Na Palio Weekend, amplo espaço de carga e boa solução para rebaixar o plano de acesso; a versão de topo Stile foi nosso primeiro carro com bolsa inflável de série
A família cresce
Se do Uno a Fiat brasileira havia gerado uma linha de derivados — sedã Prêmio, perua Elba, furgão e picape Fiorino —, era natural que o Palio seguisse o mesmo caminho. Seu primeiro “filhote” nascia em março de 1997: a perua Palio Weekend (fim de semana), em que o sobrenome era o mesmo usado pela matriz em peruas das linhas Regata e Marea, além da Elba exportada para a Europa como Duna Weekend.
A novidade agradou pelas linhas suaves e harmoniosas. Graças ao aumento de seis centímetros na distância entre eixos, a traseira alongada fazia um bom conjunto — não havia ganho de espaço interno, porém, pois o banco ficava no mesmo lugar que no hatch. No para-choque posterior, no lugar da discutível solução da Elba (em que toda sua parte central era integrada à tampa, podendo bloqueá-la no caso de um impacto por trás), um recurso bem-bolado: uma seção no centro erguia-se junto da porta, para que o piso do compartimento de bagagem fosse mais baixo, mas a parte inferior era fixa e mais saliente a fim de proteger a retaguarda.
Rodas, volante e bancos esportivos e suspensão mais firme formavam a Weekend Sport, que partilhava o motor 1,6 16V com duas outras opções de acabamento
Espaço para carga era com ela mesma: 460 litros, um dos mais amplos entre as peruas nacionais. Disponível só com cinco portas, a Weekend vinha nas versões básica com motor de 1,5 litro, Stile e Sport, estas com o 1,6 16V. A mais luxuosa Stile incluía itens que o Palio não oferecia, como controle elétrico dos vidros traseiros e dos retrovisores, e trazia de série a bolsa inflável do motorista — primazia entre os carros brasileiros.
Na Sport o apelo jovial incluía rodas de alumínio com face usinada, volante esportivo de três raios (da Momo, exceto quando dotado de bolsa inflável), bancos com maior apoio lateral e de pernas, encostos de cabeça vazados e detalhes externos diferenciados. Até teto solar com comando manual podia vir nessa versão, cuja suspensão recebia molas mais firmes. Pouco depois a Fiat combinava a mecânica mais potente ao acabamento básico na versão chamada apenas de 16V.
Além do entre-eixos, a Weekend tinha outra boa novidade mecânica: suspensão traseira independente por braço arrastado, como no Tipo, superior em conforto e comportamento dinâmico. Tudo somado, era um conjunto muito competitivo diante da Volkswagen Parati, então líder do segmento, que só teria versão de cinco portas um ano e meio depois. A outra concorrente de mesmo porte era a Chevrolet Corsa Wagon, lançada junto da Weekend, mas com espaço interno e de bagagem inferiores.
O sedã Siena, que vinha da Argentina para o lugar do Prêmio/Duna, oferecia apenas motores de 1,6 litro, um deles inédito na linha, com oito válvulas e 82 cv
A Weekend Sport foi comparada à Corsa GLS 16V e à Parati 1,6 (já remodelada em 1999) pelo Best Cars: “A Sport traz ótimo volante e bancos de formato esportivo com ajuste lombar para o motorista, bem-vindo em longos percursos. A perua da Fiat é a mais espaçosa na frente e atrás e seu porta-malas vence os demais: 460 litros contra 437 da Parati e 401 da Corsa. O motor 16V da Palio, brilhante em qualquer regime, leva o carro com agilidade a partir de 2.000 rpm. Após 3.000 torna-se um convite para acelerar através das marchas, bem ao estilo italiano. Pelos números de fábrica, a vantagem em aceleração é da Weekend. Em contrapartida, perde bem no consumo em cidade e estrada. A perua da Fiat, um pouco mais cara, termina a comparação com vantagens “.
A Palio Weekend tinha boa novidade mecânica: suspensão traseira independente por braço arrastado, superior em conforto e comportamento dinâmico, em um conjunto muito competitivo à Parati
Ao contrário do Brasil, a Argentina havia recebido bem o Prêmio, o sedã da linha Uno: o carro chegou a liderar aquele mercado e teve uma sobrevida por lá (onde se chamava Duna) após sair de produção por aqui. O país vizinho, na verdade, sempre gostou de sedãs pequenos. Assim, a Fiat viu em sua nova fábrica argentina — inaugurada em 1996 na província de Córdoba — a base ideal para fazer o Siena, o sedã derivado do Palio.
Lançado pouco antes no país de origem, ele chegava ao Brasil em agosto de 1997 em versões EL e HL, esta mais luxuosa. O motor básico era inédito na linha Palio, o 1,6 argentino de oito válvulas e 82 cv (como o usado no Tipo, com injeção monoponto), sendo o 16V de 106 cv disponível para o EL e de série no HL. Embora tivesse o maior porta-malas da categoria — 500 litros —, o Siena não agradava em estilo tanto quanto seus irmãos: o volume traseiro amplo e de desenho “liso” o deixava um tanto inexpressivo.
Próxima partePelo mundo
Projetados como carros mundiais, o Palio e seus derivados chegaram a muitos mercados. Ainda em 1996 iniciava-se a fabricação na Argentina, seguida um ano depois por Venezuela, Polônia e Marrocos; em 1998 era a vez da Turquia por meio da marca local Tofas. África do Sul e Índia ampliaram o programa no ano seguinte, o Egito em 2001 e a China em 2002.
Até a Coreia do Norte teve seu modelo da família: o Siena foi o primeiro automóvel da empresa Pyeongwa (termo local para paz), que o chamava de Hwiparam I. Igual ao brasileiro em desenho, era montado a partir de conjuntos SKD, em que parte do carro chegava montada e parte desmontada (diferente do CKD, que é todo desmontado), e usava motores de 1,2 e 1,6 litro a gasolina. De 2002 ao fim do processo em 2006, estima-se que apenas cerca de 500 Sienas ganharam as ruas norte-coreanas.
Na versão sul-africana, em 2002, o Siena combinava a traseira remodelada do nosso 2001 à frente inicial. Foi feito assim até 2005. No mesmo mercado existiu entre 2005 e 2007 o furgão Palio Espresso Van, sem banco e janelas na parte traseira, a mesma fórmula que por tantos anos a Fiat brasileira usou no 147 e no Uno. O visual já era o mesmo do nacional da época.
Foi também em 2002 que alguns mercados substituíram o Siena pelo Albea, com traseira de estilo mais conservador e maior distância entre eixos — percebida por um vão entre a porta traseira e a caixa de roda, como na Palio Weekend. O modelo recebia a remodelação frontal em 2005 e seguia em produção até 2011. No caso da China, o estilo do Albea era aplicado com o nome Siena, modelo produzido pela Nanjing-Fiat ao lado do Palio e da Weekend. O motor de 1,5 litro e 85 cv estava disponível em todos; o 1,2 de 60 cv, apenas no Palio, e havia opção de transmissão automática CVT.
Outra variação do sedã era o Perla, feito apenas entre 2006 e 2008 na China pela marca Nanjing, com desenho próprio na frente (até certo ponto, antecipando nosso Palio 2008) e na traseira. O entre-eixos de 2,44 metros era maior que o do Siena, como no Albea, e o comprimento chegava a 4,31 m. Ele tinha motor de 1,7 litro e 96 cv, mas foi vendido também na Rússia com o Fire 1,4 de 77 cv. Apesar de sua vida curta, anos depois os chineses voltaram a ter o Siena no mercado ao lado do Palio.
Foi em 2011, quando a marca Zotye lançou o sedã Z200 e o hatch Z200 HB, cada um com um estilo de frente, que no sedã lembrava o do Volkswagen Golf. De traseira o hatch lembrava o Chevrolet Celta. Apesar do aspecto bem diferente, as portas não escondem a origem. Não se tratava de plágio, pois a empresa comprou a licença. Curiosamente os motores de 1,3 litro/92 cv e 1,5 litro/118 cv eram de origem Mitsubishi, enquanto a caixa automática opcional de quatro marchas vinha da Hyundai. Foram feitos até 2014.
Na Venezuela, o último modelo do primeiro Siena ganhou marca de carrão: Dodge. Era mais um resultado da FCA, a associação Fiat-Chrysler, que aproveitava em 2013 a imagem da marca norte-americana no país. O Dodge Forza era similar ao Siena ELX com motor 1,4 e chegou a ser líder de vendas naquele mercado.
A mesma estratégia levou ao uso do nome Ram 700 na Strada para os mexicanos, ligando nossa pequena picape aos grandes modelos feitos nos Estados Unidos. A 700 foi lançada em 2014 com cabine simples ou estendida, esta com a versão Adventure, sempre com motor E-Torq 1,6 16V e caixa manual.
Outro Fiat com marca Dodge foi o Vision, o Grand Siena lançado em 2015 no México, que oferecia motor 1,6 e caixa Dualogic. Foi vendido até 2018. Hoje a marca tem na mesma categoria o Attitude, fornecido pela Mitsubishi.
Os modelos brasileiros também alcançaram diversos mercados, até mesmo países da Europa ocidental nos casos de Palio Weekend e Strada. Havia diferenças para atender a normas de segurança e preferências de cada mercado. Motor a diesel (de 1,9 litro e 80 cv), proibido no Brasil, foi adotado em vários países; certos itens de segurança só os equipavam lá fora. A Weekend na Europa usava o motor Fire italiano de 1,25 litro e 72 cv já em 1998, quando aqui mantinha o Fiasa 1,5.