SUV francês mostra que tem mais que estilo: acompanhe seu comportamento na avaliação prolongada
Texto e fotos: Felipe Hoffmann
Estreia mais um carro na avaliação Um Mês ao Volante, o terceiro seguido na categoria de utilitários esporte, mas dessa vez com certo requinte e faixa de preço superior: o Peugeot 3008 Griffe Pack, a superior entre duas versões do modelo importado da França, com valor sugerido de R$ 167 mil e farto conteúdo (veja quadro abaixo). Não se trata de atrelar o requinte ao estereótipo francês, mas aos detalhes de acabamento e itens de conveniência oferecidos pelo SUV. Essa estratégia fica evidente ao conhecer o carro e ainda mais ao examiná-lo em pormenores, como é nossa proposta com este teste de 30 dias.
Muitos no Brasil, apesar de admirarem a beleza e atributos dos modelos Peugeot, torcem o nariz para a marca por uma imagem de baixa durabilidade ou robustez em nossas condições. Conceito totalmente oposto ao que ela desfruta entre os argentinos, que dizem “é um carro indestrutível”. O motivo é de tradição, pois a marca produziu carros extremamente robustos naquele país, como o 404 e o 504 — este veio ao Brasil apenas como picape, mas ainda é usado mundo afora em condições severas e regiões remotas da África, às vezes por várias décadas.
No Brasil, porém, a Peugeot praticamente começou nos anos 90 e enfrentou problemas com o 206, que em pouco tempo de uso demonstrava muitos ruídos de acabamento e suspensão. Nosso 3008 de teste sugere que a marca tenha encontrado a solução, pois o carro com 24 mil quilômetros rodados (e veículos de imprensa são mais exigidos que os de consumidor comum) não apresenta qualquer ruído de painel, suspensão ou mesmo desgaste acentuado de qualquer componente.
O 3008 tem um desenho atraente e esportivo; rodas de 19 pol são bonitas, mas prejudicam o conforto; atrás de uma cobertura abaixo da placa, radar do controlador
A boa impressão com o 3008 começa em seu desenho de carroceria, que chama bastante a atenção e tem recebido elogios quase unânimes. Agrada a apresentação inicial de quando se abre a porta, com aspecto futurístico — tanto produzido pelos leds como pelo desenho dos itens de cabine — alinhado ao acabamento refinado, dos tecidos iluminados nas portas às costuras dos bancos. Só destoa a falta de forração da base da coluna de direção, visível tanto para quem abre a porta como ao motorista.
Rodas 19 e pneus 235/50 passam um ar esportivo ao 3008 e ajudam no comportamento em curvas, mas a absorção de irregularidades fica prejudicada pelo perfil baixo
O mostrador elevado do painel (lido por cima do pequeno volante, como tem sido padrão na marca) é todo digital e configurável. Junto da alavanca da transmissão futurista, passa o aspecto de carro de alto padrão. Infelizmente o quadro configurável é limitado em itens na opção “pessoal” e o conta-giros, que lembra bússolas náuticas, não é intuitivo de se ler.
Um dos diferenciais do 3008 Griffe Pack é o controlador de distância à frente, com um radar dianteiro para acompanhar a posição dos veículos adiante ou comandar frenagem no caso de risco de colisão. O radar fica abaixo da placa dianteira, atrás de uma capa de proteção. No uso urbano o sistema funciona bem, mas tende a frear muito e logo em seguida acelera para retomar a distância estabelecida: poderia admitir maior tolerância para uma atuação mais suave.
Instrumentos elevados podem ser exibidos em três modos; junto à alavanca de transmissão, garantem um ar futurista ao interior bem-acabado do 3008 Griffe Pack
A central de áudio oferece integração a celular por Android Auto e Apple Car Play. Apesar de haver botões físicos para algumas funções, a navegação por ela se torna um exercício de aprendizado. Faz falta um botão para uma tela inicial e o acesso ao Car Play é algo confuso caso o motorista, por exemplo, tenha de acessar a tela do ar-condicionado e queira voltar para o Waze. Aliás, apesar de haver um botão com o desenho de GPS, tal função depende de aplicativo do telefone.
O navegador integrado até parece ser inútil nos dias de hoje, pois em geral não possui informações de tráfego apuradas nem demonstra incidentes na via, além de se precisar ir à concessionária para atualizar o mapa. Por outro lado, há quem more em regiões com fraco sinal de celular ou não goste de precisar conectá-lo ao carro a cada viagem, razão para compradores de picapes médias, por exemplo, ainda exigirem o sistema integrado.
O uso de rodas de 19 polegadas e pneus 235/50, além de passar um ar esportivo ao 3008 — ainda mais pelo pouco espaço livre entre eles e a caixa de rodas —, ajuda no comportamento em curvas. Contudo, a absorção de irregularidades fica prejudicada pelo perfil baixo dos pneus e o acerto da suspensão. Há até bom trabalho de coxins, o que ajuda a filtrar impactos mais amenos, mas fica a sensação de amortecedores mais firmes em movimentos rápidos e curtos do que deveriam para nossas vias. A roda “quica” em remendos e buracos a ponto de perder contato com o solo — situação bem notada sobre remendos em curvas.
O motor turbo de 165 cv traz bom desempenho ao Peugeot, mas pode não impressionar pela resposta inicial ao acelerador, resultado da escolha por uma atuação progressiva
Talvez tenha sido uma estratégia de deixar o carro “na mão” do motorista, conectado ao solo, e transmitir um acerto mais esportivo. Tanto que em velocidades mais altas o carro muda de trajetória ao menor movimento do volante, o que mostra pouca histerese dos componentes de suspensão e direção, mas nos pisos de má qualidade tão comuns no Brasil o SUV acaba por passar a impressão contrária. A seu favor, os movimentos de carroceria em lombadas e afins — ou seja, trabalhos longos e lentos dos amortecedores — são bem controlados. Seria interessante rodar em um 3008 com pneus de perfil mais alto (rodas de 17 pol, por exemplo) para constatar os benefícios.
Outra impressão inicial estranha com o Peugeot, logo após entregar o Hyundai Creta Sport, foi a morosidade durante saída do estacionamento para acessar uma grande avenida. Não se trata apenas de retardo de ação do turbo do motor de 1,6 litro e 165 cv, mas também de pedal de acelerador bem progressivo na entrega de torque, que a nosso ver é o melhor acerto. Assim, o motorista desavisado pode ter a impressão de carro “manco” em um rápido teste, sobretudo caso tenha acabado de dirigir um carro asiático — cuja estratégia é de aceleração brusca com qualquer movimento de pedal.
Entretanto, basta pressionar mais o pedal que o torque do motor THP aparece de forma consistente e agradável, fácil de dosar e apto a uma condução confortável aos passageiros. Pode-se ainda acionar a tecla Sport, que muda a progressão do pedal e os pontos de trocas de marchas, fazendo o francês exibir seus dotes de aceleração. Na primeira semana o 3008 rodou 396 km em cidade com média geral de 11,2 km/l (ele usa apenas gasolina). A melhor marca foi de 12,1 km/l com média de 29 km/h, e a pior, em longos 13 km embaixo de forte Sol com média de 15 km/h, resultando em 6,5 km/l.
Mais Avaliações
Primeira semana
Distância percorrida | 396 km |
Distância em cidade | 396 km |
Distância em rodovia | – |
Consumo médio geral | 11,2 km/l |
Consumo médio em cidade | 11,2 km/l |
Consumo médio em rodovia | – |
Melhor média | 12,1 km/l |
Pior média | 6,5 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Preços
Sem opcionais | R$ 166.990 |
Como avaliado | R$ 166.990 |
Completo | R$ 169.780 |
Preços sugeridos em 6/3/19 em São Paulo, SP |
Equipamentos
• 3008 Griffe Pack – Alarme perimétrico e volumétrico, ar-condicionado automático de duas zonas, assistente de faixa, assistente de faróis, assistente de saída em rampa, bancos dianteiros com ajustes elétricos e massageador (memória no do motorista), câmera traseira de manobras, carregador de celular por indução (sem fio), chave presencial para acesso e partida, controlador de velocidade e distância e limitador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis de neblina de leds com iluminação de curvas, faróis de leds com luzes diurnas, faróis e limpador de para-brisa automáticos, fixação Isofix para cadeiras infantis, leitor de sinalização de velocidade, monitor de atenção do motorista, monitor de pontos cegos nas faixas laterais, monitor frontal com frenagem automática, quadro de instrumentos digital de 12,3 pol, revestimento de bancos em couro, rodas de alumínio de 19 polegadas, seis bolsas infláveis (frontais, laterais dianteiras e de cortina), sensores de estacionamento à frente e atrás, sistema de áudio com tela de 8 pol e integração a celular, teto solar panorâmico com abertura elétrica, volante com regulagem de altura e distância.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 77 x 85,8 mm |
Cilindrada | 1.598 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Alimentação | injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima | 165 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo | 24,5 m.kgf de 1.400 a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática, 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 19 pol |
Pneus | 235/50 R 19 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,447 m |
Largura | 1,906 m |
Altura | 1,625 m |
Entre-eixos | 2,675 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 53 l |
Compartimento de bagagem | 520 l |
Peso em ordem de marcha | 1.567 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | 206 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 8,9 s |
Consumo em cidade | 9,2 km/l |
Consumo em rodovia | 11,5 km/l |
Dados do fabricante; consumo de gasolina conforme padrões do Inmetro |