Planejado como um Edsel, o Comet
chegava como sedã e perua de duas ou quatro portas, sempre com motor de
seis cilindros e 2,4 litros
A versão S-22 (em cima a de
1963) trazia um toque esportivo; um ano depois (embaixo) aparecia o
Comet Cyclone com motor V8 de 4,8 litros
Faróis empilhados em 1965 o
deixavam parecido com os Fords; com a opção do motor de 271 cv usado em
Daytona, estava bastante rápido |
Existem casos na história da indústria norte-americana, com seu ritmo
frenético de remodelação de automóveis, em que um mesmo modelo cumpriu
diferentes papéis no mercado. O Mercury Comet e seu derivado Cyclone
estão entre esses casos. Inserido inicialmente como um compacto pelos
padrões dos Estados Unidos, o Comet evoluiu para um médio, participou da
fase áurea dos "carros musculosos" por meio do Cyclone e, passado esse
período, voltou a ser apenas um compacto.
No fim da década de 1950, a intenção da Ford era oferecer um modelo
menor na linha Edsel, lançada
como nova divisão para 1958. Contudo, o fracasso da série levou a seu
encerramento já em 1960. O Comet então chegou ao mercado como modelo
independente, da mesma forma que o Valiant na
Chrysler, e vendido pelas concessionárias Lincoln-Mercury para buscar um
prestígio superior ao da marca Ford. A alteração de nome foi feita bem
próxima do lançamento, a ponto de terem sido dadas instruções às
revendedoras sobre como modificar seus letreiros luminosos de Edsel
para Comet, aproveitando a similaridade das letras.
A plataforma do compacto Ford Falcon teve a
distância entre eixos ampliada de 2,78 para 2,89 metros, o que o
colocava próximo a um modelo médio da época, como o Ford Fairlane. Com a
traseira também mais longa para aumentar o espaço de bagagem, o carro
era 35 centímetros mais comprido que o Falcon. Seu estilo ainda mostrava
um pouco dos excessos dos últimos anos 50, como aletas ("rabos de
peixe") nos para-lamas traseiros, que terminavam em lanternas ovaladas,
e uma série de vincos e adornos. Havia opção entre sedã e perua, ambos
com duas ou quatro portas, em que a tampa traseira da perua se abria
para baixo após o vidro ser rebaixado dentro dela. Um só motor estava
disponível: o de seis cilindros em linha e 2,4 litros do Falcon, cuja
modesta potência bruta (padrão neste
artigo) de 90 cv requeria mais de 20 segundos para o levar de 0 a 96
km/h.
Sem grandes mudanças visuais, o Comet 1961 trazia a primeira versão de
apelo esportivo, a S-22. Era um cupê com bancos dianteiros individuais,
console central, volante esportivo com raios de aço inox e calotas
exclusivas. O motor da versão era o 170 de seis cilindros em linha, 2,8
litros e 101 cv, com caixa automática Comet Drive de duas marchas em vez
da manual de três. Agora inserido na gama Mercury, o modelo 1962 vinha
renovado com linhas mais discretas, dentro do padrão da época. As aletas
na traseira eram pequenas e sutis e a ampla grade de frisos verticais
alojava quatro faróis circulares. Novidade era o cupê
hardtop de linhas mais informais. No ano
seguinte aparecia o primeiro motor V8 do Comet, o bloco pequeno de 260
pol³ (4,3 litros) e 164 cv, também aplicado ao Falcon. Chegava também um
conversível com acionamento elétrico da capota.
Uma remodelação de estilo para 1964 deixava o Mercury com aspecto de
maior tamanho. Embora a frente mudasse pouco, as laterais traziam mais
vincos e a traseira extinguia de vez os "rabos de peixe". A opção do
motor V8 de 289 pol³ (4,8 litros) e 210 cv trazia importante ganho de
desempenho. Já em janeiro daquele ano a empresa anunciava o Comet
Cyclone, um pacote visual para o cupê hardtop que trazia, além do citado
motor, bancos individuais, console central, conta-giros no painel,
calotas que simulavam rodas cromadas e o mesmo acabamento em componentes
do motor como o filtro de ar. Quatro Comets com o 289 preparado para 271
cv percorreram 100 mil milhas (161 mil quilômetros) em Daytona a média
superior a 165 km/h.
A exemplo do Fairlane e do Galaxie,
o Comet vinha em 1965 com dois faróis empilhados de cada lado em vez da
linha horizontal usada até ali. O Cyclone era agora uma versão normal de
linha com o motor 289 de carburador quádruplo, um pouco mais potente do
que antes (225 cv), enquanto o Comet básico tinha carburador duplo e 195
cv. A versão de 271 cv usada em Daytona podia equipá-lo sob encomenda
para um desempenho muito interessante. O antes comportado Mercury
entrava para o grupo dos "carros musculosos", inaugurado no ano anterior
pelo Pontiac GTO.
Continua
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