Mais 2.100 km e a análise na oficina buscam a resposta: essa
minivan cumpre a função de levar a família a longe do asfalto?
Texto: Roberto Agresti – Fotos: autor e Gustavo Epifânio
Atualização final: 26/10/12
Foi uma verdadeira epopeia rodoviária, a protagonizada pela minivan Idea Adventure na reta final de nossa 25ª avaliação de Um Mês ao Volante. Nada menos do que 2.100 quilômetros foram rodados em estradas de todo tipo em um percurso iniciado na capital paulista, cujo primeiro destino foi o litoral sul do estado, Ilha Comprida. Na sequência, das areias paulistas a Idea seguiu para o norte do Paraná, à região de Castro e Tibagi, de onde voltou no meio da semana para a tradicional análise técnica de Alberto Trivellato, da oficina Suspentécnica.
Antes das palavras de nosso consultor técnico, um pouco do que ocorreu nos muitos quilômetros. Como comentado na atualização anterior, nosso “piloto” na maratona foi o fotógrafo Gustavo Epifânio, que já prestara seu depoimento sobre o carro. Todavia, agora Gustavo submeteu a Idea a um bem mais extenso naipe de estradas, o que lhe dá chance de acrescentar dados e impressões.
O motorista confirma que a Adventure sofre com os ventos laterais, coisa que não faltou no norte do Paraná, assim como muita chuva. Se isso não é novidade (carro alto, curto, grande vão livre do solo), o percurso pela Ilha Comprida e para chegar a Tibagi deu à Idea a oportunidade de mostrar sua face mais competente: a de válido veículo fora de estrada, ou quase isso.
Os 2.100 km da viagem deram boa noção da capacidade da Idea de rodar sobre
pisos pouco aderentes, mas confirmaram a instabilidade sob ventos laterais
Na praia ou em estradas de terra ensopadas, Gustavo disse ter sentido grande segurança ao volante, mérito — segundo ele — em grande parte dos pneus, mas também de um conjunto de fatores que vai da boa distância em relação ao solo, passa por ângulos de ataque e de saída favoráveis (a Idea não raspa nunca, em obstáculo nenhum) e chega a um acerto de suspensões primoroso para tais condições.
Disse Gustavo: “Para quem roda em condições como as que enfrentei, com estradas ruins, praia e até mesmo piso pedregoso de subida de montanha, e ainda por cima molhado, essa Idea é ‘o carro’. Acionei o dispositivo Locker, que bloqueia em 100% o diferencial, e percebi que ele não faz da Idea um jipe, mas a torna habilitada para enfrentar trechos que a maioria dos carros não encara. É admirável a capacidade dessa minivan em rodar em pisos ruins sem causar receio em quem dirige”.
Disse Gustavo: “Para quem roda em condições como as que enfrentei, com estradas ruins, praia e até mesmo piso pedregoso de subida de montanha, e ainda por cima molhado, essa Idea é ‘o carro'”
O colaborador encerra sua opinião sobre esse Fiat com uma análise sobre o consumo, aspecto tão debatido desde o início da avaliação. Médias em torno de 10 km/l usando gasolina foram, para Gustavo, aceitáveis tendo em vista o modo com o qual a Idea foi usada — muito para-anda, os mencionados pisos ruins. Como ponto negativo, à parte a sensibilidade a ventos em velocidade, ele cita — como outros colaboradores — uma ergonomia que poderia ser melhorada com encosto revisto e volante com maior amplitude de regulagem.
Da viagem para a oficina
Das mãos de Gustavo a Idea passou às de Alberto, da Suspentécnica. Ele, assim que assumiu o volante, revelou ter no passado cogitado a compra de uma Idea Adventure: “Morava em um sítio, enfrentava trechos de estrada de terra e tive várias Palios Adventure. Considerei a Idea, mas acabei desistindo por conta do melhor porta-malas da Weekend e do desconforto de usar as duas mãos para abrir o compartimento de bagagem, por conta do estepe externo”.
Sim, o colaborador é mais um que critica a opção, plenamente estética, de colocar o pneu reserva fora do carro. Como se sabe, a solução nasceu em utilitários esporte — como Mitsubishi Pajero TR4, Ford EcoSport e Suzuki Grand Vitara — que têm a tampa articulada na lateral. Nos modelos em que ela abre para cima, como hatches, peruas e minivans, o estepe representa um incômodo obstáculo, com a desvantagem adicional de exigir bem mais espaço atrás do carro para que a tampa possa ser aberta. “E ainda se o aproveitamento do espaço sob o porta-malas destinado ao pneu fosse bom, vá lá, mas não é”, ele acrescenta.
Logo nos primeiros metros rodando com a Idea, Alberto ressalta o mau desenho do encosto do banco, cujo apoio “esquece” a parte alta das costas. Além disso, critica o volante que não segue a necessidade de ajuste que dele se espera — mais um a tocar nesse tema.
Carroceria alta, grande vão livre e pneus de série 70 não contribuem para o comportamento,
mas Alberto Trivellato confirma nossa impressão de que a Fiat acertou bem a suspensão
Em uma avenida larga e sem movimento, o colaborador muda de faixa de maneira brusca, avaliando a rolagem da carroceria, e revela: “É um ajuste muito bom de suspensões. Consideremos que ela é alta, curta e tem pneus com laterais que ‘trabalham’ bastante, ou seja, com um razoável movimento transversal em relação à roda, a chamada deriva, quando se puxa o volante para um lado ou outro de maneira brusca. Mesmo assim, o carro não passa a impressão de que pode tombar facilmente. É claro que se houvesse um sistema eletrônico de controle de estabilidade seria melhor, mas não posso dizer que seja um carro inseguro pela falta do dispositivo”.
Alberto reprova o motor: “Tem mais potência, mas o torque máximo surge em rotação mais alta. Exige que se elevem muito os giros; no fim das contas, parece ser um motor mais fraco e acaba sendo pouco econômico”
A sessão de elogios à minivan da Fiat termina quando Alberto começa a falar do motor: “O anterior, de origem General Motors, era antiquado mas tinha uma característica que julgo positiva: o torque que surgia de maneira consistente desde os mais baixos giros. Esse motor novo, E-Torq, tem mais potência mas o torque máximo surge em rotação mais alta, e isso não é adequado a um carro pesado, ainda mais a uma versão Adventure. Exige que se elevem muito os giros e no fim das contas, mesmo com mais potência, parece ser um motor mais fraco e acaba sendo pouco econômico”.
O consultor reconhece que tecnicamente o E-Torq é mais moderno, mas “nem sempre a modernidade significa ser melhor. E para o uso específico de uma minivan, um carro de viés urbano, a troca do velho 1.8 para este não foi, na minha opinião, positiva. E olhe que falo isso com a propriedade de quem teve duas Palios Weekend com o antigo motor e tem, atualmente, uma nova com o E-Torq”.
Hora da inspeção: o consultor verifica a Idea em detalhes e por baixo; uma
boa impressão é pelo cuidado do fabricante com a proteção dos itens inferiores
Uma vez na oficina, o procedimento-padrão: análise externa e interna da qualidade construtiva e, depois, carro no elevador, para olhar o que nem todo o dono de Idea vê, as entranhas.
A observação externa faz Alberto indicar alguns pontos onde a qualidade da carroceria deixa a desejar. Em especial nas portas dianteiras, há irregularidades na chapa, assim como as frestas entre portas e carroceria poderiam ser mais regulares. De um modo geral, não é uma carroceria que se possa considerar “caprichada” do ponto de vista da qualidade da estampagem. Por outro lado, não são ruins os insertos plásticos, presentes em profusão na versão Adventure, embora relatos de leitores na atualização anterior tenham apontado rápido envelhecimento das peças nos carros em circulação.
Já dentro, a análise qualitativa aponta para um nível mediano dos plásticos, mas a costura dos bancos de couro, opcionais na versão, revela um descuido inaceitável por conta da irregularidade clamorosa na parte traseira dos encostos dianteiros. “Não pode, não é?”, pergunta o colaborador ao ver, surpreso, as costuras tortas de ambos os bancos.
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