A despeito de todo o glamour do Corvette, onde o small-block fazia realmente seu nome — de forma silenciosa, mas diligente — era nos sedãs, peruas e picapes da companhia, que eram o ganha-pão da empresa. Em versões mais mansas, mas não menos eficientes em custo, durabilidade, potência e economia, esse V8 provava que, apesar de toda sua potência, era em seu âmago um motor para produção em série, com todas as vantagens de simplicidade, baixo custo e fácil manutenção que isto acarreta. Bel Air, Biscayne, Nomad, Impala, El Camino, Chevelle, Nova: todos os nomes, hoje famosos, devem muito de sua fama à excelência do Chevrolet de bloco pequeno.

O motor 327 com injeção era tão bom -- e bem mais barato que um V12 da Ferrari -- que foi usado por marcas que vinham concorrer com a de Maranello, como a Iso e seu belo cupê Rivolta

Se por um lado o motor caminhava para se tornar o mais vendido de todos os tempos (mais de 40 milhões produzidos), posto do qual dificilmente será desbancado, de outro lado rivalizava com o que mais exótico a Europa tinha a oferecer. Um motor de Corvette 327 injetado, na avaliação dos mais isentos, era melhor que um Ferrari V12 3,0-litros contemporâneo, embora menos vocal e girador. Era um pouco mais pesado que o Ferrari, mas menor, bem mais potente e torcudo. Como o small-block era muito mais barato e no mínimo tão bom, logo apareceram concorrentes da Ferrari com o motor Chevrolet, como os belíssimos Iso Rivolta e subseqüentes Bizarrini. O braço alemão da GM, a Opel, também aproveitou o motor em seus sedãs de luxo Admiral e Diplomat.

O Camaro e o 350   A geração seguinte de Corvettes, em 1968, foi menos feliz — tanto em estilo quanto em dotes dinâmicos — que a magnífica StingRay. A vitrine dos small-block passaria a ser, por um breve mas fascinante período, o novo Chevy lançado em 1966 para competir com o Ford Mustang: o Camaro. Veio o 350 (5.735 cm³), a versão de maior sucesso — e para muitos definitiva. Desta vez apenas o curso aumentava, de 82,5 mm no 327 para 88,4 no 350. Era oferecido, de início, com exclusividade no Camaro SS, na versão L48, com um comando manso, tuchos hidráulicos, carburador Carter Quadrajet, taxa de compressão de 10,25:1 e potência de 295 cv. Em 1969 o 350 era estendido a praticamente toda a linha, incluindo picapes, e substituía o 327 no ano seguinte.

A Opel, que representa a GM na Alemanha, também fez uso do bloco-pequeno americano: o sedã de luxo Diplomat devorava com um 283 as auto-estradas sem limite de velocidade

O famosíssimo Camaro Z/28 de primeira geração foi uma versão para homologação na categoria Trans-Am do SCCA, Sports Car Club of America, que exigia cilindrada máxima de 5.000 cm³. Para ele foi criado um small-block com o virabrequim de curso curto do 283 e o bloco do 327. O resultado foi de 302 pol³ (4.948 cm³). Nascido para girar alto em competições, este pequeno motor (para padrões americanos, claro) estava destinado a se tornar lenda: um comando de válvulas bravíssimo (daqueles que embaralham em marcha-lenta, impensável em um carro de fábrica hoje em dia), tuchos mecânicos, um carburador Holley de corpo quádruplo sobre coletor de alumínio, cabeçotes de alta vazão e pistões de alta compressão (11:1) forjados em alumínio.

Como opção, podia ter dois Holleys em um coletor tipo tunnel-ram. O motorzinho, chamado de 302 HO (High Output, alto rendimento), girava feliz até 7.000 rpm e fornecia 290 cv declarados. Em 1968 aparecia também a versão "econômica" de 307 pol³ (5.030 cm³), que usava o bloco do 283 e o virabrequim do 327, o inverso do 302 "quente". E tem gente que acha que motor modular é novidade...

Com o Camaro, lançado em 1966, o V8 Chevrolet chegava às lendárias 350 pol3, de início na versão SS L48 e, de 1969 em diante, disponível a praticamente toda a linha da marca

Pouco tempo depois, em 1970, uma receita parecida com a do 302 HO foi usada para criar o famoso LT1, mas aí o motor tinha todas as gloriosas 350 pol³, para 370 cv quando instalado no Corvette e 360 cv no Camaro. Apesar de a potência declarada ser menor que a dos 327 injetados da década de 1960, este motor é considerado o mais potente V8 small-block de primeira geração. É só olhar o que era capaz de fazer: levava o pesado Camaro Z/28 de 0 a 96 km/h em apenas 5,8 segundos, a caminho de completar o quarto-de-milha em 14,2 s, a 161 km/h. E nessa época pneu de perfil baixo era série 70, roda enorme era de 15 pol e radial era algo exótico...

Aquele ano viu ainda o nascimento do maior small-block de primeira geração, de 400 pol³ (6.555 cm³), criado já de início como um motor de baixo giro e alto torque, ideal para carregar os gigantescos carros americanos com silêncio e relativa economia de combustível. Em relação ao 350, este bloco diferente tinha diâmetro e curso maiores: 104,8 x 95,2 mm. A lógica era substituir as versões mais mansas dos enormes big-block (396 pol³/6.489 cm³ e 402 pol³/6.586 cm³) por um motor pelo menos 50 kg mais leve.
Continua

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