabilizar a produção de 500 mil veículos de seu modelo 3 em 2018.
Dentre os sagrados como melhores, o Ford de três cilindros e 1,0 litro, turbo, anunciado para equipar Fiestas em julho — e Ecosport após — foi indicado para a categoria Sub 1.0. No caminho de futuras aplicações no Brasil, o 1,2 tricilíndrico turbo PSA, próxima novidade em Peugeot 208 e Citroën C3 no Brasil.
Quem é Quem
• Novo Motor: Ferrari 3,9 V8
• Motor Ecológico: Tesla elétrico
• Motor – Performance: Ferrari 3,9 V8
• Sub 1,0 litro: Ford 1,0 Ecoboost
• 1,0 – 1,4 litro: Peugeot 1,2 Puretech Turbo
• 1,5 – 1,8 litro: BMW 1,5 elétrico/gasoline
• 1,8 – 2,0 litros: AMG 2,0-litros turbo
• 2,0 – 2,5 litros: Audi 2,5-litros turbo
• 2,5 – 3,0 litros: Porsche 3,0-litros
• 3,0 – 4,0 litros: Ferrari 3,9 V8
• Mais de 4,0 litros: Ferrari 6,3 V12
• International Engine of The Year 2016: Ferrari 3,9 V8
Roda a Roda
Recall – Toyota, Mazda, Nissan, Subaru, Mitsubishi, Fiat, Chrysler, Ferrari, Daimler (Mercedes), BMW chamam mínimos 12 milhões de veículos nos EUA para substituir bolsas infláveis da japonesa Takata. Defeito pode estar no produto químico para disparar enchimento. Entre o pode e o estar, devasta a marca.
Consequência – Takata procura, desesperadamente, sócio, investidor, especulador, comprador, qualquer entrada de dólares para enfrentar os elevados custos de reposição. Não tem caixa para honrar a substituição.
Alfa – O início de produção e vendas da Alfa Giulia anima admiradores brasileiros da marca. Mas, tudo indica, demorará a chegar por aqui. Lélio Ramos, ex-diretor comercial da Fiat – e corresponsável pela liderança da marca 13 anos – assumiu diretoria para importados.
Tempo – Focará aumentar participação de vendas de Maserati, Abarth e Alfa Romeo. Primeiros, mais fáceis. Há revendedor Maserati e os Abarth são produtos Fiat, utilizando mesma rede de distribuição. Alfa é o ponto mais difícil da operação. Virá, diz sem definir prazo e enigmaticamente, resumiu. Há planos – mas não há projeto. Ou seja, demora.
Diplomático – Como Coluna informou, Toyota apresentará novo Prius híbrido em Brasília. Insólito, fá-lo-á na Embaixada Japonesa, enclave interessante.
Freio – Com ambicioso projeto de substituir cinco produtos antigos por dois novos, e correndo em paralelo um pequeno utilitário esporte, codinome Junior, ou Jipinho, como tratado no popular, administração da FCA deu-lhe meia-trava.
Questão – Problema não é pisar no freio, mas a intensidade frenante. Se errar a pressão pode ir à parada total – de difícil arrancar posterior. Aconteceu com projeto Volkswagen, o Taigun, adiado – e agora de impossível resgate.
Negócio – Mercedes-Benz do Brasil foi a Cuba ajustar venda de 199 sedãs C e E. Negócio demorado pela burocracia da Ilha, tentando equilibrar a chegada ao capitalismo. Marca tem outro bom negócio lá: vende conjuntos de motores diesel e caixas de câmbio reformados para substituir os dos carros norte-americanos, maioria no trânsito, usados desde a década de 1950.
Salão – Lifan quebrou o porquinho, sensibilizou direção chinesa, e irá ao Salão do Automóvel, 10 a 20 novembro. Fábrica no Uruguai continua fechada.
Tempo – Grupo Gandini deu um tempo nos processos de dinamização da implantação da marca Geely no Brasil. Mercado em queda, dólar a R$ 3,60, mantém-se representante, vendendo estoque remanescente, garantindo assistência técnica e garantia. Aguardará o futuro.
Continua? – Governo federal cancelou o termo de adesão da representação local da JAC ao programa Inovar Auto. Governo diz, falta de cumprimento. JAC informa, é projeto antigo, já desistido, e pediu mudanças e aguarda deferimento. Alega, terá o sino-baiano J5 aqui montado em 9 meses.
Ecologia – Ford desenvolve plásticos e espumas sustentáveis para aplicar em seus veículos. Curiosa é a matéria-prima utilizada para tais futuros bancos, capôs e peças automotivas: dióxido de carbono das emissões poluentes capturado na atmosfera. Tecnologia reduzirá poluição atmosférica já instalada, e, na base, o uso de petróleo para a produção de tais itens. Coisa formidável, quem diria, ar poluído seria insumo – e grátis.
Anúncio – Amortecedores Monroe festejam 100 anos e ilustram anúncio com Ford Modelo T, sugerindo-o usuário das peças. Errou ou engana. Os T, feitos entre 1908 e 1927, não usaram amortecedores. Agências de propaganda e empresas ao aprovar anúncios deveriam se preocupar com história – sua história.
Novela – Haja Coração, novela da TV Globo, 19h30, tem atores Malvino Salvador, Mariana Ximenes e Cléo Pires envolvidos com automobilismo. Fazenda em Mogi das Cruzes, SP, para cenas fora de estrada com ASX RS, e de velocidade no excelente autódromo Velo Cittá com Lancer Evolution e RS, todos preparados dentro da fábrica da Mitsubishi, em Catalão.
Grupo – Chegando ao Brasil após renascimento nos EUA, Indian quer agregar proprietários no IMRG, o Indian Motorcycle Riders Group, para interação, socialização, informações, passeios. Começa onde há concessionários da marca, MG, SP, RJ e SC. Tens e estás afim? Aqui: www.imrg.com.br.
Temporada – Mitsubishi Lancer Cup, categoria com estes automóveis, terá abertura dia 11, com provas no autódromo Velo Citá, em Mogi Guaçu, Interlagos, SP, fechando em Goiânia, GO, aos 15 outubro. Autódromo de Brasília, quase retomando acabar pista, ficará fora.
Equilíbrio – A Cup tem modelo interessante. Todos os carros são da Mitsubishi, preparados pela Ralliart, sua área de corridas. Baseiam-se no Lancer Evolution, 340 cv, câmbio sequencial de competição. Piloto aluga o carro, logística e assistência antes, durante a após corrida. Quer dizer, coloca macacão, sapatilhas e capacete, preenche o cheque, baixa o pau na máquina e vai-se. Deixa carro e preocupações para trás. Tem três categorias por idade: Light, a pilotos jovens; RS, até 45 anos e RS Master, aos pós garotões. Mais? lancercup@hpeautos.com.br e (19) 3019-1000.
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