Carro potente, sexo frágil

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Em um evento só para mulheres a Audi apresenta o R8 com motor
V10 de 525 cv, capaz de acelerar de 0 a 100 em quatro segundos

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: Roberto Agresti (pista) e divulgação

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Requinte técnico: estrutura e carroceria de alumínio, tração integral e um motor com muita tecnologia para competir com marcas tradicionais

A Audi aproveitou a comemoração do Dia Internacional da Mulher, nesta segunda-feira (8), para dar a motoristas do sexo feminino uma oportunidade rara: dirigir no Autódromo José Carlos Pace, no bairro paulistano de Interlagos, diversos modelos da marca e até mesmo o superesportivo R8 na nova versão V10 FSI, orientadas pela piloto de Fórmula Indy Bia Figueiredo. Com motor de 5,2 litros e potência de 525 cv, o carro está à venda no Brasil desde dezembro ao preço sugerido de R$ 696.500 (leia boxe abaixo com o depoimento de Regina Garjulli).

Lançado no ano passado no Salão de Detroit, esse R8 mais potente pega emprestado o motor do Lamborghini Gallardo, já que a empresa de origem italiana está nas mãos da Audi — portanto, sob o guarda-chuva do grupo Volkswagen — desde 1998. Sem recorrer a turbo ou compressor, a unidade de 10 cilindros em "V" a 90 graus e 5.204 cm³ usa injeção direta (que permite a alta taxa de compressão de 12,5:1 apesar das grandes dimensões das câmaras de combustão), coletor de admissão com geometria variável e quatro válvulas por cilindro com ajuste contínuo do tempo de abertura (em ampla variação, até 42 graus) para obter a elevada potência de 525 cv a 8.000 rpm (exatos 100,9 cv/litros de potência específica) e o torque máximo de 54 m.kgf a 6.500 rpm. O limite de giros de 8.700 rpm deixa margem para acelerar quase 10% acima do pico de potência. A lubrificação a cárter seco permite montagem mais baixa, com efeito sobre o centro de gravidade do carro. Exposta sob o vidro traseiro em sua posição central, que contribui para a distribuição de peso com 56% na traseira, essa joia mecânica pesa apenas 258 kg, diferença de 31 sobre o V8 de 4,2 litros e 420 cv usado pela versão de entrada do R8 (leia avaliação).

Com isso, o R8 V10 dotado de caixa manual automatizada R-Tronic de seis marchas pesa razoáveis 1.625 kg (5 kg a mais que o manual de mesmo número de marchas, não disponível no Brasil) e impõe meros 3,1 kg para cada cv transportar. O resultado não poderia ser outro que um desempenho de impressionar: aceleração de 0 a 100 km/h em 3,9 segundos, de 0 a 200 em 12 s e velocidade máxima de 316 km/h, de acordo com o fabricante. Embora não conte com dupla embreagem como a S-Tronic da mesma marca (há uma embreagem só, embora de disco duplo), a caixa tem eficiência tão elevada que o tempo de 0-100 é igual para ambas as versões, enquanto o 0-200 chega a ser 0,3 s mais rápido no caso da automatizada. Pode ser usada em modos normal e esportivo, além do automático, e admite mudanças manuais pela alavanca no console (troca ascendente para frente, redução para trás) ou pelos comandos do tipo borboleta atrás do volante. Continua

O tigre dentro do gatinho
Ao ser avisada que pilotaria um carro de mais de 500 cv em Interlagos, meus dedos foram imediatamente parar na boca e o esmalte novinho começou a ser roído. Como assim, 500 cv? Em Interlagos? E por que eu?

Segundo meu marido — Roberto Agresti, colaborador do Best Cars —, de quem recebi o convite-intimação, a oportunidade não era para ser perdida. Afinal, um carro de R$ 700 mil (!!!) não é todo dia que se pode dirigir, e ainda mais numa pista lendária como Interlagos. Engoli a saliva com esmalte e topei.

A ideia da Audi era homenagear o Dia Internacional da Mulher convidando jornalistas e vips — só mulheres — para andar em seus carros, e de quebra montou um verdadeiro "circo" nos boxes de Interlagos, com bufê chique, esteticistas e presentes finos para as eleitas. Eu entre elas. A estrela da festa seria o tal carro de 500 cv e R$ 700 mil, o Audi R8 V10, mas não faltaram outras atrações como o S3, o A6, o Q5, o Q7 e o TT-S. Andei em todos eles.

Com alguns na pista, caso do TT-S e do A6, no qual o alvo era ver como funcionava um controlador de velocidade espertinho que freava o carro sozinho quando a distância do carro da frente (um A4) diminuía. Já no Q5 o teste era um slalom na área dos boxes, para sentirmos a diferença do ajuste eletrônico das suspensões, enquanto no grande Q7 a tarefa era uma baliza com ajuda do sistema eletrônico.

É claro que, antes de soltar as madames nestes finos artigos de transporte, a Audi se encarregou de realizar uma apresentação sobre a tecnologia aplicada a cada carro, assim como quanto aos segredos do circuito de Interlagos, o que não aplacou em nada minha ansiedade. E dá-lhe esmalte roído...

No entanto, logo na primeira volta na pista, no grande sedã A6, vi que não havia motivo para medo, pois "anjos da guarda" — no caso desse carro uma "anjinha", uma jovem instrutora — nos acompanhariam avisando o que fazer e especialmente o que não fazer. Ainda bem! E os minutos foram passando. Entra num carro, entra noutro, e nada de chegar minha vez de andar no R8 V10, a estrela maior da festa. Quando estava quase desistindo, me chamaram.

"Regina!"

Mãos (trêmulas) no volante. Um painel de nave espacial. Atrás de mim, em vez de um banco de passageiros, um motor com quatro vezes mais potência do que o do carro que dirijo todo dia. Ave! Lembrei-me de meu pai, o Tico, e de seus caminhões. O basculante International 1958 e o Chevrolet 1956. Lembrei-me da garagem na casa da minha infância, do cheiro de óleo, da bancada da oficina, dos câmbios desmontados e dos apelidos que ele deu a mim e a meus irmãos: eu era a biela, minha irmã Rosana a "virabrequim" e meu irmão Cláudio o "pistão", claro. Pensei comigo mesmo: "Não posso decepcionar!".

Na janela do R8 V10, meu marido deu uma ordem: "Acelera fundo!". E para meu horror o instrutor de pilotagem sentado ao meu lado respondeu um "pode deixar" em tom enfático. Ai, ai, ai...

Percorri a área dos boxes rumo à saída para a pista em velocidade de procissão, com muita vontade de olhar para aquele espetacular painel, para os detalhes de fibra de carbono, para o revestimento do interior daquela nave espacial, mas sabia que era mais saudável olhar para a frente. Quando termina aquela área, uma curva para a esquerda em descida nos direciona para um corredor de guard-rails que me pareceu bem mais estreito e ameaçador do que minutos antes, quando passei ali com o A6 e com o TT-S. Sim, claro, porque o R8 parece mais largo e certamente é mais baixo que eles.

Assim que entrei de fato na pista, o instrutor ordenou: "Acelera fundo". Havia decidido passar as marchas com a alavanca no console em vez de usar as borboletas atrás do volante, por uma simples questão de simplificar as coisas para mim, já bastante intimidada com tudo para assumir mais um aprendizado naquela situação.
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Não consegui fazer o que meu marido pediu ("leve o conta-giros até a faixa vermelha!"), pois o trecho de reta me pareceu muito curto e empurrei a alavanca do câmbio para frente antes do ponteiro chegar a 8.000 rpm, quando o motor do meu carro de todos os dias já teria virado fumaça.

Mas o que senti já foi suficiente: um empurrão daqueles de avião a jato decolando; aliás, até mais forte. E na cabine o ruído vindo do motor indica mesmo que algo explosivo está acontecendo logo ali atrás, onde normalmente nos carros que guio estão crianças gritando. Os 525 cv estão todos ali, furiosos, mas contidos, controláveis. Bem mais do que as crianças, por sinal. O volante é firme e o acelerador responde com vigor, mas não de maneira nervosa, que transmita insegurança. O mais assustador é realmente o empurrão quando o acelerador é levado até o fundo e, acreditem, na minha volta em Interlagos isso aconteceu mais de uma vez.

Sim, porque depois do susto inicial na reta da saída dos boxes — que soube depois se chamar "reta oposta" — acelerei fundo mais uma vez na retinha seguinte, e aí fui mesmo até a tal faixa vermelha, ou quase. Depois da experiência de ter as costas coladas ao banco, senti os olhos saírem da órbita e meu pesado colar puxar o pescoço para frente por causa dos freios, que, mesmo com pista úmida, reduziram a velocidade de um jeito excessivo para a curva seguinte. Naquele lugar que o instrutor me disse ser o "miolo" da pista, notei o quanto esse Audi é ambíguo. Um tigre quando se coloca o pé no fundo, mas um gatinho se levado como levo meu carro na volta do supermercado, quando não sei onde foi parar a caixa de ovos, que imagino sempre esmagada pela pesada garrafa de suco de uva.

Meu sonho de dona de casa foi bruscamente encerrado pela voz do instrutor, me ordenando para parar e sentir "o torque" e a "capacidade de tração" do sistema Quattro que, como me disseram na apresentação, distribui a força do motor pelas quatro rodas de maneira inteligente. E então o rapaz me mandou colocar primeira com o bico do carro apontando para uma caixa d’água em forma de disco voador, o que me fez pensar "vamos parar lá em cima?". Sabia que aquela era a entrada da reta de chegada de Interlagos e que minha experiência com o R8 V10 estava para terminar.

Então criei coragem e acelerei fundo mais uma vez: em nome do meu pai, o Tico, do meu marido e de todos vocês leitores do Best Cars, que — muito mais do que eu — mereceriam estar pilotando esse maravilhoso carro. E novamente senti as costas grudadas no banco, os cavalos gritando atrás das minhas costas e a espetacular sensação de pilotar um carro realmente especial. E, por que não dizer, paradoxal, pois ao mesmo tempo em que consegue reunir o máximo em termos de tecnologia, potência, estilo e acabamento, permite a uma mera mortal pilotá-lo decentemente (acho) em Interlagos e entender o que leva muitos "meninos", e até algumas "meninas", a desejarem fortemente este estupendo R8 V10, um belíssimo poço de alta tecnologia.

Regina Garjulli

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Data de publicação: 9/3/10

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