O Del Rey, que seguia as mudanças, adotava grade de três vãos e carenagem inferior
No interior do Corcel e da Belina, desenho e instrumentos do painel e volante eram iguais aos do Del Rey básico de 1984, enquanto o novo Del Rey recebia um painel mais refinado, que mantinha a fartura de instrumentos no caso do Ghia. O acabamento geral de toda a linha melhorava. A Pampa acompanhava a reforma, mas não na versão 4×4, que mantinha a antiga frente.
Para 1986 aparecia a opção de direção com assistência hidráulica, há muito solicitada pelos clientes do Del Rey, e o motor CHT passava à evolução E-Max, com pistões e virabrequim mais leves para ganho em eficiência. Em meados desse ano esboçava-se a Autolatina, associação entre a Ford e a Volkswagen que começaria a operar em julho de 1987, agrupando as atividades industriais e financeiras das duas fábricas no Brasil e na Argentina.
Luxuoso, o Del Rey 1985 ganhava novo painel; seu antigo passava a vir no Corcel
Embora o acordo viesse a trazer novidades importantes para a linha de carros médios da Ford, o Corcel não as veria: em 21 de julho de 1986 sua última unidade deixava as linhas de produção de São Bernardo do Campo, SP, após 1,4 milhão de carros fabricados (considerada toda a linha). Sua herança, porém, ficaria por bons anos para os outros modelos.
Em 21 de julho de 1986 o último Corcel deixava as linhas de produção, após 1,4 milhão de carros fabricados de toda a linha
O Del Rey ganhava para 1987 a versão de entrada L, sem a carenagem frontal e com acabamento mais simples para substituir o Corcel. A Belina passava a ser derivada do Del Rey — nome que agora ostentava na tampa traseira —, levando a Scala a desaparecer, e também oferecia tal versão simples. A Pampa permanecia com a grade do Corcel e em 1987 ganhava o acabamento luxuoso Ghia, com um nível de acabamento e conforto que as concorrentes não ofereciam, incluindo o painel completo. Freios redimensionados e calotas plásticas eram outras diferenças da versão.
Del Rey 1,8, filho da Autolatina
A união entre Ford e VW começava a gerar frutos no mercado no segundo semestre de 1989. Enquanto o Gol recebia o econômico motor CHT, rebatizado AE-1600, na Ford os modelos Escort, Del Rey, Belina e Pampa passavam a contar com o mais moderno e potente motor AP-1800 da Volkswagen, de 1,8 litro e comando de válvulas no cabeçote, o mesmo oferecido em toda a linha de tração dianteira da marca alemã.
“Adotada” pelo Del Rey, a Belina também ganhava motor 1,8-litro da VW para 1990
Com o novo motor, que fornecia 87 cv e 14,3 m.kgf (gasolina), o Del Rey tornava-se bem mais ágil e ganhava em aceleração e velocidade máxima, agora coerentes com um carro de luxo. Para a Belina e a Pampa, outra vantagem estava na maior aptidão para o transporte de bagagens ou cargas pesadas. Não que o motor originário da Renault fosse ruim: embora robusto, econômico e de manutenção simples, sempre se mostrou inadequado ao peso dos carros.
O consumo continuava bom e a caixa de câmbio Ford dava lugar à da VW, de comando leve e preciso. A suspensão, recalibrada para maior firmeza, recebia molas traseiras progressivas (exceto na Pampa) que evitavam seu afundamento excessivo com carga. O automóvel continuava confortável, silencioso e bem acabado. Apesar dessas qualidades e da mecânica eficiente e revitalizada, o Del Rey estava defasado — nada mais era, afinal, que uma variação do Corcel II de 1977, por sua vez uma ampla reforma sobre o projeto original de 1968.
O teste da Quatro Rodas com a versão Ghia apontou um desempenho bom, mas não excelente: “Em relação a outros carros com mesma cilindrada — Monza, Santana e Voyage —, ele teve a menor velocidade máxima (154,7 km/h) e o maior tempo de 0 a 100 km/h (14,19 segundos). Enfim, o novo Del Rey é carro feito para que já gosta do antigo Del Rey, com algo mais em desempenho e o reforço de itens de conforto, em que sobressai o baixo nível de ruído obtido”.
A Pampa foi a última a sair de produção, incluindo as versões S (em cima) e Jeep 4×4
Sua produção era encerrada em 1991, ano do surgimento do Versailles, um Santana adaptado ao estilo Ford que não teve grande êxito — faltavam-lhe o acabamento da marca norte-americana e a esportividade da alemã. O Del Rey deixou saudades aos fiéis por ser um automóvel confortável, econômico, durável e de ótimo acabamento. Foi um dos carros de luxo mais vendidos no País e responsável pela introdução de diversos refinamentos.
O último remanescente da linha, a Pampa, sempre líder de vendas no segmento, só chegaria ao fim em 1997. Sua produção foi mantida nas versões L, GL, Ghia e 1.8 S, esta lançada em 1989, com faixas laterais e carenagem preta (a mesma do Del Rey) sob o para-choque com faróis de neblina. Houve ainda a Pampa Jeep 4×4, que mantinha em uso o nome do veterano utilitário e não recebia o motor da VW, mas acabou em 1995. No período final o motor 1,8 da versão L recebia injeção eletrônica para atender a normas mais severas de emissões poluentes.
Com a descontinuação da picape, substituída pela Courier da linha Fiesta, passava à história uma linha diversificada e de sucesso que, entre as várias configurações, atendeu a um público fiel por quase 30 anos.
Mais Carros do Passado
Nas telas



Os modelos da linha Corcel apareceram em inúmeras novelas brasileiras, mas também em vários filmes realizados aqui. Da primeira geração destacam-se as aparições do cupê 1971 da comédia Simbad, O Marujo Trapalhão (1976), do cupê da mesma época no filme de mesmo tipo Lisbela e o Prisioneiro (2003) e do modelo 1975 que capota em outra comédia, O Trapalhão na Arca de Noé (1983). Uma Belina 1972 é usada em Saneamento Básico, o Filme (2007), do mesmo gênero.



O Corcel II aparece em duas comédias: Os Vagabundos Trapalhões (1982) e 25 Watts (2001). Outro deles, já bastante surrado, é visto na comédia Dias Melhores Virão (1990). Uma Belina por volta de 1985 está na ação 2 Coelhos (2012), com a curiosidade de adesivos laterais que simulam madeira, de certo modo como a própria Ford oferecia no começo dos anos 70. Uma Pampa do fim dos anos 80 é vista no drama A Busca (2012), enquanto um Corcel II adaptado para conversível faz uma breve aparição na comédia norte-americana Blame It on Rio (1984).



O Del Rey tem presença relevante na ação O Homem do Ano (2003), com seu primeiro modelo, e na comédia Amanhã Nunca Mais (2011), com uma versão reestilizada de 1985. Uma Belina derivada desse modelo aparece no drama Bicho de Sete Cabeças (2001). Curioso é que o Del Rey transformado em conversível, feito em poucas unidades, está em pelo menos dois filmes: o drama Uma Escola Atrapalhada (1990) e a comédia italiana Italiani a Rio (1987).
Ficha técnica
Corcel GT 1,3 (1970) | Corcel II GT 1,6 (1979) | Del Rey Ghia 1,8 (1990) | |
Motor | |||
Posição e cilindros | longitudinal, 4 em linha | ||
Comando e válvulas por cilindro | no bloco, 2 | no cabeçote, 2 | |
Diâmetro e curso | 73 x 77 mm | 77 x 83,5 mm | 81 x 86,4 mm |
Cilindrada | 1.289 cm³ | 1.555 cm³ | 1.781 cm³ |
Taxa de compressão | 8:1 | 8,5:1 | |
Potência máxima | 80 cv a 5.200 rpm* | 71 cv a 5.600 rpm | 87 cv a 5.200 rpm |
Torque máximo | 10,0 m.kgf a 3.200 rpm* | 11,0 m.kgf a 4.000 rpm | 14,3 m.kgf a 3.000 rpm |
Alimentação | carburador de corpo duplo | ||
* Método bruto | |||
Transmissão | |||
Tipo de caixa e marchas | manual, 4 | manual, 5 | |
Tração | dianteira | ||
Freios | |||
Dianteiros | a disco | a disco ventilado | |
Traseiros | a tambor | ||
Antitravamento (ABS) | não | ||
Suspensão | |||
Dianteira | independente, braços sobrepostos | ||
Traseira | eixo rígido | ||
Rodas | |||
Pneus | 165/80 R 13 | 185/70 R 13 | 195/60 R 14 |
Dimensões | |||
Comprimento | 4,41 m | 4,47 m | 4,50 m |
Entre-eixos | 2,44 m | ||
Peso | 940 kg | 960 kg | 1.110 kg |
Desempenho | |||
Velocidade máxima | 145 km/h | 150 km/h | 155 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 18,0 s | 17,0 s | 14,0 s |
Dados do fabricante para versões a gasolina; dados de desempenho aproximados |