O começo: Emerson em 1963 aos 17
anos, em aquecimento para correr com a moto de 50 cm3, e três anos mais
tarde pilotando um Kart Mini
Abastecendo o GT Malzoni na Mil
Milhas de 1966, que correu com Jan Balder; note adesivos do ratinho,
apelido de Emerson, e do ovo de Jan
De capacete diante de um Fórmula
Vê ao lado do preparador
de motores Roger Resny (esquerda) e do construtor de carrocerias Chico
Picciuto |
A família mais famosa do automobilismo nacional é sem dúvida a
Fittipaldi. O pai Wilson — conhecido também como Wilsão ou Barão —,
nascido em 1920, sempre foi aficionado por automobilismo e começou a
narrar corridas na década de 1940. Homem de grandes histórias e
aventuras ligadas ao automóvel de competição, passou seu vírus para os
filhos Wilson e Emerson, nascidos em 1943 e 1946, na ordem.
Na adolescência Wilson, com incentivo do pai, começou a correr de kart.
Moravam na capital paulista e o autódromo de Interlagos era o quintal de
sua casa. O irmão menor Emerson, também apaixonado pelos automóveis, na
primeira década de vida desenhava carros e peças em seus cadernos. Anos
mais tarde, um curso técnico o ajudaria a aumentar esse interesse. Nas
provas de kart do irmão ele estava sempre presente, aprendendo de tudo e
passando rápido debaixo de cavaletes. Dentuço, franzino, leve e rápido,
logo ganhou um apelido que o acompanharia por muitos anos: Rato.
Muito determinado, Emerson começou por conta própria a estudar inglês e
a andar de bicicleta. Ganhou uma moto de 50 cm³ aos 13 anos e, como bom
observador, logo dirigia o Renault
Dauphine dos pais no litoral paulista. Pouco depois, após um passeio
com amigos em uma DKW Vemaguete,
fez sua estreia na primeira competição não oficial... com a Polícia
Rodoviária. Mas a aventura terminou bem.
As primeiras corridas profissionais foram no kart, em que sofria forte
influência do irmão. Começou aos 17 anos e vitórias não lhe faltaram. Em
1965 já começava a colecionar taças com a do campeonato paulista de
Kart, fato que se repetia no ano seguinte. E voltava a dirigir um
Renault, já com carteira de motorista e em um campeonato de verdade: um
4CV “Rabo Quente”, um tanto antiquado, mas
bem preparado. O carro tinha o número 77, que voltaria a ser usado em um
Gordini de competição da equipe Willys. Com ele, venceu uma corrida num
circuito de rua na Ilha do Fundão, na Baía da Guanabara.
Sua carreira de carros de turismo foi fantástica. Passou pelo
Interlagos berlineta da
Willys, o GT Malzoni de motor -DKW
e o Alfa Romeo 1300 GTZ em dupla com José Carlos Pace. Também da lista
constam o Karmann-Ghia Porsche,
o Volkswagen-Fittipaldi 1600, o protótipo Fitti-Porsche (construído por
ele e pelo irmão) e o ameaçador VW com dois motores 1600 unidos por uma
junta elástica. Eram 3,2 litros de cilindrada e, segundo estimativas,
quase 400 cv! Com uso de componentes Porsche, como a caixa de cambio e
peças de suspensão, fez sucesso em corridas em várias cidades, chegando
a andar na frente de protótipos importados. Mas faltava robustez e na
maioria das vezes quebrou.
Em 1967 Emerson ingressava no Campeonato Brasileiro de Fórmula Vê e já
vencia na categoria. O pequeno, mas ágil monoposto com motor VW trazia o
número 7 — o Rato era mesmo supersticioso. Ganhou três vezes no Rio e
uma em São Paulo. Competia com ele a nata do automobilismo nacional da
década de 1960: José Carlos Pace, Pedro Victor de Lamare, Bob Sharp,
Milton Amaral, Norman Casari. Também tinha ido muito bem em outras
categorias. Junto ou não com o irmão, se havia corrida, ele estava lá.
Na Três Horas de Velocidade do Rio de 1967 chegou em segundo lugar,
atrás do irmão, com o Karmann-Ghia Porsche; ganhava em Interlagos com o
mesmo carro. Na Mil Quilômetros de Brasília, Wilson chegava em primeiro
em parceria com Pace e ele em segundo em dupla com Francisco Lameirão,
de novo com o KG Porsche. A experiência em Fórmula Vê foi muito positiva
para Emerson. Pilotava bem um monoposto e demonstrava inteligência e
frieza na condução. Já com bons conhecimentos mecânicos, não castigava a
máquina.
Em 1969 partia para o Velho Continente tentar a sorte. Como seu
irmão e a maioria dos pilotos na época, foi para a Inglaterra, já com
bons contatos anotados. Trabalhando como mecânico e sujando muito as
mãos, teve a oportunidade de pilotar. Na pista holandesa de Zandvoort,
ficou na liderança até o carro quebrar. Venceu na Inglaterra no circuito
de Snetterton, um dos templos sagrados do automobilismo do Reino Unido,
junto com Brands Hatch, Silverstone e Oulton Park.
Continua
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