Com alguns procedimentos, melhora-se o aproveitamento desses recursos de segurança e conforto
Para alguns motoristas, eles são tão familiares que parecem ter surgido junto com o automóvel. Para outros, são novidades conquistadas em sua mais recente compra ou mesmo um objetivo para o próximo carro. Tanto uns quantos outros, porém, podem ainda não ter o conhecimento ideal para operar bem recursos de conforto e segurança que estão se tornando comuns no mercado, como ar-condicionado, controle eletrônico de estabilidade e tração, freios antitravamento (ABS) e transmissão automática. E é disso que vamos tratar aqui.
Em princípio, dirigir um carro com tais equipamentos é até mais fácil que sem eles: com ABS as rodas não travam nas frenagens pânicas, a caixa automática dispensa mudanças de marcha e uso da embreagem, e assim por diante. Mas há algumas técnicas para obter o melhor desempenho de cada um desses itens.
Ar-condicionado
• Nesse calor do verão, nada como entrar no carro “fervendo” sob o sol e ligar o ar no máximo para se refrescar, certo? Errado. Procure rodar por um ou dois minutos de vidros abertos, para expulsar o ar quente do interior, e vá refrigerando o carro aos poucos. Desvie o ar frio do rosto: embora a sensação possa ser agradável, causa riscos à saúde.
• Direcione o ar frio para a parte superior da cabine. Como a Física ensina, o ar quente sobe e o frio desce: assim, é contra a massa aquecida de cima que deve ser emitido o ar refrigerado, o que torna a temperatura mais homogênea com o tempo. No extremo oposto, se direcionar o ar só para os pés, você viajará por muito tempo com a cabeça quente.
• O comando de recirculação fecha a admissão de ar externa: o aparelho usa o que já está no carro. Pode ser ótimo em caso de calor extremo lá fora, poeira ou fumaça, mas evite rodar por horas assim, como fazem algumas pessoas: o ar interno fica muito seco e pode causar irritações nasais, que alguns associam ao ar-condicionado de modo geral.
O controle não faz de um carro comum um superesportivo: sempre haverá um grau de derrapagem que não poderá ser corrigido
Controle de estabilidade
• O objetivo desse sistema, conhecido pelas siglas ESP e ESC, é manter o carro próximo da trajetória em curvas e manobras rápidas. Se o automóvel escapar de frente ou de traseira (controle de estabilidade) ou uma das rodas motrizes deslizar enquanto se acelera (controle de tração), a central eletrônica comanda os freios de uma ou mais rodas, ou mesmo reduz a potência do motor, para que o motorista reassuma o comando.
• O dispositivo, por si, não aumenta a capacidade de curvas nem faz de um carro comum um superesportivo: sempre haverá um grau de derrapagem que não poderá ser corrigido ou que demandará espaço anormal para a correção — o que pode acabar em grave acidente, como ao invadir a pista contrária ou sair para um acostamento desnivelado.
• O controle de tração tende a ajudar a travessia de trechos com lama, mas em certas condições — como na areia — sua ação de limitar a potência pode ser excessiva, a ponto de o carro não conseguir se mover. Por isso, a maioria dos carros assim equipados permite sua desativação por botão ou menu, mesmo que seja temporária ou restrita a baixas velocidades.
Freios antitravamento (ABS)
• Ao controlar a pressão de frenagem de cada roda em separado, o ABS faz o que nem o melhor piloto de competição conseguiria — a menos que tivesse quatro pés e um pedal para cada. Se precisar frear com toda potência um carro equipado com ele, simplesmente aperte o pedal com força e o mantenha assim. O pedal vai pulsar, o que é normal enquanto o sistema trabalha, mas não alivie a força por isso.
• Uma das vantagens do ABS é manter o controle de direção durante uma frenagem intensa. Testes demonstram isso claramente: com o sistema atuando, pode-se desviar de obstáculos enquanto se freia forte; sem ele, as rodas travam e o carro segue reto, apesar do volante esterçado. Se for o caso, tire proveito desse benefício.
• Ao contrário do que alguns acreditam, o espaço de frenagem nem sempre é menor com ABS. Previna-se: em piso de baixa aderência — molhado, com areia, terra, etc. — o sistema pode tentar evitar o travamento das rodas e acabar soltando os freios mais do que o desejado. É por isso que alguns modelos oferecem um programa específico do ABS para uso fora de estrada.
• Como o controle de estabilidade, o ABS tem um limite de atuação: o da potência dos freios associada à aderência dos pneus. Sua presença não é razão para “colar” no carro à frente ou deixar para frear mais próximo de uma curva ou obstáculo. Uma exigência muito severa dos freios pode levar à perda de ação por superaquecimento (fading), com ou sem ABS.
Uma das vantagens do ABS é manter o controle de direção durante uma frenagem intensa: se for o caso, tire proveito desse benefício
Transmissão automática
• Esse tipo de caixa aumenta o consumo de combustível? De modo geral, sim: seu sistema hidráulico para transmitir energia é menos eficiente que o da caixa manual. Mas as automáticas modernas estão cada vez melhores nesse quesito, com mais marchas (que permitem manter o motor em baixa rotação) e pouca atuação do conversor de torque (quanto mais ele atua, mais energia se consome).
• Na maior parte do tempo, basta manter a alavanca em D. Mas pode ser interessante uma redução (para 3, 2 ou L, por exemplo) quando se deseja conter a velocidade, como em descidas de serra: às vezes, rodar a 2.500 rpm sem acelerar dispensa o uso constante dos freios. Mas não exagere, como ao “frear com reduções” antes de curvas: pastilhas e lonas são itens de consumo e muito mais baratas que um reparo de transmissão.
• Se precisar de uma arrancada rápida ou de mais potência em subida, você pode frear enquanto acelera o carro com caixa automática: é o chamado estol, que muitas vezes resulta na melhor aceleração possível. Use com moderação: esse procedimento eleva a temperatura do fluido da caixa.
• Quer passar ao ponto-morto (N) nas paradas do trânsito? Problema não há, pois as caixas são testadas para muitos ciclos de uso da alavanca. Pode-se obter ligeira economia de combustível, pois o motor deixa de tentar mover o carro, mas em geral a manobra não compensa em paradas breves. Ao fazê-la, você pode levar mais tempo para sair quando o semáforo se abrir — e dar um tranco na caixa se acelerar antes do engate.
Editorial anteriorFotos: Fabrício Samahá e divulgação