São carros pequenos, mas a exigência de espaço permanece. Uma solução é deixar o teto retilíneo e elevado, que prejudica o visual. Kwid e Up lidam com isso usando colunas traseiras espessas, para sensação de robustez. Em QQ e Mobi as lanternas invadem mais as laterais. O Fiat vai além e estende visualmente o vidro traseiro com acabamento plástico, de modo a dissimular a largura da coluna.
O público-alvo dos subcompactos não tem no espaço de porta-malas uma prioridade. Isso se observa nas tampas: só a do Kwid é convencional, com formato largo e de base baixa. Em QQ e Mobi ela é feita de vidro, decisão que impôs uma posição mais protegida de impactos leves, mas prejudicou o acesso da bagagem. A do Up europeu também é assim, mas o modelo brasileiro ganhou uma feita de aço. Como a mudança não agradou, ela passou a ser pintada nas versões com motor TSI e, depois da reforma para 2018, em todas.
QQ e Up usam lanternas verticais, o primeiro com formato arredondado e posição elevada e o outro com as soluções opostas. Mobi e Kwid usam forma quase quadrada e posição convencional. QQ e Mobi investem em tamanho exagerado, enquanto Kwid e Up buscam a discrição. Mobi e Up usam desenho interno rebuscado, ao passo que o Kwid obtém a aparência mais neutra. No QQ a disposição, o tamanho e até a montagem das lanternas dão aparência pobre.
Embora a aparência delicada do QQ divida opiniões, o trabalho com vincos e plástico preto preencheu uma área extensa sem ficar vazio ou carregado. Kwid e Up usam soluções mais simples, o primeiro apenas com plástico preto e o segundo com vincos. Ambos pecam pelo suporte de placa exagerado, medida típica para evitar outras de custo maior. Destaque negativo para o Mobi: chega a estranhar que um desenho tão elaborado chegue ao para-choque traseiro só com um vinco e uma abertura simples.
Aplicar desenho integrado entre portas e painel implica padrões rígidos de alinhamento de peças, o qual encarece a produção. Não surpreende, então, que estes carros usem desenhos independentes, nos quais as portas não tiram a atenção do painel. Como os revestimentos são feitos em geral de plástico rígido, vale-se de cores e texturas diferentes para quebrar a pobreza visual. O Up chama a atenção pela porção das portas com a carroceria exposta e pintada na cor externa, solução que divide opiniões.
Em Mobi e Up as formas horizontais dão mais espaço aos componentes e reforçam a sensação de espaço, porque a cabine parece mais larga. Entretanto, o Fiat peca pelo excesso de informações e o VW pela aparência simples. O painel do QQ tem elementos numerosos sem cair em excesso, mas peca pelo aspecto geral bruto. O Kwid volta a ser genérico: seu console central é quase quadrado e usa formas simples.
Renault, novamente, com a solução intermediária: a central de áudio domina seu painel central, como em todos os carros recentes, mas usa a posição convencional (em vez de isolada, como no Fiat Argo). Fiat e Volkswagen têm soluções parecidas, mas usam o celular do usuário como tela principal para cortar custos. O Chery promove uma viagem aos anos 2000: a geração atual (nem tão antiga assim, de 2013) previu sistema de áudio pequeno e não está preparada para uma central.
Em todos os casos, a ornamentação do lado direito do painel é feita mas pelas formas que por texturas e cores. O Mobi mais chama atenção pelas formas grandes e arredondadas, ao passo que o Up se aproxima de uma sensação de requinte. Em QQ e Kwid, discrição. Essa variedade de diretrizes mostra o quanto os subcompactos evoluíram.
O QQ é o único com quadro de instrumentos todo digital, que integra de modo interessante o conta-giros ao marcador de combustível. Os outros usam mostradores analógicos, salvo o do tanque no Kwid. QQ e Mobi têm tela central digital, o que dá ao conta-giros ou ao velocímetro mais espaço. Entre o Renault e o Volkswagen, o quadro do primeiro tem aparência mais limpa.
As telas de Kwid e Up têm tecnologia e executam funções que já eram comuns 10 anos atrás. No QQ chama atenção o velocímetro digital, mas a melhor impressão é causada pelo Mobi com a tela LCD de alta resolução das versões superiores, com diversas informações e grande colaboração para a aparência.
A Análise de Estilo ajuda a perceber que o segmento de subcompactos não só evoluiu muito ao longo dos últimos 20 anos, como também se permitiu diversificar. A fórmula “tradicional”, com componentes grandes e de contorno arredondado, sobrevive no Brasil apenas no Chery QQ. O Volkswagen Up dá uma interpretação tipicamente alemã a tudo isso, por meio de formas retilíneas, aparência geral mais sóbria e raras concessões ao lado emocional.
Fiat Mobi e Renault Kwid são casos interessantes: adaptaram o conceito de subcompacto ao contexto dos países emergentes, o primeiro com foco no Brasil. Isso explica a atenção redobrada com o estilo, as tentativas de dissimular o tamanho reduzido, as escolhas de tecnologia focadas em agradar o público jovem e um investimento geral em características emocionais: o modelo da Fiat tem leve inclinação à esportividade, enquanto o da Renault sugere um apelo fora de estrada. Tudo, é claro, sem perder a igualmente brasileira preocupação com o baixo custo.
Visual “aventureiro” caiu no gosto do brasileiro há quase 20 anos, mesmo quando não encontra resposta nas especificações técnicas do carro. A Renault aproveitou isso no projeto do Kwid como um todo, o que motivou o fabricante a divulgá-lo como um SUV. Fiat e Volkswagen seguiram um caminho mais conservador: dotaram Mobi e Up de caráter mais neutro, para tentar agradar a todos, e investiram nos nichos de mercado usando as versões.
Mobi Way e Cross Up tiram inspiração da receita inaugurada pela Palio Adventure em 1999. As peças externas em plástico preto estão lá, assim como a suspensão elevada (apenas no Fiat) e os acessórios de estilo com tema “aventureiro”. Contudo, os dois respeitaram a necessidade de uma interpretação moderna. O plástico preto foi limitado a detalhes, as barras de teto são menores e a oferta de equipamentos deu prioridade a conforto e segurança em vez do visual.
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