O HR-V (à esquerda) deu um banho de eficiência no concorrente: 4 segundos a menos de 0 a 100 km/h e consumo urbano bem menor
Desempenho e consumo
Com vantagem expressiva em relação peso-potência, o HR-V obteve desempenho bem superior em nossas medições: de 0 a 100 km/h foi quase 4 segundos mais rápido, e de 60 a 120 km/h, algo como 5 segundos — diferenças coerentes com as sensações ao dirigir um e outro. As marcas de aceleração do Renegade estão próximas às de carros pequenos com motor de 1,0 litro, o que pode decepcionar quem paga tanto por um utilitário (em sua defesa é preciso lembrar que foi medido com 1.500 km: alguns motores precisam de mais uso para atingir pleno desempenho).
Contribuiu para a vantagem do Honda a eficiência do câmbio CVT, que nas arrancadas sobe rápido de giros, atinge a faixa de 6.500 rpm por volta de 80 km/h e lá estaciona — até a velocidade máxima, se for o caso —, sem perder tempo com mudanças de marcha. Testado em modo manual, que simula sete marchas com uma oscilação de giros (vai a 6.500 rpm, cai para 5.500, volta a 6.500 e assim por diante), ele perdeu em torno de 1 s nas acelerações. Não que o Jeep esteja mal servido de câmbio: as trocas são rápidas e o estol até mais alto, 2.600 rpm ante apenas 2.000 do rival. Ambos saem facilmente sem perda de aderência, pelos pneus largos e os câmbios automáticos.
Em consumo urbano o HR-V ficou largamente à frente outra vez, rodando pelo menos 36% a mais com um litro de álcool em ambos os trajetos de medição. O Renegade foi simplesmente o carro flexível mais beberrão que já submetemos a esse teste, com a marca de 3,9 km/l no percurso exigente, ante 4 km/l do Citroën C4 Lounge de 2,0 litros. O Jeep só atenuou sua deficiência no percurso rodoviário, com desvantagem de 5% para o Honda, mesmo que nenhum tenha obtido boas marcas.
Por que isso aconteceu? Primeiro porque a influência do peso excessivo é pequena em velocidades de rodovia. Segundo, nosso palpite é que a marca japonesa tenha obtido funcionamento bem mais eficiente que a adversária nas faixas de baixa rotação (em geral abaixo de 2.500 rpm) e na condição de carga parcial (pouca abertura de acelerador) usadas nos testes urbanos, enquanto o trajeto em rodovia impôs uso frequente acima de 3.000 rpm e grande abertura de pedal (nenhum deles mantinha 120 km/h nas subidas sem reduções), condição na qual o Jeep teria rendimento mais razoável. Com esse consumo e um tanque bem maior, o Renegade conseguiu na autonomia rodoviária sua única vitória entre os 12 quesitos analisados.
Medições Best Cars
HR-V |
Renegade |
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Aceleração |
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0 a 100 km/h | 10,8 s | 14,6 s |
0 a 120 km/h | 15,1 s | 19,9 s |
0 a 400 m | 18,0 s | 19,6 s |
Retomada |
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60 a 100 km/h* | 7,7 s | 9,8 s |
60 a 120 km/h* | 11,5 s | 16,4 s |
80 a 120 km/h* | 8,8 s | 12,5 s |
Consumo |
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Trajeto leve em cidade | 10,4 km/l | 7,6 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 5,3 km/l | 3,9 km/l |
Trajeto em rodovia | 8,6 km/l | 8,2 km/l |
Autonomia |
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Trajeto leve em cidade | 477 km | 410 km |
Trajeto exigente em cidade | 243 km | 211 km |
Trajeto em rodovia | 395 km | 443 km |
Testes efetuados com álcool; *com reduções automáticas; melhores resultados em negrito; conheça nossos métodos de medição |
Dados dos fabricantes
HR-V |
Renegade |
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Velocidade máxima | ND | 179/181 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | ND | 12,6/11,5 s |
Consumo em cidade | 10,5/7,1 km/l | ND |
Consumo em rodovia | 12,1/8,5 km/l | ND |
Dados do fabricante para gasolina/álcool; consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível |
Ambos têm plataformas derivadas de hatches pequenos, como é comum na categoria; suspensão traseira do Jeep é independente
Comentário técnico
• Os motores são conhecidos de outros modelos de cada grupo. O do Renegade é o E-Torq amplamente usado na linha Fiat, que passou à versão Evo com alterações em cabeçote, pistões, válvulas e coletores de admissão e escapamento, além da adoção de variador do tempo de abertura das válvulas e aumento da taxa de compressão (de 11,2:1 para 12,5:1), a fim de obter maior parcela do torque em baixas rotações e reduzir o consumo. A potência máxima não mudou, mas o pico de torque aumentou — de 18,4 para 18,6 m.kgf com gasolina e de 18,9 para 19,1 m.kgf com álcool — e aparece em menor regime, 3.750 rpm ante 4.500, comparado ao usado na Strada a título de exemplo. Estranho foi ser mantido o tanque auxiliar de gasolina para partida a frio, já eliminado por vários modelos.
• No HR-V aparece a unidade usada desde a geração anterior do Civic, com pequenas variações de potência e torque: mantendo a ordem de combustíveis, no sedã ele obtém 139 ou 140 cv a 6.500 rpm e 17,5 m.kgf a 4.600 rpm ou 17,7 m.kgf a 5.000 rpm; no utilitário esporte são 140 cv a 6.500 rpm ou 139 cv a 6.300 rpm e 17,3 m.kgf a 4.800 rpm ou 17,4 m.kgf a 5.000 rpm (note a maior potência com gasolina, fato talvez único no mercado).
Entre suas vantagens sobre o do concorrente, além da potência específica superior (veja nas fichas técnicas), estão o mais leve bloco de alumínio, a variação também do levantamento das válvulas e a partida a frio por preaquecimento de álcool. Ambos usam corrente para ligar o virabrequim ao comando de válvulas e — fato curioso, pois incomum — têm uma só árvore de comando para admissão e escapamento, quando o usual em motores de quatro válvulas por cilindro é uma árvore para cada função. Ao contrário do Civic (que usa câmbio automático de cinco marchas), porém, o utilitário esporte recebeu uma caixa de variação contínua (CVT).
• Como é habitual na categoria, as plataformas derivam de automóveis. A do Honda baseia-se na de Fit e City, que serve também ao Civic hatch europeu (ao contrário do que se pode imaginar, este não compartilha a arquitetura com o sedã), com o característico tanque de combustível sob os bancos dianteiros. O fabricante estima aproveitamento de 50% dos componentes. A do Jeep, chamada de Small Wide 4×4 (pequena e larga com previsão de tração nas quatro rodas), é a mesma do Fiat 500X e tem sua origem na Small lançada em 2005 no Fiat Grande Punto italiano (não a mesma do Punto nacional) e no Opel Corsa, herança do período de associação Fiat-GM.
• Enquanto no HR-V foi mantida a suspensão traseira por eixo de torção, o Renegade recebeu um sistema independente McPherson — caso único no segmento entre modelos nacionais de tração dianteira, pois Ford Ecosport e Renault Duster trazem suspensão independente multibraço apenas com tração integral.
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