A hora da virada

Ao desfazer a parceria com a Fiat e entrar no grupo Volkswagen,
a Seat apostou suas fichas no compacto Ibiza — e deu certo

Texto: Thiago Mariz - Fotos: divulgação

Linhas retas dominavam a primeira geração do Ibiza, desenhada por Giugiaro e que ainda guardava elementos da antiga parceria com a Fiat

O seda Málaga ampliava a família e lembrava o Fiat Regata; embaixo a série especial Del Sol do Ibiza, com teto solar e decoração mais alegre

A história da Sociedad Española de Automóviles de Turismo, ou Seat, é bastante curiosa. A marca foi fundada em 1950 pelo Instituto Nacional de Industria, órgão ligado ao governo espanhol com o intuito de promover o desenvolvimento econômico e industrial daquele país. Desde o início contava com a ajuda da Fiat — seus produtos nada mais eram que versões levemente modificadas dos modelos italianos. Em 1982 tal parceria era encerrada e, após estabelecer uma parceria e se tornar seu maior acionista, era a Volkswagen que assumia as operações da Seat em 1990. No meio desse turbilhão todo nascia um compacto que seria o produto mais vendido da marca: o Ibiza.

O lançamento da casa de Martorell, cujo nome homenageava uma cidade espanhola, chegava marcando um novo momento: era o primeiro Seat sem ligação estética com modelos Fiat — ainda que baseado no Ronda, que por sua vez era derivado do antigo Fiat Ritmo. Com carroceria desenhada por Giorgetto Giugiaro, ele apareceu em setembro de 1984 no Salão de Paris cheio de pompa e circunstância, onde a colaboração da Porsche no desenvolvimento da parte mecânica (à exceção de um dos motores ainda de origem Fiat) era mencionada com orgulho. Seu desenho estava de acordo com o tema da época, com linhas retas e robustas. À frente os faróis quadrados eram separados pela grade simples de frisos horizontais. O para-choque de plástico, envolvente, trazia as luzes de direção e só havia um limpador de para-brisa, como no Fiat Uno. Na lateral discreta, com dois vincos marcados, a área envidraçada fazia destaque. Na traseira as lanternas quadradas faziam conjunto a uma tampa de porta-malas inclinada. Um estilo simpático e sem excessos, seja na versão de três ou na de cinco portas.

Suas medidas eram 3,63 metros de comprimento, 1,60 m de largura, 1,39 m de altura e entre-eixos de 2,44 m. O peso era baixo, com 826 kg. O interior relativamente espaçoso e simples trazia um painel de linhas retas, apenas com o básico, onde chamava a atenção a ausência de alavancas para o acionamento dos comandos: tudo era feito por grandes botões logo atrás do volante. Estavam disponíveis as versões L, GL e GLX, enquanto nomes como Disco, Designer, Del Sol e Fashion viriam em edições especiais. Na parte mecânica não havia segredos. O motor de entrada, uma pequena unidade de quatro cilindros em linha e 900 cm³ com comando de válvulas no bloco, desenvolvia potência de 44 cv e torque de 6,5 m.kgf, o suficiente para 130 km/h de velocidade máxima e mais de 18 segundos para cumprir o 0-100 km/h.

Na sequência vinham as unidades com participação da Porsche (destacada no nome System Porsche) e comando no cabeçote: a de 1,2 litro, com 62 cv e 9 m.kgf; a 1,5, com 84 cv e 11,8 m.kgf; e a 1,7 com 97 cv e 14,1 m.kgf. Havia ainda uma opção 1,7 a diesel de aspiração natural com meros 54 cv, compensados pelo razoável torque de 10 m.kgf. A suspensão era independente nas quatro rodas, com sistema McPherson na dianteira e na traseira — neste caso com feixe de molas semi-elíticas, a exemplo dos Fiats 127 e Ritmo italianos e dos 147 e Uno brasileiros, o que indica que foi aproveitado conteúdo técnico de modelos anteriores da marca. A tração era dianteira. Entre os concorrentes estavam Fiat Uno, Ford Fiesta, Opel Corsa, Peugeot 205, Renault 5 e Volkswagen Polo. No ano seguinte o hatch ganhava a companhia do Málaga, sua versão sedã. Com três volumes bem definidos e linhas retas, lembrava bastante o Regata da Fiat.

A família Ibiza, bem mais moderna que a antecessora Fura (derivada do Fiat 127 de 1971), trouxe movimento às linhas de montagem em Martorell, de onde sairiam 1,34 milhão de unidades da primeira geração. Contudo, alguns problemas de qualidade e confiabilidade mecânica foram fantasmas enfrentados pelos modelos. Isso não impediu o lançamento de uma versão de apelo esportivo. O Ibiza SXi recebia injeção eletrônica Bosch LE-2 Jetronic no motor 1,5 para obter 102 cv e 13 m.kgf, com os quais cobria o 0-100 km/h em 10 s e alcançava 185 km/h. Por fora e por dentro a decoração estava à altura com rodas diferenciadas, saias laterais, faróis de longo alcance, aerofólio traseiro e bancos esportivos. A versão de 900 cm³ do Ibiza era comparada em 1988 ao Uno 900 e ao 205 de 950 cm³ pela revista italiana Quattroruote. O Seat foi elogiado pela "boa acomodação, comando de câmbio e linha moderna", além de mostrar estabilidade e freios entre os melhores, enquanto nível de ruído do motor, conforto, desempenho e comandos do painel foram os pontos negativos.

Após sete anos de mercado a Seat promovia mudanças no Ibiza 1991, que começava a aproveitar os recursos do Grupo VW para se aprimorar em qualidade e confiabilidade. A frente mudava discretamente, com faróis em formato de trapézio e luzes de direção nas laterais, lembrando nosso Uno; frente levemente em cunha e para-choques redesenhados. Por dentro recebia um novo painel, bastante rebuscado em suas linhas retas, e novos materiais de revestimento. Perdia, porém, o acionamento de instrumentos por botões em favor das alavancas tradicionais. Novidade também era a versão Sport Line com o motor 1,7 dotado de injeção, enquanto o 1,2 ganhava o sistema eletrônico de alimentação para fornecer 71 cv e 9,7 m.kgf. Continua

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Data de publicação: 13/3/10

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