A aparência era de Escort modificado, mas o RS Cosworth usava a mecânica do Sierra, com motor turbo de 227 cv e tração integral; foram produzidos pouco mais de 7 mil
O RS era na verdade um conjunto mecânico de Sierra vestido por uma carroceria de Escort com para-lamas alargados — a alemã Karmann encarregou-se de adaptá-la às novas dimensões e da montagem dos carros. Durante quatro anos 7.145 unidades foram produzidas, muitas para uso em ralis. As primeiras 2.500 eram necessárias para homologação para as provas do Grupo A; as demais saíram com turbina menor, para enchimento mais rápido, e 221 cv de maio de 1994 em diante.
O acabamento Luxury para uso em rua vinha com teto solar e controle elétrico dos vidros e travas, itens abolidos na versão Motorsport, assim como isolamentos acústicos. O duplo aerofólio traseiro, apelidado de “rabo de baleia”, e outros apêndices aerodinâmicos pioravam seu Cx para 0,38, mas produziam boa sustentação negativa: 4,5 kg no eixo dianteiro e 19,3 kg no traseiro a 180 km/h. Ainda assim ele chegava a 220 km/h — e acelerava de 0 a 96 km/h em 6,9 segundos, rápido como todo carro para ralis. Na segunda fase o duplo aerofólio tornou-se alternativa a um simples, mais discreto. As rodas de 16 pol usavam pneus extralargos, 245/45, e a suspensão traseira era independente.
A Car comparou o Cosworth ao Lancia Delta HF Integrale e ao Subaru Impreza Turbo em 1994 e concluiu: “Pela diversão, ficaríamos com o Escort; dinamicamente, o novo Cossie está à frente do Impreza. Mas este faz o RS parecer caro demais, pois a versão Luxury não vale 47% a mais que o Subaru. Nenhum deles chega perto de destronar o Lancia, que permanece um de nossos carros favoritos”.
Oferecido em duas versões de acabamento, o “Cossie” recebia em 1994 a opção de aerofólio traseiro simples e uma turbina menor, para enchimento mais rápido
Com o lançamento do Focus RS de segunda geração, em 2009, a Evo colocou-o lado a lado a um Escort RS Cosworth 1992. Apesar das amplas vantagens em potência (305 ante 221 cv) e torque, o Focus era mais pesado, tinha 63% do peso sobre o eixo dianteiro (apenas 56% no Escort) e tração só na frente. O confronto em autódromo apontou maior velocidade para o Focus nas retas, mas vantagem do veterano em algumas tomadas de curvas, o que lhe permitiu tempo próximo de volta — 1min 35s ante 1min 30s do descendente. Ainda, ao acelerar de 0 a 100 km/h em 6,3 segundos, o Cossie ficou apenas 0,3 s atrás do Focus.
O duplo aerofólio traseiro e outros apêndices pioravam o Cx do RS Cosworth, mas produziam boa sustentação negativa em alta velocidade
Revisão antecipada
Por mais convincente que fosse o RS Cosworth, os Escorts vendidos em larga escala não estavam satisfazendo à imprensa e a seu público: motores superados e insatisfação com o desenho e a dirigibilidade do carro exigiram rápida intervenção da Ford, que em setembro de 1992 “relançava” o modelo com mais equipamentos de série, estrutura revista e a nova linha de motores Zetec de quatro válvulas por cilindro.
Havia opções de 1,6 litro (90 cv) e 1,8 litro (105 ou 130 cv), mas não para o RS 2000, que mantinha a unidade de 150 cv. O XR3i ganhava novo vigor com o 1,8, além de receber freios a disco nas quatro rodas. Uma grade oval de gosto discutível integrada ao capô e extensões às lanternas traseiras identificavam por fora as mudanças.
A grade oval identificava a revisão do Escort para 1993, com motores Zetec de 1,6 e 1,8 litro (o do RS 2000, à esquerda, era mantido) e mais equipamentos
A Autopista comparou o XR3 ao Citroën ZX Volcane 1,9, ao Opel Astra GSi 2,0 e ao VW Golf GTI 2,0: “O motor multiválvula dá novos brios ao XR3, que agora é muito mais fácil de dirigir. Não é um motor daqueles que só ‘funcionam’ em alta, mas tampouco tem a elasticidade da versão de 105 cv do mesmo motor. Sua principal virtude é um funcionamento muito homogêneo, sem sobressaltos, com consumos contidos”. O Escort obteve a maior velocidade máxima, enquanto as acelerações dos quatro foram equivalentes.
O primeiro Escort a combinar motor transversal e tração integral, o RS 2000 4×4, era apresentado em março de 1994. O sistema permanente enviava 60% do torque às rodas traseiras em condições normais de aderência. Mesmo com peso adicional (1.250 kg, aumento de 85) sobre a versão de tração simples, acelerava de 0 a 100 km/h em 9,1 segundos e alcançava 208 km/h.
Outra reforma de estilo já estava a caminho. Revelada em janeiro seguinte, a série conhecida como Mark VI deixava as linhas mais arredondadas, com uma grade ovalada longa e baixa, que na versão Ghia recebia moldura cromada. O RS 2000 seguia as mudanças, mas não o RS Cosworth, que seria produzido até janeiro de 1996 com a antiga carroceria. Na mecânica, os motores 1,3 e 1,4 eram revistos e a suspensão ganhava nova calibração.
Outra reestilização vinha para 1995, quando o RS 2000 (em vermelho) já oferecia tração integral; o Escort foi mantido até 2000, quando o último saía de Halewood
A Autoexpress lembrava o RS 2000 dessa série: “Ele ajudou o Escort a se recuperar. Decisivo para seu sucesso foi o novo motor de 150 cv e a suspensão radicalmente revista. Ele se equiparava à competição no visual, também. A experiência ao volante era transformada com direção direta e um chassi equilibrado e composto, para que o Escort encarasse os líderes da classe”. Com o encerramento do RS 2000, em dezembro de 1996, a Ford concluía um ciclo de 28 anos de versões de alto desempenho do Escort — ele só teria sucessor cinco anos mais tarde com o primeiro Focus RS.
No Salão de Genebra em março de 1998 a Ford revelava ao mundo seu novo carro mundial: o Focus, desenvolvido para atender tanto ao mercado europeu quanto ao norte-americano com o mesmo projeto, o que nunca ocorrera de fato com o Escort. Com a produção do Velho Continente concentrada na Inglaterra, o Escort foi mantido com apenas duas versões de acabamento, com os motores 1,6 a gasolina e 1,8 turbodiesel, e perdia as carrocerias sedã, hatch três-portas e conversível.
O último deles saía de Halewood em 21 de julho de 2000, mas a produção permaneceu até 2004 na Argentina. Foram fabricados 13,5 milhões de Escorts entre todas as gerações nas unidades britânica, alemã, belga e espanhola, que somados aos feitos no resto do mundo — Argentina, Brasil, Estados Unidos, Índia e México — resultam em quase 20 milhões: foi o automóvel mais vendido da Ford e um dos modelos de maior produção na história. A parceria binacional não poderia ter sido mais bem sucedida.
A história do Escort no Brasil | Mais Carros do Passado |
Para ler
Sporting MK1 Escorts: The Originality Guide to the Sporting Variants of the Ford Escort Mk1 – por Dan Williamson, editora Herridge & Sons. Publicado em 2012, o livro cobre as versões esportivas da primeira geração, como Sport, Twin Cam, RS 1600, Mexico e RS 2000, com detalhes técnicos e construtivos em 172 páginas.
Sporting Mk2 Escorts: The Originality Guide to the Sporting Variants of the Ford Escort Mk2 – por Dan Williamson, Herridge & Sons. Como o anterior, mas com 128 páginas dedicadas à segunda geração. Inclui versões Mexico, Sport, Harrier, RS 1800 e RS 2000. Saiu em 2013.
Ford Escort Mk1 – Rally Giants – por Graham Robson, editora Veloce. A obra de 2007 dedicada a um “gigante do rali” conta a trajetória do primeiro Escort nesse tipo de competição. São 128 páginas.
Ford Escort RS 1800 – Rally Giants – por G. Robson, Veloce. O mesmo do anterior, mas referente a tal versão da segunda geração. Publicado em 2008.
Ford Escort RS Cosworth & World Rally Car – Rally Giants – por G. Robson, Veloce. Depois de um longo hiato o Escort voltou a sobressair em ralis com o RS Cosworth dos anos 90, abordado em 128 páginas no livro de 2008.
Ford RS Escorts: The Complete Story – por G. Robson, editora Crowood. Interessado nas várias gerações da série RS em um só volume? A obra de 2009 aborda desde os anos 70 até o Cosworth dos 90 em 216 páginas.
Works Escorts In Detail: Ford’s Rear-Wheel-Drive Competition Escorts – por G. Robson, Herridge & Sons. Outro livro do autor, com 200 páginas, que cobre os 13 anos do Escort de tração traseira em competições. Publicado em 2013.
Ford Escort RS & Mexico Performance Portfolio – 1970-1979 – por R. M. Clarke, editora Brooklands. Coletânea de 2006 com testes e matérias de revistas da época das duas primeiras gerações, com versões Mexico, RS 1600, RS 1800 e RS 2000, em 136 páginas em preto e branco.
Ford High Performance Escorts – 1985-1990 – por R. M. Clarke, Brooklands. Outro da série, com matérias da terceira geração. Inclui versões XR3i, XR3i Cabrio, RS Turbo, o RS 1700T de rali e preparações como Gartrac, G4 Xtrac e Janspeed. Publicado em 2008, tem 100 páginas.
Ficha técnica
Escort RS 1600 (1969) |
Escort RS Turbo (1984) |
Escort RS Cosworth (1992) |
Escort RS 2000 (1995) |
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Motor |
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Posição e cilindros | longitudinal, 4 em linha | transversal, 4 em linha | longitudinal, 4 em linha | transversal, 4 em linha |
Comando e válvulas por cilindro | duplo no cabeçote, 4 | no cabeçote, 2 | duplo no cabeçote, 4 | |
Diâmetro e curso | 81 x 77,6 mm | 80 x 79,5 mm | 90,8 x 77 mm | 86 x 86 mm |
Cilindrada | 1.599 cm³ | 1.597 cm³ | 1.993 cm³ | 1.998 cm³ |
Taxa de compressão | 10:1 | 8,2:1 | 8:1 | 10,3:1 |
Potência máxima | 120 cv a 6.500 rpm | 132 cv a 5.750 rpm | 227 cv a 6.250 rpm | 150 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo | 14,5 m.kgf a 4.000 rpm | 18,4 m.kgf a 2.750 rpm | 31,0 m.kgf a 3.500 rpm | 19,3 m.kgf a 4.500 rpm |
Alimentação | 2 carburadores | injeção multiponto, turbo, resfriador de ar | injeção multiponto, turbo, resfriador de ar | injeção multiponto |
Transmissão |
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Tipo de câmbio e marchas | manual, 4 | manual, 5 | ||
Tração | traseira | dianteira | integral | dianteira |
Freios |
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Dianteiros | a disco | a disco ventilado | ||
Traseiros | a tambor | a disco ventilado | a disco | |
Antitravamento (ABS) | não | sim | ||
Suspensão |
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Dianteira | independente | independente, McPherson | ||
Traseira | eixo rígido | indep., McPherson | indep., braço semiarrastado | eixo de torção |
Rodas |
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Pneus | 175/70 R 13 | 190/50 R 15 | 245/45 R 16 | 195/50 R 15 |
Dimensões |
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Comprimento | 3,97 m | 4,06 m | 4,21 m | 4,11 m |
Entre-eixos | 2,40 m | 2,55 m | 2,52 m | |
Peso | 785 kg | 1.080 kg | 1.275 kg | 1.165 kg |
Desempenho |
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Velocidade máxima | 182 km/h | 200 km/h | 220 km/h | 208 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,0 s | ND | 6,9 s* | 8,7 s |
ND = não disponível; *0 a 96 km/h |