O Cerato, um sedã de lançamento tímido da sul-coreana Kia, “mudou de cara” para conquistar o mercado — e conseguiu
Texto: Luiz Fernando Wernz – Fotos: divulgação
A Kia é uma marca que se afirmou no Brasil, em meados da década de 1990, sempre focada nos utilitários. Fabricante da famosa Besta, muito usada para transportes coletivo e escolar na época, até teve alguns carros de passeio com relativo sucesso, como o Clarus, e outros que se tornaram verdadeiros “micos” de mercado, como o Shuma. Flutuações cambiais concorreram para uma vida difícil dos automóveis sul-coreanos por aqui de 1999 em diante.
Em 2005, já sem a representatividade de mercado que tinha por volta de 10 anos antes, a Kia resolveu arriscar novamente e trouxe da Coreia do Sul o sedã Cerato, já como ano-modelo 2006. As primeiras unidades vinham com motores de 1,6 e 2,0 litros e quatro válvulas por cilindro, com variação de tempo de válvulas. O sedã trazia como itens de série bolsas infláveis frontais, freios com sistema antitravamento ABS, faróis de neblina, ar-condicionado, direção assistida, sistema de áudio com rádio/toca-CDs, ajuste de altura do volante e do banco do motorista, controle elétrico de vidros, travas e espelhos e alarme acionado a distância. Os opcionais eram o revestimento interno em couro e o câmbio automático.
A primeira geração do Cerato por aqui, em 2006 (esquerda) e após a alteração na frente para 2007
Essa primeira leva do Cerato foi tão pouco representativa em vendas que é difícil ver um desses carros em circulação. Um novo desenho frontal para ele vinha já em 2007 — faróis, grade, para-choque e faróis de neblina foram redesenhados. O motor 1,6 16V teve a potência elevada para 121 cv, desaparecendo o 2,0-litros, mas os itens de série e opcionais continuaram iguais. A mudança de estilo em apenas um ano de mercado não deve ter agradado a quem comprou o carro com a frente “antiga”.
O Cerato era um típico sedã sul-coreano da época. Com desenho pouco inspirado, não tinha como argumento de vendas as linhas da carroceria. O interior, com bom acabamento, mas também ultrapassado, não cativava quem estivesse indeciso sobre qual carro adquirir. O porta-malas, um dos fatores determinantes para quem quer tal tipo de carro, contava com capacidade de apenas 345 litros — uma das menores entre os modelos de três volumes do mercado. O desempenho, porém, era um dos pontos positivos, com o motor de 1,6 litro mais potente da categoria.
Com o segmento de sedãs médios em franca renovação não apenas no Brasil, a Kia percebeu a necessidade de reformular o Cerato e aplicar-lhe uma grande evolução. A exemplo da Hyundai, tratou de investir em estilo, um dos fatores que mais pesam na aquisição de um carro, contratando o projetista alemão Peter Schreyer, ex-Audi. Esse fator foi decisivo para que, em 2009, fosse lançada a nova geração do Cerato, bem mais agradável em aparência que a anterior, com desenho frontal que muitos julgaram ser inspirado no Honda Civic, linhas esportivas, faróis de perfil baixo e “cara de mau”, acompanhados por uma traseira alta e imponente.
O alvo verdadeiro do novo sul-coreano era o Honda City — menor que o Kia, mas próximo dele em preço e cilindrada. Oferecido apenas com motor a gasolina de 1,6 litro, quatro válvulas por cilindro e 126 cv, o novo Cerato tinha três pacotes de opcionais, sem denominação de versão.
O desenho era um ponto alto do novo Cerato em 2009; havia cinco opções com o mesmo motor
O básico já trazia bolsas infláveis frontais, ar-condicionado com ajuste manual, controle elétrico dos vidros, retrovisores e travas, comando a distância da trava das portas e do porta-malas, computador de bordo, rodas de alumínio de 15 pol, faróis de neblina e rádio/toca-CDs com MP3 e entradas auxiliar e USB. O seguinte incluía ao anterior sistema de freios com discos traseiros e ABS, encostos de cabeça ativos na frente, ar-condicionado automático, apoio de braço no banco traseiro, detalhes internos em tom de aço escovado, rodas de 16 pol e manopla do câmbio e volante revestidos de couro.
Esse pacote podia ser combinado a um câmbio automático de quatro marchas com seleção manual. Havia ainda um conjunto com aparência esportiva que adicionava rodas de 17 pol, grafia dos instrumentos e detalhes internos em vermelho. A caixa automática podia ser aplicada também a tal versão.
O Cerato era agora um carro totalmente novo, tendo sobrado do antigo apenas o nome. O interior bem desenhado contribuía para criar um ambiente de esportividade, mas o aspecto dos materiais de revestimento era simples. Como o City oferecia pacotes de equipamentos semelhante com um preço bem mais “salgado”, a Kia tinha nas mãos um produto competitivo, que encontrou grande aceitação e se colocou no grupo dos sedãs médios mais vendidos. Um ponto negativo era o câmbio automático de apenas quatro marchas, mas em dezembro de 2010 o problema foi resolvido: tanto a caixa manual (antes de cinco marchas) quanto a automática passaram a contar com seis marchas. O motor, porém, se manteve.
Itens como ar-condicionado automático e rodas de 16 ou 17 pol diferenciavam os pacotes
Em junho de 2011 a Kia lançou o representante de uma categoria praticamente inexistente no mercado atual. O cupê Cerato Koup chegou para atender a quem gosta de exclusividade aliada a um visual esportivo. Além das duas portas, trazia perfil diferente do sedã e elementos diversos como para-choques, faróis, faróis de neblina e lanternas traseiras. Vinha com um motor de 2,0 litros, quatro válvulas por cilindro e 156 cv, o mesmo oferecido no sedã para outros mercados, e câmbio automático com seleção manual de seis marchas.
Além disso, o Koup oferecia bolsas infláveis frontais e laterais, controle de tração e estabilidade, freios com ABS e distribuição eletrônica de frenagem, ar-condicionado automático, teto solar com comando elétrico, computador de bordo, controlador de velocidade, rádio/toca-CDs com MP3, entradas auxiliares e controles no volante, rodas exclusivas de 17 pol, sensores de estacionamento traseiros, acendimento automático dos faróis, comandos para troca de marchas atrás do volante, chave inteligente com partida por botão e bancos, volante e manopla do câmbio de couro.
Havia a opção entre interior com acabamento todo na cor preta e com detalhes também em vermelho. Os pedais e o descanso para o pé esquerdo vinham em alumínio com borracha. Como é sempre inconveniente o acesso ao banco traseiro em veículos de duas portas, ao se rebater os bancos da frente, estes deslizavam sobre seus trilhos.
Usado em todas as versões, o motor 1,6 16V fornecia 126 cv; seis marchas vieram depois
Com a elegante geração lançada em 2009, a liquidez de mercado do Cerato foi beneficiada. Enquanto se encontram no mercado unidades da geração anterior sendo vendidas por valores bem abaixo da média do segmento, o atual Cerato tornou-se um modelo bem aceito, com padrões de desvalorização normais em sua categoria — mesmo sem ter recebido motor flexível em combustível, ao contrário dos Kias Picanto, Soul e Sportage. Em 2013 começa a ser vendido aqui seu sucessor, já revelado.
Bonito e com bom custo-benefício
O Kia Cerato conquista os proprietários, em sua maioria, pela beleza, mas também pela boa relação custo-benefício que seu pacote de itens de conveniência oferece, o baixo consumo e as qualidades dinâmicas.
Márcio A. Nascimento roda por Londrina, PR, a bordo de um Cerato 1,6 2010 e opina: “Estilo esportivo, não é um carro de ‘tiozão’ igual ao Corolla. Motor esperto e econômico, fazendo 13 km/l na estrada, com ar-condicionado ligado. Melhor custo-benefício na categoria, pelo menos R$ 20.000 mais barato que os similares com os mesmos acessórios: câmbio automático, freios ABS, bolsas infláveis, ar-condicionado automático, som com controles no volante, rodas de aro 16 (inclusive o estepe), sensor de estacionamento, porta-malas grande”.
Quem também elogia o Kia é Igor Trigo, de Brasília, DF, dono de um modelo 2011. “Carro esperto, anda bem na cidade, bem econômico para um 1.6 com 126 cv. Está fazendo 13,2 km/l segundo o computador de bordo, equivalente ao consumo de muitos 1.0 por aí… O acabamento é top (sem falhas), desenho moderno, confortável, espaçoso e o nível de equipamentos de série é impressionante, comparado aos concorrentes diretos e indiretos nacionais. O carro está recomendadíssimo!”.
Economia e equipamentos são pontos elogiados; custo de manutenção recebe críticas
“Estilo, conforto, posição de dirigir, estabilidade e resistência. Já tive o Cerato modelo antigo e digo que a única coisa em comum é o nome. O novo Cerato é forte, tem uma ótima retomada (e o meu é automático), faz curvas com total segurança. Na hora de comprar não hesitei, procurei pelo mais top de linha. Nota 1000, sem arrependimento nenhum. Melhor custo-benefício do mercado, olhei Civic e Corolla e não tive dúvidas em comprar o Cerato. Espetacular”. Quem relata com tal entusiasmo é Marco Aurélio Figueiredo, de Belo Horizonte, MG, dono de um Cerato 1,6 2010.
Quem também rasga elogios ao Cerato é Leonardo Martello, de Nova Iguaçu, RJ, dono de um modelo 2010: “Design e custo benefício são imbatíveis. Carro muito confortável com ótimo espaço interno, muito econômico, faço em torno de 13 km/l na estrada. Mas não recomendo sem sensor de estacionamento, porque é bastante difícil ver a traseira. O som é simplesmente excelente”.
Entre os aspectos negativos estão visibilidade traseira, acabamento e custos de revisões.
Marcel Gava da Silva, de Criciúma, SC, tem um Cerato 1,6 2010 e relata seus aspectos negativos: “Tecido dos bancos é pobre e claro demais. O assoalho do porta-malas tem uma elevação em função da roda reserva larga. Não tem alarme e o controle remoto das portas poderia ser integrado à chave, que é feia. A regulagem da inclinação do banco é por alavanca com posições pré-fixadas. A Kia diz que o rádio tem interface para iPod e iPhone, porém para a correta comunicação entre eles é necessário um cabo que não vem nem existe na concessionária para vender. A visão da traseira é dificultada. Falta de função um-toque para subida do vidro do motorista. Travamento das portas deveria ser feito a velocidade mais baixa (ocorre a 40 km/h). Consumo indicado no computador de bordo no padrão europeu (l/100 km). Faróis não são muito eficientes. O limpador do para-brisa tem palhetas barulhentas. Por fim, não é flex, o que pode fazê-lo ser discriminado pelo mercado”.
“O custo de manutenção realmente me assustou. A revisão de 10.000 km foi de R$ 250. A de 20.000 km, R$ 700. A de 30.000 km, R$ 380 e a de 40.000 km foi de R$ 1.200. Estou pensando em partir para o novo Fiesta, também pelo fato de morar no interior do Mato Grosso e a concessionária mais próxima da Kia ficar a 800 km daqui”, queixa-se Cristiano Sócrates, de Ribeirão Cascalheira, MT, dono de um Cerato 1,6 2010.
O Koup vinha em 2011 com formas mais esportivas, conteúdo superior e motor de 156 cv
Quem também reclama é João Fernando Alves de Campos, de Mogi Mirim, SP, dono de um Cerato 1,6 2011: “Visão da traseira muito ruim (cuidado em manobras de ré). O carro requer uma rotação de saída maior: baixa rotação na saída e ele morre. A pior falha é não ter protetores laterais de portas. A tabela FIPE só menciona um único código e valor do carro. Apesar de ter condições de comprar o top com alguns detalhes a mais, não acho que em custo-benefício valha a pena: já de cara você perde cerca de R$ 7 mil e na cobertura de seguro. O acabamento poderia ter materiais um pouco melhores”.
Thiago Valença Parísio, de Jaboatão dos Guararapes, PE, complementa: “A suspensão, projetada para ‘tapetes’, sofre um pouco em vias mais acidentadas, mas não chega a comprometer o conforto. O revestimento dos bancos é outro ponto a melhorar: a qualidade do tecido empregado não condiz com o restante do padrão do carro. Por fim, o preço um pouco mais elevado de revisões em relação a concorrentes nacionais pode afastar possíveis interessados (isso se a Kia não instituir uma política de revisões tabeladas)”.
Alguns problemas relatados merecem destaque no Cerato, como desgaste prematuro de pastilhas de freio, barulhos nos cubos de roda, ruídos no acabamento interno, infiltração de água nas portas. Um dos proprietários relatou ter tido problemas com o câmbio manual, resolvido em garantia.
O Kia Cerato, em resumo, é uma boa compra para quem deseja ou um sedã na faixa de cinco anos de uso, completo e de baixo custo — a geração anterior —, ou para quem quer um carro atual, com estilo agradável, bons atributos e valor mais acessível que o dos médios mais conhecidos do mercado. E com a incomum garantia de cinco anos, que está vinculada (como em qualquer veículo) ao cumprimento do plano de revisões.
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Custos de manutenção
Concessionária | Mercado paralelo | |
Disco de freio (par) | R$ 420 | R$ 120 |
Pastilhas de freio dianteiras (par) | R$ 360 | R$ 125 |
Amortecedores (jogo de 4) | R$ 1.445 | R$ 940 |
Pneus (Kumho KH15, 205/55 R 16, cada) | R$ 320 | |
Para-lama dianteiro (cada) | R$ 490 | R$ 340 |
Para-choque dianteiro | R$ 905 | R$ 490 |
Farol (cada) | R$ 725 | R$ 250 |
Mão de obra (hora) | não disponível* | – |
Preços médios para Cerato EX 1,6 16V automático 2010, obtidos pelo Sistema Audatex (concessionária) e lojas de autopeças, em pesquisa em julho de 2012; não envolvem instalação e pintura quando cabível; * nenhuma concessionária consultada forneceu dados do valor da hora de mão de obra |
Cotações de seguro
Custo médio | Franquia média | |
Cerato 1,6 16V automático 2010 | ||
Perfil de alto risco | R$ 11.090 | R$ 3.045 |
Perfil de médio risco | R$ 3.490 | R$ 2.845 |
Perfil de baixo risco | R$ 2.285 | R$ 2.640 |
Custos médios obtidos em pesquisa da Depto Corretora de Seguros em julho de 2012; conheça os perfis |
Satisfação dos proprietários
Com o carro | Com as concessionárias | |
Muito satisfeitos | 84,6% | 48,1% |
Parcialmente satisfeitos | 5,8% | 34,6% |
Insatisfeitos | 9,6% | 13,4% |
Não utilizam | – | 3,9% |
Estatística obtida no Teste do Leitor com 52 proprietários até julho de 2012 |
Compare as versões
Versão | Faixa de preço | Anos-modelo disponíveis |
Cerato 1,6 16V manual | R$ 23.990 a R$ 49.120 | 2006 a 2012 |
Cerato 2,0 16V automático | R$ 25.840 | 2006 |
Cerato 1,6 16V automático | R$ 32.055 a R$ 54.070 | 2008 a 2012 |
Cerato Koup 2,0 16V aut. | R$ 70.330 a R$ 73.220 | 2011 e 2012 |
Preços fornecidos pela FIPE e válidos para julho de 2012 | ||
Versão | Combustível | Potência | Torque |
Motor 1,6 16V (até 2008) | gasolina | 121 cv | 15,6 m.kgf |
Motor 1,6 16V (2009 em diante) | gasolina | 126 cv | 15,9 m.kgf |
Motor 2,0 16V (2006) | gasolina | 141 cv | 18,6 m.kgf |
Motor 2,0 16V (Koup) | gasolina | 156 cv | 19,9 m.kgf |
Dados do fabricante; desempenho e consumo não informados |