O mantuano voador

Piloto em tempos de velocidade sem segurança, Tazio Nuvolari foi rápido,
talentoso e com uma coragem definida por Ferrari como não humana

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Acima e no alto, Tazio Nuvolari com um Auto Union "flecha de prata": a equipe alemã contratou-o em 1938, mas a guerra abreviou sua atuação

Com a moto Bianchi, que lhe deu fama nos anos 20, e nos Alfas 6C 1750 da Coppa della Consuma (centro) e da Mille Miglia de 1930 (embaixo)

O período entre as duas grandes guerras foi marcado por verdadeiros heróis do volante, homens arrojados que domavam carros muito potentes, mas com mínimas condições de segurança, e os levavam a altíssimas velocidades. São dessa época nomes como os do francês Jean-Pierre Wimille, dos alemães Bernd Rosemeyer e Rudolf Caracciola e dos italianos Achille Varzi e Tazio Nuvolari.

Tazio Giorgio Nuvolari nasceu em 16 de novembro de 1892 em Castel d'Ario, próximo de Mântua, na Lombardia. Era o quarto filho do fazendeiro Arturo Nuvolari e de Elisa Zorzi. Na infância, não mostrava dedicação para os estudos, preferindo os esportes. Admirava e tentava imitar seu tio Giuseppe, um campeão de ciclismo que chegou a ter bons resultados com motocicletas. Aos 13 anos, em 1904, assistiu pela primeira vez a uma corrida de automóveis, o Circuito de Bréscia, que o impressionou pela velocidade e pelo talento dos pilotos.

Foi também nessa época que Giuseppe ensinou-lhe a pilotar uma motocicleta. Tazio, numa noite, pegou escondido o carro do pai para uma volta a emocionantes — para a época, claro — 30 km/h, como ele contaria mais tarde. A habilitação para conduzir motos ele obteve aos 23 anos, mas logo veio a Primeira Guerra Mundial e o jovem foi colocado como motorista do Exército. Certo dia, enquanto dirigia a serviço, saiu da estrada e ouviu do oficial que o acompanhava: "Esqueça dirigir. Você não serve para isso".

Em novembro de 1917 Tazio casava-se com Carolina Perina e, já em setembro seguinte, nascia o primeiro filho do casal, Giorgio. As pistas de competição não saíam de seus objetivos e, em junho de 1920, ele participava da primeira prova com uma moto, o Circuito Internazionale Motoristico, em Cremona, o qual não concluiu. Em março do ano seguinte vinha a primeira corrida com automóvel: ao volante de um Ansaldo, foi terceiro colocado na Coppa Veronese di Regolarità, uma prova de trial. Em 1922 participou de três corridas de moto e uma de carro, o Circuito del Garda, em que foi o segundo.

A carreira profissional nas pistas começava em 1923, aos 31 anos, mas Nuvolari ainda conseguia melhores resultados em duas rodas que em quatro, tendo corrido com carros Diatto e Chiribiri. Um quadro que passava a mudar um ano depois, com a vitória no Circuito Golfo del Tigullio, dirigindo um carro Bianchi com motor de 2,0 litros. Em outra prova, o Circuito del Savio, ele conheceu o então jovem Enzo Ferrari. Embora pilotasse um Alfa Romeo RL Sport de 3,0 litros
o dobro da cilindrada do Chiribiri tipo Monza dirigido por Tazio —, Ferrari contaria depois: "Percebi que ele era o único que poderia ameaçar meu sucesso".

Apesar de manter as motos como sua prioridade — brilhava com sua Bianchi 350, a "Freccia Celeste" ou flecha azul-celeste —, Nuvolari não se afastava dos carros de corrida. Em 1925 pilotava um Alfa Romeo P2 de Grande Prêmio e esbanjava talento, fazendo cinco voltas mais rápido que Giuseppe Campari e Attilio Marinoni e quase tão veloz quanto o recorde de Antonio Ascari (então recém-falecido) do ano anterior. Poderia até ter assumido o lugar de Ascari na equipe Alfa Romeo, mas não foi aceito pelo diretor Vittorio Jano. No ano seguinte Tazio sofria três graves acidentes, a ponto de um jornal alemão ter anunciado sua morte.

Sua primeira Mille Miglia (prova italiana com 1.600 quilômetros de extensão) era disputada em 1927. No ano seguinte ele escolhia os carros como prioridade e abria sua equipe de corridas, a Scuderia Nuvolari, com dois Bugattis de Grande Prêmio. A primeira vitória internacional vinha logo na estreia, em março de 1928, no GP de Trípoli. Venceu também o Circuito del Pozzo em Verona e o Circuito di Alessandria, mas o ano seguinte foi bastante difícil, tendo se rompido a parceria que mantinha com Achille Varzi. Boas notícias, porém, esperavam o piloto em 1930: Jano agora o desejava em sua equipe e o contratou para correr com o 6C 1750. Na quarta Mille Miglia, a vitória veio com um tempo recorde e média de velocidade acima de 100 km/h. Continua

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Data de publicação: 13/9/11

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