Já na quarta geração desde 1981, a série de picapes ganhou em
estilo, conforto e desempenho e assumiu-se como marca independente
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Com recém-completados 100 anos de história, a marca norte-americana Dodge — desde 1928 uma das divisões do grupo Chrysler e, hoje, da FCA Fiat Chrysler Automobiles — tem uma longa tradição em picapes. Assim como as adversárias Chevrolet e Ford, a Dodge produziu esses utilitários desde a fase inicial de sua atividade, tendo lançado o primeiro deles em 1921 com carroceria Graham sobre seus chassis.
A Dodge Merchants Express, com capacidade para meia tonelada de carga e motores de quatro e seis cilindros, surgia em 1929 como sua primeira picape sob o guarda-chuva da Chrysler. Depois da Segunda Guerra Mundial a marca fez fama com a série Power Wagon, tão bem-sucedida que durou de 1945 a 1980 (para exportação) com o mesmo desenho básico. Em paralelo foram produzidas outras picapes, como a linha que deu origem ao tema deste artigo de história: a Ram.
Em nova geração em 1972, a linha de picapes D da Dodge estava mais
espaçosa e confortável e oferecia a cabine estendida Club Cab
Foi para 1972 que a Dodge reprojetou por inteiro sua série D, com linhas simples, cabine mais espaçosa e confortável, suspensão dianteira independente com molas helicoidais (apenas nas versões de tração traseira, pois as 4×4 mantinham o eixo rígido) e a opção de cabine estendida, para acomodar pequenos volumes no interior ou levar até dois passageiros em curtos trajetos.
Os motores iniciais da Ram eram velhos
conhecidos dos clientes da Chrysler:
seis-cilindros 225 e V8 de 318 e 360 pol³
Dessa linha originou-se em 1978 a L’il Red Truck (caminhãozinho vermelho), considerada a primeira picape esportiva. A partir da D-150 com entre-eixos curto e caçamba com para-lamas salientes, a Dodge instalou um motor V8 de 360 polegadas cúbicas (5,9 litros) com carburador de corpo quádruplo, cabeçotes e comando de válvulas especiais para obter potência de 225 cv e torque de 40,7 m.kgf (valores brutos). O câmbio era automático de três marchas. Rodas e pneus largos, dois tubos de escapamento verticais atrás da cabine e logotipo Express nas portas demonstravam que aquela não era uma picape qualquer.
Uma importante evolução para a série D vinha em 1981 com o lançamento da Ram e da Power Ram, que adotavam o nome do carneiro usado desde 1933 como emblema da Dodge. A denominação variava conforme a tração: Ram (e os códigos D e B) para apenas traseira, Power Ram (e W) para tração nas quatro rodas, seguida pelo número 150 para capacidade de meia tonelada, 250 para três quartos ou 350 para uma tonelada.
Rodas largas, escapamentos para o alto e um V8 de 5,9 litros com
225 cv brutos: a Li’l Red Truck foi a primeira picape esportiva dos EUA
O desenho da Ram atualizava a carroceria de 1972 com linhas mais retas, dois faróis retangulares e lanternas traseiras envolventes. As picapes eram oferecidas com cabines simples, estendida (Club Cab) e dupla (com quatro portas), dois comprimentos de caçamba (2 metros, apenas com cabine simples, e 2,4 m, disponível com qualquer cabine) e dois estilos de para-lamas traseiros — Sweptline, com laterais externas planas, e Utiline, com caçamba estreita e para-lamas salientes.
O comprimento variava entre 4,85 e 5,35 metros, e a distância entre eixos, entre 2,92 e 4,20 m de acordo com a configuração de cabine e caçamba escolhida; a largura era sempre de 2,02 m e a altura ficava entre 1,85 e 1,93 m. No interior, o banco dianteiro inteiriço levava três pessoas e havia um painel bem-equipado nas versões superiores. Opcionais que adicionavam conforto ao utilitário incluíam ar-condicionado, controle elétrico de vidros e travas, rádio com toca-fitas, controlador de velocidade e volante regulável em altura.
Os motores iniciais da linha Ram eram velhos conhecidos dos clientes da Chrysler: o de seis cilindros em linha “Slant Six” (seis inclinado, em alusão à posição no cofre) com 225 pol³ (3,7 litros), 95 cv e 23,4 m.kgf; o V8 da série LA de 318 pol³ (5,2 litros), 140 cv e 33,6 m.kgf, similar ao que tivemos nos grandes Dodges brasileiros; e o V8 LA de 360 pol³ (5,9 litros) com 175 cv e 35,7 m.kgf, todos com comando de válvulas no bloco e alimentação com carburador (os valores daqui em diante são líquidos). Câmbio manual de quatro marchas e o automático Torqueflite de três eram as alternativas.
Com a Ram e a Power Ram (foto maior), em 1981, a Dodge atualizava
sua picape; havia três tipos de cabine e motores de 95 a 175 cv
Depois de tirar do catálogo a cabine estendida, a Dodge lançava em 1984 a Ram 100, de acabamento mais simples; no ano seguinte a Power Ram recebia o sistema Ram-Trac de acionamento da tração dianteira em movimento. Para 1986 a versão dupla desaparecia das opções e a grade dianteira adotava quatro vãos retangulares, tema adotado em toda a linha Dodge na época e nos anos seguintes — até mesmo no esportivo Viper.
As versões mais leves das três picapes tradicionais dos EUA — Chevrolet C-1500, Dodge Ram D-100 e Ford F-150 — com motores V8 de 5,2 litros (Ram) a 5,8 litros (F-150) foram comparadas pela revista Popular Mechanics. Em opção básica, a Dodge mostrou limitações: “Tudo nela é de baixo custo, do forro do teto ao ‘banco de igreja’ inteiriço. Certo, ela tem estilo dos anos 60, ruído, vibração, estabilidade ruim, baixo desempenho, mas a caçamba é a mais generosa, o compartimento do motor facilita os serviços e ela freou em espaços mais curtos que as concorrentes com sistema antitravamento (ABS)”.
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Nas telas
As picapes Ram são bem cotadas pelo cinema, sobretudo nas duas primeiras gerações. O modelo inicial pode ser visto na ação Atraiçoados (Betrayed, 1988), no filme policial Selvagens (Savages, 2012), no drama Amores Brutos (Amores Perros, 2000) e nos filmes de ação Moving Target (1996) e The Other Side (2006). A versão com frente renovada de 1986 aparece em outros filmes de ação, 007 – Permissão para Matar (Licence to Kill, 1989) e Atirador (Shooter, 2007), enquanto a última evolução da série, de 1991, está na ação Amanhecer Violento (Red Dawn, 2012).
A segunda geração, com seu estilo imponente, também tem participações numerosas. Entre as mais relevantes estão as dos filmes de ação O Vingador (A Man Apart, 2003), Twister (1996), Guerra Biológica (The Patriot, 1998), Rede de Corrupção (Exit Wounds, 2001) e Sem Perdão (Dead Man Down, 2013), além do suspense Devil’s Gate (2003) e da comédia Loucos por Dinheiro (Free Money, 1998).
Menos comum é o terceiro modelo, usado em filmes como o suspense O Retorno (The Return, 2006) e o drama O Presente (The Ultimate Gift, 2006). Há ainda o modelo todo transformado da ação Corrida Mortal (Death Race, 2008) e da continuação Corrida Mortal 2 (Death Race 2, 2010), com eixo traseiro de dupla rodagem e carroceria que lembra uma mistura de tanque de guerra com máquina de limpar neve.
Ainda rara nas telas, a quarta geração da picape está na aventura Interestelar (Interstellar, 2014), com a curiosidade de ter sido “envelhecida” na aparência, com amassados, pintura fosca e simulação de ferrugem, já que o filme se passa no futuro.
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