Conservador, mas com bom desempenho, o grande sedã
sul-coreano tem boa oferta de usados a valores convidativos
Texto: Luiz Fernando Wernz – Fotos: divulgação
Na fase de ressurreição da Hyundai no Brasil, durante a década de 2000, os superlativos usados em sua publicidade foram o método usado pelo importador oficial Caoa para chamar a atenção para o que a marca sul-coreana tinha para oferecer ao mercado brasileiro. Luxo, conforto, qualidade, “novíssimo” e a expressão que, de tão exagerada, virou motivo de piada sobre a marca (“melhor do mundo”) foram termos massivamente repetidos com a intenção de convencer o consumidor de que os carros da Hyundai eram mesmo os melhores.
Com seu sedã grande, o Azera, não foi diferente: a publicidade contabilizava vantagens sobre carros como BMW Série 7, Mercedes-Benz Classe S e modelos da Jaguar. Mas na prática o Azera estava numa categoria bem abaixo, concorrendo com Ford Fusion, Honda Accord e até — em termos de preço — modelos menores como Honda Civic, Toyota Corolla e Volkswagen Jetta.
Importado da Coreia do Sul desde outubro de 2007, o Azera era oferecido em versão única GLS com duas opções de pacote de equipamentos. A primeira incluía bolsas infláveis frontais, laterais e do tipo cortina; freios com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica de frenagem (EBD), ar-condicionado com ajuste automático de temperatura em duas zonas, regulagens do banco do motorista elétricas, sistema de áudio da marca alemã Infinity com 10 alto-falantes e controles no volante, rodas de alumínio de 17 pol, lanternas traseiras de leds, faróis de neblina, acabamento interno em couro de tom claro com apliques em madeira até no volante e vidros fotocrômicos, que variavam a transparência em função da luz do dia.
Se o estilo algo antiquado do primeiro Azera não cativava, ele tinha outros
atributos, como alto nível de equipamentos e um motor V6 com 245 cv
O pacote de equipamentos mais completo adicionava teto solar com controle elétrico, faróis com lâmpadas de xenônio, disqueteira para seis CDs e memorização dos ajustes dos bancos. Um único motor era oferecido para o modelo: o V6 de quatro válvulas por cilindro, 3,3 litros e bloco de alumínio, que fornecia potência de 245 cv. Um câmbio automático de cinco marchas, com função de troca de marchas sequencial, levava a potência às rodas dianteiras.
Com tantos itens de conforto e comodidade, além do trem de força de respeito, o Azera tinha um atrativo especial — o preço. Esse era o fator que o colocava como concorrente de modelos de segmento inferior ou, no caso de automóveis da mesma categoria como o Fusion, permitia oferecer o motor V6 por valor similar ao do concorrente de quatro cilindros.
Talvez o estilo devesse ter sido levado mais a sério, mas o Azera provou que é possível conquistar o consumidor — mesmo o de segmentos superiores — também pelo bolso
O estilo, porém, era o principal obstáculo para o êxito desse Hyundai. Nascido com estilo bastante conservador e algo defasado, o Azera tinha linhas que remetiam a carros de 10 anos antes, com faróis de formato quase retangular, lateral com linha de cintura baixa e traseira tão pouco inspirada quanto a frente. Não tinha, portanto, a pretensão de atrair por sua aparência, mas pelo que oferecia e a que preço.
Tendo em consideração o segmento ao qual pertencia, talvez o fator estilo devesse ter sido levado mais a sério pelo fabricante, já que a maioria de seus concorrentes estava mais de acordo com as tendências de estilo da época, sem abrir mão da classe. Mas o Azera provou que é possível conquistar o consumidor — mesmo o de segmentos superiores — também pelo bolso, pois mesmo sem ter um estilo dos mais marcantes foi um sucesso de vendas.
Regulagens do banco do motorista elétricas, sistema de áudio Infinity , apliques em
madeira até no volante e vidros fotocrômicos vinham de série mesmo no Azera básico
Um ano após o lançamento, o Azera ganhou entrada para Ipod em seu sistema de áudio. Não demorou muito para que a Hyundai fizesse modificações que, apesar de leves, tornassem mais atraente o estilo de seu maior sedã. Em julho de 2010, já como modelo 2011, o Azera exibia modificações nos faróis (com filete de leds na posição de meia-luz), grade, para-choques e lanternas traseiras, em um sopro de ânimo ao sedã de visual “cansado”.
O interior pouco mudou, mas o sistema de áudio foi simplificado no pacote de entrada (o da marca Infinity vinha apenas no completo) e a memória para o ajuste do banco do motorista era estendida às posições dos retrovisores e do volante. As maiores novidades estavam sob o capô: modificações no V6 lhe renderam mais 20 cv, em total de 265 cv, e o câmbio automático tinha agora seis marchas. Para estimular a economia de combustível, o mostrador Eco no painel se acendia na cor verde ao se adotar um modo de condução econômico.
Em janeiro de 2012 o Azera de última geração (segunda com esse nome, mas quinta se for considerado o Grandeur, como ele é chamado em alguns mercados) começava a ser importado para o Brasil. Todo novo, o sedã agora apresentava um desenho ousado, seguindo a filosofia de “escultura fluida” dos últimos carros da Hyundai. Se agora o automóvel se mostrava atraente para os olhos, o apelo do preço ficou no passado.
Muito mais caro que a geração anterior, era também oferecido em duas opções de pacotes de equipamentos, sem denominação de versão. A Caoa, mantendo sua estratégia de superlativos, batizou o primeiro pacote de Completo e o segundo de Completíssimo…
O primeiro contava com os equipamentos da geração anterior e adicionava bolsa inflável para os joelhos do motorista, saídas de ar-condicionado para os bancos traseiros, aquecimento dos bancos dianteiros, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros e limpador de para-brisa automático. O pacote superior trazia também controle de estabilidade e de tração (item comum em carros muito mais baratos, o que mostra que “completo” o pacote inicial estava longe de ser), chave presencial para acesso e partida do motor, quadro de instrumentos com efeito tridimensional, cortina para-sol traseira com acionamento elétrico, teto solar panorâmico, faróis de xenônio, freio de estacionamento com comando elétrico e regulagens elétricas dos bancos, espelhos e volante com memória.
Motor 20 cv mais potente e câmbio de seis marchas vinham para 2011 junto
de uma renovação visual, mas alguns equipamentos foram removidos
O câmbio era automático de seis marchas com opção de mudanças sequenciais, como na geração anterior, mas o motor era novo. Agora o Azera usava um 3,0-litros V6 de quatro válvulas por cilindro e trazia polêmica quanto à potência, algo já costumeiro nos modelos da marca: enquanto o próprio fabricante em outros países indicava 250 cv, o importador de nosso mercado indicava 270 cv. O fato curioso podia ser reflexo de um temor da reação do público ao perceber que a nova geração era menos potente do que a anterior.
“Melhor relação custo-benefício”
O Azera chegou ao Brasil com um argumento que perdeu na nova geração, o preço. Esse continua sendo um argumento na compra de um usado, devido à grande desvalorização do modelo — habitual nos segmentos superiores do mercado — ante os itens de conveniência de que dispõe.
Henrique Camillo, de São Paulo, SP, dono de um Azera 2009, fala com propriedade: “Sem sombra de dúvida o melhor custo-benefício que se poder pedir em um carro de luxo no Brasil. Incomparável com Civic, Corolla e Vectra Elite (já tive todos). Conforto e acabamento sem igual. O consumo de fato é elevado, mas levando em consideração o peso e a motorização, não há o que reclamar. Na comparação, Civic e Vectra Elite gastam muito pela motorização que oferecem”.
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