O começo: de Opel Ascona (no
alto), de Ford Capri ou com estas duas gerações do Escort, Vatanen
esbanjou talento e conquistou vitórias
Uma derrapagem controlada com o
Manta 400, em que sua esposa era a navegadora, e o arisco Peugeot 205
Turbo que ele assumiu em 1985 |
Finlandeses Voadores (Lentävä suomalainen) era como a imprensa se
referia a atletas da Finlândia, nas décadas de 1920 e 1930, que se
destacavam em provas de atletismo. A expressão cai como uma luva também
para pilotos nascidos naquele país que brilharam e brilham — não raro
fazendo seus carros voarem — nas competições de rali.
Os velozes nórdicos costumam ter a maestria dos ralis. Essa modalidade
teve início logo nas primeiras corridas de carros, em estradas ligando
cidades na França, Inglaterra, Itália e nos Estados Unidos. Um dos mais
importantes, o Rali de Monte Carlo, teve sua primeira edição em 1911. Por ser
muito inseguros, foram proibidos e passaram a circuitos de rua ou
autódromos. Na década de 1950, corridas entre cidades como a Targa Florio na Itália e a Carrera Panamericana
no México exigiam bastante dos pilotos e carros. O belga Willy Mairesse, o francês
Jean Trévoux e o inglês Ian Appleyard eram destaques nas provas. Já na década seguinte, Pat Moss (irmã
de Stirling) e o sueco Eric
Carlsson sempre estavam nas manchetes.
O ano de 1970 teve dois grandes ralis: a Maratona Londres-Sydney, entre
Inglaterra e Austrália, e o Rali da Copa, que começou na Europa e
terminou na cidade do México, passando pela América do Sul e a Central.
No mesmo ano começava a pilotar o finlandês Ari Pieti Uolevi Vatanen,
nascido em abril de 1952 na pequena Tuupovaara. Com 661 km² de área, a
cidade tinha 56 km² de água — e foi nos lagos congelados que Ari começou
a “brincar” de derrapagens controladas. O país nórdico sempre foi
referência em pilotos de rali, como Hannu Mikolla, Markku Alen, Timo
Mäkinen e Rauno Aaltonen, os dois últimos mais velhos que Ari. Ao
completar a maioridade, Vatanen começava a pilotar um
Opel Kadett em ralis no país. Em
sua terceira prova já tirava um segundo lugar e na sétima, em 1971,
ganhava a primeira taça no Rali Tott-Porrassalmi. Ainda nesse ano
chegava outras duas vezes em segundo.
Em 1972 corria mais três provas com esse carro e o trocava por um
Ford Capri 3000. Fez boas provas:
tirou um terceiro lugar em Kymenlaakson, ganhou o Rali de Savo e, já com
um Opel Ascona, vencia em
Kalakukkorall. A FIA, órgão máximo do automobilismo, oficializava o
Campeonato Mundial de Ralis de Construtores em 1973. Um ano depois, com
um Ascona do Grupo 2, Ari disputava o famoso Rali dos Mil Lagos, na
Finlândia. Não foi feliz, mas venceu duas provas nacionais. Em 1976
começava a correr fora de seu país, em especial na Grã-Bretanha. No
difícil Rali do Automóvel Clube Britânico RAC, já pilotava um carro
muito competitivo e de grande tradição: um
Ford Escort RS 1800 Grupo 2.
Ganhou provas importantes como o Rali Welsh, o Rali Jim Clark, a Volta
da Grã-Bretanha, o Rali Burmah, o Manx e o Lindisfarne.
Obteve notoriedade. A imprensa o citava muito, mas não o poupava por
“sair” demais das estradas. Mas foi o campeão britânico nesse ano. Em
1977 estreava em seu país com uma vitória no Rali do Ártico, vencia o
Rali da Escócia e o Rali Nokia na Finlândia. Já no Mundial, participou
do Rali de Portugal e do Safári na África sem sucesso, mas tirou segundo
na Nova Zelândia. Também participava com seu Escort do Campeonato
Europeu de Turismo. No ano seguinte faturava outra prova fora de casa,
em Donegal e no Cork 20 Rally, ambos na Irlanda. Outro bom triunfo foi
no arquipélago português da Ilha da Madeira. Em 1979, corria o Rali de
Monte Carlo com um Ford Fiesta 1600,
tendo como co-piloto David Richards. Seria uma parceira duradoura e
muito importante na carreira do piloto. Juntos, tiraram terceiro na Nova
Zelândia e segundo no Mil Lagos pelo Mundial.
Já no campeonato inglês, tornaram a ganhar no Chipre — que fora colônia
inglesa por alguns anos — e no Rali Castrol, em território britânico. No
ano ainda competia em Turismo, ora de Escort RS, ora de
Triumph TR7. A década de 1980 traria
glórias muito importantes ao finlandês. Na Grécia, no Rali
Acrópole, ganhava sua primeira prova mundial com Richards e o Escort RS
1800. Aos 28 anos enfrentava no campeonato pilotos de renome como o
alemão Walter Röhrl, os suecos Björn Waldegård e Stig Blomqvist, os
franceses Bernard Darniche e Guy Fréquelin e seus compatriotas Timo
Salonen, Markku Alen e Hannu Mikkola — quase todos bem mais experientes
que ele. Estavam na competição carros do quilate de
Lancia Stratos HF,
Fiat 131 Abarth, Ascona 400, Talbot Sunbeam
Lotus, Datsun 160J e
Mercedes-Benz 450 SLC.
Continua
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