Melhorias no interior e na mecânica deixaram o hatch mais
agradável e ao gosto dos brasileiros, mas faltaram algumas evoluções
É o mais vendido dos Renaults, primeiro degrau após o Logan, iniciador da família ora ampliada com o Duster e logo com picape de nome impronunciável. Vende o dobro do pioneiro Logan, e a nova carroceria foi atualizada em desenho, marcado pela imposição da frente com atual assinatura automobilística da Renault e vincos distribuídos para chamar atenção; bitolas mais largas auxiliam na imagem. O pacote sugere mais volume, exigência não explícita dos compradores.
Mecanicamente a Renault entendeu haver superado o período inicial de dúvidas, iniciado com o Logan, e resolveu ocidentalizar as sensações de condução aplicando coxins no subchassi frontal e revisão da suspensão dianteira. O Sandero 2015 parece mais firme no solo e de condução mais precisa. A preocupação da Renault em aproximá-lo das exigências, ou do gosto do comprador nacional, melhorou o revestimento interior — exceto laterais das portas — e reduziu os incômodos acústicos, porém melhoraria se tivesse mais material fonoabsorvente, providência mais adequada à pretensão do carro.
Há aplicativos acenando para o comprador, como o sistema multimídia com navegador.
Motorista encontra boa posição e seu banco lembra o do Fiat Prêmio quando lançado, com área de contato mais que proporcional ao tamanho do veículo. O espaço interno está na mesma surpresa — como o foi no Logan —, bastante aos usuários dos bancos frontais e do traseiro.
Mecanicamente é agradável. O motor de 1,6 litro está no final do seu ciclo nestes tempos da democratização da injeção direta e do turbocompressor. Foi aprimorado há dois anos, buscando reduzir abrasão interna, e tem apenas oito válvulas, marcha à ré ante a versão com 16 válvulas lançada pioneiramente. Entretanto, para uso urbano a faixa de torque aparece em menores rotações, oferecendo o desejado pelo usuário longe das tecnicidades: passa o quebra-molas em terceira marcha, sai em segunda quase do zero. Potência pequena se comparado com japoneses, coreanos e até chineses, fazendo 98 cv com gasálcool e 106 cv com álcool.
O projeto da Renault para o Sandero lembra o praticado pela General Motors anteriormente: fazer carro para o seu vizinho achar legal e que você está bem na foto. Cuidados no visual, economias no fora de vista. É o caso do tratamento externo cuidado, da central com o GPS, contra a economia dos forros de porta, no revestimento acústico, na direção com assistência hidráulica — em lugar da elétrica — penalizando disposição e consumo do motor.
Consumo suportável: no circuito de aferição da Coluna, 320 km de circuito suburbano, avenidas com sinais e pardais, estrada para 80 km, outra sem os denunciadores Passer Domesticus, grande auxiliar de faturamento dos Detrans e DERs, cidade do interior e uma légua de primeira — não da melhor qualidade, mas de primeira velocidade, no máximo segunda. Com gasálcool cravou 13,3 km/l e com álcool pouco acima de 10 km/litro. Marcas adequadas a motores agora superados.
Equipado, se aproxima dos R$ 50 mil, mas como tudo nesta vida, em especial neste período da vida nacional, é conversável. A fim? Exercite seus dons. Se fosse comprar um, optaria pela versão Stepway. Tem 4 cm a mais de altura livre do solo — 19 cm no total — e é visualmente mais composto, apesar da possibilidade de maior dano aos pneus com lateral de menor altura.
Não gostei: 1) espelhos retrovisores externos com pouca superfície; 2) depósito do limpador do para-brisa com pouca capacidade; 3) arranjo das ferramentas, guardadas separadamente. Macaco preto, fixado com arte ao lado esquerdo e chaves de rodas, preta, contra tapete preto, à direita, difícil de localizar. Pior, os parafusos das rodas de liga leve não servem para a roda de estepe. Você deve procurar no manual e tentar descobrir onde está, ou pisar com virilidade e testosterona sobre a chave de rodas para deformar arruelas de trava.
Fácil consertar: quando isto ocorrer com um diretor da empresa.
Mercedes inicia nova fábrica para automóveis
Em Iracemápolis, SP, a Mercedes-Benz adquiriu fazenda com 2,465 km² — uns 101 alqueires paulistas, uns 50 goianos — para fazer específica fábrica de automóveis. Não quis misturar manufatura de produtos leves com a de caminhões, produzidos em números muito superiores às 20 mil unidades anuais lá pretendidas.
Ações positivas da Investe São Paulo, agência de captação de negócios para o estado, costuraram facilidades estaduais e locais, viabilizando a fábrica em município sem intimidades industriais, de atividade agropastoril e produção de cana de açúcar. Fica relativamente próxima do Porto de Santos e a pouca distância do Aeroporto de Viracopos, especializado em cargas.
Razões de implantar nova fábrica de automóveis no Brasil fazem parte do largo programa de volta ao crescimento e liderança mundial dos automóveis Mercedes-Benz no segmento premium. Programa ambicioso engloba mudança de produtos, ampliação de famílias, como a do Classe A, desdobrado em sedã (CLS) e utilitário esporte (GLA, na foto). O mercado brasileiro para veículos do porte do Classe C e do GLA, anunciados como produzidos em 2016, dobrou entre 2010 e 2014 e cumprirá mesma performance até 2020, avalia Dimitris Psillakis, grego, que veio para estágio no Brasil e turbinou atividades, sendo indicado Diretor Geral para os assuntos de automóveis.
O total de investimentos é de R$ 500 milhões e o processo industrial incluirá armação com solda, pintura e montagem, passos à frente do hoje praticado pela concorrente BMW, que recebe da Alemanha carrocerias montadas e pintadas para aplicar a mecânica igualmente importada.
Roda a Roda
Festa I – Honda marcou data para lançamento de seu HR-V (foto): março. Fiat trabalha o mesmo mês para inaugurar sua fábrica em Pernambuco e iniciar vender o Renegade, concorrente frontal do novo Honda.
Agenda – Dificuldade é conciliar agenda do CEO Sergio Marchionne, do governador de Pernambuco, compromissos e interesse da Presidente Dilma. Ela não foi ou mandou o ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio à fixação da pedra fundamental da fábrica de automóveis Mercedes.
Queda – Outro mês presumidamente ruim para o mercado de importados: 7.478 unidades licenciadas em janeiro — 22,2% inferior a janeiro e 24,7% a dezembro. Fevereiro será pior pelo menor número de dias e pelo Carnaval; pela desfiliação da BMW, agora fabricante e levando suas vendas para as contas da Anfavea, a associação dos fabricantes.
Ponto de vista – Marcel Visconde, presidente da Abeifa, a associação dos importadores, apreensivo acompanha duas referências impactantes ao mercado dos importados: taxa de câmbio e o índice de confiança do consumidor. Uma em alta, outro em queda. Distância entre os dois constrange vendas.
Exceção – Em meio à retração do mercado, Audi comparou dados de janeiro de 2013 e 2014 registrando crescimento de 90%, consequência de projeto, produtos, mão firme e confiável aos concessionários. Se tiver preço para o A3 Sedan nacional, a ser montado a partir do segundo semestre, crescerá mais.
Festa II – Mercedes-Benz abriu a temporada de moda em São Paulo com a Top Night, disputada festa na Casa Fasano em torno da exposição Pérolas Negras — 10 belas mulheres negras clicadas por Luiz Tripolli.
Futuro – Lá apresentou ao Brasil o conceito G-Code (foto), recém-mostrado no Salão de Los Angeles, EUA. Absorve as exigências atuais: dimensões compactas, conectividade, pintura captando energia solar, mescla emoção e inteligência, segundo a direção de automóveis Brasil.
Atrás – BMW seguiu-a com Baile Vogue, festa de Carnaval da revista. Segundo Nina Dragone, diretora de marketing da marca, patrocínio é forma de fazer a empresa vista por público-alvo interessante.
Oficial – BMW aderiu ao Programa Nacional de Etiquetagem Veicular, do Inmetro, iniciativa de aferir eficiência energética — consumo e emissões. Aos poucos as fábricas chegam-se à medição oficial. Furtar-se, como o fazem algumas, é fazer declaração pública do receio em comparações.
Conta – Automóveis importados devem custar mais ante os montados ou produzidos aqui? Em tese aritmética, sim, pelo fato de pagarem 35% de Imposto de Importação e 30 pontos percentuais se não houver fábrica no Brasil. Entretanto BMW, iniciando simplória montagem em Santa Catarina, vende o modelo 320i ao mesmo preço do importado. Pode ser mau sinal a ser seguido por Mercedes C e Audi A3 Sedan.
Anote – Com os três maiores fabricantes alemães se instalando aqui para frequentar o mesmo segmento dos sedãs de entrada no mercado, como será definida a preferência por marca? Primeiro ano, por preço. Nos seguintes, custo e existência de partes para reposição.
Momento – Com dólar subindo, se estás a fim de um importado, acelere. Os atualmente disponíveis foram importados em cotação menor e próximas levas incluirão repasses.
Antevisão – Volkswagen, há tempos, testa produtos da marca, nacionais e importados, com gasálcool a 27%. José Loureiro, gerente de carro completo, diz que há aumento de consumo sem outros danos. O percentual é o desejado pelo governo federal para ajudar os usineiros.
Preparação – Querendo ter rede ampla e forte para assinalar volta da marca com operação no Brasil, Jeep corre no implantar rede de distribuição. Em Brasília, Viamotors, do grupo Primavia, acelera sua sede na via do Aeroporto, informa Wendel Rodrigues Lopes, diretor de marca Jeep. Também terá concessões em Valparaíso, GO, e Barreiras, BA.
Negócio – Para otimizar logística, economizando paradas e transportes internos, Toyota fará entreposto de distribuição no Porto de Suape, PE. Hilux e SW4 da Argentina, por navio, e os produtos paulistas, Corolla e Etios, por caminhão. Área de 50 mil m², processamento até 30 mil unidades/ano, emprego para 40 pessoas, início da distribuição ao Nordeste.
Furado – Ministério da Justiça comunica recall do Honda Fit 2015: tanque vaza — deficiência na solda perto do bocal de abastecimento. Explicação da Honda em firulas advocatícias diz: desvio de qualidade no processo produtivo do fornecedor. Na prática, má qualidade do fornecedor.
Conjuntura – Empresário brasiliense bem-sucedido em áreas diversas, incluindo distribuição de veículos, candidatou-se a revendedor Jeep. Ficha comercial densa, bons resultados, instalações invejáveis, aprovado com louvor no primeiro filtro da concedente.
Cautela – Tudo comercialmente certo, porém estadunidense diretor da marca, ao saber do candidato com bens pessoais bloqueados para eventual ressarcimento a cofres públicos, surpreendeu e usou a lei Sarbane-Oxley, a SOX, para negar a pretensão. Lei surgiu nos EUA com o escândalo da Emron, empresa de energia, de balanços falsos. Não quer marca ligada a ficha suja.
Caminho – No leque de opções combustíveis, nova trilha: biometano, gerado a partir de produtos e resíduos orgânicos agropastoris, aplicável em veículos, instalações residenciais e comerciais. Scania na frente com ônibus operacional no Rio Grande do Sul. Gás produzido pela Companhia de Gás do Estado. Vantagens: custo operacional 50% inferior ao diesel, menos emissões e menor ruído operacional.
Gente – Frank Sowade, brasileiro, engenheiro, diretor da fábrica Anchieta da VW, desdobramento. Presidente da SAE Brasil, entidade de engenheiros da mobilidade. / Cledorvino Belini, presidente da FCA — Fiat Chrysler — latino-americana, patriota. Membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, montado pelo governo para ouvir líderes bem sucedidos e tirar o país do buraco industrial onde o meteu. Quem sabe, os 18 membros do Conselho expliquem à Presidente que, para sobreviver, a empresa Brasil não precisa de 39 ministros e 22 mil funcionários nomeados sem conhecer do serviço. Também, que a sociedade não deve sustentar um partido político. Tal permissividade quebraria qualquer empresa — como aliás ocorre.
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A coluna expressa as opiniões do colunista e não as do Best Cars