Chineses adquiriram a TAC para aproveitar a oportunidade, o fato de ter produto ímpar, dar velocidade a seu projeto local
Negócio pequeno, apalavrado, com vigor em 2016, a compra da TAC, fábrica do jipe Stark (foto), pela chinesa Zoyte pode gerar desdobramentos maiores. A compradora quer manter o bom jipe, mas pretende ações mais amplas e para isso considera e estuda propostas de mudança da operação atual, na cearense Sobral, para outro estado com maior pacote de vantagens, incentivos e benefícios.
Neimar Braga, ainda executivo maior da TAC, confirma o negócio, informa do aumento de produção para quatro unidades mensais. Não comenta valores e diz ser período de gestão compartilhada e de due diligence — análise criteriosa da operação, antecedente à gestão pelo comprador. Tudo certo, ocorrerá em 1º de janeiro de 2016, início do exercício fiscal.
Por valor não divulgado pelas partes, a Zoyte Brasil (pronunciam Zoytê) adquiriu a TAC para aproveitar a oportunidade, o fato de ter produto ímpar, dar velocidade ao seu projeto local. Aqui chegou em 2014 e no Salão do Automóvel anunciou planos de importação, seguida de produção local, de pequeno utilitário T200 e automóvel Z100 com vendas anunciadas para maio de 2016.
Produtos em homologação federal — explica Luiz Eduardo Barbosa, executivo da Zotye em Brasília — e o projeto de implantação industrial em Linhares, ES, está bem encaminhado, porém moroso. Com a TAC exige passos mais rápidos.
Neste caminho, além de oferecer as informações do novo desenho empresarial ao governo do Espírito Santo, também o fez ao de Mato Grosso, onde o governador Pedro Taques se interessa por receber a indústria, em adquirir o jipe para serviços oficiais, estado de ampla demanda por este tipo de produto — o estado pode ser a conexão com a América do Sul e a Central.
Nada fechado com relação a novo local, empresa está aberta a propostas.
A sinergia entre as duas marcas permitirá elevar volumes de produção — 10 unidades ao mês — em janeiro, lançar a linha Stark 2016, picape, versões com motor flexível e câmbio automatizado de fornecedor nacional, importação e início de montagem dos produtos chineses. Atrativo à rede de revendedores.
Por registrar, o Brasil se distancia cada vez mais da postura de ter pelo menos uma marca nacional. No ranking dos maiores países em produção e vendas de veículos, o único sem tê-la. Últimas tentativas inviabilizaram-se: Gurgel, única com motor próprio, fechou; Troller, projeto nacional, foi comprado pela Ford. Remanescente TAC agora é chinesa.
Em novembro, o Golf nacional
Volkswagen aperta os parafusos finais para lançar o Golf ainda em novembro. Processo demorou, tornou-se paralelo ao do Audi A3 sedã, com a mesma plataforma e produzido na mesma linha. Informações desencontradas variam desde dificuldades para acertar agenda de executivos estrangeiros, providências internas e, até, findar o estoque das unidades importadas do México.
Automóvel não será igual às versões em circulação, alemãs ou mexicanas, em especial na suspensão traseira, substituída, simplificada. Saiu o eixo traseiro multibraç; em seu lugar, solução barata, sistema assemelhado ao utilizado no Gol, eixo de torção, chamado eufemisticamente de interindependente.
No primoroso motor TSI de 1,4 litro com injeção direta e turbo, um ganho: retrabalhado para operar como flexível, a potência a álcool será de 150 cv — atuais 140 cv na versão a gasolina. A transmissão não será DSG, automatizada com duas embreagens, mas automática hidráulica. O susto tomado pela Ford e seus clientes com os problemas do Powershift fizeram optar pelo sistema mais antigo, com seis marchas, entretanto menos problemático em países com piso irregular.
Borgward renasce, agora Xing-Ling
Segunda maior marca alemã de automóveis ao início dos anos 1960, a criativa e brilhante Borgward voltará ao mercado. Há uma década seu neto Christian investe e aplica-se no renascer. Ano passado, ameaçou — mas frustrou a apresentação no Salão de Paris, como a Coluna relatou. Voltou em grande estilo em idêntica mostra em Frankfurt e com novo desenho de negócio, factibilizando a produção.
Vendeu todas as ações da nova Borgward à chinesa de caminhões Foton — tem operação no Brasil — e a nova controladora absorveu tudo, inclusive a equipe, experiente em produto, planejamento, estratégia, comunicação, veteranos contratados à Daimler, GM, Saab, Mitsubishi.
Para o primeiro produto tomaram o caminho mundial do utilitário esporte, moda da década, e apesar da mesmice no segmento — confortos, tração permanente nas quatro rodas, eletrônica — diz diferenciar-se por linhas com traços lembrando aeronáutica e elevado conteúdo de infodiversão, incluindo tela de toque com 30 cm.
Produção será iniciada em 2016, destinada ao mercado doméstico, o maior do mundo; posteriormente, Europa e USA. Diz o grupo gestor da marca, apesar do refinamento, terá preço competitivo com Audi Q5.
Origem
A Borgward foi das marcas mais carismáticas na história. Seu fundador, Carl Borgward, engenheiro, fazia de tudo. Do desenho da mecânica ao estilo, condução da fábrica, mercado…
Fez coisas marcantes, como ser o primeiro automóvel alemão lançado após a Segunda Guerra Mundial; o primeiro com a definição de espaços em três volumes, ditos Ponton; nos anos 50, a mágica do Isabella sedã de duas portas e cupê; a elevada potência específica dos motores — em 1957 seu 1,5-litro fazia 75 cv, idêntica medida do VW Passat quase 20 anos após — e um projeto de internacionalização, focando produção durante o inverno europeu — quando as vendas caem — para os países abaixo do Equador.
O fim, inexplicado pela lógica, somou queda nas exportações com noticiário informando dificuldades financeiras, provocando corrida de credores e nunca esclarecida posição da cidade de Bremen, onde instalada, e sócia da empresa, em destituir Borgward da gestão, substituindo-o por uma comissão. Este desenho todo mundo entende, e a empresa foi fechada. Feito o balanço, os haveres em muito superavam os débitos. As instalações industriais hoje pertencem à Daimler.
Registro do óbvio, o brilho de Borgward e seu comportamento autocrático não lhe permitiram criar uma rede de sustentação e proteção, e esta ausência se somou aos fatores ou ações contra sua empresa. Ou seja, amigos são acervo. Como registro, junto ao último Isabella produzido, os operários colocaram uma placa: “Você é muito superior a este mundo”. Referiam-se ao produto e ao Patron.
Roda a Roda
Materialização – Mexicanos irmãos Iker e Guillermo Echeverria concretizaram o sonho: desenvolveram o VUHL 05 (na origem, Vehicles of Ultra-Lightweight and High Performance). Numeral homenageia pai.
Razão – Projeto segue a lógica do inglês Colin Chapman em seus Lotus: pouco peso. Assim, plataforma em alumínio em chapa, tubos e colmeias, juntos por adesivos aeronáuticos, pesa apenas 78 kg. Pronto, vazio, 655 kg.
Força – Projeto racional, sem firulas do tipo construir motor próprio, mas aproveitar máquina disponível. No caso, motor Ford Ecoboost de 2,0 litros com 280 cv, posição entre-eixos traseiro, câmbio de seis marchas. A relação peso-potência permite acelerar 0 a 100 km/h em 3,7 segundos e final em 245 km/h.
Produção – Não são estreantes. Iker ganhou prêmio em design e ambos têm empresa fornecedora destes trabalhos para fábricas estadunidenses. Fábrica, processo industrial, fornecedores e assistência técnica montados em plataforma de software FileMaker e gestão empresarial ERP. As 1.500 peças de fornecedores mundiais têm número para permitir gestão. File Maker empresa Apple.
Líder – Fim do terceiro trimestre do ano, Toyota retomou a liderança mundial em vendas. Volkswagen antecedeu, perdendo pelo atual quadro institucional traçado pela emissão de seus motores diesel. Diferença pouca: Toyota 7.498 mil e VW 7.430 mil. GM atrás, 7.200 mil.
No ar – Previsões impossíveis. Toyota sofre com problemas de recall; GM idem e ainda com queda de vendas na China; VW caiu muito menos ante o projetado como danos pelo Dieselgate, o escândalo das emissões.
Dieselgate – Com as complicações geradas pelas emissões dos motores diesel VW, e no desvario mundial de ameaças e ações contra a fabricante, a PSA Peugeot-Citroën prepara dossiê para exibir comportamento de seus motores. Receia medidas midiáticas criminalizando o diesel, independentemente de marca ou origem. Burocrata atemorizado ou midiático pode custar muito caro.
Futuro – Toyota divulgou diretrizes para os próximos anos: fábricas 40% mais baratas, 25% menores; redução de custos operacionais; maior autonomia nas operações regionais; mais pesquisa em motores alternativos.
Carro – Em produtos, desenho mais eficiente e emocional, centro de gravidade mais baixo, melhor sensação de condução, direcionamento para uso de turbo, injeção direta e diesel. Quer deixar a fama de carros confiáveis, porém sem graça.
Caminho – Em meio ao processo de catarse onde mergulhou para se reinventar, solucionar o problema com as emissões de diesel e retocar os arranhões em sua imagem, Volkswagen foi ao mercado. Contratou Thomas Sedran, 51, ex-presidente da concorrente Opel, como líder de estratégia. Foi responsável pela virada da Opel, quase fechando em razão de prejuízos.
Mais – Junto recrutou Christine Hohmann-Dennhardt, chefe do jurídico e compliance da Daimler — é o limite de comportamento entre o lucro e a ética social. Negociações de hora em diante não envolverão apenas clientes e países, mas líderes de outras marcas.
Grife – Strasse, empresa paulistana de veículos personalizados, ampliou mercado. Agora, além dos Mercedes-Benz com aplicação de kit da preparadora Brabus, incorporou serviços da também alemã Oettinger a VW Golf. Por R$ 9.900 aumenta a potência em 20 cv e em troca reduz 0,3 segundo na aceleração de 0 a 100 km/h. Por adicionais R$ 26.900, rodas Oettinger e pneus 235/35-19.
Novo ciclo – Honda e Nissan levaram jornalistas brasileiros ao Salão de Tóquio. Caso Honda, anunciar nova geração de motores no Brasil: 1,5-litro, quatro cilindros, injeção direta, turbo, projetados 180 cv com álcool. Demais, 1,0 de três cilindros; 2,0 com quatro. No novo Civic, 2016.
Outra – Nissan pretendia atenções para seu modelo interativo, com tecnologia avançada para se tornar factível. Mas a cereja do bolo aos mais especializados foi o Mazda RX-Vision. Fora do mercado nacional, assinala o retorno dos motores rotativos. Mazda os produziu até 2012 e com o esportivo de distribuição masculina — motor frontal, tração traseira — sinaliza voltar. É o mais lógico dos motores endotérmicos.
Uber – Senador brasiliense José Antonio Reguffe relatará projeto sobre o Uber como variedade de transporte. Pelo perfil liberal deve ter opinião favorável ao consumidor — ou seja, à nova opção.
Investimento – Levantamento anual pelas agências Auto Informe e a Molicar Listam três Fiats como de menor depreciação: Strada na categoria de picape pequena, 500 entre os hatches premium e Weekend como perua.
Maior – Fechadas as contas das vendas de veículos OKm em todos os 25 países de América do Sul e Central, apesar da queda de comercialização de 21% no Brasil, mantemos liderança numérica: 1.370.000 vendas. Somados, os outros 24 países indicam no mesmo período 970 mil unidades.
Negócio – A fim de caminhão Scania? Avie-se. Preço aumentou 3% em outubro e outros 7% em novembro. Aumentos têm sido mensais em todos os nacionais para repassar inflação e preços dos componentes pagos em dólar.
Gente – Confusão na prorrogação de incentivos fiscais regionais, envolvendo Ford, Mitsubishi e CAOA, surpreende o setor. Participação da fórmula pela antiga família real não estranha por sua aura de perfeição, onisciência e o gravitar acima do bem e do mal. Pessoalmente não imagino Eduardo Souza Ramos, de sua MMC, envolvido com subornos e afins. Não é de seu perfil de esportista, ex-representante olímpico, ganhar fora das regras. E quem o conhece, sabe e aplaude a condução de sua vida e negócios.
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