Marcas do grupo PSA tiveram dias de glória no mercado, mas pagaram caro pelas confusões
PSA, holding das marcas Peugeot, Citroën, DS, das recém-compradas Vauxhall, Opel e autopeças, iniciou produzir o novo Citroën C4 Cactus na fábrica de Porto Real, RJ. Em termos morfológicos lembra um Mercedes GLA, com bom conjunto mecânico, liderado por motor de 1,6 litro, turbo, fazendo médios 170 cv.
Não é mais um ou apenas outro produto novo. O Groupe, como seus colaboradores o chamam, focou no Cactus o momento da virada da empresa, o ponto de inflexão à reconquista de espaço. No Brasil ambas as marcas tiveram dias de vendas e glórias no mercado. Peugeot, por exemplo, monoproduto com o 206, representava 3% das vendas gerais. Citroën, com C3, menos, mas ótimos resultados tratando-o como categoria premium, acima dos Peugeots.
Depois, trapalhadas, economia besta, subtraindo o lançamento do 207 e transformando o 206 para ser tratado como novo produto, iniciou descer a ladeira das preferências. Mudanças, bons produtos não inverteram a mão do mercado, e as marcas pagaram caro pelas confusões, pelas elevadas contas cobradas pelos consertos nos concessionários, e as gestões por fugazes administradores. Há cinco anos o envio de Carlos Gomes, ex-Fiat Portugal, cooptado a peso de ouro, conseguiu um diagnóstico, fez mudanças, traçou parâmetros e, corajosamente, fez incisão profunda no problema maior: mau conceito na assistência técnica, criando o maior pacote de proteção aos clientes.
Ao mesmo tempo gestou processo de mudanças, incluindo centro de desenvolvimento e design, e conclusão: para mercado promissor, mas de uso áspero como o são as vias brasileiras, onde, grosso modo, um sedã exige suspensão de utilitário esporte, os produtos deveriam ser concebidos com especificações nacionais — e não europeias adaptadas.
(Abro espaço para comentar como as marcas de automóveis erram em olhar para a frente, sem prestar atenção no passado. Tivessem procurado os arquivos de uma das marcas sob sua tutela, teriam encontrado em sua fábrica de Poissy, onde era a sede da Simca, o árduo e bom trabalho realizado para dar resistência brasileira a um produto francês, como o foi o Chambord em seu pico de desenvolvimento local, o modelo Tufão.)
Dentre as medidas, durante a gestão superior de Carlos Tavares, outro português, chamado a salvar a PSA, resolveu-se investir nas marcas no mercado sul-americano, começando por passo mandatório: uso de plataforma comum. Definida, será base para os próximos produtos da marca, a começar pelo Cactus. Outros dela advirão: Gabriel Cordo Miranda, diretor da PSA na Argentina, há dias anunciou um sedã como produto a seguir o Cactus. Na definição por este, em produção na Europa, estatuíram, o sucessor seria desenvolvido no Mercosul. Boa escolha, superou o original — e o substituiu.
Para fazer o Cactus, houve necessidade de grande mudança tecnológica na moderna fábrica da PSA no curioso e pouco conhecido município fluminense de Porto Real — Pó Royal, como pronunciam os franceses… — com reformulação, controles digitais, conceitos Indústria 4.0 e moderno sistema de conferência das medidas das carrocerias por laser. Dos 300 milhões de Euros demandados, Tavares concedeu 1/3, e por sobrevivência a operação foi realizada com economia, negociação, sério corte de pessoal, cumplicidade com fornecedores. O produto surpreendeu. Ao final terão sido gastos R$ 580 milhões, pouco acima do teto definido.
A puristas seria um hatch , mas os traços finais fazem-no visto como utilitário esporte — é, no Brasil, classificação tão etérea quanto o termo jipinho aplicado por alguns jornalistas —, e a morfologia de maior crescimento no mercado. Distância entre eixos de 2,65 metros oferece ótimo espaço interno a passageiros dianteiros e posteriores.
A PSA calcula sucesso ao apostar no formato de maior crescimento no mercado e nos acertos de estilo e composição mecânica. Na prática, projeta vender 2.500 unidades mensalmente, 1% do mercado doméstico. Em termos, pouco menos ante a soma dos números de venda obtidos em junho, 2.900 unidades: 1.600 Peugeots e 1.300 Citroëns. Relativamente ao modelo original europeu, o projeto sul-americano, gestado na PSA em São Paulo, é muito superior em estilo e conforto, incluindo exigência dos consumidores locais de os vidros das janelas traseiras baixar totalmente.
A implementação tecnológica aplicada em Porto Real permeará para os produtos ali montados: Cactus, Peugeots 208 e 2008, Citroëns C3 e Aircross.
Roda a Roda
Quanto ganhas? – Pergunta pode parecer impertinente, mas tem fundo lógico. É para saber se você, apreciador de automóveis, cultor da história e da cultura, está apto a não se candidatar à aquisição de um dos 250 exemplares do livro Il fascino Ferrari. Edição própria, primeiros 250 exemplares custarão aproximados US$ 30 mil – grosso modo uns R$ 115 mil. Terá autógrafo do CEO recém-desaparecido Sergio Marchionne, John Elkman, presidente, e Piero Ferrari, vice.
Mais – Virá num estojo de alumínio e terá mesinha inspirada num motor V12. Sei não ser o seu caso, mas haverá edição tipo mezza boca: os exemplares 251 a 1947, sem os agregados e assinado apenas por Piero Ferrari custarão US$ 3 mil por 514 páginas, fotos e desenhos inéditos dos 71 anos de história da marca.
Eclipse Cross – Nome marcante, de esportivo surgido na década de 1990, preferido por jogadores de futebol e outros intelectuais, Eclipse foi aproveitado para marcar novo produto da mesma Mitsubishi. Desta vez nada de esportivo, mas na onda dos SUVs, será o Eclipse Cross. Vertente do ASX, assemelhado em morfologia e uso, dele aproveita a plataforma, terá motor 1,5-litro, turbo, 163 cv, transmissão CVT e tração nas 2 ou 4 rodas. É um ASX elegante, bem vestido, cheio de cromados. Setembro.
Muda – Jeep iniciou montar Renegade 2019. Repete mudanças exibidas no modelo italiano: grade “acompassada”, para-choques, faróis, lanternas traseiras, console, tela multimídia. Vendas em outubro.
Ranch – FCA criou versão de topo para a líder Toro. É a Ranch, superior à Volcano. Tratamento automobilístico em decoração — couro marrom combinando com pintura prata —, faróis girando para curvas, acionamento do motor por controle remoto. A R$ 150 mil, conversáveis.
Jetta – Setembro Volkswagen iniciará vender novo Jetta. Coisas do comércio internacional, é produzido no México, mas o motor 1,4-litro turbo, 150 cv, é brasileiro, feito em São Carlos, SP. Transmissões automática e manual com seis marchas. Também versão 2,0 e 220 cv, automático, sete marchas. É construído sobre a plataforma MQB, mesma do Golf, Tiguan, Polo e Virtus, e relativamente à versão antiga cresceu poderosos 12 cm entre eixos. No mercado ficará entre Virtus e Passat.
Festa – Renault festeja um ano do lançamento do Kwid com 56 mil unidades vendidas; 46% do segmento onde compete com Fiat Mobi e VW Up; exportação de 20 mil carros à América Latina. Superados os problemas iniciais de aclimatação do projeto indiano às condições nacionais, deve ascender no segundo ano.
Toyota – Mudanças na picape Hilux: grade, para-choques, tomadas de ar, grupo óptico frontal, capô, seguindo a versão tailandesa (foto). Internamente nova central de áudio, tela maior. Apenas versões de topo, para lazer e transporte individual em asfalto. Segundo ciclo da atual geração, terá apresentações regionais. Vendas imediatas.
Antigos – Sucesso a 3ª edição do Village Classic Cars promovido no Shopping Village Mall, Barra da Tijuca, RJ. Destaque para Mercedes 300 SL, o Asa de Gaivota, pintado em corajoso verde claro, completo com jogo de malas. Do colecionador paulistano Leo Steinbruch.
História – Não foi apenas bom encontro, atraindo público diversificado, mas corajoso resgatar do ânimo carioca. Organizado pelo Veteran Car Club RJ, mais antigo do país, a cada ano agrega novos expositores e interesse. Rio havia perdido eventos automobilísticos de porte.
Antigos 2 – Organizadores do Encontro Paulista de Automóveis Antigos, em Águas de Lindóia, SP, aproveitam know-how, estrutura e pesquisa de mercado: farão evento exclusivo a veículos esportivos. Mesma cidade, 24 a 26 de agosto. Informações: sportcarsag@gmail.com.
Gente – Viviane Mansi, comunicóloga, mudança. Deixou liderança de comunicação corporativa da Votorantim Cimentos, assumiu mesma área na Toyota com amplitude para América do Sul. Ricardo Bastos passou a função e concentrar-se-á em Relações Governamentais. Brasil é base de comando continental. / Carlos Ayala, mexicano, engenheiro, promoção. De Vice-Presidente de Negócios a Presidente da DAF Brasil. Marca pouco conhecida, 3.500 unidades em circulação atuando no segmento acima de 40 toneladas, e é a primeira fábrica fora da Europa. / Nicola Romeo, engenheiro, criador da Alfa Romeo, passou há 80 anos. Enzo Ferrari, engenheiro h.c., empreendedor em sua marca famosa, foi-se há três décadas.
Espaço patrocinado
Renegade baixa preços
Surpresa no mercado pelo retorno à produção no mesmo Pernambuco onde fora montado no meio dos anos ’60, o Jeep, em atualizada versão Renegade, cumpriu promessa aparentemente impossível, feita em sua apresentação ao Salão do Automóvel de 2014: seria líder de mercado. Foi. Ao primeiro ano de produção ultrapassou o Ford Ecosport e o Renault Duster, distanciando-se na liderança. Produto de sucesso, construído no Brasil, na Itália e na China, é um dos veículos responsáveis por transformar a marca na de maior faturamento e lucros na holding FCA – quando a Fiat assumiu a Chrysler, a Jeep foi uma das marcas recebidas, e a FCA soube aproveitar seu potencial.
Aproximando-se da importante referência de um quarto de milhão de unidades produzidas no Brasil, empresa reviu os preços de suas versões, reduzindo-os para não perder e incentivar vendas no período pré-eleitoral, habitualmente redutor de negócios. Segundo o fabricante, não houve contração de conteúdo, mas apenas um ajuste sazonal.
O realinhamento minguou preços em até R$ 7 mil na versão de entrada, a Custom, motor flex 1,8 e câmbio manual de 5 marchas. Em julho encontrável por R$ 76.990, seu preço sugerido em tabela é de R$ 69.990. Em posição intermediária, a versão Sport 1,8 e câmbio manual sofreu corte de R$ 3.500, descendo a R$ 79.990. Com opção de câmbio automático, teve preço reduzido em R$ 2.500, chegando a R$ 86.490. Versão Longitude, superior, com transmissão automática, teve corte de R$ 3.500, atingindo R$ 90.490.
A coluna expressa as opiniões do colunista e não as do Best Cars