Unidades de três e quatro cilindros são boas de torque e prometem economia; há também avanços em segurança
Texto: Fabrício Samahá e Sérgio Galvão – Fotos: divulgação
Citroën e Peugeot, Ford, Hyundai, Nissan, Volkswagen… Cresce rápido a lista de fabricantes nacionais que usam motores de três cilindros, solução em voga por reduzir peso e atritos e aumentar a eficiência, sobretudo na faixa de 1,0 litro de cilindrada. Opção que faltava à Fiat, mas não falta mais: surge agora a linha Firefly (vagalume) de motores, projeto até então conhecido por GSE (Global Small Engine, motor pequeno global), que estreia no Uno 2017 com opções de três e quatro cilindros.
A unidade de 1,0 litro e três cilindros equipa as versões Attractive e Way, enquanto a segunda pode receber a de quatro cilindros e 1,35 litro, também aplicada ao Uno Sporting (veja preços e equipamentos no quadro abaixo). Além do novo “coração” que substitui o da linha Fire, projeto da Fiat italiana da década de 1980, o Uno recebeu retoques no desenho frontal e novos recursos de segurança e conveniência, parte da estratégia de posicioná-lo mais acima do Mobi — que também receberá em breve o Firefly de 1,0 litro.
A versão Attractive vem apenas com a unidade de 1,0 litro e 72/77 cv; como as demais, ganha grade e para-choque dianteiro renovados
Fabricados em Betim, MG, mas com uso previsto também na Europa, os dois motores usam construção modular: um é o outro com um cilindro a mais — ou a menos —, mantendo elementos internos e medidas como diâmetro de cilindros, curso de pistões e comprimento de bielas. Características atuais de projeto são bloco de alumínio, variação do tempo de abertura das válvulas, preaquecimento de álcool para partida a frio e alternador com operação variável (maior quando o motor desacelera, menor quando se requer mais potência). O movimento do virabrequim é levado ao comando único por meio de corrente, como na linha E-Torq (1,6 e 1,75 litro).
O Firefly de 1,3 litro sobressai na categoria: a potência de 101/109 cv fica bem diante de Etios 1,5, Onix 1,4, Gol e Fox 1,6 ou mesmo HB20 e Up 1,0 turbo
A taxa de compressão de 13,2:1, comum a ambas as versões, é das mais altas já vistas no mercado e supera até mesmo as de motores com injeção direta. Outras soluções em favor da eficiência são deslocamento de 10 mm entre a linha central dos pistões e o centro do eixo do virabrequim, que reduz o atrito entre cada pistão e seu cilindro, e a estratégia de uso do variador de válvulas para cargas (aberturas de acelerador) parciais. Nessa condição o sistema atrasa a abertura das válvulas de admissão e escapamento, o que diminui as perdas por bombeamento — as mesmas que fazem o motor desacelerar o carro quando se corta o acelerador. Relação r/l de 0,289 em ambos revela cuidado no projeto para obter suavidade.
Chamam atenção as duas válvulas por cilindro, enquanto a concorrência de três cilindros emprega quatro: a decisão envolveu custos, simplicidade de manutenção e a ênfase em torque em baixas rotações. De fato, nesse quesito o Firefly se sai muito bem: os valores com gasolina e álcool no três-cilindros (10,4/10,9 m.kgf a moderadas 3.250 rpm) deixam para trás a competição de sua cilindrada: 9,7/10,4 m.kgf nos Volkswagens Up, Gol e Fox, 10,2/10,7 no Ford Ka, 10 no Nissan March, 9,4/10,2 no Hyundai HB20, 9,5/9,8 no Chevrolet Onix (o antigo Fire tinha 9,5/9,9 m.kgf). Na versão 1,3 o Uno alcança 13,7/14,2 m.kgf e fica acima de Citroën C3 e Peugeot 208 de 1,2 litro (12,2/13 m.kgf), Onix 1,4 (13/13,9 m.kgf) e Toyota Etios 1,3 (12,4/13,1 m.kgf), além do Uno 1,4 anterior (12,4/12,5 m.kgf).
“Aventureiro” da linha, o Uno Way tem suspensão elevada e acessórios visuais; pode ter ambos os motores e vir com caixa automatizada no caso do 1,3
No caso da unidade de 1,0 litro a Fiat não priorizou potência máxima, que fica abaixo dos adversários: com 72/77 cv, o Uno agora perde para Ka (80/85 cv), Up, Gol e Fox (75/82 cv), Onix (78/80 cv), HB20 (75/80 cv) e March (77 cv). O próprio motor anterior, de 73/75 cv, superava o novo com gasolina. Em contrapartida, com potência específica de 82 cv por litro, o Firefly de 1,3 litro sobressai na categoria: seus 101/109 cv ficam bem diante de Etios 1,5 (102/107 cv), Onix 1,4 (98/106 cv), Gol e Fox 1,6 (101/104 cv), C3 e 208 1,2 (84/90 cv) ou mesmo Up TSI 1,0 (101/105 cv) e HB20 1,0 turbo (98/105 cv). É grande a vantagem sobre o antigo Uno 1,4 (85/88 cv). Com mais 8 cv com álcool o Firefly alcançaria o 1,6-litro de quatro válvulas da marca, usado no Palio.
Como ficaram desempenho e consumo do Uno com os novos motores? Entre as versões de 1,0 litro o 2017 vence por pouco em velocidade máxima (154/157 km/h ante 151/153 km/h do antigo) e aceleração de 0 a 100 km/h (13,6/12,5 s ante 14,7/13,8 s). Como se esperava, o novo 1,3 anda muito mais que o antigo 1,4: a máxima passou de 170/172 km/h para 177 km/h e a aceleração baixou de 11,1/10,8 s para 10,6/9,8 s. Quanto ao consumo, a Fiat ainda não dispõe dos índices pelos padrões do Inmetro para a versão 1,0, mas a 1,3 com transmissão automatizada mostra bons resultados: melhorou de 11,1/7,6 km/l para 12,9/9,2 km/l em cidade e de 12,6/9 km/l para 14,1/10,1 km/l em rodovia, sempre na ordem gasolina/álcool.
Parte da eficiência do modelo 2017 vem de medidas periféricas ao motor, como a assistência elétrica de direção (no lugar da hidráulica), que pode ter acionada a função City para deixar o volante mais leve em baixa velocidade, e parada/partida automática do motor com botão de desativação, item de série no 1,3-litro (antes vinha só no Evolution 1,4). O Uno recebeu também controle eletrônico de estabilidade de tração e assistência de partida em rampa, de série com caixa automatizada e como opção no 1,3 manual, e partida assistida (o motor de partida funciona o tempo necessário, bastando um breve giro da chave).
Próxima parte
Versões, preços e equipamentos
• Attractive 1,0 (R$ 41.840): ar-condicionado, computador de bordo, direção com assistência elétrica, faróis de neblina, controle elétrico de vidros dianteiros e travas, conta-giros, volante ajustável em altura, três encostos de cabeça traseiros. Opcionais: alarme, controle de estabilidade e tração, auxílio para saída em aclive, rádio com entradas auxiliar e USB, banco traseiro bipartido e cinto central de três pontos, entre outros.
• Way 1,0 (R$ 42.970): como no Attractive, mais barras longitudinais no teto, maior altura em relação ao solo, molduras das caixas de roda, lanternas traseiras fumê, retrovisores externos com luzes de direção.
• Way 1,3 manual (R$ 47.640): como no Way 1,0, mais parada/partida automática, chave canivete com comando de abertura e fechamento de portas e vidros, rádio.
• Sporting 1,3 manual (R$ 49.340): como no Way 1,3, mais suspensão com acerto esportivo, defletor traseiro, rodas de alumínio de 15 polegadas, ponteira de escapamento dupla central, para-choques diferenciados.
• Way 1,3 Dualogic (R$ 52 mil) e Sporting 1,3 Dualogic (R$ 53.690): como nas versões manuais, mais auxílio para saída em aclive, comandos atrás do volante para troca manual das marchas, controle de estabilidade e tração.
A garantia é de três anos.