Em um canavial surge a fábrica de Goiana, com capacidade de
produzir 250 mil unidades anuais, incluindo a picape média da Fiat
Sonho de qualquer urbanista, projetista de motor ou chassi é começar, ilustrativamente, com folha em branco. Em teoria ali pode aplicar toda a criatividade, aproveitar ao máximo meios e facilidades para se inteirar com o meio ambiente, ter produto final da melhor qualidade, seja loteamento, bairro, cidade, ou motor ou chassi novos.
A área escolhida foi marcada dentro de um canavial, próxima a Goiana, pequena e desassistida cidade, no norte de Pernambuco e no sul da Paraíba. Sediaria a fábrica, com projeto aperfeiçoado ante a responsabilidade de ser a primeira pós-criação da FCA — fusão de Fiat com Chrysler — e mudando produtos, para implantar a marca Jeep, trazendo-a de volta a Pernambuco.
A Fiat/FCA entendeu a dificuldade. Contratou os melhores quadros em seu mundo e mandou-os para entender as raízes, as cabeças, o entorno. Cubar a complicação, criar caminhos e soluções.
Não queriam inflar a pequena Goiana com uma leva de trabalhadores externos, de costumes diferentes, e assim resolveram buscar mão de obra regional. Assim, contrataram-se carros de som, colocaram mesas nas ruas, como se fossem pontos de jogo do bicho, para receber fichas dos interessados. Evitando romaria na porta da construção, as inscrições dos letrados foi por internet. E para evitar confusão, prostituição e outras mazelas em torno da obra com 11.000 trabalhadores, não construiu alojamentos no canteiro de obras.
Contratou pessoal local, alugou hotéis, pousadas, reformou casas transformando-as em repúblicas. Havia outra razão para evitar movimento maior, o receio de invasão da área pela acolhida e agora comendada irresponsabilidade do MST. De tal forma, o canavial só foi desbastado quando a fábrica estava pronta e cercada.
Com cerca de 80% da mão de obra pernambucana, iniciou treinamento indo do aperfeiçoamento em português e aritmética. Meteu-se na estrutura escolar, construiu hospital, fez serviço social. Levantou e listou as manifestações de cultura popular para preservá-la e criar o orgulho cidadão. E fez ajustes para criar cursos de engenharia automobilística, e até curso para uso de smartphones. Não quer a fábrica como um enclave, mas como um equipamento gerando trabalho, renda, impostos, melhorando a vida das pessoas através da formação dos colaboradores. Trabalho enorme.
Aplica 15 mil práticas da WCM, a manufatura de primeira categoria, e tem características próprias como o Communication Center, espaço aberto para a administração, onde se vai à mesa do responsável em busca de uma solução, e daí, se caso, à linha de produção. Carrocerias dos veículos em montagem passam sobre o Centro para ganhar espaço e tempo. A fábrica tem preocupações estéticas em sua engenharia. Da fachada, como enorme edifício envidraçado, ao pé direito e às elegantes colunas. Na operação, a novidade da pintura primer, a pintura básica, reduzindo materiais, poluição, tempo e custos.
A capacidade de produção é de 250 mil unidades anuais. O primeiro e o terceiro produtos serão Jeep. O segundo, picape Fiat, ainda sem nome, mas tratado como Stradão. Quer aumentar presença das marcas Jeep e Fiat no Brasil, América Latina e África do Sul.
Não é apenas um retângulo onde se produzem veículos, mas um polo gerador de promoção de qualidade de vida. Que prefeituras no entorno e governos federal e pernambucano saibam ampliar tais benfeitorias, começando pelas ligações viárias com Recife e com o porto de Suape. A fábrica, aliás, o Polo Automotivo fica mais perto por distância e tempo de João Pessoa, PB.
Junho, novo Focus
Sendo carro mundial, não será surpresa se o Focus argentino, a desaguar no mercado nacional por conta dos entendimentos no Mercosul, siga caminho industrial do modelo europeu, com maior percentual de itens — para-choques, grades, tapetes, plásticos — produzidos a partir de material reciclado. Matriz Ford foi a primeira fabricante com cultura ecológica, com diretoria para o assunto.
Em equipamentos e conteúdos, versões SE, SE Plus, grafada com sinal de adição, e Titanium, marcada por grade com barras cromadas e rodas especiais.
Outro Suzuki, o S-Cross
Não é jipinho, é crossover, mescla entre hatch e utilitário esporte. Oferece opções com câmbio manual e automático CVT com sete posições, tração dianteira e nas quatro rodas, a All Grip, evoluído sistema atuando na tração, motor, transmissão, freios. Luiz Rosenfeld, presidente da Suzuki Brasil, diz que desenvolvimento focou em eficiência e afinidade com usuários. Novo caminho inclui o aumento de segurança. Teste de impacto pela Euro NCAP deu-lhe cinco máximas estrelas em segurança, e o programa de redução de consumo pelo Inmetro registra 11,9 km/litro na cidade e 13,2 km/l na estrada, a gasálcool 25%. Projeção de vendas 250 unidades/mês. Suzuki não comentou importar versão a diesel.
Roda a Roda
Novela – Outro capítulo da rusga entre Ferdinand Piech, 78, do Comitê Diretivo da matriz Volkswagen, e Martin Winterkorn, 67, CEO da empresa. Piech, neto do professor Porsche, renunciou ante apoio ao executivo por seus colegas de banca, incluindo o estado da Saxônia, e o primo Wolfgang Porsche.
Descompasso – Desenvolvido e ajeitado ao comprador brasileiro, o JAC T3 foi exposto como J2 Refine no Salão de Xangai. Deveria coincidir com produção na fábrica JAC na Bahia, mas demora no liberar financiamento furou cronograma.
Tecnologia – Tecnologia do conforto doméstico migra aos automóveis. Após TVs, Sony busca som em qualidade de sala de concertos. Está no Ford Explorer Platinum 2016, não vendido no Brasil. São 12 alto-falantes somando 500 W, em 10 locais.
Sinal – Líder como maior mercado do mundo, crescimento enorme, China tropeça, e um dos sinais é o interesse por carros usados. Outro, as promoções de vendas dos 0km, sinal da boca do forno ter superado o tamanho do balcão.
Resultado – O mercado chinês tem dado respostas financeiras aos fabricantes de automóveis, respondendo entre 1/3 e metade dos lucros das marcas lá operando. Projeção é de queda de 50% dos lucros neste ano.
Yes! – Simples, mas definitiva e peremptória a resposta de Sergio Marchionne, CEO da FCA, na entrevista ao inaugurar nova fábrica em Goiana, PE. Perguntado se a Alfa Romeo voltaria ao Brasil, resumiu com o monossílabo.
E? – Apesar do cenário e da ociosidade do novo espaço industrial, novo Alfa será importado. Assim, Alfisti, poupem. O projeto Giulia, renascendo a marca, deve facear preço a Audi A6, Mercedes E e BMW 5.
Mercado – Mitsubishi aproveita o Dia das Mães e promove produtos para elas, de vestuário a equipamentos para esportes, como bicicletas e stand-up paddles. Novo segmento na praça: Mãe 4×4.
Menos mal – Primeiro trimestre Harley-Davidson marcou aumento de 0,3% de vendas na América Latina. Número contido, porém muito melhor ante queda de 1,3% no restante do mundo. Faturamento e lucros aumentaram em 1%.
Caminho – Du Pont, lembrada pelas tintas de sua produção, novo produto: cárter plástico — depósito de óleo do motor nos veículos automotores, no usual em chapa de aço ou alumínio. Seu Centro de Inovação Brasil, em Paulínia, SP, desenvolve produtos por demanda dos clientes. O cárter é um deles.
Começo – Mick Schumacher, 16, estreou e venceu na nova Fórmula 4, monopostos pós-kart, em Oscherleben, Alemanha, com sobrenome paterno. Em kart corria com o da mãe. Sua gerente, amigos e família pediram à imprensa não pressioná-lo por ser herdeiro do heptacampeão mundial em Fórmula 1.
Manutenção – Moras em cidade com céu limpo? Colha água de chuva e coloque-a no radiador do seu carro. Água de céu poluído é ácida e a de torneira é tratada, ambas danosas às galerias de água de circulação e refrigeração do motor. Use o aditivo orgânico na proporção indicada no manual do proprietário.
Antigos – Mandatório se colecionador de antigos. Adicione, pelo menos, um litro do aditivo orgânico para garantir bom fluxo, preservar mangueiras, vedações e a bomba d’água.
Gente – Nelson Piquet, tricampeão em Fórmula 1 e carmaníaco, brinquedo novo. McLaren 12C — plataforma e carroceria em fibra de carbono, V8, 3,8 litros, 630 cv, sete marchas e tecnologia de Fórmula 1. Faz conjunto com Ferrari California, Porsche Carrera 4 e Ford GT com potencia dobrada a 900 cv.
Do canavial, uma fábrica
A FCA, razão social sacramentando a união de Fiat e Chrysler, leva a marca de volta ao estado — e ao país. A Willys-Overland do Brasil encerrou-se ao transferir seu controle para a Ford. O retorno é passo importante. O Jeep amanhou a terra, abriu estradas, foi veículo e ferramenta no pós-guerra. Tão adaptado às demandas do país, foi o primeiro letreiro de primeira fábrica privada a instalar-se aqui e, por características de adaptação a tantas necessidades, o veículo mais vendido no princípio de nossa indústria automobilística.
O Jeep volta em novo segmento criado no tipo de mercado por ele inaugurado no pós-guerra, o veículo com dupla aptidão. Sete décadas após, adequado às exigências dos compradores, vem com produto como o primeiro degrau na escala de produtos da marca. No caso, o Renegade e duas versões com quatro cilindros: tração simples e motor 1,8 em ciclo Otto; tração nas quatro rodas e motor 2,0 a diesel.
Projeto da fábrica e seu operacional reúnem o melhor do mundo industrial, mas têm o toque da experiência local. Cledorvino Belini, então executivo e hoje presidente da FCA regional e com lugar no board da empresa, cimentou a base para a arrancada da então Fiat ao fazer a mineirização dos fornecedores, levando-os para Betim, MG — onde está a grande usina —, nas beiradas da fábrica. A redução de custos e logísticas ajudou a torná-la competitiva e líder. A FCA repetiu a fórmula, indicando grandes pretensões.
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A coluna expressa as opiniões do colunista e não as do Best Cars