Cupê ou conversível, ao sabor do
momento: o
20Cœur, que previu as linhas do 206, inspirava-se no teto retrátil do
402 Eclipse dos anos 30
Com três ou cinco portas, o 206
mostrava as linhas atraentes no Salão de Paris de 1998; amplo para-brisa
e faróis alongados eram destaques |
Como
a concorrente mais direta em seu país — a Renault —, a francesa Peugeot
tem um longo histórico em carros pequenos, adequados a um continente de
cidades antigas com ruas estreitas e alto preço de combustível. Desde
1929 ela mantém o padrão de designação composto pelo número da série
(relativo a tamanho e segmento de mercado), um zero no meio e o último
algarismo referente à geração.
O primeiro modelo a usá-lo foi o 201,
lançado naquele ano e que correspondia ao 201º projeto da empresa. Tinha
versões sedã e conversível com motor de 1,1 litro e 25 cv. Nove anos
mais tarde aparecia o 202, com carrocerias
sedã, conversível e até furgão, mesma cilindrada do antecessor e 30 cv.
Interrompida pela Segunda Guerra Mundial, sua produção foi retomada em
1946. Abriu espaço para o 203 dois anos
mais tarde, com linhas inspiradas em carros norte-americanos, motor de
1,3 litro e escolha entre sedã (com ou sem teto retrátil de lona), cupê,
conversível, perua e furgão. Encerrada sua fabricação em 1960, a série
200 ficou fora do mercado por cinco anos até que estreasse o
204. Era um carro bem menor, de quatro
metros e motor de 1,1 litro, e oferecia as mesmas carrocerias do 203,
exceto o sedã de teto retrátil.
Quando ele deixou a linha, em 1976, seguiu-se mais um intervalo de sete
anos até a chegada do 205, um dos
maiores sucessos da Peugeot. Menor que os antecessores, com 3,7 metros,
usou uma ampla gama de motores de 950 cm³ a 1,9 litro e ofereceu versões
hatch e conversível. Mais de cinco milhões ganharam as ruas. Enquanto
ele envelhecia, a intenção da Peugeot era lançar não um sucessor direto
do 205, mas duas alternativas ao redor de seu segmento — o menor 106 e o
maior 306, lançados em 1991 e 1993, na ordem — para que o bem-sucedido
compacto pudesse permanecer em linha enquanto houvesse interesse do
mercado. Contudo, o êxito de vendas de seus concorrentes mostrou à
direção da marca francesa que havia espaço entre eles para um novo
membro da série 200, cuja denominação não poderia ser outra: 206.
No Salão de Genebra em março de 1998 era apresentado um atraente
carro-conceito com o nome Vingt Cœur, um pequeno cupê com teto rígido
retrátil como o do Mercedes-Benz SLK, trazendo de volta a solução do
pioneiro Peugeot 402 Eclipse de 1934. O
nome, em que Vingt é 20 e Cœur significa coração — representado por tal
figura no logotipo do modelo —, tinha a mesma pronúncia em francês que a
palavra vencedor. Àquela altura já se sabia que o conceito antecipava as
linhas modernas do que se tornaria o 206. Seis meses mais tarde o novo
Peugeot fazia sua estreia do Salão de Paris — e cativou de imediato
pelas formas arredondadas, desenhadas com grande inspiração.
Os faróis que lembravam olhos de felinos, habituais na marca, estavam
mais alongados e faziam conjunto com a tomada de ar inferior de grande
dimensão, enquanto a grade era bem reduzida. Para-brisa muito amplo e
inclinado, lanternas traseiras amendoadas e colunas posteriores em forma
triangular compunham o aspecto moderno do 206, típico da década que
estava por vir. No interior também predominavam linhas arredondadas. Com
uma plataforma inédita, que não chegou a ser compartilhada com a sócia
Citroën (o C3 usou uma nova e seu antecessor Saxo tomava emprestada a do
106), o 206 mantinha a concepção de motor transversal e tração dianteira
lançada no 205, mas era um pouco maior: 3,83 metros de comprimento e
2,44 m de distância entre eixos, ante 3,70 e 2,42 m do modelo
substituído.
Quatro motores o equipavam de início: as unidades a gasolina de 1,1, 1,4
e 1,6 litro da linha TU, todas com comando de
válvulas no cabeçote e duas válvulas por cilindro, que forneciam
potência de 60, 75 e 90 cv e torque de 9,3, 11,3 e 13,8 m.kgf, na mesma
ordem; e o propulsor DW8 de 1,9 litro a diesel, ainda de
aspiração natural, com 70 cv e 12,7
m.kgf. Enquanto a suspensão dianteira seguia o universal conceito
McPherson, a traseira mantinha-se fiel à escola francesa com o sistema
independente por braço arrastado e barras de torção, similar ao do 205 (saiba
mais). Encarregavam-se da produção as fábricas francesas de Poissy e
Mulhouse e a britânica de Ryton, que a Peugeot havia adquirido com as
operações do braço europeu da Chrysler em 1979.
Para suceder ao lendário 205 GTI, o 206 esportivo aparecia em 1999 com a
mesma sigla, a não ser no mercado francês, onde era chamado de S16 em
alusão às 16 válvulas (soupapes no idioma local). O interessante
conjunto vinha composto de motor de 2,0 litros e 16 válvulas com 136 cv
e 19,4 m.kgf, suspensão mais firme, rodas de 15 pol com pneus 185/55 e
visual diferenciado com aletas no para-choque dianteiro. Velocidade
máxima de 210 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 8,4 segundos
indicavam o bom desempenho da versão. Uma variação do GTI, o 206 GT,
vinha no mesmo ano para homologação do modelo para o Campeonato Mundial
de Rali, WRC (leia boxe sobre corridas).
Os para-choques um tanto protuberantes, que o faziam alcançar o
comprimento mínimo de quatro metros exigido pelo regulamento, davam um
ar diferente a esse esportivo. Continua
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