
Se faltava conforto à suspensão da Rural 4×4 , sua valentia em terrenos difíceis tinha poucos competidores
Para o trabalho e o lazer
O sucesso da Rural não demorou a acontecer, tornando-se um veículo muito desejado para as condições de uso locais. Atendia bem ao fazendeiro que buscava certo conforto para a família e ao morador das cidades que precisava de deslocamentos pela área rural. Tornou-se comum ver a perua da Willys em frotas de serviços. A concorrente mais direta para esses fins era a Volkswagen Kombi, que também podia transportar uma grande família ou um grupo de trabalho por terrenos acidentados, apesar da tração em apenas duas rodas.
Outra competidora era a perua Toyota Bandeirante, lançada em 1962 com a vantagem do robusto motor a diesel. Já a Chevrolet Amazona (derivada da picape 3100 “Brasil), embora espaçosa, não se comparava em pisos severos ao combinar motor dianteiro e tração traseira. É preciso considerar o bom posicionamento de preços da Rural. Em janeiro de 1963, por exemplo, a versão 4×2 custava 1,48 milhão de cruzeiros e a 4×4 saía por 1,63 milhão. A Kombi básica ficava entre elas (1,53 milhão) e o Bandeirante partia de 1,5 milhão na versão jipe, mas a Amazona era bem mais cara (2,91 milhão).
O interior era simples, mas havia espaço de sobra; a versão 4×2 trazia suspensão dianteira independente para um rodar mais suave
Em seu primeiro teste, em 1963, a revista Quatro Rodas observou: ” A condução da Rural é agradável. A posição do motorista permite amplo domínio do veículo. O assento do motorista é bastante confortável. A ausência do pisca-pisca se faz sentir, especialmente em mau tempo. Veículo de muitas aplicações, a Rural é robusta e potente. Grande motor, freios eficientes, boa visibilidade e consumo relativamente baixo”.
“O motor permite boas arrancadas e velocidades elevadas”, acrescentou. Tudo em termos da época, claro: o teste apontou máxima de 117 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 21,5 segundos. Como ressalvas, a revista apontou: “A direção esterça pouco. O molejo duro maltrata o condutor. Nas estradas asfaltadas a traseira, jogando muito, torna perigosa a condução em altas velocidades. A estabilidade não é das melhores”. O consumo variou de 5,5 a 7,8 km/l.
Lançamento importante vinha em 1964: a versão 4×2 da Rural, com tração apenas traseira, que tinha a alavanca de transmissão na coluna de direção e suspensão dianteira independente com molas helicoidais, para um rodar mais confortável e melhor estabilidade. “Curva fechada não existe para ela”, exagerava a publicidade.
Propagandas da Rural em 1964: apelos ao conforto e a detalhes de acabamento em um veículo de origem rude
Em 1965 a Willys adotava limpador de para-brisa elétrico (não mais a vácuo), outra grade na versão 4×2 e caixa de três marchas com a primeira sincronizada — uma vantagem nos subidões, por não ser mais preciso usar dupla debreagem para o engate quando a segunda não desse conta do recado. Agora havia duas versões, Standard (básica) e Luxo, sempre em duas cores.
A versão 4×2 da Rural ganhava suspensão dianteira independente para melhor estabilidade: “curva fechada não existe para ela”, exagerava a propaganda
A Standard mostrava acabamento espartano, com eliminação dos cromados em frisos e para-choques, mas podia receber diferencial autobloqueante como opcional para ajudar em terrenos difíceis. A Luxo 4×2 vinha com calotas, melhor revestimento interno e vários detalhes cromados, além de receber volante e coluna de direção do Aero-Willys. Um ano depois vinham alternador no lugar do dínamo, carburador recalibrado para menor consumo e roda-livre para a versão 4×4.
Sob nova direção
Novo painel de instrumentos, trava de direção, nova grade e transmissão de quatro marchas sincronizadas chegavam em 1967. Apesar da aquisição da Willys pela Ford no mesmo ano, a linha Jeep foi mantida por longo tempo — bem mais que os sedãs Aero e Itamaraty. Em 1968 era introduzido o motor do Itamaraty, de 3,0 litros e carburador de corpo duplo, ainda com cabeçote em “F”. Com potência bruta de 132 cv, levava-a a cerca de 140 km/h.
Alternador, roda-livre e quatro marchas eram evoluções da Rural, que mantinha a imagem de valentia e lazer na publicidade
Em teste, a Quatro Rodas empolgou-se com o novo desempenho: “A aceleração do veículo vazio é excepcional. Lembra até um carro esportivo, de 0 a 100 km/h em menos de 16 segundos. A retomada também é excelente, evidenciando o grande torque do motor. A velocidade máxima foi de 142,8 km/h com toda a firmeza possível. Longos percursos podem ser vencidos sem cansaço, tanto para o possante motor como para o motorista, com reserva de potência suficiente para subir ladeiras e efetuar ultrapassagens”.
No restante, apesar da idade do projeto e de suas limitações, a Rural continuava competente: “A suspensão dianteira proporciona um conforto de marcha realmente bom, não o que se poderia esperar de um utilitário. Em altas velocidades, a direção mantinha-se firme e precisa. Nas baixas, nunca chegou a ser excessivamente pesada. Mas a forma do veículo e sua altura dificultam freadas seguras em velocidades elevadas”.
Próxima parteEm outros países
A Mitsubishi fez o Jeep e a perua no Japão. O Mitsubishi Jeep J-3 aparecia em 1953, montado a partir de conjuntos importados, e logo ganhava amplo conteúdo nacional e variações mais longas. A perua estreava em 1962 como Jeep J-30 e teve versões como J-32, J-34, J-38 e J-44, incluído opções com quatro portas e três fileiras de lugares.
Com a frente original da norte-americana, a “Rural” japonesa usou motores a diesel de 2,2 e 2,7 litros e a gasolina de 2,2 e 2,4 litros, todos de quatro cilindros. A tração nas quatro rodas era padrão. A empresa anunciava capacidade de carga de 400 kg mais três pessoas no banco dianteiro ou 250 kg mais seis pessoas em dois assentos. Embora a perua tenha sido produzida por poucos anos, o Jeep teve longa sobrevida por lá: até 1998.
Na Índia, a Mahindra & Mahindra começou a fabricar o Jeep em 1947, um dos primeiros casos de fabricação de veículos sob licença em todo o mundo — e praticamente o faz até hoje, embora os direitos de uso do desenho sejam discutidos pelos donos mais recentes da marca norte-americana. A partir do conhecido CJ-5 com entre-eixos longo, a marca indiana aplicou em 1987 uma carroceria de perua e criou os modelos Wagonette e, mais tarde, Commander e Armada.
Motores a diesel de 2,1 e 2,6 litros da Peugeot com até 62 cv foram empregados no utilitário, que se diferenciava bastante em desenho dos equivalentes feitos em outros países. Em versões sem portas rígidas e com teto de lona, a Commander chega a lembrar o “Bernardão”, o Jeep alongado da Willys brasileira.