Habib preferiu deter o prejuízo e correr atrás do lucro: deu monumental freada no projeto, virou-o a 90 graus
Da posição corajosa de importar os chineses JAC devidamente adequados ao gosto do consumidor brasileiro; de vendê-los equipados a preço de carro pelado; de inaugurar 50 concessionários no dia do lançamento da marca; de anunciar fábrica na Bahia, o pacote de iniciativas do empresário paulistano Sergio Habib foi atrapalhado por condições estranhas ao seu negócio.
Resultado buscado, o mercado de importados caiu e Habib cortou custos como pode; demitiu gente; fechou revendas JAC e Citroën — é o maior operador da marca; e, com permissão da licença pouco poética, comeu o pão que o diabo amassou com o rabo para manter-se hígido economicamente.
Sem financiamento, fez sociedade com a JAC chinesa para construir a fábrica, mantendo sua a distribuição. Entretanto dois fatores novos levaram a nova e total alteração: a retração de vendas e a insegurança jurídica no país fizeram chineses deixar o negócio.
Simples
Sozinho na iniciativa, entre escriturar o prejuízo e largar tudo para dedicar-se ao conforto de aposentadoria precoce, o sangue hebreu de Habib instou-o a deter o prejuízo e correr atrás do lucro: deu monumental freada no projeto, virou-o a 90 graus. Na prática fará sozinho os carros chineses em Camaçari, Bahia, porém em escala menor. Enxugará o processo industrial: em vez de fabricação, montagem CKD — importação de veículos desmontados — para armar aqui; instalações modestas; agregação de poucas partes nacionais.
Seguirá a cartilha do programa oficial Inovar-auto, de nacionalização mínima — pneus, rodas, mangueiras, correias, bateria e pouca coisa mais. É marcha a ré industrial, pois os aderentes a tal regra fazem em 2016 menos que a Willys-Overland praticava ao iniciar operações brasileiras no longínquo 1954, pré-indústria automobilística nacional. Quer reter custos a R$ 200 milhões — aproximadamente US$ 50 milhões.
Processo simplório, aumentando lentamente as intervenções industriais e o desenvolvimento de componentes nacionais. Volume, projetado em 100 mil unidades/ano, contrair-se-á a 20 mil anuais — 1% do mercado nacional.
Fábrica em módulo inicial iniciará construção em dias e pretende expelir as primeiras unidades em janeiro de 2017. Habib tem pressa. Ajusta passos iniciais com a JAC, incluindo mudar o produto, agora o T5, um utilitário esporte compacto focado nas dimensões do Ford EcoSport.
Do saco, a embira. E da embira, um pedaço, dizia a minha avó, sábia macróbia. Este Habib é resiliente como uma aroeira.
VW muda foco e apaga o Das Auto
Está em campanha europeia e logo chegará ao Brasil exibindo mudança mundial de enfoque, adotando linha emocional. Como disse Jorge Portugal, VP de Vendas no Brasil, o slogan era arrogante, e a marca quer dirigir sua comunicação às pessoas, ao povo, como está em seu nome — Volks é povo, pessoas, em alemão. Texto enfatizará qualidades em torno de frase criada para recuperar credibilidade e clientes: antes, agora, sempre.
Carnaval acelera lançamentos
Mercado retraído, vida deve continuar, alemãs Audi, BMW e Mercedes-Benz importaram novidades. Quantidades contidas, pois a trinca se concentrará em vender maior número possível dos veículos em início de produção local pelas duas primeiras — Mercedes o fará a partir de março. Traço comum, todos os modelos saltaram de preço, expondo a correção do dólar e, imagina-se, um colchão para absorver futuros aumentos a curto prazo.
Audi Q7
Novidade com eixo traseiro direcional em até 5 graus para auxiliar condução.
Seguiu a tendência mundial agregando-lhe enorme relação de infodiversão — incluindo a mágica de diminuir instrumentos no painel; do sistema de visão noturna percebendo obstáculos antes da visão humana; tela de 31 cm conectada ao sistema multimídia, permitindo ver de mapas a agenda telefônica. Caixa automática com oito marchas, tração permanente em todas as rodas na relação 40/60%, sistema de freio na subida, de controle automático nas descidas.
Enfim, pacote rico e à altura da preocupação de liderança tecnológica da marca. Preços, R$ 400 mil versão de entrada, e R$ 490 mil com opcionais.
BMW X1
Duas versões na motorização, quatro cilindros em linha, 2,0 litros: versão de entrada, 192 cv, e 231 cv com tração nas quatro rodas. Ambas são de extremo agrado ao conduzir, dóceis, ágeis, seguras, bem equipadas com ar-condicionado em duas zonas, faróis em leds e sistema multimídia. Três preços: X1 básico a R$ 167 mil; SDrive 20i X Line, intermediária, com teto solar, bancos e tampa do porta malas elétricos, a R$ 180 mil. Se o condutor dedicar-se a leituras superiores ao Mobral mecânico, cometerá um suinocídio, quebrará o porquinho da poupança e dele retirará os R$ 200 mil para a versão de topo XDrive 25i, muito superior.
Mercedes: os G
Padronizou seus produtos com habilidades fora de estrada sob a letra G. Tem dois novos: GLE Coupé, simbiose entre SUV e cupê, muito lembrando o estilisticamente polêmico BMW X6; e o GLC, sucessor do GLK.
GLE: veículo de luxo, motor V6 biturbo, 3,0 litros, 333 cv e 49 m.kgf. Segue o caminho mundial de muita força em baixas rotações, transmissões automáticas com nove marchas, permitindo girar em marchas altas — e rotações baixas. Oferece cinco regulagens de motor e suspensão, de acordo com a necessidade ou gosto, e interior tem toques da preparadora AMG, como couro com pesponto vermelho e volante esportivo.
GLC: substitui o GLK, mal sincronizado com os compradores. Era baixo, perdendo a aparência agressiva tão demandada pela clientela. Cresceu uns 12 cm na distância entre eixos e perdeu 80 kg no peso. Motorização 2,0 turbo, 211 cv, transmissão automática de nove marchas, tração integral e o Dynamic Select, regulagem para diferentes usos.
Preços de R$ 223 mil para versão GLC 250 4Matic a R$ 265 mil para Sport.
Roda a Roda
Fim – Toyota dará fim à marca Scion. Nome em tradução livre é filho, rebento, criada para modelos destinados aos consumidores jovens. Descobriu, estes preferem dizer têm um Toyota. É a força do nome.
Corte – É o Polo e sua plataforma PQ 25 ao qual seccionaram o porta-malas criando duas versões, hatch e sedã de três volumes. Motor 1,2 de três cilindros produzindo apenas 73 cv — no Brasil o 1,0 faz 80. Extra incentivo, opção diesel 1,5 litro e transmissão DSG de 7 marchas.
Mudança – Foi-se o tempo de carros definidos por técnicos, engenheiros. Agora o são pelos advogados: os do governo estabelecem parâmetros de emissões, poluição, segurança, tributação, e os das empresas sugerem os limites para a obediência à lei. Daí, são feitos.
Tempo – Fábrica do chinês Lifan no Uruguai — montada para fornecer ao Brasil — fechou portas até março. Contração de 45% no mercado de importados, detém produção até limpar pátios da montadora e concessionários.
Situação – Globalização é isto. Borboleta bate as asas no Cerrado de Goiás, e faz criar fenda em montanha no Tibete.
Resgate – FCA foi a Munique resgatar Roberto Fedeli, ex-engenheiro chefe da Ferrari, trabalhando na BMW. Para lugar especialmente criado, 2º. na marca, reportando-se ao CEO, missão de botar ordem no processo de conformação, produção e lançamento do multiprometido e atrasado Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio, cara do renascimento da marca.
Causa – Razão do atraso, dificuldades de aprovação nos testes de impacto. Ordem maior, iniciar produção no 31 de março — curiosa quinta-feira — e venda em julho. Versões 2,0 a gasolina e 2,2 a diesel no Salão de Genebra, março.
Mais – Calendário na Maserati, outra marca FCA renascida, também está lento. O SUV Levante, prometido para o ano passado, foi reprogramado para julho.
Paraíso – Alfistas sonharão com resultados da contratação e a nova intimidade de Fedeli com os métodos alemães. Diz-se, melhor automóvel do mundo terá linhas italianas e construção alemã. Pior, ao contrário …
Tecnologia – Fábrica de pistões Mahle desenvolveu tecnologia para reduzir consumo de óleo lubrificante nos motores com bloco em alumínio e camisas em ferro: revestiu-as externamente com níquel. Tecnologia nacional, do Centro Tecnológico da empresa, em Jundiaí, SP.
Problema – Causa é má troca de temperatura entre cabeçote e bloco, causando distorção nas camisas e irregularidades no espaço entre face interna e os pistões.
Solução – Sem saber, resolveu dois problemas até então insolúveis de festejado fabricante nacional, consumo de óleo e empeno dos blocos de motores. Drama caro para segundos donos e seus carros sem garantia.
Resolução – Pessoal decidido. Foi ao mercado e, em vez de contratar um designer festejado como talento e grife, comprou o top no setor, mítica Pininfarina, criadora de Ferraris, Maseratis, Rolls-Royce…
Desafio – Italianos terão trabalho. A linha de veículos, picape e SUV, derivam das antiga Rural Willys. Como me disse um mecânico em Goiás, mais feios que bater em mãe…
Festa – Mercedes-Benz iniciou festejar seus 60 anos no Brasil. Aplicou enorme numeral em neon ao lado da estrela, logo da empresa, sobre o prédio da administração maior, em São Bernardo do Campo, SP. Tem muito a festar, incluindo marcas industriais como os primeiros motor diesel, caminhão e ônibus feito no país.
Antigos – Paris, semana passada, leilão da Artcurial, na Rétromobile, Ferrari 335 Sport carroceria Scaglietti cravou US$ 35.807.096. Recorde no modelo.
Lamentável – Pilantras que surrupiaram a Petrobrás, o erário, os sonhos e o futuro do país, hoje gastando para se defender das grades, não aplicaram o fruto — ou o furto… — em automóveis antigos. Poderiam ter trazido modelos referenciais, e apreendidos ficariam aqui, melhorando nosso acervo. Sobrou rapina, faltou cultura.
Gente – Pablo Di Si, 46, graduado em finanças, com Harvard no currículo, novo presidente da VW Argentina. Era chefe de operações e VP de finanças, experiente na área, aqui foi diretor financeiro na Fiat. Nomeação está no gabarito de controle por David Powel, presidente da VW do Brasil e treinando para ser no. 1 na América Latina. Lá e cá quer nos postos chaves quem fale a língua e entenda o país. / Dr Joseph-Fidelis Senn, 58, ex diretor de Recursos Humanos da VW Brasil, onde fomentou a participação da empresa em usinas hidroelétricas próprias, e ex presidente da VW Argentina, saída. Muda-se a Paraty, RJ, – projetos sociais. / Christine – Chrissy – Taylor, mulher mais importante do segmento de locação de veículos, VP e COO da Entreprise, National e Alamo Rent-a-Car. Empresa familiar, é terceira geração no negócio. Iniciativas anteriores fizeram empresa saltar em locações em aeroportos; pool em vans; car sharing; e locação por hora, dia, semana, largos períodos. O futuro do automóvel.
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