O Coupe DeVille, um duas-portas
sem coluna central e de vidro traseiro envolvente, estreava em 1949 em
meio a uma grande fase para a marca
No modelo 1952, acima, o
para-brisa vinha inteiriço; o motor V8 de 5,45 litros e 160 cv dava-lhe
um desempenho entre os melhores do mercado |
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O
idioma francês deu nome a várias configurações de carroceria dos
automóveis. É o caso de coupé (derivado do verbo couper, ou cortar, e
aportuguesado para cupê), de cabriolet (usado em carros conversíveis) e
de landaulet ou landaulette (em que apenas a parte traseira da cabine
tinha uma capota rebatível), todos eles originários do tempo das
carruagens. O mesmo vale para a expressão coupé de-ville, ou cupê de
cidade, uma carruagem em que não havia capota sobre o condutor.
Coupe DeVille foi também a charmosa definição escolhida pela Cadillac, a
divisão mais sofisticada da General Motors nos Estados Unidos, para um
novo tipo de cupê apresentado na linha 1949. Embora não se tratasse de
um modelo aberto sobre o motorista, ele ainda assim combinava a
concepção básica de um cupê a um agradável elemento dos conversíveis:
quando as janelas laterais eram abertas, criava-se um amplo vão livre
por não existir coluna central. Essa ideia logo ganharia o nome de
hardtop, por deixar os cupês com o aspecto de um conversível com a
capota fechada, e se espalharia pela indústria.
A Cadillac vivia então um grande momento. Depois de manter por dois
anos-modelo (1946 e 1947) as linhas usadas até que a Segunda Guerra
Mundial interrompesse a fabricação de automóveis, a divisão de luxo da
GM havia lançado a linha 1948 com uma inovação em estilo: as aletas ou
"rabos de peixe" nos para-lamas traseiros, inspiradas no avião de caça
P-38 Lockheed Lightning, que se tornariam um elemento de identificação
da marca por anos e tomariam conta dos carros norte-americanos.
O Coupe DeVille assumia o topo da série 62 da Cadillac, uma das duas (a
outra era a 61) que usava chassi com menor distância entre eixos, 3,20
metros, enquanto a série 60 tinha o de 3,37 m, e a série 75, o de 3,45
m. Seu comprimento chegava a 5,43 m. Além desse novo hardtop, a série 62
compreendia o sedã de quatro portas, o Club Coupe com formato
fastback e o conversível. Das três
divisões da GM que lançaram um cupê sem coluna naquele período — as
outras foram a Oldsmobile com o 88 Holiday
e a Buick com o Roadmaster Riviera
—, a "Caddy" foi a que obteve maior percentual de vendas da linha para a
novidade.
No conjunto, o DeVille mantinha o bem-sucedido desenho da série 62, com
uma ampla grade horizontal quadriculada, capô mais elevado que os
para-lamas, robustos para-choques cromados, para-brisa bipartido e
para-lamas posteriores com aspecto destacado da carroceria e que
terminavam em suaves aletas, nas quais estavam montadas as lanternas. O
vidro traseiro envolvente em três partes, exclusivo da versão,
completava o estilo elegante e de bom gosto.
O interior requintado trazia bancos inteiriços que podiam levar no total
seis pessoas, alavanca de câmbio na coluna de direção e um grande
volante de três raios com aro para comando de buzina. O painel era
dominando pelo velocímetro em forma quase horizontal; rádio e
aquecimento interno eram opcionais. Mas o DeVille — como os outros
Cadillacs 1949 — guardava algo mais para surpreender o seleto público a
que estava destinado, o mesmo que adquiria automóveis de luxo das marcas
Imperial (da Chrysler),
Lincoln (da Ford) e Packard.
Aproveitando a promessa de gasolina de
octanagem mais alta feita pelo governo após a guerra, a GM
desenvolveu um motor V8 de concepção mais avançada, com válvulas nos
cabeçotes, taxa de compressão mais
elevada, curso de pistões menor que o diâmetro de cilindros (o que
favorecia as altas rotações) e importante redução de peso sobre o motor
em "L" anterior, da ordem de 90 kg. De início com 331 pol³ (5,45 litros)
e um carburador de corpo duplo, o V8 previa meios de grande ampliação de
cilindrada e de aumento da taxa até 12:1 quando a gasolina superior
chegasse ao mercado — na fase inicial ela foi mantida em moderada 7,5:1.
Continua
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