No último Editorial de 2014, uma análise do que ele representou
para o mercado e os aficionados — e o que podemos esperar de 2015
Apesar de termos mais uma semana deste agradável convívio entre a equipe do Best Cars e você, nosso leitor ou nossa leitora, este é o último Editorial do ano: na sexta-feira 19 encerramos as atividades de 2014 para renovar as energias para 2015. Assim, faltando ainda 19 dias para o ano terminar, já é hora de analisar o que ele nos trouxe de bom — e de nem tão bom assim — e o que esperamos para o período que vai começar.
O ano foi de queda para a indústria automobilística. Os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) até novembro apontavam a produção de 2,77 milhões de veículos leves (caminhões e ônibus exclusos) nos 11 primeiros meses, 15% abaixo dos 3,26 milhões do mesmo período de 2013, enquanto os licenciamentos caíram 10,9% de 2,5 para 2,23 milhões em igual comparação. As maiores vilãs da perda foram as exportações, que despencaram 41,4% no confronto dos mesmos períodos.
Entre os fabricantes, a Fiat mantém-se em folgada liderança, com participação de 23,8% nos emplacamentos de automóveis (seguida por Volkswagen com 13%, General Motors com 12,8% e Ford com 9,9%) e 21,2% entre os comerciais leves (a GM tem 17,5%, a VW 17,3% e a Ford 9,1%), sempre até novembro.
Mas o maior motivo de comemoração para a fábrica de Betim, MG, é outro: o Palio já lidera o mercado há seis meses e acumula 160,8 mil unidades emplacadas até o mês passado, ante 159,2 mil do VW Gol. Embora se espere uma grande batalha neste fim de ano entre os dois maiores contendores — e tome renovação de frota de locadora com polpudos descontos! —, não será surpresa se o Fiat se sagrar campeão, desbancando o líder histórico ano após ano desde o longínquo 1987. Pode-se argumentar, claro, que o Palio compete com duas gerações, enquanto o Gol tem hoje apenas uma (a antiga deu lugar ao Up, que acumula 53,1 mil carros).
Não será surpresa se o Palio se sagrar campeão
de vendas, desbancando o líder histórico
ano após ano desde o longínquo 1987, o Gol
O que ninguém mais tira da Fiat é o domínio entre as picapes leves: até novembro foram 139,8 mil picapes Stradas, quase o dobro das 73,6 mil Saveiros. Também confortável é a situação do Siena como sedã mais vendido (97,5 mil ante 78,8 mil do Chevrolet Prisma). Um pouco mais apertados, mas com provável vitória, estão Toyota Corolla entre os sedãs médios (55,7 mil contra 48 mil do Honda Civic) e Ford Ecosport entre os utilitários esporte (49,2 mil ante 43 mil do Renault Duster).
Entre os lançamentos de 2014, o destaque foi o setor de compactos, que recebeu dois carros inteiramente novos, o Volkswagen Up e o Ford Ka de terceira geração, este com direito a versão sedã. Surgiram também os reformulados Honda Fit e Renault Sandero, embora sem grandes evoluções mecânicas; a VW aprimorou Fox, Crossfox e Spacefox; a Nissan, o March, que ganhou produção local; e a Fiat, o Uno, que inaugurou o sistema de parada/partida automática de motor na produção nacional. Entre os importados vieram a nova geração do Mini (cada dia menos míni), um novo (e caro) Kia Soul, a versão esportiva Abarth do Fiat 500, Lifan 530, Suzuki Swift.
No setor de médios, Honda City e Toyota Corolla mereceram atenção pelo redesenho bem-sucedido (embora derivado do compacto Fit, o City se encaixa neste segmento por suas dimensões) e adotaram câmbio automático de variação contínua (CVT), uma tendência ao menos nas marcas japonesas. A Chevrolet Spin ganhou versão “aventureira” Activ, e o Honda Civic, a esportiva Si — agora importada como cupê, espécie que andava próxima da extinção por aqui. De fora vieram o Audi A3 Sedan, o cupê BMW Série 2, o Mercedes-Benz CLA e o Geely EC7, este de marca inédita no País.
Na classe dos maiores, as novidades incluíram os BMWs Série 3 Gran Turismo e Série 4 (cupê, sedã Gran Coupe e conversível) e o Mercedes-Benz Classe C em nova geração. Tanto o Série 3 quanto o X1 passaram a ser montados no Brasil, em um processo que terá seguimento com outros modelos BMW e Mini. O ano foi modesto para a categoria de picapes, mas a VW Saveiro apareceu com novo motor e cabine dupla.
Entre os utilitários esporte houve novidades para diferentes gostos e bolsos. No setor de compactos, a Mercedes lançou o GLA. Nos médios, o Jeep Cherokee trouxe seu controverso desenho frontal e o BMW X4 ofereceu mais esportividade que o X3; em faixa de preço superior, chegou o Porsche Macan (e ponha “superior” nisso). A classe dos grandes viu novidades como BMW X5 e Range Rover Sport. Não pode faltar a menção ao jipe Troller T4, todo redesenhado e bem mais atraente.
Carros esporte — uma categoria que desperta paixões — ganharam a versão cupê do Jaguar F-Type, a Targa do Porsche 911 e a conversível do Chevrolet Camaro, além do BMW M4. Enfim, entre os carros com foco no meio ambiente, a BMW brilhou com o compacto elétrico i3 e o supercarro hibrido i8.
O que esperar de 2015
O cenário para o próximo ano, como se sabe, não é promissor. Fatores como economia estagnada, inflação e cotação do dólar em alta e perspectiva de grande aumento no custo de energia elétrica (que impacta em tudo, incluindo a produção de automóveis) fazem parecer otimista a previsão, comum entre os executivos da indústria, de que o próximo ano mantenha o patamar de produção e vendas do que está terminando. Sem querer estragar o Ano Novo de ninguém, minha bola de cristal mostra um cenário mais escuro.
Se comprar um novo carro deve ficar mais caro e difícil (o governo federal garante que dessa vez o Imposto sobre Produtos Industrializados, IPI, volta às alíquotas originais em janeiro), manter o atual também: os preços de combustíveis derivados do petróleo estão represados hoje pelo governo, que tende a soltar as amarras cedo ou tarde; além disso, a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, mais um imposto sobre a gasolina) deve voltar a ser cobrada como parte do plano de equilíbrio fiscal.
Terão motivos para comemorar os adeptos
de utilitários compactos: Honda, Jeep
e Peugeot preparam lançamentos aguardados
Do ponto de vista do aficionado por automóvel, alguns efeitos do período de alta do mercado ainda devem aparecer, com o lançamento de modelos e versões interessantes — daqueles que ficam para depois sempre que a situação econômica está complicada, o que significa que esse tipo de novidade deve escassear após alguns meses. Afinal, a indústria trabalha a longo prazo e o desenvolvimento de um carro nacional requer alguns anos; mesmo a importação exige tempo e investimentos anormais no Brasil, por conta do processo de homologação e da adaptação à gasolina alcoolizada.
Quem certamente terá motivos para comemorar em 2015 são os adeptos de utilitários esporte compactos, pois Honda (HR-V), Jeep (Renegade) e Peugeot (2008) preparam lançamentos nacionais bastante aguardados; haverá ainda a importação dos modelos T5 e T6 da JAC e do Land Rover Discovery Sport, que mais tarde será nacionalizado. Há diversas outras novidades em preparo, das acessíveis como o Chery Celer — primeiro carro nacional da marca chinesa — aos sofisticados como o Audi TT e o Jaguar XE.
Como se vê, não faltará assunto para debatermos aqui no Best Cars no ano em que o site atingirá a maioridade aos 18 anos. Torço para que nosso amado país seja recolocado nos eixos e que possamos celebrar, daqui a um ano, um 2015 de grandes conquistas para todos nós. A você, boas festas e um ótimo Ano Novo!
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