Madeira no painel e no volante, apenas dois lugares, câmbio bem à mão do
motorista: o interior do Elan, um carro feito para divertir nas curvas
Outras boas sensações foram descritas pela norte-americana Road & Track: “O motor era dócil na cidade, excelente na estrada, e melhor ainda quando abusado. Era também facilmente preparado. Hoje conhecido como o Lotus-Ford duplo-comando, o motor é um dos grandes da Europa. Apesar disso, o verdadeiro brilho do Lotus estava na suspensão. Ao combinar molas macias, longo curso, geometria de carro de corrida e amortecedores firmes, Chapman deu ao Elan grande aderência, o rodar de um sedã de luxo e excepcional habilidade para mudar de direção”.
Embora o Lotus não fosse barato, seu preço era inferior ao dos esportivos italianos e ingleses de prestígio, e seu desempenho, quase tão bom quanto o deles. Não demorou muito e, depois de apenas 22 unidades vendidas, o motor já estava mais potente: passava a ser de 1,6 litro e 105 cv, para máxima de 185 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 9 segundos. Uma capota rígida retirável tornava-se opcional no ano seguinte ao lançamento. Foram 900 unidades produzidas até 1964, quando surgiu a versão S2 do Elan — inclusos 52 exemplares do Tipo 26R de corrida, que vinha com motor de 145 cv, carroceria mais fina, mais magnésio nas rodas e suspensão ajustável.
A segunda série tinha como principais diferenças maiores pinças de freios, novas lanternas traseiras, opção de rodas com travamento central, porta-luvas com chave e painel de verniz polido em vez de vinil, contando com conta-giros, manômetro de óleo e amperímetro da marca Smith. Foi produzida de 1964 a 1966 em um total de 1.250 unidades, das quais 45 de corrida. Em 1965 surgia a versão cupê que, apesar de um pouco mais pesada — 620 kg —, mantinha a agilidade. Esse Elan podia receber um teto solar de lona como opcional ou vir com a capota em cor diferente da carroceria.
Evoluções nos freios e no interior e opção de teto rígido eram novidades do Elan S2;
na série seguinte vinham mais itens de conveniência e uma versão SE com 115 cv
Embora lançado ainda como S2, o cupê já trazia os aperfeiçoamentos que fariam parte da terceira série ou S3, apresentada no ano seguinte também em versão conversível. Produzido até 1968 em um total de 2.650 unidades, esse Elan tinha uma capota aperfeiçoada, vidros com controle elétrico, melhor vedação contra chuva, relação final mais longa — a curta era opcional, para quem preferisse aceleração a conforto —, freios assistidos, rodas com travamento central como padrão e luzes de direção retangulares. Ainda existiu em versão SE, de Special Equipment, que tinha motor com comando de válvulas e carburadores modificados, permitindo 115 cv e máxima de 210 km/h.
“Fazer curvas com o Elan é algo para ser apreciado: ele vai exatamente para onde o motorista aponta, sem qualquer drama”, escreveu a Autocar
O Elan para a família
Nesse meio tempo aparecia o protótipo Lotus Metier, com desenho de Ron Frayling, cujas alterações de estilo dariam origem em 1967 ao Elan Plus 2. Com entre-eixos aumentado para 2,44 m e mais dois lugares para uso temporário ou por crianças, o comprimento crescia para 4,29 m, a largura para 1,68 m e a altura para 1,19 m; em consequência, o peso chegava a 840 kg para o motor de 115 cv. No desenho destacavam-se a nova frente com faróis escamoteáveis planos e as portas em formato diferente. A remodelação resultava no ótimo coeficiente aerodinâmico (Cx) de 0,30. A velocidade máxima chegava a 190 km/h, com aceleração de 0 a 96 km/h em 7,9 segundos.
Esse Elan para pequenas famílias foi produzido apenas como cupê, embora cerca de 50 unidades tenham sido transformadas em conversível pela empresa de Christopher Neil, sendo denominadas CN Cabriolet. A Lotus chegou a construir o modelo de definição de estilo (mock-up) de uma versão fastback do Elan, baseada na transformação feita por um proprietário, mas o projeto acabou engavetado.
O nome dizia tudo: no Plus 2, ou mais 2, cabiam dois passageiros no pequeno banco
traseiro do Elan; frente e portas estavam entre os itens modificados em seu estilo
A quarta edição do Elan, ou S4, aparecia em 1968 com ressalto no capô, arcos de para-lamas mais largos, novo painel e pneus de perfil baixo. O motor de 115 cv usava carburadores Stromberg, que seriam substituídos novamente pelos da Weber. O S4 foi produzido em cerca de 3.000 unidades. No mesmo ano surgia o Elan Plus 2S, mais luxuoso, com melhor acabamento e faróis de neblina de série. Foi o primeiro carro da Lotus não oferecido como kit.
Avaliado pela revista inglesa Autocar, o Elan S4 SE foi descrito como “um dois-lugares muito eficiente, movido por um motor com origem em competições e com conforto acima da média”. Seu desempenho foi muito bom: “Com seu baixo peso e uma forma compacta e eficiente, o Elan supera facilmente rivais com motores maiores. De 0 a 96 km/h são 7,8 segundos, rápido o bastante para deixar para trás carros potentes como o Porsche 911 S e o Triumph TR6″.
O comportamento dinâmico, mais uma vez, sobressaía: “Fazer curvas com o Elan é algo para ser apreciado. Há carros tão rápidos em curva quanto ele, mas não pensamos em outro que transmita tanta confiança. Ele vai exatamente para onde o motorista aponta, sem qualquer drama. Existe alguma inclinação de carroceria, mas os ocupantes mal a percebem”. Como conclusão do teste, os ingleses escreveram: “O Elan oferece uma combinação de desempenho, estabilidade, economia e conforto difícil de superar. Os modelos atuais são bem construídos e acabados e certamente merecem ser considerados”.
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Os especiais
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No Salão de Genebra de 1964 o italiano Pietro Frua mostrou sua criação com base no pequeno Lotus, chamada Elan SS (acima). Era um dois-lugares com traseira hatchback e teto rígido, lembrando um Maserati da época. Ao contrário do original, tinha faróis fixos com carenagens, um estilo em voga nos Ferraris na época. Existiu apenas um exemplar. Após ser exposto também no Salão de Paris, foi vendido para um suíço.
No mesmo ano o inglês Barry Wood projetou uma versão fastback do Lotus e construiu por alguns anos entre 16 e 20 unidades em sua empresa Shapecraft. A transformação partia do conversível, que tinha uma seção feita em alumínio acrescentada à traseira.
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Ainda de 1964 é o Smart Elan (acima), construído pela William & Pritchard para o famoso piloto inglês Stirling Moss — Smart era, na verdade, sigla para Stirling Moss Automobile Racing Team. Tinha frente mais pontuda e capota diferente. O projeto era de Frank Costin.
A empresa inglesa Ian Walker Racing vendeu dois Elans especiais, ambos com carroceria de alumínio. A primeira foi construída por William & Pritchard (acima) e serviu como carro de competição para Paul Matty. A segunda, mais sóbria, foi construída por Harold Radford e exportada para a Suíça.
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A concessionária Lotus de nome Hexagon ofereceu a conversão do Elan Sprint em shooting brake, como são conhecidas as peruas feitas com base em carros esportivos, sobretudo os ingleses. Apenas duas unidades foram produzidas com o nome de Lotus Elanbulance (acima).
Outra autorizada, a Mike Spence, oferecia o Lotus-BRM Elan. A versão de corrida 26R tinha motor modificado pela empresa BRM, famosa pelos carros de Fórmula 1. O Lotus-BRM (acima) recebia pintura especial e a potência do motor preparado passava de 200 cv.
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