Tenho a intenção de migrar para um veículo sem o pedal de embreagem. A primeira dúvida é quanto à troca de óleo do câmbio automático: qual a periodicidade? O câmbio automatizado de dupla embreagem tem a mesma necessidade de troca do óleo?
Outra dúvida é com relação ao uso do câmbio automático ou do automatizado de dupla embreagem, no que tange a estar rodando em rodovia acima de 100 km/h, na posição D ou S, e trocá-la para N, vindo depois a retorná-la à origem. Há possibilidade de dano mecânico, além da tradicional resposta de não haver lubrificação suficiente?
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Alcyr Gean Guedes Vaz – Palmas, TO
Antes de mais nada, cabe esclarecer que chamamos de câmbio automático apenas o sistema tradicional, com conversor de torque e sistema de engrenagens epicicloidal/planetário (como a caixa Hyundai da foto), e aquele de variação contínua (CVT). O câmbio com dupla embreagem, embora chamado de automático por alguns fabricantes e órgãos de imprensa, é para nós um automatizado: um manual com sistema automatizado (atuadores eletro-hidráulicos) responsável por trocar as marchas e acoplar e desacoplar a embreagem.
Para câmbios automáticos, via de regra, não haveria a necessidade de se trocar o óleo lubrificante durante a vida útil da transmissão: trata-se de sistema selado, sem qualquer contaminação com agentes externos. Contudo, pode haver degradação do óleo caso a transmissão trabalhe com temperaturas elevadas, acima de 120 ou 130°C. Nesse caso, nota-se que o óleo deixa de ter a cor típica roseada para um tom marrom escuro.
Por esses motivos, há fabricantes que trabalham com caixa livre de manutenção, enquanto outros, devido ao projeto da transmissão ou mesmo por segurança caso haja superaquecimento, requerem que se troque o óleo de tempos em tempos (o que já foi mais comum). Vale a pena consultar os prazos recomendados pelos fabricantes dos veículos que lhe interessem.
No caso dos câmbios automatizados monoembreagem, o sistema de lubrificação das engrenagens é o mesmo dos câmbios manuais, com sistema hidráulico fechado para os atuadores responsáveis por trocar as marchas e acionar a embreagem. Novamente, a regra é não haver necessidade de troca do óleo, mas vale a pena conferir a recomendação para o modelo de seu interesse. Cabe atenção, porém, a sistemas de dupla embreagem com as embreagens banhadas no óleo da transmissão: nesse caso pode haver contaminação de material proveniente do desgaste das embreagens, levando à necessidade de troca.
Consultamos alguns fabricantes acerca de sua recomendação de troca do óleo da transmissão. Na linha Volkswagen o câmbio automatizado monoembreagem I-Motion não requer troca, assim como o automático do Jetta aspirado. No caso da caixa de dupla embreagem DSG, porém, a troca deve ser feita a cada 60.000 quilômetros ou na sexta revisão, o que ocorrer primeiro — tanto no sistema com embreagens a seco, usado no Golf de 1,4 litro, quanto no de embreagens banhadas em óleo do Golf GTI e do Jetta TSI.
Na Fiat, o automatizado monoembreagem Dualogic não requer substituição do óleo: cabe apenas verificar o nível a cada 40 mil km nas revisões. No caso do automático do Freemont, além da verificação de nível a cada 37.500 km (em revisão), devem-se substituir óleo e filtro de óleo a cada 100.000 km ou 48 meses, o que ocorrer primeiro, no caso de uso severo (táxi, veículo policial ou reboque); uso em estradas poeirentas, arenosas ou lamacentas; ou condução em distâncias longas com baixa velocidade ou baixa rotação frequente. Em caso contrário, trocam-se óleo e filtro da caixa a cada 200.000 km ou 90 meses, o que ocorrer primeiro.
Por sua vez, a Renault não indica prazo para troca em seus modelos — seja com o câmbio automatizado Easy’R, o automático do Duster ou o CVT do Fluence. A indicação é controlar os óleos do câmbio e do diferencial a cada ano ou 20 mil km, sendo a substituição feita apenas se houver necessidade, mesmo em caso de uso severo (carro de polícia, ambulância, táxi, etc.).
Em relação a trocar para a posição N, no câmbio automatizado não há problema, uma vez que o sistema de engrenagens é o mesmo do manual. Além disso, o sistema hidráulico de troca de marchas possui bomba elétrica independente da rotação do motor. Há veículos em que a bomba se aciona ao abrir a porta do motorista, antes mesmo de dar partida ao motor, o que produz ruído característico.
Já em caso de câmbio automático tradicional, há problema: a bomba de óleo responsável por toda a lubrificação da transmissão está diretamente conectada à rotação de trabalho do motor. É por isso que os fabricantes não recomendam que se reboque o carro girando as rodas motrizes, mesmo em ponto-morto e com motor ligado: não haveria atuação completa da bomba de óleo da transmissão. Claro que os fabricantes preveem que se possa conduzir o carro por certo tempo para o evento de pane do motor até parar em segurança. Afinal, haveria risco de acidente sério caso a transmissão “travasse”, bloqueando as rodas motrizes.
Vale lembrar que carros com tração traseira ou integral trazem óleo no diferencial traseiro ou central — aqui, mais uma vez, há fabricantes que exigem troca e outros não.
Texto: Felipe Hoffmann – Foto: divulgação
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