O Mach 1 com motor V6 de 2,8 litros e 105 cv era o máximo de esportividade que
o Mustang agora permitia; a versão Ghia (à direita) oferecia luxo e conforto
O pior eram os motores, baseados em um quatro cilindros de 2,3 litros e patéticos 88 cv e um V6 de 2,8 litros, fabricado na Alemanha (onde equipava o Capri), que rendia 105 cv. Nenhum V8 estava previsto, embora um deles fosse voltar à gama no ano seguinte. A suspensão mantinha os conceitos da anterior, mas agora a dianteira estava montada em um subchassi. O Mustang II enfrentava novos inimigos como o Toyota Celica, que se tornara grande sucesso por seu baixo consumo e dimensões compactas, bem de acordo com as novas necessidades.
Sem argumentos convincentes quanto a desempenho e esportividade, a publicidade do Mustang II era voltada para economia e conforto. Os antigos anúncios que apontavam a potência dos motores deram lugar a registros de consumo realizados pela entidade oficial norte-americana EPA, a Agência do Meio Ambiente — algumas peças publicitárias prometiam até 15 km/l na estrada. Melhorias em nível de ruído e vibração eram destacadas.
A variedade de opcionais continuava um atributo do Mustang, que podia receber itens como pacote Rallye (diferencial autobloqueante, suspensão mais firme, escapamento mais livre, rodas e pneus especiais, volante revestido em couro), ar-condicionado, direção assistida, teto revestido em vinil, alarme antifurto e caixa automática. O resultado foi positivo: o primeiro ano-modelo atingiu 385 mil unidades vendidas, ante 134 mil do anterior.
Em vez de imponência e desempenho, a publicidade do Mustang passou a
destacar conforto e economia de combustível: sinal dos tempos
No teste da Motor Trend, a versão Ghia foi elogiada por “rodar como um Mercedes, com bom controle de inclinação nas curvas e excelente absorção de pequenas irregularidades. A aceleração do V6 em baixa rotação é fraca, mas o consumo de combustível é mínimo. Em essência, o Ghia fornece luxo e um rodar sólido e muito confortável. A falta de potência pode ser compensada pelo fato de obter boa economia; além disso, alguns importados caros que combinam conforto e estabilidade também são pouco potentes”.
O pior do Mustang II eram os motores, um
2,3-litros de patéticos 88 cv e um V6 de
2,8 litros e 105 cv; nenhum V8 estava previsto
A mesma revista avaliou o Mach I, descrito como “um carro muito diferente. A suspensão esportiva é a mais importante opção disponível, digerindo oscilações sem dar a mínima. A mais óbvia limitação é a potência: o V6 simplesmente não tem a pressa que sua imagem sugere. De 0 a 96 km/h em 14,2 segundos é cerca de 5 s no lado errado”.
De olho no mercado que o Mustang II havia aberto, a Ford então lançava em 1975 a versão Silver Ghia, em alusão ao estúdio de desenho italiano Ghia, adquirido pela empresa em 1970. Vinha dotado de teto revestido em vinil, larga coluna traseira e pequena janela lateral, como nos modelos Lincoln e Cadillac. Sob o capô estava de volta o famoso V8 302, mas com apenas 122 cv devido à adoção de um catalisador para se adequar às normas de emissões. O equipamento sufocou outros motores: no 2,3 a queda foi de 88 para 83 cv; o V6 alemão ia de 105 para 97 cv. O V8 vinha sempre com caixa automática e exigiu o redesenho do capô.
Depois do retorno do motor V8 302, a Ford lançava as versões Stallion (amarelo)
e Cobra II, com visual esportivo; esta podia trazer teto com seções removíveis
Para compensar o baixo desempenho, a Ford anunciava que havia criado um pequeno carro de luxo para quem estava em busca do prazer de dirigir. Entre os opcionais havia teto solar, forração em veludo, apliques em madeira, relógio digital e rádio AM/FM estéreo, entre outros. Mais uma vez o Mustang funcionava como um coringa e passava a disputar espaço com os carros requintados da concorrência — mas suas vendas caíram 50% e a empresa de Dearborn teve de buscar uma saída.
Como o Mustang não tinha alma de luxo, e sim esportiva, era necessário que pelo menos uma versão remetesse a sua época de ouro. No ano seguinte a Ford apresentava o Stallion e o Cobra II. O Stallion contava apenas com modificações estéticas, enquanto o Cobra II era um hatch com grandes defletores traseiro e dianteiro, máscara no lugar dos vidros laterais — como nos anos 60 —, capô com entrada de ar e uma serpente no lugar do emblema do cavalo, pois cobra em inglês identifica a espécie naja. No interior, apliques metálicos no painel buscavam um aspecto esportivo.
O 302 era oferecido com 134 cv, o que melhorava um pouco o desempenho, e opção de câmbio manual. Mas nem o Cobra II foi capaz de levantar os números do Mustang II, que fecharam com vendas pouco abaixo do ano anterior. A Ford continuava a dar ênfase à esportividade em 1977: passou a oferecer um teto parcial removível (targa), como no Corvette, Camaro e Firebird, para compensar a ausência do conversível, fora do catálogo desde 1974. O visual mais arrojado entre os Mustangs estava no King Cobra, oferecido apenas com motor 302.
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Para ler
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Mustang: Fifty Years: Celebrating America’s Only True Pony Car – por Donald Farr, editora Motorbooks. O meio século do popular carro-pônei é coberto em 256 páginas pelo livro lançado em 2013. A história inclui as versões de Shelby, os marcantes Boss 302 e 429 e um total de 400 imagens.
The Complete Book of Mustang: Every Model Since 1964-1/2 – por Mike Mueller, Motorbooks. São 360 páginas com cada versão e ano-modelo até a publicação do livro, em 2010. Inclui dados técnicos.
Ford Mustang, America’s Pony Car – pelos editores da Consumer Guide Automotive, editora Publications International. As 192 páginas da obra, que saiu em 2011, abrangem as versões comuns e as mais esportivas como Boss, Mach 1, Shelby GT 350 e 500, Cobra e SVO. Modelos conceituais também estão presentes.
Mustang: An American Classic – Yesterday, Today, Tomorrow – por Michael Mueller, editora Universe. Os 45 primeiros anos estão cobertos na obra de 2009, que tem 288 páginas.
The Complete Book of Shelby Automobiles: Cobras, Mustangs, and Super Snakes – por Colin Comer, Motorbooks. Lançado em 2009, o livro trata das criações de Shelby, tanto em Mustangs quanto no clássico roadster Cobra, desde os anos 60. Tem 256 páginas.
Shelby Mustang: Racer for the Street – por Randy Leffingwell, Motorbooks. Outro livro dedicado aos esportivos de Shelby, com 192 páginas. Publicado em 2011.
Mustang 1967-1973 – Muscle Portfolio – por R.M. Clarke, editora Brooklands. Clarke faz compilações de matérias de revistas da época, com testes, comparativos, apresentações e artigos técnicos. Esta, de 140 páginas, saiu em 2000 com as versões GT, Boss 302 e 429, Mach 1 351, Mach 1 428, Shelby GT 350 e GT 500, Trans-Am e 351 HO.
Shelby Mustang 1965-1970 – Ultimate Portfolio – por R.M. Clarke, Brooklands. Nesta compilação estão matérias apenas das versões elaboradas por Carroll Shelby: GT 350 e GT 500, incluindo a variação KR. São 216 páginas.
Road & Track Ford Mustang Portfolio 1994-2002 – por R.M. Clarke, Brooklands. Mais uma de Clarke, esta restrita a testes e comparativos publicados na revista norte-americana. Estão nela os Mustangs GT, Cobra, Cobra R, Bullitt GT e Saleen S-351 em 136 páginas.
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