Com faróis auxiliares e dois defletores traseiros, o TR era o mais esportivo dos Spazios
No teste do Spazio TR, que fez de 0 a 100 km/h em 15,9 segundos, a Quatro Rodas observou: “O TR mantém a estabilidade do 147 Racing, transmitindo segurança ao motorista. Bem mais econômico que o anterior, mantém o mesmo desempenho, o que revela a vantagem das cinco marchas. Os engates agora são melhores. É um carro pequeno, relativamente confortável. No TR soma-se um motor de respostas rápidas, que estimula o motorista a utilizá-lo esportivamente. Enfim, um bom carro em sua categoria”.
A variada família crescia mais uma vez em março seguinte com o sedã Oggi CS, que usava a mesma plataforma da Panorama e vinha concorrer com o VW Voyage e o Chevette. O destaque era o porta-malas maior que o de muitos modelos superiores, mas as linhas não agradaram: a traseira alta e retilínea destoava do conjunto. A Fiat, de fato, demoraria a ter êxito com sedãs no Brasil, incluindo seu sucessor Prêmio (derivado do Uno) e, por algum tempo, o Siena. Na linha 1984 as molduras laterais passavam a contornar as caixas de roda, o motor 1,05 tinha elevada a taxa de compressão e a City recebia novos instrumentos e volante.
O sedã Oggi destacava-se pelo amplo porta-malas, mas durou pouco; o 147 C e a City recebiam a frente do Spazio, mantendo o para-choque estreito
No comparativo do Oggi com o Voyage 1,6, a Quatro Rodas opinou: “Oferecem bom conforto para quatro pessoas e bom nível de segurança ativa, com resposta rápida dos motores, estabilidade satisfatória e eficiência dos freios. As diferenças se encontram no consumo em cidade e no desempenho, em que o Voyage é bem superior. E no preço — o Oggi é 10% mais barato”. A favor do Fiat ficaram ainda o nível de ruído e o porta-malas, mas o VW venceu em acabamento.
A variada família crescia mais uma vez com o sedã Oggi, que vinha concorrer com Voyage e Chevette e teria até versão esportiva
O Oggi deu origem a uma interessante versão esportiva, a CSS, que homologava o modelo para competição no Campeonato Brasileiro de Marcas (leia quadro abaixo). O motor 1,3 passava para exatos 1.415 cm³ por meio de maior curso dos pistões e recebia novos cabeçote, carburador e filtro de ar para desenvolver 78 cv e 11,2 m.kgf na versão de rua. Outras alterações técnicas passavam por menor altura de rodagem, suspensão traseira mais firme, direção mais rápida, rodas de alumínio (os pneus eram 165/70 R 13) e nova embreagem.
Com produção limitada, o CSS tinha ainda defletor dianteiro, saias laterais, aerofólio sobre a tampa do porta-malas e defletor ao fim do teto, além de faróis auxiliares. No interior estavam o volante de quatro raios do Spazio TR, bancos revestidos de veludo cinza e instrumentos adicionais — conta-giros, voltímetro e manômetro de óleo — em relação ao CS.
Rodas e volante especiais, aerofólios e motor de 1,4 litro formavam a edição Oggi CSS
Com o lançamento do Uno, em agosto de 1984, o mercado recebia um Fiat com linhas avançadas, ótimo espaço interno e o mesmo conjunto mecânico do 147. À medida que o carro começava a fazer sucesso, as vendas do antigo modelo caíam e o fabricante preparava a sucessão. O Spazio sucumbia no mesmo ano, o Oggi em 1985 e a Panorama um ano depois, sucedidos pelo Prêmio e a Elba. Um ano após a City, o 147 recebia para 1986 a frente do Spazio, conservando os para-choques mais estreitos, e sistema automático de injeção de gasolina para partida a frio.
Mas era uma época de crescimento econômico, em que o bem mais caro Chevrolet Monza conseguia a liderança de vendas. Responsável por apenas 11% da produção da Fiat, o 147 saía de produção em dezembro do mesmo ano, mantendo-se os utilitários até 1988. “Foi um carro valente que cumpriu sua missão. Agora, chegou a hora de ceder espaço a nossos modelos mais modernos”, anunciava o diretor-superintendente da empresa, Silvano Valentino. Foram fabricadas 709.230 unidades entre 147 e Spazio (536.591 vendidas no País e 172.639 exportadas), que somadas às dos derivados alcançam 1.117.288 veículos.
O pequeno Fiat deixou marcas na história automobilística brasileira. Foi nosso primeiro carro a álcool, o primeiro com motor transversal, o primeiro a ter picape e furgão derivados. Deixou heranças técnicas e soluções funcionais para a linha Uno (como a suspensão traseira e o estepe junto ao motor) e a evolução de sua família de motores chegou à família Palio. Aquele carrinho estranho, de transmissão difícil e aparente fragilidade provocou algumas revoluções na indústria nacional.
Mais Carros do Passado
Nas pistas
O 147 sempre teve destaque no rali e nos circuitos. Em campeonatos monomarca fez a estreia de muitos pilotos. A Copa Fiat de Velocidade, iniciada em 1978, foi um sucesso de público e participação de pilotos: mais de 200 carros na classe A do Grupo 1 FISA (preparação restrita) em todos os estados brasileiros que tinham autódromo.
Muitos pilotos famosos correram na categoria e nela se inscreveram concessionárias da marca, tornando a preparação bem sofisticada, apesar das limitações impostas pelo regulamento. Com o balanceamento de peças do motor para torná-las mais leves, a velocidade dos 147 beirava 160 km/h e o 0-100 km/h ficava em torno de 12 segundos. Eram provas muito disputadas: houve largadas com até 60 carros no autódromo José Carlos Pace, em Interlagos.
Depois de bons resultados em provas menores (como os seis primeiros lugares nas Classes A e E do Rali de Campos do Jordão, em 1978), o Fiat a álcool venceu o I Rali Internacional do Brasil entre os nacionais nas mãos da dupla feminina Anna Cambiaghi e Dulce Nilda Doege, em junho de 1979. Era a equipe das “Panteras Cor de Rosa” (foto), promoção de sucesso da Fiat em alusão ao seriado de TV As Panteras (Charlie’s Angels). Dos três carros que chegaram à frente, todos importados e familiarizados com o ambiente arisco de um rali, os dois primeiros eram Fiats 131 Abarth.
Na 12 Horas de Goiânia de 1984, o Oggi pilotado por Paulo Gomes e Fabio Sotto Mayor chegou em segundo lugar atrás de um VW Voyage. O Fiat lutava contra esse modelo, o Ford Escort e o Chevrolet Chevette, carros de maior cilindrada, embora o regulamento técnico visasse ao equilíbrio. Naquele ano a Fiat competiu no Campeonato de Marcas com a versão CSS do Oggi, de 1.415 cm³, mas em 1985 todas as marcas se nivelavam em 1.300 cm³.
A Fórmula Fiat de monopostos (ao lado) também se mostrou ótima opção para pilotos mais experientes. Usava chassis de diferentes fornecedores e motor 1,3-litro preparado, que com as alterações permitidas pelo regulamento chegava a 100 cv a 7.000 rpm para velocidade perto de 225 km/h — com álcool, pois as corridas com carros a gasolina estavam proibidas no país desde 1977.
Ficha técnica
147 L 1,05 gasolina (1977) | 147 Rallye 1,3 gasolina (1980) | Oggi CS 1,3 álcool (1983) | |
Motor | |||
Posição e cilindros | transversal, 4 em linha | ||
Comando e válvulas por cilindro | no cabeçote, 2 | ||
Diâmetro e curso | 75 x 57,8 mm | 76 x 71,5 mm | |
Cilindrada | 1.049 cm³ | 1.297 cm³ | |
Taxa de compressão | 7,4:1 | 7,5:1 | 10,65:1 |
Potência máxima | 56 cv a 5.800 rpm* | 72 cv a 5.800 rpm* | 56 cv a 5.200 rpm |
Torque máximo | 7,8 m.kgf a 3.000 rpm* | 10,8 m.kgf a 4.000 rpm* | 9,9 m.kgf a 3.000 rpm |
Alimentação | carburador de corpo simples | carburador de corpo duplo | carburador de corpo simples |
* medidos pelo método bruto | |||
Transmissão | |||
Tipo de caixa e marchas | manual, 4 | manual, 5 | |
Tração | dianteira | ||
Freios | |||
Dianteiros | a disco | ||
Traseiros | a tambor | ||
Antitravamento (ABS) | não | ||
Suspensão | |||
Dianteira | independente, McPherson | ||
Traseira | independente, McPherson | ||
Rodas | |||
Pneus | 145/80 R 13 | ||
Dimensões | |||
Comprimento | 3,63 m | 3,97 m | |
Entre-eixos | 2,22 m | ||
Peso | 790 kg | 840 kg | |
Desempenho | |||
Velocidade máxima | 135 km/h | 140 km/h | 145 km/h |
Acel. 0 a 100 km/h | 19,0 s | 17,0 s | 17,0 s |
Dados de desempenho aproximados |