Comportamento dinâmico foi mais um ponto alto do carro, que causou muitas boas impressões e poucas críticas
Texto e fotos: Felipe Hoffmann
O Volkswagen Polo Highline 200 TSI concluiu seus 30 dias de teste em Um Mês ao Volante. Na última semana mantivemos o uso de álcool, tanto para uso urbano como para nossa viagem ao interior de São Paulo — dessa vez sem os racks de teto, para podermos analisar melhor o ruído de vento na carroceria e a estabilidade.
Todos que andaram no carro elogiaram seu acerto de suspensão, que proporciona bom conforto nas provas de rali, ops, nas ruas remendadas da cidade de São Paulo. Mesmo com os pneus de perfil mais baixo disponíveis no modelo, 205/50 da Dunlop em rodas de 17 polegadas, o Polo absorve bem as irregularidades do solo sem qualquer ruído das partes internas — digamos que a Volkswagen criou certo trauma para quem teve um Gol da segunda geração.
Também mostra bom comportamento ao passar em lombadas, mesmo quando se decide desprezá-las e deixar a suspensão trabalhar: em nenhum momento o carro mergulha a frente ou se comporta de modo estranho. Elementar que tudo tem um limite e se nota uma pancada mais forte e seca em buracos ou remendos quando se passa mais rápido. Afinal, os pneus largos e baixos diminuem sua absorção do impacto e jogam essa responsabilidade para os coxins. Não é à toa que a versão MSI, com rodas de 15 pol e pneus de perfil mais alto, mereceu tantos elogios na avaliação.
Ao lado de boas soluções internas e construção caprichada, o Polo agradou pelo comportamento dinâmico: bem acertado, pouco recorre ao controle de estabilidade
Uma suspensão confortável no dia a dia não precisa ser mole demais. Há um equilíbrio ideal entre conforto e esportividade, que a nosso ver foi alcançado pela Volkswagen. Para entender melhor, um amortecedor moderno não tem atuação constante, sendo seu esforço de “retardar” o movimento da suspensão proporcional à velocidade de movimento da haste. Movimentos lentos exigem atuação proporcionalmente maior, para que o veículo não balance indevidamente durante mudanças de direção, curvas, acelerações e frenagens. A geometria da suspensão faz o papel fundamental nisso, mas os amortecedores cumprem o acerto final.
Houve picos de aceleração lateral acima de 1 g, mas em nenhum momento percebemos o controle de estabilidade atuar: bom projeto de suspensão
Já em movimentos rápidos, como ao passar em buracos e remendos, a ideia é ter menor atuação do amortecedor, sobretudo da compressão, para evitar que tais esforços sejam transferidos para o veículo como um todo. Esse processo é todo controlado pelo projeto de amortecedor. Um dos mecanismos internos é liberar a passagem do óleo, através de uma válvula, quando a velocidade da haste for subitamente alta, como em buraco na pista.
O resultado é que a mesma boa impressão em termos de conforto ao rodar foi encontrada no comportamento dinâmico do Polo. Com certa experiência em testes como engenheiro, já se tem programada na cabeça a relação entre conforto e estabilidade que se espera de um carro de cada categoria. No Polo tivemos de ajustar essa programação.
O acabamento poderia ser melhor, mas o Highline mostrou tecnologia com o quadro digital configurável e o áudio com tela de 8 pol e integração a celular
Ao procurar o limite em curvas, a primeira impressão foi: “Opa, tem mais para vir!”. O carro realmente surpreendeu por sua capacidade dinâmica, deixando muito esportivo para trás. Mesmo quando se desafia o carro — “Agora vamos ver se ele não desgarra” — e se contorna a curva de tal forma a forçar a perda de aderência, o pequeno VW continua colado ao piso e inclina pouco a carroceria. Quando enfim desgarra, é progressivo e muito fácil de controlar, sempre saindo levemente de frente ou com as quatro rodas juntas. A carroceria inclina sem passar a sensação de “suspender”, mostrando que o eixo de rolagem está devidamente posicionado.
Para provar isso tudo, analisamos os dados do Race Capture Pro e vimos picos de aceleração lateral acima de 1 g em trechos mais travados da rodovia Rio-Santos. Em nenhum momento percebemos o controle eletrônico de estabilidade atuar (pela luz no painel ou acionamento dos freios em alguma roda), como deve ser em um bom projeto de suspensão. Afinal, o ESC funciona para corrigir algo que fuja do controle: é como o analgésico para tirar a dor de uma tendinite, sendo que exercícios específicos fariam o papel de um bom projeto de suspensão.
É claro que buscamos o patamar de atuação do controle, como ao apontar a direção para o sentido certo e acelerar tudo em um círculo. Nesse caso o ESC controlou a atuação do motor. No trecho travado da Rio-Santos, porém, nosso limitante com três pessoas no carro foi sentir e ouvir o pneu dianteiro externo dobrando, por estarmos com a pressão normal recomendada. Com pressão de carga máxima evitamos tal problema, mas depois nos vimos obrigados a baixar a pressão por promover maiores impactos em ruas remendadas.
A vivacidade do motor de 1,0 litro em baixas rotações foi elogiada, assim como as médias de consumo: méritos da combinação de turbo e injeção direta
Na última semana o Polo foi dirigido em trajetos urbanos por Edison Velloni. O colaborador já habitual, aquele dos Hondas Civic, elogiou muito as respostas prontas do motor, que fazem um carro ágil no trânsito, e o rodar confortável. Embora acostumado a sedãs maiores, sentiu-se bem ao volante desse hatch. Do que ele não gostou? “A cor é muito bonita. No trânsito todo mundo olha. Se eu comprasse um, gostaria dessa cor… mas não está disponível. A VW deveria repensar”. Edison afirma ter gostado mais do Polo que do Civic EXL que avaliou: “Se fosse para comprar um Civic novo, pensaria seriamente no Virtus, que deve manter suas qualidades com mais espaço no banco traseiro”.
O Polo foi também ao centro automotivo NZ Bosch Service para gravar o vídeo de análise técnica, a ser publicado na próxima semana. Não por acaso, é a oficina em que trabalha o irmão do colunista Luiz Alberto Melchert. Deficiente visual desde os três anos, Pedro Melchert notou a vibração maior do motor de três cilindros ao longe, pela audição aguçada, ao estacionarmos. Também fizemos o teste “meu cachorro atrás de mim”, como foi denominado por Luiz Alberto — importantíssimo para pessoas que, como ele, precisam acomodar o cão-guia no assoalho do banco traseiro enquanto viajam no dianteiro. O colunista elogiou o espaço para um carro pequeno, sendo possível levar com conforto seu urso, ou melhor, cão-guia de 45 kg chamado Gulliver.
Alguns leitores questionaram sobre a veracidade das informações de consumo do computador de bordo. No decorrer do mês, a diferença média entre o consumo indicado e o cálculo no abastecimento (considerado apenas nosso posto habitual em São Paulo) foi de 7% mais otimista para o computador, mas sempre fica a dúvida se o erro é apenas do carro, da bomba ou a somatória da margem de erro dos dois.
Semana anterior
Período final
Distância percorrida | 825 km |
Distância em cidade | 507 km |
Distância em rodovia | 318 km |
Consumo médio geral | 9,6 km/l |
Consumo médio em cidade | 8,7 km/l |
Consumo médio em rodovia | 11,5 km/l |
Melhor média | 12,9 km/l |
Pior média | 5,9 km/l |
Dados do computador de bordo com álcool |
Desde o início
Distância percorrida | 2.411 km |
Distância em cidade | 1.709 km |
Distância em rodovia | 702 km |
Gasolina: | |
Consumo médio geral | 14,3 km/l |
Consumo médio em cidade | 14,2 km/l |
Consumo médio em rodovia | 14,4 km/l |
Melhor média | 18,0 km/l |
Pior média | 9,4 km/l |
Álcool: | |
Consumo médio geral | 10,9 km/l |
Consumo médio em cidade | 10,7 km/l |
Consumo médio em rodovia | 11,5 km/l |
Melhor média | 12,9 km/l |
Pior média | 5,7 km/l |
Dados do computador de bordo |
Preços
Sem opcionais | R$ 69.190 |
Como avaliado | R$ 73.990 |
Completo | R$ 76.240 |
Preços sugeridos em 27/2/18 |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 3 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 74,5 x 76,4 mm |
Cilindrada | 999 cm³ |
Taxa de compressão | 11,5:1 |
Alimentação | injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima (gas./álc.) | 116/128 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 20,4 m.kgf de 2.000 a 3.500 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática, 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 6,5 x 17 pol* |
Pneus | 205/50 R 17* |
Dimensões | |
Comprimento | 4,057 m |
Largura | 1,751 m |
Altura | 1,468 m |
Entre-eixos | 2,565 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 52 l |
Compartimento de bagagem | 300 l |
Peso em ordem de marcha | 1.147 kg |
Desempenho (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 187/192 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,1/9,6 km/l |
Consumo em cidade | 11,6/8,0 km/l |
Consumo em rodovia | 14,1/9,8 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro; *opcionais |