Lotus Elan, a maquininha de fazer curvas de Chapman

 
Dotado de motores Isuzu, o novo Elan oferecia até 165 cv e desempenho apropriado,
mas teve o azar de chegar ao mercado ao mesmo tempo que o Mazda MX5 Miata

 

Para desespero dos puristas, adeptos da tração traseira do Elan original, o novo carro usava tração dianteira, com câmbio de cinco marchas manual da mesma Isuzu. A mecânica foi toda desenvolvida e testada pela General Motors, também proprietária da empresa japonesa, e incluía central eletrônica Delco no motor e injeção de combustível Rochester — outras empresas do grupo. A suspensão dianteira trazia uma solução inédita, chamada de braços sobrepostos interativos, a fim de eliminar o conhecido efeito do esterçamento por torque que aflige muitos carros de tração à frente.

Seu desempenho convencia: 0 a 96 km/h em 6,5 segundos, máxima de 219 km/h. O novo Elan tinha comprimento de 3,80 m (7 cm a mais na versão para os EUA), largura de 1,73 m, altura de 1,23 m e entre-eixos de 2,25 m, e pesava de 997 kg na versão básica a 1.110 kg na Turbo SE completa, que incluía direção assistida. A escolha da tração dianteira foi inesperada para um carro esporte, mas elogios foram feitos por quem o testou. De qualquer maneira, foi o único Lotus até hoje com essa configuração.

De início as vendas foram desapontadoras, sobretudo pela coincidência de lançamento com o Mazda MX5 Miata — mais barato e fiel à tração traseira. Este, embora com o mesmo conceito do novo Elan, tinha um desenho nostálgico que lembrava o Elan original, ao passo que o Lotus era mais futurístico, seguindo a tendência de cabine avançada.

 

 
O interior era atraente e o comportamento foi elogiado, mas o Elan não vendeu o que
a Lotus precisava; a edição S2 foi uma extensão para esgotar o estoque de motores 

 

A Car colocou o novo Elan lado a lado com o BMW Z1, o Miata e o TVR S e aprovou seu desempenho: “Como se espera de um pequeno motor turbo, sua reação ao acelerador não é muito rápida, mas respeitável. Uma vez que ele esteja girando, a aceleração se faz com muita rapidez e é fácil manter o ritmo porque a faixa de potência é ampla. Há esforço útil a partir de 2.500 rpm e o impulso não acaba até a faixa vermelha a 7.000 rpm”. O Elan foi elogiado ainda pelos “bancos excelentes, embora você se sente baixo demais”, e pela estabilidade.

 

Apesar da tração dianteira, o novo Elan convenceu a Car: “Mal denuncia que as rodas dianteiras o estão puxando. Ele se comporta com neutralidade em 90% do tempo”

 

“Uma de suas qualidades mais impressionantes é a precisão direcional, corolário de um acerto bem feito, que se torna tão mais aparente quanto mais forte você dirige. Mal denuncia que as rodas dianteiras o estão puxando. Ele se comporta com neutralidade em 90% do tempo”. A conclusão dos ingleses: “O Lotus e o Mazda você pode desfrutar em qualquer viagem, sendo seu único compromisso ter apenas dois lugares. Entre eles, iríamos de Lotus se o valor adicional estivesse disponível. Sua vantagem no uso geral mais que compensa o preço extra”.

No Salão de Frankfurt de 1991 a Lotus apresentava o Elan M200, mais esportivo, com desenho de Julian Thompson. Com os dois lugares separados por uma estrutura central e pequenos defletores atuando como para-brisas, ele não passou do protótipo — o Elan era caro para fabricar e as vendas baixas mal pagavam o custo de desenvolvimento. Com a venda da Lotus ao italiano Romano Artioli, também dono da Bugatti, decidiu-se encerrar a linha de produção de um carro deficitário.

 

 
Adquirido pela Kia, o projeto ganhou sobrevida e a versão conceitual KMS-II, que não
foi produzida; um novo Elan com motor V6 apareceu no Salão de Paris de 2010

 

Contudo, devido à existência de motores no estoque, uma edição limitada de 800 exemplares do Elan S2 foi produzida entre junho de 1994 e setembro de 1995. A potência foi reduzida para 157 cv e a aceleração de 0 a 96 km/h subiu para 7,5 segundos, pois a legislação exigia a instalação de catalisadores em boa parte dos mercados, deixando o desempenho semelhante ao da antiga versão norte-americana.

 

 

O projeto do Elan foi cedido então à sul-coreana Kia, após apenas 4.655 unidades, das quais 129 com motor aspirado e 559 da versão para os EUA. A Kia o produziu de 1996 a 1999 com um motor próprio de 1,8 litro, duplo comando, 16 válvulas e 151 cv. De fora era praticamente idêntico ao original inglês, tendo como principais diferenças as lanternas traseiras e as novas rodas de 15 pol. Outro volante podia ser notado no interior. Foram feitas cerca de 2.000 unidades. A Kia ainda apresentou um carro-conceito baseado no Elan, o KMS-II, com algumas alterações visuais de gosto duvidoso, mas o projeto não vingou.

Um novo Lotus Elan foi anunciado no Salão de Paris de 2010, com a intenção inicial de ser lançado em 2013, mas hoje os planos estão revistos para 2017. O motor proposto é um V6 de 4,0 litros e pretende-se também uma versão híbrida. Mas o futuro carro contraria não apenas a filosofia de estilo do original, como também os princípios de Chapman: o peso estimado de 1.295 kg representa mais que o dobro do Elan original.

 

Para ler

Lotus Elan: The Complete Story – por Mike Taylor, editora The Crowood Press. O livro lançado em 1996 dedica 208 páginas à história de um dos modelos mais marcantes de Colin Chapman.

Lotus Elan 1962-1974 – Ultimate Portfolio – por R. M. Clarke, editora Brooklands Books. Com 216 páginas, a obra de 2000 reúne matérias de revistas da época sobre o Elan, como apresentações, testes e comparativos. Conteúdo em preto e branco.

Lotus Elan – por Mark Hughes, editora Osprey Publishing. O livro de 1992 apresenta a geração moderna do esportivo, mas cobre apenas sua fase inicial de produção. São 192 páginas.

Lotus Elan and SE 1990-1992 – por R. M. Clarke, Brooklands Books. Outra compilação de matérias de revistas, desta vez dedicada ao modelo mais recente do Elan. O livro de 100 páginas é de 1994.

Lotus: The Creative Edge – por Russell Hayes, editora J. H. Haynes. A história da marca e de seu genial fundador Chapman vem contada em 176 páginas na obra de 2007. Inclui avaliações e dados técnicos.

Lotus Legends – pelas redações de Octane e Evo, editora Dennis Publishing. As conhecidas revistas britânicas lançaram em 2011 um livro-revista sobre os carros mais marcantes da Lotus em 60 anos, do Seven aos mais novos Elise e Evora, com testes e uma entrevista com Gordon Murray em 228 páginas.

 

Ficha técnica

Elan S1 (1962) Elan Plus 2S 130/5 (1971) Elan SE (1990)
MOTOR
Posição e cilindros longitudinal, 4 em linha transversal, 4 em linha
Comando e válv./cilindro duplo no cabeçote, 2 duplo no cabeçote, 4
Diâmetro e curso 82,6 x 72,8 mm 80 x 79 mm
Cilindrada 1.558 cm³ 1.588 cm³
Taxa de compressão 9,5:1 10,3:1 8,2:1
Potência máxima 105 cv a 5.500 rpm 126 cv a 6.500 rpm 165 cv a 6.600 rpm
Torque máximo 14,9 m.kgf a 4.000 rpm 15,6 m.kgf a 5.500 rpm 20,5 m.kgf a 4.200 rpm
Alimentação 2 carburadores injeção multiponto
TRANSMISSÃO
Tipo de câmbio e marchas manual, 4 manual, 5
Tração traseira dianteira
FREIOS
Dianteiros a disco a disco ventilado
Traseiros a disco
Antitravamento (ABS) não
SUSPENSÃO
Dianteira independente, braços sobrepostos
Traseira independente, McPherson
RODAS
Pneus 155 R 13 165 R 13 205/50 R 15
DIMENSÕES
Comprimento 3,689 m 4,286 m 3,802 m
Entre-eixos 2,134 m 2,438 m 2,25 m
Peso 585 kg 945 kg 1.020 kg
DESEMPENHO
Velocidade máxima 185 km/h 195 km/h 220 km/h
Aceler. 0 a 100 km/h 9,0 s 7,5 s 6,5 s
Dados do fabricante; dados de desempenho aproximados

 

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