Peugeot 3008 propõe espaço e bom custo-benefício (1)

Peugeot 3008 Griffe

 

Minivan de origem, mas com ar de utilitário esporte, ela começa
sua avaliação de 30 dias mostrando dotes como conforto e agilidade

Texto e fotos: Fabrício Samahá

 

Começa a trigésima primeira avaliação de Um Mês ao Volante, com uma marca que andava ausente da seção havia dois anos: a Peugeot, que cedeu uma 3008 Griffe. Mais que analisar as recentes alterações, concentradas na estética frontal, nosso interesse era conhecer a fundo um modelo que já chamava atenção pela proposta de relação custo-benefício.

Que custo? São R$ 100 mil (levam-se R$ 10 de troco) pela versão única hoje oferecida — antes havia também a Allure, mais acessível —, que usa o conhecido motor THP de 1,6 litro com turbocompressor e injeção direta de gasolina, com potência de 165 cv e um ótimo torque de 24,5 m.kgf a baixas 1.400 rpm. Disponível só com tração dianteira, a 3008 usa caixa de câmbio automática de seis marchas e oferece um alto padrão de equipamentos.

 

 

 
Antes controverso, o estilo frontal da 3008 melhorou bastante com a remodelação;
a carroceria de apenas 4,37 metros é pouco mais longa que a de um hatch médio

 

Entre os itens de conforto destacam-se ar-condicionado automático de duas zonas, faróis e limpador de para-brisa automáticos, volante ajustável em altura e distância, computador de bordo, rádio/CD/MP3 com interface Bluetooth para telefone celular e comandos junto ao volante, navegador em tela retrátil, controlador e limitador de velocidade e sensores de estacionamento na traseira; entre os de segurança, controle eletrônico de estabilidade e tração, freios antitravamento (ABS) com distribuição eletrônica da força de frenagem e assistência adicional em emergência, seis bolsas infláveis (frontais, laterais dianteiras e cortinas laterais) e fixação Isofix para cadeiras infantis. Há ainda rodas de 17 pol e teto envidraçado (fixo, mas com controle elétrico do forro).

 

A 3008 é muito ampla por dentro: para o
motorista é difícil imaginar que meça apenas
9 centímetros a mais que o hatch 308

 

Para o fabricante, a 3008 é um crossover que a representa entre utilitários esporte como Honda CR-V, Hyundai IX35 e Kia Sportage. Para nós, ela é uma minivan — assim como a Citroën C4 Picasso, derivada da mesma plataforma — que tem apenas certo jeito de SUV, trazido pelo visual robusto e adereços como os protetores de para-choque em cor de alumínio. O fato é que essa distinção de categoria perde um pouco do sentido quando se constata que todos seguem na mesma direção: acrescentar altura — tanto em vão livre do solo quanto nos bancos e no teto — a plataformas e conjuntos mecânicos de automóveis.

A reforma na parte dianteira deixou a 3008 bem mais agradável, com um aspecto requintado e que se identifica ao de outros recentes Peugeots, como o 208 e o 508. Seu coeficiente aerodinâmico (Cx) 0,296 é expressivo comparado ao de utilitários esporte. No interior ela não mudou: muito ampla (para o motorista é difícil imaginar que meça apenas 4,36 metros de comprimento, só 9 centímetros a mais que o hatch 308), tem acabamento que transmite boa qualidade e a solução do console bastante alto, intencional para afastar a origem de minivan que o para-brisa enorme e avançado deixa evidente.

 

 

 
No interior de bom acabamento, o console alto afasta o aspecto de minivan;
os mostradores são bem legíveis e a tela plástica recebe projeção de velocidade

 

O revestimento dos bancos, antes de couro, agora o traz nas laterais associado a um tecido em trama na parte central, de bom aspecto e mais adequado a nosso clima, embora possa não agradar aos adeptos do couro completo. Há espaço à vontade para quatro adultos, mas um quinto ocupante fica mal acomodado pela largura limitada — resultado da plataforma compartilhada com os médios 308 e 408 — e o encosto duro do banco. Para o motorista, porém, a Peugeot oferece um banco confortável, comandos alinhados e múltiplas regulagens, além de um volante que em nada lembra a posição “de Kombi” das minivans do passado. Fica a ressalva para o ajuste de apoio lombar em posição nada prática.

 

 

Sobre o quadro de instrumentos bem legível, uma tela de policarbonato (que pode ser ajustada ou desativada) recebe a projeção de informações de velocidade e de seus sistemas controlador e limitador. Outros itens que agradam: freio de estacionamento com comando elétrico e ativação/liberação automática, controle elétrico de vidros com função um-toque para todos e fechamento a distância (abertura, não), luz de cortesia sob as portas dianteiras e alerta para uso do cinto também para o passageiro da frente. Para deixar as portas traseiras a salvo de crianças basta um toque no bloqueio de seus comandos de vidros, uma ideia genial. E o forro do teto é como tem de ser no Brasil: vedação total do sol quando fechado.

Onde a 3008 revela a idade da plataforma é no sistema de áudio e navegação: em vez das telas sensíveis ao toque comuns hoje (mesmo no 208), usa uma tela retrátil de sete polegadas e apela aos comandos do rádio para uso das informações, incluindo a inserção de endereço para navegar, que se torna trabalhosa. Outros pontos que merecem evolução: o bocal de abastecimento requer uso da chave, os para-sóis não têm iluminação e foram descartados itens antes presentes, como retrovisor interno fotocrômico, rebatimento elétrico dos retrovisores, lanterna portátil e recarregável no porta-malas, telas contra sol nas portas traseiras, roda de alumínio no estepe (permanece o pneu igual aos demais) e aquecimento dos bancos dianteiros.

 

 

 
Teto envidraçado, freio de estacionamento automático e prático acionamento das
travas infantis agradam; navegador usa método superado de programação

 

Lá atrás, o compartimento de bagagem apenas razoável para 432 litros mostra boas soluções como a tampa dupla: há uma pequena parte inferior, aberta como a tampa da caçamba das picapes, que facilita colocar e tirar cargas pesadas. Em uso normal basta abrir a porta superior, de tamanho normal. O piso rígido pode ser montado em duas alturas, uma delas para coincidir com a tampa inferior fechada; abaixo dele há mais um “fundo falso” e só então se chega ao estepe. No compartimento têm-se uma tomada de 12 volts e comandos para rebater o banco traseiro.

 

Motor 1,6 para 1,5 tonelada?

Embora seja nosso velho conhecido nas marcas BMW, Citroën, Mini e Peugeot, o motor THP é avaliado pela primeira vez em Um Mês ao Volante. A 3008 é um dos carros mais pesados a empregá-lo — 1.480 kg — e, apesar do bom perfil aerodinâmico, tem uma grande área frontal. Que tipo de desempenho um motor de apenas 1,6 litro poderia obter nessa aplicação?

Próxima parte

 

 

 
O porta-malas de 432 litros deveria ser maior, mas seu acesso é prático pelas
duas tampas, uma delas aberta para baixo como a de caçamba de picapes

 

Muito bom, esse é o tipo. Com uma atuação de turbo das mais rápidas, o THP impulsiona a minivan com agilidade e torna a direção muito agradável, sem demonstrar esforço em qualquer momento. A sensação é similar à de um bom motor aspirado de 2,5 litros, se não maior. Para acompanhar o tráfego não se precisa de mais que 2.000 rpm, tamanha a oferta de torque em baixa rotação, e o nível de ruído permanece muito baixo. Contribui para as boas sensações a caixa automática programada para mudanças precoces quando não se requer muita potência, como deve ser nesses tempos de consciência ambiental, pois alta rotação significa maiores consumo e emissão de gás carbônico (CO2).

 

Com atuação de turbo das mais rápidas, o THP
impulsiona a minivan com agilidade e torna
a direção muito agradável, sem demonstrar esforço

 

O câmbio não é bom apenas nisso: foi-se o tempo de carros franceses que irritavam pela retenção de marchas altas ao desacelerar. O seis-marchas da 3008 passa despercebido nesse aspecto até que se tira o pé em declive acentuado, quando certa rotação vem na medida esperada para poupar os freios. Se quiser segurar o carro ainda mais, basta ao motorista uma breve “bombeada” no acelerador. Mudanças manuais são possíveis pela alavanca, mas quem precisa delas quando pode “trocar marchas com o pé”?

 

 

 
O motor THP desfaz preconceitos: fornece ótimo torque desde baixa rotação
e permite usar a 3008 como se tivesse um motor aspirado de cerca de 2,5 litros

 

Outro destaque desse Peugeot é o acerto da suspensão, que concilia grande estabilidade (nota-se o alto controle de movimentos pelos amortecedores), tanto em retas quanto em curvas, e rodar confortável. Contudo, um trabalho em buchas como o feito nos 308 e 408 para 2014 seria bem-vindo, pois pequenos impactos deixam a sensação de pouca borracha para absorvê-los. A assistência eletro-hidráulica da direção também já não é ideal: sistemas elétricos hoje resultam em volante mais leve em baixa velocidade.

 

 

Nos primeiros 419 quilômetros em nossas mãos, a maior parte deles em rodovia, a 3008 mostrou também consumo de gasolina moderado para um carro de 1,5 tonelada, com média de 11,1 km/l e melhor parcial de 12 (prejudicada por trechos muito congestionados em São Paulo, SP, antes de pegar estrada). Claro que várias outras medições serão feitas nas próximas semanas, incluindo aquelas em trajetos-padrão, os mesmos feitos em outras avaliações. O carro também passará por outros motoristas, como de praxe na seção.

A semana inicial, porém, já deixou bem mais impressões positivas que negativas, de modo que este editor antecipa seu voto na clássica pergunta — “compraria um carro como o avaliado, se estivesse à procura de um modelo nessa faixa de preço?”. A resposta é sim: a combinação de qualidades mecânicas, conforto e dotação de equipamentos desse Peugeot é das melhores e, sem dúvida, merece ser analisada por quem tem em vista carros familiares ao redor de R$ 100 mil.

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Desde o início

7 dias

419 km

Distância em cidade 186 km
Distância em rodovia 233 km
Tempo ao volante 10h 11min
Velocidade média 41 km/h
Consumo médio (gasolina) 11,1 km/l
     Melhor marca média 12,0 km/l
     Pior marca média 10,2 km/l
Indicações do computador de bordo

 

Preço

Básico R$ 99.990
Como avaliado R$ 99.990
Preços públicos vigentes em 1/7/14

 

 

Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Material do bloco/cabeçote alumínio
Comando de válvulas duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo
Diâmetro e curso 77 x 85,8 mm
Cilindrada 1.598 cm³
Taxa de compressão 10,5:1
Alimentação injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar
Potência máxima 165 cv a 6.000 rpm
Torque máximo 24,5 m.kgf de 1.400 a 4.000 rpm
Potência específica 103,3 cv/l
Transmissão
Tipo de câmbio e marchas automático / 6
Relação e velocidade por 1.000 rpm
1ª. 4,04 / 8 km/h
2ª. 2,37 / 14 km/h
3ª. 1,56 / 21 km/h
4ª. 1,16 / 28 km/h
5ª. 0,85 / 38 km/h
6ª. 0,67 / 48 km/h
Relação de diferencial 3,87
Regime a 120 km/h 2.600 rpm (6ª.)
Regime à velocidade máxima informada 5.500 rpm (5ª.)
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado (302 mm ø)
Traseiros a disco (268 mm ø)
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência eletro-hidráulica
Diâmetro de giro 10,9 m
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Estabilizador(es) dianteiro e traseiro
Rodas
Dimensões 7,5 x 17 pol
Pneus 225/50 R 17
Dimensões
Comprimento 4,365 m
Largura 1,837 m
Altura 1,639 m
Entre-eixos 2,613 m
Bitola dianteira 1,53 m
Bitola traseira 1,525 m
Coeficiente aerodinâmico (Cx) 0,296
Capacidades e peso
Tanque de combustível 60 l
Compartimento de bagagem 432 l
Peso em ordem de marcha 1.480 kg
Relação peso-potência 9,0 kg/cv
Desempenho
Velocidade máxima 202 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 9,5 s
Garantia
Prazo 3 anos sem limite de quilometragem
Carro avaliado
Ano-modelo 2014
Pneus Michelin Primacy HP
Quilometragem inicial 3.000 km
Dados do fabricante; consumo não disponível

 

 

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