Foguete de longo alcance

Impulsionado pelo motor Rocket, o Oldsmobile 88 consagrou-se
pelo desempenho e escreveu uma história de meio século

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação



Sedã, cupê, conversível e perua: as opções do modelo 1949 do Olds 88, cujo motor fez tanto sucesso que logo substituiu o de seis cilindros

Válvulas no cabeçote, taxa de compressão mais alta e curso curto dos pistões davam ao Rocket um desempenho superior ao padrão da época

De sua fundação por Ransom E. Olds, em 21 de agosto de 1897, até que a General Motors a extinguisse, em 29 de abril de 2004, a marca Oldsmobile esteve presente no mercado dos Estados Unidos por 106 anos, período em que produziu mais de 35 milhões de automóveis. E em quase metade de sua existência — exatos 50 anos —, um modelo ocupou os saguões de suas concessionárias em numerosas gerações, versões de carroceria e de motorização, mantendo-se como seu carro mais vendido de 1950 até 1974: o Eighty-Eight ou simplesmente 88.

O primeiro 88 apareceu em 1949 com uma proposta semelhante àquela que, em 1964, daria origem ao primeiro "carro musculoso" (muscle car) da indústria norte-americana, o Pontiac GTO. A Olds combinou a plataforma A do modelo 76, de menor porte e dotado de motor de seis cilindros, a um vigoroso V8 de cilindrada relativamente alta, 303 pol³ ou 5,0 litros. Denominado Rocket (foguete), o motor desenhado por Gilbert Burrell adotava válvulas nos cabeçotes — até então era comum que ao menos parte delas viesse na lateral do bloco —, acionadas por um comando no meio do "V" de cilindros, e desenvolvia potência de 135 cv e torque de 36,3 m.kgf (valores brutos, padrão neste artigo até 1971) com um carburador de corpo duplo.

Ao usar diâmetro de cilindros maior que o curso dos pistões (configuração superquadrada), a Olds conseguiu um motor apto a alcançar e manter rotações mais altas que os demais V8 de seu tempo. O projeto previa uma taxa de compressão elevada, de até 12:1, mas a gasolina disponível nunca alcançou a octanagem necessária para que isso se tornasse viável, ficando o primeiro Rocket com 7,25:1. Mesmo assim, o modelo intermediário entre o 76 e o 98 — chamado de Futuramic 88 — obteve desempenho dos melhores entre o que havia no mercado à época, o que renovou a imagem da marca, mais associada a carros conservadores. A Cadillac lançou na mesma época um V8 de características similares, mas com projeto próprio.

Oferecido como cupê, conversível, sedã de quatro portas e perua com parte lateral em madeira, o 88 seguia o padrão de estilo de seu tempo, com perfil alto, linhas arredondadas, seção central do capô mais alta que as laterais e para-lamas traseiros salientes (os dianteiros já vinham bem integrados ao corpo da carroceria). Media 5,18 metros de comprimento e 3,07 m de distância entre eixos. A mecânica era tradicional, com tração traseira, caixa de câmbio automática HydraMatic de duas marchas como padrão, suspensão dianteira independente e traseira por eixo rígido.

Foi um absoluto sucesso. A marca saiu de 172,5 mil automóveis produzidos em 1948 para 408 mil dois anos depois, passando por 288 mil em 1949, o que já havia sido um recorde. A revista Popular Mechanics relatava em 1950 que "o evidente êxito do motor Rocket fez a Oldsmobile eliminar seu 76, o modelo de seis cilindros, a partir de outubro. O 88 dominou o mercado entre compradores da marca e, enquanto a produção tem aumentado e aumentado, a demanda continua alta. Até mesmo a produção do 98 foi reduzida para abrir espaço para mais 88".

O motor Rocket (curiosamente chamado por muitos no Brasil de "roquete", com tônica no "e") ganhou tal fama no mercado que se tornou mais conhecido que o próprio 88, às vezes referido como Rocket 88. De fato, a Olds adotou em 1950 um foguete como logotipo do modelo, aplicado à tampa do porta-malas e, em pouco tempo, em toda sua publicidade. Afinal, os EUA viviam um período de fascinação pelo espaço, em que foguetes, turbinas e elementos associados serviriam de inspiração para o estilo dos automóveis por toda a década.

Além do foguete, o 88 de 1950 trazia a opção de um cupê hardtop (chamado de Holiday), para-brisa inteiriço em vez de bipartido e caixa manual de três marchas em alternativa à automática. Para o ano seguinte, a descontinuação do modelo 76 deixou o 88 como carro mais acessível da gama Olds, toda ela agora movida pelo motor Rocket V8. Saía o mais simples, chegava o mais sofisticado: o Super 88 vinha com interior mais luxuoso e carroceria maior, sobre a plataforma B da GM, com 3,10 m entre eixos.

A Popular Mechanics fez uma pesquisa com proprietários dos modelos 1951 em que 93% disseram-se entusiasmados com o motor Rocket. O estilo Futuramic, o acabamento interno, a suspensão e a visibilidade também foram muito elogiados, enquanto nível de ruído do motor, problemas com carburador e barulhos internos consistiram nas maiores críticas. Na opinião de 68% dos donos, o próximo carro seria outro Olds. Continua

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Data de publicação: 25/9/10

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