Uma provável composição entre fabricantes, sindicato de metalúrgicos e governo federal levou ao reestudo da obrigatoriedade de instalação de bolsas infláveis frontais e freios com sistema antitravamento, ou ABS, em todos os carros fabricados no Brasil a partir de 1º. de janeiro de 2014. O governo deve anunciar na próxima semana uma extensão do prazo em dois anos, de modo que em 2014 apenas 70% dos carros deverão ter os equipamentos, passando a 80% em 2015 e à totalidade apenas em 2016.
A imposição dos itens de segurança, que são padrões há muito tempo nos países desenvolvidos, foi definida em 2009 pela resolução 311 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), no caso das bolsas infláveis, e em 2011 pela resolução 380, no caso do ABS. O programa previa a instalação dos equipamentos em 8% dos carros em 2010, em 15% para 2011, em 30% para 2012 e em 60% para 2013, até chegar aos 100% em 2014.
Diante da obrigatoriedade, fabricantes vinham preparando o encerramento da produção de modelos como VW Kombi, que chegou a ser vendida na série especial de despedida Last Edition; Fiat Mille, que estava por ter apresentada uma edição especial similar; Fiat Fiorino, já substituído por uma nova geração; e o VW Gol de segunda geração, designado como G4. Com exceção do Fiorino, é provável que os modelos permaneçam em produção.
O governo federal justifica o retrocesso por uma preocupação com o aumento de preços dos carros, calculado em R$ 1.000 a R$ 1.500, o que corresponde aos aumentos anunciados por algumas marcas com a instalação dos equipamentos ou sua oferta como opcionais.
A ideia de alterar o programa teria sido do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, diante da perspectiva de demissão de 4.000 empregados da fabricação da Kombi em São Bernardo do Campo, SP. A Anfavea, associação dos fabricantes, alega não ter participado da campanha pelo afrouxamento das regras. No entanto, Rafael Marques, presidente daquele sindicato, afirmou em entrevista ao UOL que Volkswagen e Fiat “também vinham negociando” com o governo nos últimos três meses.
Opinião
Para o Best Cars, a decisão do governo federal é lamentável e constitui grande retrocesso. Bolsas infláveis e ABS são dispositivos de segurança de eficácia comprovada, exigidos por lei ou pelo próprio consumidor nos mercados de vanguarda desde o século passado. Nesses países, a evolução do assunto segurança já seguiu adiante e hoje são comuns, quando não obrigatórios, controle eletrônico de estabilidade e bolsas infláveis laterais e do tipo cortina.
É evidente que o consumidor interessado nos itens de segurança pode optar por modelos assim equipados. No entanto, isso exclui diversas opções dos segmentos de entrada, que simplesmente não oferecem tais equipamentos nem como opcional, o que torna essa escolha inacessível a grande parte dos compradores. Além disso, se exigidos em todos os veículos, os dispositivos tendem a ter seu custo reduzido pela escala de produção.
Petição
O Best Cars apoia a petição aberta por internautas para que o governo federal mantenha o programa da resolução original do Contran e convida os leitores a assiná-la. Clique aqui.
Texto: Fabrício Samahá – Foto: divulgação