
Uns vão, outros chegam — mas nesses casos os fabricantes abandonaram o cliente sem opção
Assim como todo pai espera que os filhos sigam seus melhores exemplos na vida — mesmo que a personalidade deles se reflita em diferentes escolhas —, no mundo do automóvel é habitual que um carro tenha sucessor. Acaba-se um modelo e o fabricante oferece outro em seu lugar, para que o consumidor fiel à marca continue a ser atendido. Foi o que se deu do segundo Chevrolet Corsa para o Onix, do Fiat Palio para o Argo, do Ford Escort para o Focus ou, de certa forma, da Volkswagen Spacefox para o T-Cross.
Contudo, isso não acontece sempre. Por desinteresse da marca em um segmento ou pela falta de produto adequado em seu portfólio, alguns modelos importantes em nossa história simplesmente saíram de cena sem deixar substituto. De repente, o cliente que trocava de carro sem mudar de modelo ficou órfão — e teve de recorrer à concorrência. Vamos relembrar 10 casos em ordem cronológica pelo fim de produção.
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O Omega foi uma combinação única de aerodinâmica, tração traseira, comportamento dinâmico e motores de seis cilindros em linha
• Volkswagen Passat (1974-1988) – O Passat não esteve entre nós até poucas semanas atrás? Sim, o sedã importado desde 1994 e que sucedeu ao Santana. Mas o Passat em questão é o fastback de primeira geração que marcou uma revolução técnica na marca, com motor arrefecido a líquido e tração dianteira, e brilhou nas estradas com o desempenho e a estabilidade das versões TS e GTS Pointer. Seu lugar foi preenchido em parte só em 1994 pelo Golf, de formato diferente.
• Chevrolet Silverado (1997-2001) – A Silverado teve vida curta e atribulada por aqui: feita na Argentina, logo passou a ser brasileira e a ser registrada como caminhão leve para contornar a alta do dólar e os impostos. Mesmo assim, em poucos anos a GM desistia de um segmento do qual participara por meio século, incluindo as linhas 3100 “Brasil”, C-14/C-10 e série 10/20. Entregou-o para a Ford F-250, que ao sair o deixou todo nas mãos da Dodge Ram. Duas décadas depois, enfim há perspectiva de retorno da Silverado por importação.
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• Fiat Marea (1998-2007) – Desde a inauguração da Fiat em Betim, MG, em 1976, por 15 anos a imprensa anunciou que um modelo médio seria produzido aqui, do 131 ao Regata e ao Croma, até que em 1991 ganhamos o Tempra. Foi uma sucessão natural para o Marea, mas parou nele — o Linea, derivado do Punto, pertencia a um segmento inferior, hoje ocupado pelo Cronos. Como o Tipo europeu nunca chegou por aqui, hoje a linha de automóveis da Fiat é o que foi antes do Tempra: restrita a modelos compactos.
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Das cinco gerações que a Kombi teve na Europa, qualquer uma desde a terceira representaria avanço para o mercado brasileiro, que nunca saiu da segunda
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• Renault Scénic (1998-2010) – Como criar um segmento e desprezá-lo? Fazendo como a Renault, que teve a primazia mundial e depois a brasileira entre as minivans compactas com a Scénic. Muitos foram seus fãs, mas por aqui a marca não acompanhou a renovação da similar francesa — tentou apenas importar a segunda geração em 2008 como Grand Scénic, sem sucesso. Depois dela, tudo que seu público pôde encontrar foram os SUVs Duster e Captur.
• Volkswagen Kombi (1957-2013) – Não é que eu desejasse ver a “velha senhora” ainda à venda, com o mesmo formato básico e o padrão de (in)segurança que a caracterizaram durante 56 anos, mas a marca alemã ter abandonado uma legião de fãs é difícil de entender. Das cinco gerações que o utilitário teve na Europa, qualquer uma desde a terceira representaria avanço para o mercado brasileiro, que nunca saiu da segunda. Quem agradece são Fiat, Citroën, Peugeot e outras com furgões que, de alguma forma, atendem aos órfãos da Kombi.