Evento em Poços de Caldas transformou a ideia em atração e, no último final de semana, reuniu 25 exemplares da marca
Fazer grupo de interessados em marcas antigas, já produzidas no País, exige paciência e dedicação. Organizá-los para veículos recentes — Fiat, Opala, Volkswagen, Puma — é fácil ante a enorme frota remanescente, mas para as outras uma mão de obra — inexistem, por exemplo, grupos ou clubes para Aero-Willys ou FNM 2000/2150, o JK.
Simca está na relação de dificuldades. Aficionados reunidos em torno do sítio www.simca.com.br há tempos buscam fazer encontro nacional para festejar o espírito gregário — e conhecer pessoalmente uns aos outros. Finalmente deu certo. O VIII Poços Classic Car, maior dos encontros realizados na agradável cidade mineira de Poços de Caldas, transformou a ideia do I Encontro Nacional Simca em atração em seu evento. Deu-se no último final de semana e reuniu 25 exemplares — última tentativa foi no Brazil Fiat Classics, em Araxá, MG, em 2008, com 12 unidades.
Colecionadores em amplo espectro, do Rio Grande do Sul a Brasília, estiveram presentes e a organização teve o cuidado didático de convidar automóveis das versões produzidas pela Simca e pela sucessora Chrysler, expondo-as em ordem cronológica, permitindo aos visitantes noção evolutiva da marca no Brasil. O espírito não era de competição e o único prêmio atribuído foi por Leo Steinbruch, levando versão Présidence 1965, à perua Jangada restaurada por Antônio Guedes em Santo André, SP. Leo prestou homenagem ao irmão Fábio há pouco passado, seu sócio na maior coleção de veículos nacionais.
Além da excepcional Jangada de Guedes, Marcelo Viana, mantenedor do sítio, levou modelo curiosamente igual. De Jangada ainda havia raro exemplar de 1967, um dos 33 produzidos. Dentre outros, Ruy Pereira em modelo 1959, o mais antigo do País; Ronaldo Pal com modelo 1961 sem restauração; Guilherme Gomes deu a conhecer produto de seus esforços para reviver Chambord 1962; Walmir Buzatto em Chambord 1963; do mesmo ano Alexandre Goerl trouxe seu recém-restaurado desde o interior do Rio Grande do Sul; excepcional Tufão 1965 com José Antonio Finco. Carlos Goicochea, de Vitória, ES, em excepcional modelo Tufão 1966. Mais recente, Esplanada 1968 por Wanderley Scavacini, ex-revendedor. Generoso, Aldo D’Abronzo pintou e reproduziu versão Rallye 1964, automóvel de vitórias com o piloto Walther Hahn Jr. Este, o engenheiro Renato Zirk, Samuel Marcantonio e eu fizemos pequenas palestras sobre o universo e a história da Simca no Brasil.
Samuel, 86, foi homenageado por ser o mais longevo dos colaboradores da Simca, tendo chegado à empresa antes mesmo de iniciar a produção no Brasil. Foi e voltou em Esplanada 1967, de uso desde 1971. O êxito promove decantação de propostas para o II Encontro, em 2016.
Jaguar XE: um inglês contra os alemães
Segmento mais lucrativo do mercado nacional, o dito premium, onde Audi, BMW e Mercedes-Benz marcam maiores vendas em modelos A4, Série 3 e Classe C, tem novo participante, o XE da Jaguar.
Automóvel é marco industrial e sua tecnologia servirá a outros produtos, em especial pelo intensivo uso de alumínio na plataforma: 75% da estrutura aplica o leve metal em lugar das chapas de aço. A tecnologia reduz peso, consumo, emissões, com ganhos em desempenho. O fabricante indo-britânico — a marca é controlada pelo indiano grupo Tata — aplicou coragem ao novo produto, incluindo aerodinâmica, em coeficiente (Cx) 0,26 e continência em peso: é o mais leve Jaguar já produzido.
Para o Brasil serão importadas quatro versões, das quais três idênticas em estrutura mecânica: motor turbo de 2,0 litros, 240 cv, caixa automática de oito marchas e tração traseira. São Pure, R$ 170 mil; Pure Tech, R$ 177 mil; R-Sport, R$ 200 mil. Diferenciada, de topo, S, tem motor V6 de 3,0 litros com compressor e 340 cv e preço desmesurado: R$ 99 mil a mais sobre o quatro-cilindros superior — R$ 1 mil por cv. Suspensões com pretensões esportivas, muita eletrônica para serviço e divertimento, interior em couro verdadeiro e, na versão superior S, projeção na face interna do para-brisa de informações sobre carro e deslocamento.
Respira-se entusiasmo na representação local, projetando mais que dobrar participação da marca. A Jaguar vende em média um automóvel/dia e do XE quer 600 vendas/ano. As alemãs vendem no segmento em torno de 10.000 anuais. Motores ainda são Ford, ex-dona da Jaguar. A nova geração Ingenium ainda não chegou ao Brasil.
Roda a Roda
Negócio – Bom portal Autodata diz estar em via de assinatura o acordo comercial entre Brasil e Colômbia estabelecendo cotas para importação de bens isentos de impostos alfandegários. Em automóveis, em torno de 10 mil/ano. Solução parece encomenda para a General Motors, líder de vendas pela Colmotores, ex-montadora de jipes Austin Gipsy, Simca 1.000, Chrysler.
Na prática – GM Brasil por Marcos Munhoz, fonte acreditada, estuda o intercâmbio. Lá produz Aveo, Sail e Spark, pequenos e de origem coreana. Renault produz Sandero e Logan com partes enviadas do Brasil e mantém produção da boa perua Mégane. Outras são de caminhões e ônibus.
Mais – BMW mudará processo produtivo em outubro com linha de estamparia de partes em chapa e pintura na fábrica de Araquari, SC. Até agora mínima industrialização, com importação das carrocerias pintadas, e montagem local.
Kwid – Já em testes o Kwid, veículo de entrada da Renault no Brasil, e missão de substituir o Clio, menor 13 cm em seus 3,68 m (VW Up, menor nacional, tem 3,6 m). Renault aposta em sucesso, pelo jeito de carro forçudo, lembrando um utilitário esporte, porém sem dimensionamento para aventuras. Argumento maior, preço. Hoje o Clio é o mais barato dos nacionais. Terá motor 1,0-litro de três cilindros e 77 cv da associada Nissan e partes de outros Renault para conter custos.
Mudança – Com ele Renault tem grandes pretensões. Como a Coluna já informou, mandará para Santa Isabel, na Argentina, tudo o de fazer o Sandero, o mais vendido da marca, e o Logan, abrindo espaço industrial para produção em massa. Terá no Brasil o Kwid, o Duster e a nova picape Oroch.
Referência – Os carros de testes são protótipos para o mercado indiano, pois o Kwid é para ser projeto barato a mercados pobres e em desenvolvimento. Entretanto, dentre as discrepâncias de comportamento do consumidor brasileiro, aqui terá mais equipamentos e cuidados construtivos. Como ocorre com o Duster europeu, mais simples ante o nacional.
Mais – Talvez, com tal concorrente, a VW exume o apresentado e arquivado projeto Taigun, com as mesmas características, e baseado no Up.
Corte – Comissão de Viação e Transportes da Câmara aprovou o PL 740 da deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ) dispensando das Inspeções de Segurança Veicular veículos leves durante os três primeiros anos a partir do licenciamento. Justificativa óbvia, maioria está na garantia e faz revisões. Vai à Comissão de Justiça e depois Plenário.
Desafio – Carros submetidos à análise de jornalistas no usual são 0-km ou quase, tentativamente bem revisados, no ideal de cumprimento das especificações técnicas. JAC, chinesa, esperando definições econômicas para erigir fábrica, quer mudar isto.
Conceito – Para provar a resistência construtiva dos veículos, recolhe em seus revendedores carros com 90 mil a 100 mil km rodados e revisões feitas em oficinas autorizadas. Quer submetê-los a avaliação dos profissionais do setor, incluindo aferição de desempenho. Interessante: apesar da quilometragem, os veículos estão dentro da garantia.
Treino – Para afinar habilidades e conhecer o processo de produção e montagem dos Mercedes-Benz Classe C e GLA, ambos de produção prevista para 2016 em nova fábrica em Iracemápolis, SP, empresa selecionou colaboradores contratados na vizinhança e os enviou à Índia.
Ajuste fino – São multiplicadores, na prática os que absorvem as experiências e as transmitem aos outros funcionários da produção. Fábrica foi hábil, levando o grupo a um mercado com similaridade econômica ao Brasil. Embora os processos sejam traçados na matriz, sempre há adequações locais.
Festa – BMW fomenta relações com clientes e futuros com o Ultimate Experience, juntando-os com automóveis de sua marca e circuito bem estruturado para impedir problemas com excesso de entusiasmo. Recente edição, na Fazenda Capuava, SP, fez recorde de 750 avaliações.
Tempo – Sinotruk Brasil, fábrica de caminhões chineses a ser instalada em Lages, SC, mantém projeto, mas altera prazo alegando momento econômico. Pediu prorrogar prazo ao Ministério do Desenvolvimento, e diz prever operação de montagem ao primeiro trimestre de 2017. Parece difícil.
Brilho – Rodabrill, empresa de produtos para cuidados em automóveis, vende massa de polir à base d’água e finalizador. Visa reduzir tempo no polir e encerar usando apenas um produto. Diz ser extrafina, não abrasiva. Finalizador garante brilho imediato, dispensando a cera. A R$ 18,90.
Ajuste – Bridgestone fornecerá pneus em medidas 235/65-17, 235/60-18, 235/65-19 e 255/45-20 ao novo utilitário esporte da Mercedes, o GLC. Agora mais elevado, perdeu o ar de camioneta pequena, ganhou aparência impositiva de SUV.
Intervalo – Há um espaço no automobilismo brasileiro de competição, entre o kart e os monopostos para as temporadas locais ou externas. Nova categoria para ocupá-lo, a Fórmula Inter, criada pelo investidor Marcos Galassi, é um pacote: locação do automóvel e serviços por corrida a R$ 12 mil. Ideia é conter custos. Cumprir a temporada custará abaixo das de kart nas categorias superiores, e não é apenas alugar e correr, mas preparar-se para uma carreira. Inicia em 2016, no Campeonato Paulista de Automobilismo.
Aval – Na Academia F-Inter, aulas: mecânica, dados, pilotagem, treinamento de mídia, marketing, supervisão de Roberto Pupo Moreno, o Mirim, ex-piloto de Fórmulas 1 e Indy, simpaticamente dito Reitor. Patrono, o sempre louvado Chiquinho Lameirão, referência de pilotagem multimarca na década de 60.
Produto – Automóvel foi projetado e construído em São Paulo, pelo conhecido José Minelli, certificado por universidades, 95% das peças de construção própria no esforço para conter custos. Ford, de quem é o motor utilizado, perde oportunidade de divulgação ao ignorar a iniciativa. Sem apoio, motores são comprados em revendedor — 2,0-litros com njeção direta, 191 cv e 21 m.kgf de torque. Transmissão de Kombi, engrenagens adequadas, quatro marchas. Velocidade final, 245 km/h. Pneus Pirelli, rodas de liga leve 13 de produção própria.
Gente – Jaime Ardila, colombiano, 60, Presidente da GM América do Sul, aposentadoria após 31 anos na companhia. Barry Engle, norte-americano, 51, multivisão, sucessor. Ex-revendedor, presidiu Ford no Brasil e New Holland em Turim, Itália, larga visão e experiências de mercado. Não parece bom período para muitos executivos da GM. De fora da companhia; sem compromissos; inserido no meio ambiente por ler e falar correntemente português e espanhol; empresa em época de reduzir custos; parece ungido de poder para largos cortes. / Christof Weber, 49, alemão, responsável pelo desenvolvimento de caminhões Mercedes-Benz, promoção: VP de desenvolvimento tecnológico. / Antenor Frasson, engenheiro mecânico, ex-Volvo, mudança. Diretor de vendas da DAF, nova fábrica de caminhões no Brasil.
Audi, no Brasil há 80 anos
Apesar de conhecida dos consumidores brasileiros há pouco mais de 20 anos, a Audi tem oito décadas de intimidade com o país. Chegou aqui em 1935 com elevada dose de história. O barão Claus Detlov Von Oertzen, então diretor geral da Auto Union na Alemanha, deixa o posto, sai da Alemanha, e é nomeado como importador da marca para todos os mercados abaixo do Equador, incluindo América do Sul, África do Sul, Ásia e Austrália.
Aqui montou, em sociedade com outros três compatriotas, uma certa Auto Union Brasil Ltda. Tinha sede no Rio de Janeiro, escritório na Rua México, oficinas na Bento Lisboa e Riachuelo. Auto Union era o grande guarda-chuva sob o qual estavam as marcas Audi, DKW, Horch e Wanderer. Negócio correu bem, solidificando-se na medida em que as marcas se tornavam conhecidas, em especial a dos pequenos carros. Wanderer, médio e Horch, grande e luxuoso, faziam presença à altura dos concorrentes dos Estados Unidos, dominando o mercado.
Literatura de época diz ter vendido 800 unidades até o período da guerra, quando cessaram remessas e a empresa foi fechada pelo governo federal ante o fato de ter alemães em sua composição. Reabriu enxutamente com novos controladores em 1947. Nos efeitos do conflito bélico Horch, Wanderer e Audi se tornaram apenas registros históricos e tecnológicos, depuradas pela operação de sobrevivência.
Marca reviveu em 1965, quando os carros Auto Union/DKW tiveram problemas no inverno suíço e a Volkswagen, então sua controladora, decidiu encerrar o histórico caminho dos motores com ciclo de dois tempos. Para colocar um novo motor de quatro tempos, produzido às pressas, mudou o nome do produto. Em lugar de Auto Union DKW F102, foi transformado em Audi. Daí em diante foi a marca sobrevivente, em grande escala. Seu emblema relembra a base da Auto Union.
Foto: Audi tipo 225 de 1935, em cenário desejado por todos os carros de todas as marcas, o gramado do Pebble Beach Concours d’Elegance
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A coluna expressa as opiniões do colunista e não as do Best Cars